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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Oldboy *****

19.09.06, Rita

Realização: Park Chan-wook. Elenco: Choi Min-sik, Yu Ji-tae, Kang Hye-jeong, Ji Dae-han, Oh Dal-su, Kim Byeong-ok. Nacionalidade: Coreia do Sul, 2003.





Antes de “Oldboy”, de Park Chan-wook apenas tinha visto o segmento “Cut” do filme “3... Extremos” (aproveito para mencionar o facto de na semana passada ter estreado a versão longa do segmento “Dumplings”, de Fruit Chan). O tema mantém-se. Baseado na obra gráfica de manga de Tsuchiya Garon, “Oldboy” é um retrato sobre a vingança, cru, inteligente e sem compromissos.


Oh Dae-su (Choi Min-sik) está embriagado e de regresso a casa no dia de aniversário da sua filha. De repente, acorda num quarto sujo que será a sua prisão nos 15 anos seguintes. Incapaz de escapar e sem possibilidade sequer de se matar, começa a perder tudo o que lhe resta de humanidade. Sem nada, a única motivação que ele encontra é descobrir quem lhe fez isto, porquê e vingar-se. Com apenas uma televisão por companhia (através da qual ele descobre que a sua mulher foi morta), Oh Dae-su vai mantendo um treino físico lutando contra sombras, ao mesmo tempo que tenta a fuga. Finalmente, da mesma forma repentina com que Oh Dae-su foi aprisionado, é libertado no mundo real. Ao providenciar-lhe roupa, um telemóvel e algum dinheiro, o seu captor é quem faz o primeiro movimento naquele que será um jogo de gato e rato.


Oh Dae-su sente-se de facto como um animal, e refere-se a si próprio como ‘Monstro’. Uma jovem chefe de sushi, Mido (Kang Hye-jeong), sente pena dele e decide ajudá-lo na sua busca. Oh Dae-su terá um prazo de 5 dias para descobrir porque foi preso. Caso ele não o consiga, Mido será morta. Oh Dae-su ver-se-á obrigado a escavar na sua juventude, mas mais importante do que saber porque foi preso, é descobrir porque foi libertado.


Neste caminho da vingança, a verdade será aquilo que ele vai encontrar. Mas a verdade nem sempre é aquela em que acreditamos, e talvez todo o treino de Oh Dae-su não seja suficiente para absorver todo o sofrimento que ainda o espera.


“Oldboy” é um filme brutal. Sem viver do gore, tem cenas verdadeiramente impressionantes, cujo impacto varia com a sensibilidade gástrica de cada um. Envolvente e perturbante, intenso e revoltante, “Oldboy” faz uso da violência como um elemento necessário, e não de prazer. Mas a violência física não é nada quando comparada com a violência emocional, e é a tensão que Park Chan-wook coloca em cada cena que cria o verdadeiro incómodo.


A interpretação de Choi Min-Sik é soberba. A versatilidade da sua aparência é equivalente à sua flexibilidade num registo complexo, que vai do heróico ao patético, do corajoso ao desprezível. Yu Ji-Tae como o captor está igualmente irrepreensível, num misto de elegância e ameaça.


Park Chan-wook recusa condenar as suas personagens, ou encaixá-las em versões estanques de “herói” ou “vilão”. Ele gosta delas, aproximando-as de nós, e é isso que se torna realmente assustador. Pensar que todos temos animais debaixo da pele, e que quando empurrados para lá dos nossos limites, todos podemos eventualmente tornarmo-nos monstros. A hipnose faz de deus ex machina na resolução final do filme, mas um sorriso ambíguo tem o poder de sugerir que uma cura milagrosa nunca será possível.


O Grande Prémio do Júri na edição de 2005 do Festival Internacional de Cinema de Cannes está inteiramente justificado num óptimo argumento, nas óptimas interpretações, na óptima fotografia de Jeong Jeong-hun e no óptimo trabalho de câmara (de referir a coreográfica sequência da luta no corredor).


Se a vingança é um prato que se serve frio, a de “Oldboy” é gelada e imensamente perversa. Mas o que sucede quando se satisfaz a vingança que serviu de motivo para uma vida? O que resta depois disso? Quando nem sequer existe a possibilidade de nos perdoarmos a nós mesmos...






CITAÇÕES:


“Ainda que eu não seja mais que um animal, não terei ainda assim direito a viver?”


“A TV é relógio e calendário, é a tua escola, a tua casa, a tua igreja, a tua amiga... a tua amante...”


“Ri e o mundo ri contigo, chora e choras sozinho.”


“Seja um grão de areia ou uma pedra, na água, ambos se afundam.”


“... Unwatchably ugly and breathtakingly beautiful, gut-wrenching and delicate, heartbreakingly emotional and coldly manipulative, mind-bogglingly entertaining and almost arrogantly artistic, “Oldboy” is a mass of contradictions that nonetheless coheres as a whole... “Oldboy” is without doubt the most purely cinematic (both in form and content) piece of work, the truest motion picture, released in South Korea this year”.
KYU HYUN KIM



























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