Quelques Jours en Septembre **1/2
Realização: Santiago Amigorena. Elenco: Juliette Binoche, John Turturro, Sara Forestier, Tom Riley, Nick Nolte. Nacionalidade: Itália / França / Portugal, 2006.
A primeira realização de Santiago Amigorena, co-argumentista de “Ni pour, ni contre (bien au contraire)” falha exactamente onde a experiência mais devia ajudar: na história.
“Quelques Jours en Septembre” quer ser, simultaneamente, um filme de espionagem, uma reflexão sobre o estado do mundo no momento prévio aos atentados do 11 de Setembro de 2001, e uma meditação sobre o amor. Dada a falta de eficácia do resultado, parece que a intenção era, de facto, demasiado ambiciosa.
Antes de finalizar a sua missão, o espião americano Elliott (Nick Nolte) quer resolver os seus problemas domésticos. Para o efeito, encarrega a sua ex-colega Irène (Juliette Binoche) de juntar a sua filha, Orlando (Sara Forestier), que ele abandonou há 10 anos, e o seu filho adoptivo americano David (Tom Riley). Mas um discípulo de Elliott, William Pound (John Turturro) está decidido a colocar entraves a esse reencontro. Eliott é também procurado por investidores árabes, que necessitam confirmar que a informação financeira que Elliot lhes deu é verdadeira, ou seja, que a Bolsa de Nova Iorque cairá 25% nos próximos dias e que eles deverão retirar todo o seu dinheiro dos Estados Unidos.
A acção desenrola-se entre Paris e Veneza, pelo período de uma semana, nos dias precedentes ao atentado. Numa contagem decrescente, as trajectórias das personagens acabam por estar marcadas por esse ponto de chegada. Entre Irène, Orlando e David estabelece-se desde logo um triângulo de sedução-repulsão, mas nem as suas conversas, nem os seus passeios, nem suas discussões sobre a hegemonia dos Estados Unidos, nos desviam a atenção desse elemento.
Mas para um filme de espiões, a “Quelques Jours en Septembre” falta-lhe o dinamismo. A maior parte do tempo as personagens passeiam-se pela pitoresca Veneza e citam poetas ingleses. Nem mesmo a personagem de Turturro, um espião torturado que, como lhe recomenda o seu terapeuta, procura “matar o pai”, hesita em declamar William Blake antes de premir o gatilho. Adicionalmente, o cliché do conflito como máscara do desejo, serve apenas para conferir artificialidade a um filme com alguma potencialidade para ser interessante.
As interpretações são boas, sem excepção, incluindo os jovens actores Sara Forestier (“L’Esquive” (2003), de Abdel Kechiche) e Tom Riley. E John Turturro nunca desilude. Mas é pena vê-los num mar cinzento chumbo sem terem onde se agarrar.
Existem dois elementos interessantes neste filme. Um, é o contraste entre a enormidade histórica e os pequenos detalhes quotidianos. Outro, a brincadeira que Irène faz, tirando de vez em quando os seus óculos e aproveitando a sua miopia para ver o mundo de forma distinta.
Talvez não seja má ideia, lembrarmos, de vez em quando, de ver o mundo de diferentes perspectivas, a velha história de retirar os olhos do nosso próprio umbigo, “walk in another man’s shoes”, vulgo EMPATIA.