O Maquinista ****
T.O.: El Maquinista / The Machinist. Realização: Brad Anderson. Elenco: Christian Bale, Jennifer Jason Leigh, Aitana Sánchez-Gijón, John Sharian, Michael Ironside, Larry Gilliard, Reg E. Cathey, Anna Massey, Matthew Romero, Robert Long, Colin Stinton, Craig Stevenson.Nacionalidade: Espanha, 2004.
Trevor Reznik (Bale) é um operário fabril que não dorme há cerca de um ano. O seu peso, já de si diminuto, não pára de descer. Para cúmulo, está a ser perseguido e ameaçado por um colega de trabalho, Ivan (Sharian), que mais ninguém no trabalho parece conhecer. Entretanto, alguém tem estado a entrar em casa de Reznik, deixando-lhe recados no frigorífico, incluindo um enigmático jogo da forca. Simultaneamente, Reznik encontra-se regularmente com duas mulheres: Stevie (Leigh), uma prostituta, e Maria (Sánchez-Gijón), uma mãe que trabalha no café do aeroporto; que tentam, cada uma à sua maneira, salvá-lo de si mesmo.
A vida de Reznik torna-se cada vez mais bizarra e descontrolada, entre a paranóia e o extremo cansaço, e a hipótese de loucura começa de facto a tornar-se possível à medida que o fio da realidade se torna cada vez mais fino.
A luz sombria de O Maquinista lembra o The Ring (Gore Verbinski, 2002), com os seus cinzentos e azuis escuros que nos mantêm num nó angustiante ao longo de todo o filme. A imagem é escura, soturna e opressiva. Tal como um céu de tempestade carregado de nuvens, prestes a desintegrar-se. Tal como Reznik.
Este filme mergulha no mais profundo da alma humana, explorando os seus tormentos. Tira-nos a respiração, choca-nos e assenta-nos um murro bem no meio do estômago. Um film noir onde a tensão e confusão do personagem transpiram para o espectador, graças a uma realização atenciosa e uma interpretação fulminante.
Anderson tem o cuidado de não subestimar o público com twists fáceis, que normalmente vemos chegar à distância, mas deixando-nos cogitar uns momentos sobre as pistas que vão surgindo, para logo nos surpreender desvelando mais uma camada de memória. A manipulação subtil do tempo cronológico é também essencial para esta história, solidamente realizada.
Bale é brilhante e inquietante. O seu investimento neste papel materializou-se na perda de quase 30 quilos à base de uma lata de atum e uma maçã por dia, até ficar reduzido a uns míseros 55kg no seu 1,88m de altura (quilos entretanto recuperados, à conta de pizza e gelado, para o próximo Batman Begins, de Christopher Nolan). Mas este é só um ponto a acrescentar ao empenho e mestria na criação de um personagem à beira da sanidade. Bale torna-se, de facto, Reznik.
O Maquinista explora de uma forma contundente o efeito corrosivo, na mente e no corpo, do insustentável peso dos nossos erros.
CITAÇÕES:
“How do you wake up from a nightmare if you're not asleep?”
“JENNIFER JASON LEIGH (Stevie): Are you okay?
CHRISTIAN BALE (Trevor Reznik): Don't I look okay?
JENNIFER JASON LEIGH (Stevie): If you were any thinner, you wouldn't exist.”