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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Ana Y Los Otros ***

25.04.05, Rita

Realização: Celina Murga. Elenco: Camila Toker, Ignacio Uslenghi, Natacha Massera, Juan Cruz Díaz La Barba. Nacionalidade: Argentina, 2003.





Com 25 anos e após vários anos a viver em Buenos Aires, Ana (Camila Toker) regressa à sua cidade natal, Paraná (cidade natal da realizadora Celina Murga). Ao chegar, começa a dar-se conta que pouco resta já do seu passado, além de alguns amigos. Uma reunião de turma reflecte o pouco em comum que ela tem com a maioria dos seus companheiros de escola. Mas há um em especial que não lhe sai da cabeça, Mariano, um antigo namorado que se encontra a trabalhar na cidade de Vitória.


“Ana Y Los Otros” é um retrato íntimo de uma mulher que procura as suas memórias, lugares e pessoas da sua juventude, em especial um amor que deixou para trás. Apresentando perguntas (mais do que respostas) sobre o seu passado, Ana tenta também entender o que deverá ser o seu futuro.


Fala da procura do amor, da sua desconstrução, da forma inocente de o ver, e da forma de o ver através da experiência dos erros. Da relação com o passado (insinua-se que ambos os pais de Ana morreram), do regresso ao lugar primordial e às pessoas, onde nem um nem outro permanecem os mesmos. Não é só o tempo que marca as suas diferenças (nela e nos outros), mas também o espaço se torna irreconhecível, nas ruas onde Ana se perde.


“Ana Y Los Otros” faz lembrar o cinema de Rohmer, com situações quotidianas de grande diálogos sobre a visão do mundo, como é o caso da conversa com Daniel, um antigo colega, que se zangou com Mariano por também ele gostar de Ana. Os perigos de esperarmos demasiado tempo para dizermos o que devíamos.


Mas se na primeira parte a procura de Ana é feita com displicência, quase como se não importasse, na segunda parte, já em Vitória, a curiosidade materializa-se. Para isso vem ajudar Matías (Juan Cruz Díaz La Barba), um rapaz com quem Ana estabelece uma curiosa relação enquanto espera que Mariano chegue a casa. Também o rapaz está apaixonado, por uma rapariga de quem desconhece o nome mas a quem chama Jose. Da mesma forma que a ele lhe falta coragem de enfrentar a rapariga (a cena em que Ana e Matías treinam o diálogo que ele deveria utilizar como abordagem é hilariante), também Ana se esconde de Mariano quando ele chega à cidade. Ana tenta, curiosamente, ensinar aquilo que a ela também lhe custa praticar, romper a incerteza e passar do sentimento à acção.


Camila Toker (como alter-ego de Celina Murga) carrega este filme às costas, mas ele não lhe parece pesado, tal é a leveza e naturalidade com que se movimenta nesta personagem calma e misteriosa. O carácter auto-biográfico desta história é reforçado pelo facto de quem faz de Mariano ser, com efeito o namorado da realizadora, Juan Villegas, realizador de “Sábado” (2001). Mas mais do que contar uma história, Murga prefere entrar nos medos da sua personagem, e mais do que procurar resolvê-los ela mostra as possibilidades que se abrem com cada decisão.