Monster ****
Realização: Patty Jenkins. Elenco: Charlize Theron, Christina Ricci. Nacionalidade: EUA, 2003.
Onde esta a Charlize? é a primeira pergunta que surge quando começamos a ver este filme. É inevitável destacar a transfiguração física que a actriz protagoniza para representar a personagem de Aileen Wuornos, uma prostituta americana que ficou na história como a primeira mulher classificada como assassina em série.
E antes que alguém se exalte com o epíteto de “actriz” dado mais uma vez a uma ex-manequim, deixem-me dizer-vos que este filme elimina qualquer dúvida que pudesse restar a esse respeito.
Charlize foi extremamente inteligente (sim, além de lindíssima é inteligente!) ao decidir produzir este filme e tomar as rédeas do projecto. Talvez soubesse já que nenhum membro do júri da Academia ficaria indiferente a tamanho personagem, especialmente se representado por alguém diametralmente oposto. E assim foi: a seguir ao Globo de Ouro, o Oscar.
Charlize desaparece não só num corpo que não é o seu, mas também numa série de modos rudes e maneirismos masculinizados que revelam o extremo empenho e profundidade com que trabalhou esta personagem. Uma personagem marcada por uma forte dualidade entre a frieza e a dureza com que aprendeu a responder à agressividade do mundo e a sua ainda forte capacidade para se entregar ao amor. Uma entrega que é também ela violenta, um acto desesperado, talvez uma última tentativa de redenção, antes de baixar os braços e deixar-se levar. Charlize consegue dar consistência a esta ambiguidade sem cair no exagero ou na caricatura.
A realização, no entanto, não faz juz à representação. Fica-se por um sofrível, havendo apenas a destacar a imparcialidade com que o relato quase documental desta história nos é entregue, deixando-nos nas mãos a liberdade e a angústia de ter que formar uma opinião sobre os factos.
A linearidade do argumento ganha pouco com esta abordagem, deixando-nos a sensação de risco calculado, especialmente porque sendo o desfecho previsível teria sido agradável chegar a ele por vias mais criativas.
Aqui a responsabilidade assenta toda ela nos ombros de Charlize Theron, e nem o apoio de Christina Ricci, na pele de Selby, a namorada de Aileen, alivia o seu fardo. Charlize passou este teste e o Oscar já ninguém lhe tira, mas agora há uma fasquia considerável a superar e quero acreditar que, feia ou bonita, ela o conseguirá.
CITAÇÕES:
“ ‘Love conquers all.’, ‘Every cloud has a silver lining.’, ‘Faith can move mountains.’, ‘Love will always find a way.’, ‘Everything happens for a reason.’, ‘Where there is life, there is hope.’ Oh, well... They gotta tell you something.”
CHARLIZE THERON (Aileen Wournos)