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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

NOSTALGIA DE UMA SALA VAZIA

29.10.04, Rita

Há uns anos atrás aquando de umas férias em Amsterdão tentei arranjar bilhetes para um concerto que ia acontecer nesse mesmo dia. Já estava esgotado. Disseram-me então que era isso normal por aqueles lados, como as pessoas tinham dinheiro iam a tudo o que fosse actividade cultural e como tal era sempre necessário comprar bilhetes com alguma antecedência para o quer que fosse. Essa ideia do “Eu no dia logo vejo se me apetece ir”, o “deixar andar” português, não seria possível naquele país e era substituído por um “Eu daqui a 3 meses vai ter que me apetecer ir”. Pensei para mim que em Portugal isso nunca seria possível. E a verdade é que apesar das coffee shops e das batatas fritas belgas ao fim da tarde dei por mim a ter pena dos organizados holandeses (mas isso, claro, foi muito antes do Santana Lopes). Porque não se podiam render alegremente à preguiça. Porque não podiam deixar para amanhã. Porque tinham que o fazer hoje.


Tudo isto para dizer que já tenho em minha posse os bilhetes para todos os filmes que tenciono ir ver ao DOCLisboa até ao fim do certame. Não me orgulho disso, tentei resistir o mais que pude mas depois de duas sessões falhadas teve que ser.


No DOCLisboa tem-se assistido a verdadeiras enchentes. Sessões esgotadas, filas imensas para comprar bilhetes, o pânico que obriga à compra dos bilhetes com antecedência. E só de pensar que ano passado, na edição anterior deste mesmo festival não éramos mais de 10 as pessoas na sala (e era um documentário sobre a mesma Palestina que hoje tem sessões esgotadas).


Mas a verdade é que os festivais de cinema tornaram-se uma moda. Foi assim no Indie, foi assim na Festa do Cinema Francês (uma sessão esquecida numa segunda feira à noite chuvosa no Instituto Francês e deparei-me com uma sala cheia, está bem que era o Bilal). E está a ser assim (ou ainda pior) no DOCLisboa (e chego a perguntar-me se não terá sido também assim no Festival de Teledramaturgia Científica que decorreu no fim de semana passado no antigo Pavilhão do Futuro).


As saudades do Grande Auditório da Culturgest vazio, os corredores silenciosos, documentários que se esticavam por três sessões e um público que ia diminuindo de sessão para sessão. Só me resta esperar que isto seja mesmo uma moda. Que o sucesso deste certame garanta a sua continuidade mas que para o ano a maioria do pessoal já não esteja para aí virado. E que se possa novamente saborear o prazer daquelas salas vazias.


SÉRGIO TORRES
sergiotrs@sapo.pt

 

 

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