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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Genesis ***

11.09.06, Rita

Realização: Claude Nuridsany e Marie Pérennou. Elenco: Sotigui Kouyaté. Nacionalidade: França / Itália, 2004.





À volta de um caldeirão, um ancião africano (Sotigui Kouyaté), símbolo da sabedoria ancestral faz um relato de um conto que mais não é do que a versão científica da criação do mundo. “Genesis” é um filme didáctico e ao mesmo tempo poético sobre a origem da vida, e da terra por consequência. O ambiente é mítico e o título reporta ao Antigo Testamento, mas o único elemento religioso deste filme é o carácter sagrado da existência, um conceito que se alarga muito para lá do umbigo humano.


Claude Nuridsany e Marie Pérennou que, em “Microcosmos” (1996) olharam atentamente o mundo dos insectos, trazem em “Genesis” uma visão detalhada do universo. Numa viagem desde as ilhas Galápagos a Madagáscar, passando pela Islândia, as imagens - material filmado especificamente para este filme - são deslumbrantes, na cor, na luminosidade, no pormenor: a lava fervente, as tempestades marítimas, uma cobra devorando um ovo, animais belos e grotescos, todos eles submetidos às leis naturais de sobrevivência, defesa do território, procriação, e morte (a alforreca “fundindo-se” na areia como representação metafórica da lei de Lavoisier segundo a qual “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”).


“Genesis” apresenta uma interligação coesa de todos os elementos, com humor, mas também com o respeito e a admiração que a natureza, muito mais sábia que o Homem, nos merece. O ritmo nem sempre é o mais emocionante, plasmando talvez a extrema paciência na recolha de toda esta informação (“Genesis” é o resultado de seis anos de trabalho), mas a beleza das imagens compensa largamente a espera.


O som é elevado ao mesmo nível da imagem, ampliado, colocando-nos ao lado daquilo que observamos. E quando os realizadores nos levam para dentro de um ovo de avestruz para assistir ao seu nascimento, conseguem a proeza de apagar as barreiras que existem entre nós e as restantes criaturas da terra (sabe bem sentir isso, especialmente depois de ver um documentário violento como “Earthlings” (2003), de Shaun Monson, onde a arrogância e abuso do Homem sobre outros seres vivos é, no mínimo, revoltante).






CITAÇÕES:


“Être vivant, c’est tisser une histoire entre un début dont on ne se souvient plus et un fin dont on ne connaît rien.”


“A nossa vida é resultado de uma pilhagem, porque a vida é canibal. A vida devora a vida.”