We Don’t Live Here Anymore ***
Realização: Jonh Curran. Elenco: Mark Ruffalo, Laura Dern, Peter Krause, Naomi Watts. Nacionalidade: EUA, 2004.
Vencedor do prémio Waldo Salt Screenwriting Award no festival de cinema de Sundance 2004 pelo argumento de Larry Gross, Desencontros descreve acutilantemente, mas num detalhe quase obsceno, a destruição de dois casamentos.
Jack e Terry Linden (Ruffalo e Dern), e Hank e Edith Evans (Krause-Sete Palmos de Terra e Watts), são opostos na forma como lidam com a sua família e o seu lar. Os primeiros são descontraídos e desleixados, os segundos são limpos e organizados. Partilham o facto comum dos seus casamentos estarem a ruir sem que qualquer um deles possa fazer algo para o evitar. Jack é colega e amigo de Hank, mas a atracção mútua que sente por Edith, e a sua consumação, traça o tom de tragédia que persiste até ao final.
Baseado em dois contos de Andre Dubus, este é um drama psicológico cheio de feridas profundas e ressentimentos recalcados. Curran e Gross distanciam-se dos personagens apenas o suficiente para não os julgar, dando-lhes várias, mas consistentes, dimensões. E com o mérito de não deixar que o melodrama fácil enrede a sua história.
Jack busca algo novo, ressentindo-se contra Terry pelos seus impulsos para a bebida e para o desleixo. Mas, ao mesmo tempo, não está preparado para deixar os seus filhos e a vida confortável que construiu. Por sua vez, Edith sabe que o seu marido já a traiu no passado, mas a sua amizade por Terry coloca uma pesada nuvem no seu arrebatamento por Jack. As suas acções são motivadas não só pelo desejo e pela infelicidade, mas também como uma forma inconsciente de vingança pelos erros dos seus parceiros.
Este filme é um thriller angustiante. Não porque exista a ameaça da verdade, que parece ter estado sempre ali. A tensão existe no confronto entre o que se sabe e o que se faz. E as acções carregam sempre consigo o elemento definitivo de resolução. Em vários momentos deste filme, dei por mim a solucionar os problemas dos personagens através das formas mais drásticas. Inquietei-me. Pelo facto de não saber se li essas intenções neles, ou em mim no seu lugar.
Desencontros presta atenção aos grandes e pequenos detalhes que fazem as relações, sem o receio de mostrar o lado escuro dos seus personagens, nem a sua fragilidade. Os desempenhos são, na generalidade, muito bons (confesso alguma decepção com Naomi Watts), causando-nos empatia apesar de (ou talvez, devido a) todas as suas imperfeições. Cada um tem um carácter particular, e as suas próprias inseguranças, com a quais se vê confrontado e tem de aprender a lidar. Como sempre, esse confronto directo apenas pode torná-los mais fortes.
Independentemente do amor que pode existir entre duas pessoas, existirá um momento em que, depois do mal feito, se torna impossível salvar tudo o que resta?
CITAÇÕES:
“- And your husband making passes at my wife, how do you feel about that?
- Well, everybody deserves to be happy.”
MARK RUFFALO (Jack) e NAOMI WATTS (Edith)