Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Village ***

27.10.04, Rita

Realização: M. Night Shyamalan. Elenco: Bryce >Dallas Howard, Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver, Brendan Gleeson. Nacionalidade: EUA, 2004.





Final do séc.XIX. Uma vila americana vive em tréguas com o bosque que a rodeia. Reza a lenda que ferozes criaturas (“Aqueles de Quem Não Falamos”) o habitam. A cor vermelha é proibida, porque as atrai. A morte de um dos seus jovens faz com que Lucius (Phoenix) se ofereça para ir às cidades, atravessando o bosque, em busca de medicamentos que possam auxiliar os habitantes. O aparecimento de animais mortos e esfolados faz reviver a ameaça que paira em redor de uma comunidade aparentemente equilibrada.


Esta suposta paz, à semelhança de uma guerra fria onde o medo funciona como arma, camufla segredos guardados em cada canto. Escolhe-se manter o seu passado por perto fechado numa caixa, para se ter uma maior consciência do seu peso e do propósito do seu esquecimento. Liderada por um concelho de anciãos, esta vila subsiste sem contacto com o exterior, vivendo o seu quotidiano de calma instituída à força de rígidas regras.


A descontrolada, desmedida e despropositada explosão da paixão, no momento mais cómico do filme, vem, desde logo, sugerir que nem tudo é o que parece. Que os silêncios subentendidos escondem sentimentos calados, mas nem por isso suaves. O “quiet room”, utilizado para acalmar os ímpetos do “louco da vila” (Brody), representa o controlo dos impulsos e a censura da diferença. Um mecanismo que ele só evita através de mais um segredo e um novo comprometimento com a lei social.


O vermelho é, por excelência, associado ao proibido, ao pecado. É paixão, entusiasmo, impulsos. Estimula reacções directas e até agressivas. É ele que desencadeia, na própria história, a força, a valentia, a tenacidade, simbolizando também a aproximação e o encontro entre as pessoas, ainda que aqui seja para o erradicar. Talvez por ser a cor daquilo que temos de mais íntimo e precioso: o sangue.


Ao contrário dos anteriores filmes mais mediáticos de Shyamalan, esta é uma história de amor. Não limitada ao amor romântico, mas alargando-se ao amor por todos aqueles em quem pensamos antes de todos os outros, aqueles a quem damos a mão, os nossos preferidos. Moral da história: as fronteiras que nos protegem do exterior também são aquelas que nos afastam dele, física e emocionalmente.


Shyamalan tinha-me deixado insatisfeita com “Sinais”, e, de novo, saio da sala desapontada. Agradeço dois saltos na cadeira e alguns batimentos cardíacos mais acelerados, agradeço a maravilhosa fotografia de Roger Deakins e a perfeita recriação do ambiente de uma América no ano de 1897, agradeço a música de James Newton Howard, mas, sobretudo, agradeço a presença de Bryce Dallas Howard. Fica a curiosidade de a ver em “Manderlay”, a sequela de “Dogville”, de Lars Von Trier, onde substitui Nicole Kidman no papel de Grace.


Wrap up: a elevada fasquia colocada pelos fabulosos “O Sexto Sentido” e “O Protegido” continua por superar, mas, por ser um bom contador de histórias, ainda dou a Shyamalan o benefício da dúvida.




CITAÇÕES:


I: Let the bad color not be seen. It attracts them.
II: Never enter the woods. That is where they wait.
III: Heed the warning bell. For they are coming.


“Sometimes we don't do things we want to do because we're afraid that other people will know that we want to do them.”
BRYCE DALLAS HOWARD (Ivy Walker)

“Ivy Walker - When we are married, will you dance with me? I find dancing very agreeable... Why can you not say what is in your head?”
Lucius Hunt - Why can you not stop saying what is in yours? Why must you lead, when I want to lead? If I want to dance I will ask you to dance. If I want to speak I will open my mouth and speak. (...) What good is it to tell you you are in my every thought from the time I wake? (...) What gain can rise of my telling you the only time I feel fear as others do is when I think of you in harm? That is why I am on this porch, Ivy Walker. I fear for your safety before all others. And yes, I will dance with you on our wedding night.”
BRYCE DALLAS HOWARD (Ivy Walker) e JOAQUIN PHOENIX (Lucius Hunt)






















2 comentários

Comentar post