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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Manuale d’Amore ***

10.05.06, Rita

Realização: Giovanni Veronesi. Elenco: Carlo Verdone, Luciana Littizzetto, Silvio Muccino, Sergio Rubini, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Rodolfo Corsato, Dino Abbrescia, Dario Bandiera, Luis Molteni, Sabrina Impacciatore, Anita Caprioli, Francesco Mandelli. Nacionalidade: Itália, 2005.





Sem grandes expectativas que de chegue ao nosso país, “Manuale d’Amore” foi um dos grandes êxitos de bilheteira do ano passado em Itália e Espanha. O argumento de Giovanni Veronesi e Ugo Chiti conta quatro histórias distintas, unidas entre si pelo tema comum do amor, aqui diferenciado em quatro relações (ou talvez se trate de apenas uma única relação em diferentes fases).


Tommaso (Silvio Muccino) apaixona-se pela bela Giulia (Jasmine Trinca, “La Meglio Gioventù”). À primeira vista, como deve ser. Mas Giulia não está interessada (também como deve ser). A embriaguez da sedução marca este momento. O primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira noite juntos, é o idílio do enamoramento.


Barbara (Margherita Buy) e Marco (Sergio Rubini) passam por um momento de impasse no seu casamento. O peso do tédio e do aborrecimento levam Barbara a tentar uma última alternativa para a reaproximação, e até a ideia de um filho como solução para o seu problema começa a ser conjecturada.


Ornella (Luciana Littizzetto) fica destroçada com a traição do seu marido. Querendo superar a situação com uma força superior a ela mesma, acaba por empreender uma luta contra todos os homens. Com a agravante de ela ser polícia de trânsito.


Goffredo (Carlo Verdone) é um pediatra de meia-idade, que se encontra magoado, confuso e só, após o abandono da sua mulher. Para superar este momento e caminhar no sentido da reconstrução, Goffredo recorre a um livro de auto-ajuda intitulado ‘Manuale d’Amore’.


“Manuale d’Amore” não é marcado por uma forte originalidade. Com efeito, associa entre si uma série de clichés com os quais todos facilmente nos podemos identificar. Mas é essa humildade e simplicidade que acabam por ser o elemento mais cativante deste filme. A paixão, a crise, a traição e o abandono são todas elas histórias normais, como tantas outras. Ridículas, dramáticas e irónicas, tal como a vida.


Ao contrapor momentos de grande carga emocional com outros extremamente cómicos, Giovanni Veronesi joga com as emoções do espectador, transmitindo a instabilidade emocional característica das relações amorosas. E apesar de um pequeno problema de ritmo, o realizador consegue, com alguma agilidade, unir estes quatro episódios, fazendo as personagens de cada história cruzarem-se suavemente com as das outras. Pena é que o recurso a comentários directos à câmara e à voz off se tenha quase apenas limitado à primeira história.


Do conjunto de interpretações as mais marcantes são, sem dúvida, a de Luciana Littizzetto no terceiro segmento e a de Carlo Verdone no último.


Talvez “Manuale d’Amore” pretendesse ser uma comédia romântica, mas o seu tom pessimista, apesar do humor tipicamente italiano, deixa uma certa sensação de desconforto. Apenas o primeiro momento parece conter algum optimismo, todo o restante filme está impregnado de um considerável desamor. E o tom irónico da comédia não ajuda a aliviar esse sentimento de condenação que parece marcar todas as relações descritas.


Da génese ao apocalipse, “Manuale d’Amore” atreve-se, ainda que com superficialidade, a decompor sentimentos. No final, confirma-se a frustração de, para malentendidos, ilusões, tragédias, romances eternos ou relações efémeras, não existirem manuais eficazes.


Sem regras nem leis, sem poder tirar exemplos dos outros ou mesmo do nosso próprio passado, cabe-nos a nós combater os medos, arriscando em cada nova experiência. E arriscar implica apostar tudo, deixando no bolso uma única certeza: de que o amor não é o fim, mas o processo (de crescimento, claro).