Garden State ****
Realização: Zach Braff. Elenco: Zach Braff, Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Ian Holm, Ron Leibman, Alex Burns, Ann Dowd, Ato Essandoh, Michael Weston. Nacionalidade: EUA, 2004.
Andrew ‘Large’ Largeman (Braff) viveu quase toda a sua vida com as emoções adormecidas em lítio, até que a trágica morte da sua mãe o levou a experimentar umas férias da medicação, receitada pelo seu próprio pai e psiquiatra Gideon (Holm), com quem raramente fala e de quem se distanciou bastante mais do que Los Angeles está de New Jersey (o “Garden State”), onde regressa após 9 anos de ausência.
O reencontro com os velhos amigos, que tomaram caminhos bastante diferentes do que a sua juventude fazia prever, é acompanhado pela constante fuga ao inevitável confronto com o seu pai. Entretanto, Large conhece Samantha (Portman), uma jovem mitómana diametralmente diferente dele. A sua vivacidade e a sua luta pela diferença opõem-se ao sonambulismo de Large. Enquanto este não consegue sequer derramar uma lágrima pela morte da mãe, Sam chora por ela sem a conhecer sequer. O carinho e o carácter intrépido de Sam serão a chave para que Andrew aprenda a sentir a alegria e a dor do abismo que é a vida.
Garden State é introspectivo e existencialista, melancólico e de laivos cómicos, que nos surpreende por uma rígida gestão dos momentos chave, fugindo ao óbvio. Com as hesitações e subtilezas da realidade, Braff cria situações credíveis, sem dramatismos teatrais. É interessante ver o simbolismo entre o passeio com Mark (Sarsgaard) e a viagem de descoberta pessoal que Large faz ao longo de todo o filme, como um ritual de passagem.
Braff realiza aqui a sua primeira longa-metragem, da qual também é argumentista e protagonista. Um filme honesto sobre a angústia social e emocional da geração Y, onde se equilibra a melancolia e a esperança. Com uma fluidez suave, todo o elenco contribui para uma eficaz sensação de desapego e de permanente insatisfação, na procura de um sentido para o mundo que os rodeia.
Garden State sugere que todos nos auto-medicamos de alguma forma, como medida de protecção contra a dor. Mas o que acaba por acontecer é que, com todas essas barreiras, a felicidade também fica fora do nosso alcance. E a vida acaba por ser um filme que vemos de fora.
Quem gostou de Ghost World ou Lost in Translation encontrará alguma empatia por esta história de um jovem que desperta para a vida e fica um pouco mais perto de “casa”: esse conceito ambíguo de conforto, paz e segurança. E chegando ao fim percebemos que essa “casa” não é um lugar, mas pessoas.
CITAÇÕES:
“You know that point in your life when you realize that the house that you grew up in isn't really your home anymore? All of the sudden even though you have some place where you can put your stuff that idea of home is gone. (...) You'll see when you move out it just sort of happens one day one day and it's just gone. And you can never get it back. It's like you get homesick for a place that doesn't exist. I mean it's like this right of passage, you know. You won't have this feeling again until you create a new idea of home for yourself, you know, for you kids, for the family you start, it's like a cycle or something. I miss the idea of it. Maybe that's all family really is. A group of people who miss the same imaginary place.”
ZACH BRAFF (Andrew Largeman)
“You know, this necklace makes me think of this totally random memory of my mother. I was a little kid, and I was crying for whatever reason. And she was cradling me, rocking me back and forth, and I can just remember the silver balls rolling around. And there was snot dripping all over my face. She offered me her sleeve and told me to blow my nose. I can can remember, even as a little kid, thinking to myself, «This is love... this is love.»”
ZACH BRAFF (Andrew Largeman)
“Of course you're all right. You're alive.”
RON LEIBMAN (Dr. Cohen)
“If you can't laugh at yourself, life is going to seem a whole lot longer than you'd like.”
NATALIE PORTMAN (Sam)
“I know it hurts. But it's life, and it's real. And sometimes it fucking hurts, but it's life, and it's pretty much all we got.”
NATALIE PORTMAN (Sam)