Walk the Line ****
Realização: James Mangold. Elenco: Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Dallas Roberts, Dan John Miller, Larry Bagby, Shelby Lynne, Tyler Hilton, Waylon Malloy Payne, Shooter Jennings. Nacionalidade: EUA, 2005.
Eu só conhecia Johnny Cash de nome e eis-me diante de uma versão da sua vida. E a vida de Cash tem tudo o que é preciso para justificar um filme: uma infância marcada por uma relação complicada com o pai, a morte trágica do irmão, o estrelado, a negligência da família, um problema com álcool e drogas, e a redenção às mãos de uma mulher que o amava. Assim dito, parece que já vi esta vida em algum lugar. E é basicamente isso, a mesma história, outras personagens. E continua a funcionar.
Confesso que me é bastante indiferente se se trata ou não de uma história real. Aliás, mais do que uma biografia, este filme é uma história de amor. A primeira parte constrói o caminho para o encontro de Johnny Cash (Joaquin Phoenix) e June Carter (Reese Witherspoon), a segunda é a tentativa de Cash conquistar June, a terceira é o esforço determinado de June em salvar a vida de Cash.
James Mangold apostou, inteligentemente, naquilo que mais poderia diferenciar este filme de outros biopics. Mas a grande mais-valia de “Walk the Line” são, sem dúvida, as interpretações (em voz real) de Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon. Ainda que alguns dos momentos mais fortes sejam dominados por outros actores, como é o caso de Robert Patrick como pai de Cash, de Ginnifer Goodwin no papel da esposa de Cash, e a fala de Dallas Roberts (Sam Philips) no estúdio de gravação.
Johnny Cash forma a sua banda em 1954 em Memphis com o guitarrista Luther Perkins (Dan John Miller) e o baixista Marshall Grant (Larry Bagby). E o início da sua carreira é feita em tournées de caravana por todo o país, acompanhado por artistas como Elvis Presley (Tyler Hilton), Roy Orbison (Johnathan Rice), Jerry Lee Lewis (Waylon Payne) e uma conhecida cantora country, June Carter.
O argumento de Gil Dennis e James Mangold, baseado nas duas autobiografias de Cash, tenta fazer a viagem pelos “como” e “porquê” de Cash, mas a raiz dessas respostas reside na parte inicial do filme, que é exactamente a que tem menos tempo. Somos levados a correr pelo seu conflito com o pai na infância, a sua ida para a força aérea, a compra da primeira guitarra na Alemanha. Tudo é acelerado (possivelmente na mesa de montagem), para se poder chegar ao momento dos êxitos musicais reconhecíveis e à história de amor que move o filme.
Em “Walk the Line” os clichés abundam, mas a química de Phoenix e Wittherspoon e o seu empenho conseguem contorná-los. Os números musicais contam também a sua história (e quando dei por mim tinha o pé a marcar o tempo das músicas), ilustrando a relação de amor e admiração mútua entre uma mulher com um forte sentido de moral e um homem com uma história de comportamento auto-destrutivo. Ele criou canções de tristeza, culpa e redenção, ela deu-lhe a razão para ele não se deixar sucumbir aos seus demónios.
Johnny Cash era o rebelde de negro que cantava sobre cocaína, a vida na prisão, sobre matar um homem para o ver morrer, ou magoar-se a si mesmo para saber se conseguia sentir. Mas tudo o que fez, toda a sua vida foi o esforço de chamar a atenção da única pessoa a quem ele queria provar o seu valor: o seu pai.
Quanto às outras categorias todas, tenho as minhas dúvidas, mas se houvesse Oscar® para melhor cartaz, o meu voto ia para este:
CITAÇÕES:
“God said not to touch the apple. He didn't say have a nibble, He didn't say touch it every once in a while! He said "Don't. Touch. It." Don't think about touchin' it, don't sing about touchin' it, don't think about singing about touchin' it. Don't touch it!”
WAYLON MALLOY PAYNE (Jerry Lee Lewis)
“Director da prisão - Mr. Cash, please refrain from singing songs that would remind them that they're in prison.
Johnny Cash - You think they forgot?”
JAMES KEACH (Director da prisão) e JOAQUIM PHOENIX (Johnny Cash)
“Now you'll finally be able to sing your music without being a fake.”
ROBERT PATRICK (Ray Cash)