Adeus, Dragon Inn ***
T.O.: Bu San. Realização: Tsai Ming-Liang. Elenco: Lee Kang-sheng, Chen Shiang-chyi, Mitamura Kiyonobu, Chun Shih, Miao Tien, Chen Chao-jung, Yang Kuei-Mei. Nacionalidade: Taiwan, 2003.
No cinema Fu-Ho de Taipei, projecta-se o filme “Dragon Inn” (Hu King, 1966). Ao longo da história percebemos que se trata da última sessão deste cinema em ruínas. Mas os seus poucos espectadores parecem mais interessados em fumar, comer ou passear do que em ver o filme, talvez justificando o lamento que o cinema perdeu, nos dias de hoje, grande parte do seu magnetismo.
Um turista japonês (Kiyonobu) foge da chuva. Como um convite, segura um cigarro por acender, até ser conduzido ao corredor secreto onde passam homossexuais, como sombras anónimas. A jovem que trabalha na bilheteira (Shiang-chyi) coxeia pelas escadas e corredores, procurando o evasivo projeccionista (Kang-sheng).
Apenas um idoso (Tien) e o seu neto, e um homem circunspecto (Shih), vêem com atenção o que se passa na tela. Mais tarde percebemos que ambos são os jovens protagonistas da obra projectada. Num filme marcado pela frieza e pelo desencanto, o reencontro de ambos é o momento mais caloroso, adicionado-se, no entanto, à tristeza geral.
“Adeus, Dragon Inn” é um filme amargo sobre a solidão e o isolamento, o seu silêncio e os seus ecos. O cinema é aqui o espaço onde se cruzam, como fantasmas, vidas desligadas, onde as emoções não se tocam. É também uma história sobre o desejo e a perda.
Ming-Liang filma de uma forma extremamente lenta, arrastando-nos para o desespero dos seus personagens, para a angústia do seu sofrimento, e deixa-nos também a nós no mesmo silêncio. O contraste com a acção que se desenrola na tela é evidente.
O cinema torna-se o personagem mais importante da história, todos os recantos nos são mostrados, os corredoras, as janelas, as goteiras que deixam entrar a chuva. Como as rugas de um velho moribundo, todas as fissuras deste edifício degradado contam a história de quem passou por ali.
Mas é também ao cinema como experiência, como acto de dedicação e de afecto, que Ming-Liang se refere. E se o carácter abstracto deste filme o torna uma peça difícil de absorver, é talvez mais fácil entender o seu objecto: a ligação emocional que se atinge no escuro com a partilha de uma mesma experiência.