Luna de Avellaneda ****
Realização: Juan José Campanella. Elenco: Ricardo Darín, Eduardo Blanco, Mercedes Morán, Valeria Bertucelli, Silvia Kutika, José Luis López Vázquez. Nacionalidade: Argentina / Espanha, 2004.
Luna de Avellaneda conta a história de um clube desportivo e cultural de um bairro de Buenos Aires que viveu no seu passado uma época de esplendor e cuja existência actualmente se encontra em perigo. A única saída possível parece ser vendê-lo para que se converta num casino, e os descendentes dos seus fundadores terão que debater-se entre a viabilidade do projecto e o reencontro com o sonho idealizado por eles. Róman (Darín) nasceu nesse mesmo clube, no meio de uma noite de festa e foi nomeado sócio vitalício. 45 anos mais tarde, como membro da direcção, ele terá que pesar o papel do clube na sua vida e na vida daqueles que o cercam.
Depois do belíssimo O Filho da Noiva era legítimo ter elevadas expectativas deste Luna de Avellaneda. E nesta história sobre o quotidiano, Campanella dá-nos um filme nada quotidiano, que sendo de entretenimento não abdica da qualidade de realização e interpretação.
O papel de Darín tem algumas semelhanças com o de O Filho da Noiva, especialmente na qualidade da representação de um homem que luta mais facilmente pelos seus valores fora de casa do que dentro dela, dando mais atenção aos estranhos que à sua própria família. Um personagem tão terno e real, na sua imperfeita humanidade, que é impossível não gostarmos dele. A parceria de Darín com Blanco, repetida também neste filme, evidencia uma química pouco comum. Num registo patético e sentimental, Blanco traduz todo o ridículo dos apaixonados numa relação atribulada com uma sonhadora Bertucelli. Morán está deliciosa como mãe divorciada, ressentida e amargurada.
A competência de Campanella revela-se no argumento, na direcção de actores e no desenho da produção, onde planos gerais e de detalhe se alternam, fazendo o contraste entre a conveniência pessoal e o bem comunitário: o eterno dilema.
Um grupo de perdedores que se negam a renunciar à importância das relações humanas no seio de uma comunidade. Apesar da melancolia em que se instalaram, procuram no grupo o consolo de um mundo sem valores, assumindo a culpa do seu fracasso, mas sem perder a esperança de conseguir uma vida melhor.
O clube Luna de Avellaneda, que dá nome ao filme, é aqui a metáfora de uma sociedade que, hoje em dia, apresenta uma saúde muito debilitada. Acredito que os argentinos em particular leiam aqui um relato honesto da sua realidade.
O aviso que este filme nos faz é que a derrota não é provocada pelo passar dos anos, mas pela perda do sonho, essa luz da lua cheia que Don Aquiles (López Vázquez) quer ver antes de morrer. Mas a vida não torna as coisas fáceis, não nos deixando mais remédio que trabalhar, lutar e respeitar as regras de um jogo por vezes perverso.
A exemplo do anterior O Filho da Noiva (2001) e de Nove Rainhas (2000), de Fabián Bielinsky, este Luna de Avellaneda vem confirmar que o cinema argentino está de boa saúde e recomenda-se.
CITAÇÕES:
“Veinte años con la misma persona...” RICARDO DARÍN (Ramón)
- “Ojalá fuera con la misma persona...” SILVIA KUTIKA (Verónica)