Agents Secrets ***
Realização: Frédéric Schoendoerffer. Elenco: Vincent Cassel, Monica Bellucci, André Dussollier, Charles Berling, Bruno Todeschini, Sergio Peris-Mencheta, Ludovic Schoendoerffer, Eric Savin, Serge Avedikian, Najwa Nimri. Nacionalidade: França / Itália / Espanha, 2004.
Uma história de espiões. A missão: fazer explodir um barco que faz o transporte ilegal de armas para a guerra em Angola. Os agentes dos serviços secretos franceses: Brisseau (Cassel), Lisa (Bellucci), Raymond (Mencheta), Loïc (Schoendoerffer, irmão do realizador) e Tony (Savin).
O nome de código da missão é “Janus” (ou Jano), o deus romano das portas (janue), princípios e fins, representado por uma cabeça com duas caras, cada uma delas olhando em direcções opostas. Era adorado no início das colheitas, plantações, casamentos, nascimentos, e todos os tipos de começo durante a vida. Daí que o primeiro mês do ano seja em sua honra. Representa igualmente a transição entre a vida primitiva e a civilização, entre campo e cidade, paz e guerra.
O desenrolar da acção vive nesta dualidade de objectivos, intenções, amizades e conluios. O conflito surge quando algo de mais essencial, como a confiança ou o amor são abalados.
O recomeço é aqui visto como um sonho, mas também como uma ameaça. Romper com o estabelecido significa muitas vezes ter que matar o passado, ainda que isso se faça dentro de nós mesmos. É inegavelmente tranquilizador ter um propósito claro, a tal missão, ou uma ordem que nos assegure que os passos que damos são os certos. Quando arriscamos perder essa segurança, e decidimos tactear às escuras o caminho, vem o medo. Mas talvez seja essa a única forma de evoluirmos.
A realização de Schoendoerffer prima por um bom gosto extremo, nos planos, nas cores, na iluminação, na construção de determinadas sequências: a cena de abertura com o barco chegando à costa espanhola, a perseguição que a câmara faz ao carro na sequência inicial, o detalhe dos sons quando o corpo do perseguido é revistado, o plano de entrada da câmara através do vidro fumado, o choque brutal dos carros feito em silêncio sepulcral. E, claro, Monica Bellucci, irritantemente bela.
Este é um filme de acção na verdadeira acepção da palavra, onde os diálogos se limitam, e já é bastante, a dar substância aos personagens. Schoendoerffer conta algumas partes da história, mas não explica tudo. Faltam-nos alguns pormenores, ainda que consigamos estabelecer as ligações essenciais. Talvez seja isso um agente secreto: a quem só é passada alguma informação, a suficiente para que ele cumpra a sua parte. E só se lhe exige que obedeça. Cumpri a minha missão como espectadora, e gostei.