A Maleita Tropical
Depois de horas de gestão de agenda, cortar de um lado, colar do outro, libertar dias, sair mais cedo do trabalho, eis-me confortavelmente instalada para ver o filme “Private”, de Severio Costanzo na sala 1 do King. Mas as más notícias chegam depressa: a empresa de logística TNT trocou as bobines e em vez do “Private” veio o “Tropical Malady”, do tailandês Apichatpong Weerasethakul (com um nome destes eu devia ter desconfiado, tenho que mandar afinar o alarme...).
Foram-nos apresentadas as alternativas: reembolso ou arriscar no “Tropical Malady” (curiosamente um dos poucos filmes que não fez parte de nenhuma das versões da minha agenda, e pelo qual eu não tinha qualquer interesse). A sala quase cheia reduziu-se a um terço de imediato. Outro terço foi desaparecendo ao longo do filme. A razão que me levou a ficar foi o pragmatismo de ter de fazer tempo para a sessão seguinte. Adicionalmente, o meu companheiro de visionamento observou, paulocoelhisticamente, que deveria haver algum sentido para tudo aquilo. Ainda estou à espera que ele me explique qual!!! Para mais quando foi dos que saiu a meio da primeira parte!!! Mal eu sabia que quando brinquei acerca do instante de cançonetismo pimba ser o ponto alto do filme, estava de facto a falar a verdade.
Foi já com o estado de espírito de cliente mal-servido que vi o “Tropical Malady”, por isso peço o devido desconto às palavras quentes que se seguem. O que dizer desta “Maleita Tropical”? Em poucas palavras é um monte de símbolos (perceptíveis eventualmente para quem disponha do dicionário adequado), amalgamados numa história sem sentido, dividida incompreensivelmente em duas partes que nada têm a ver uma com a outra: uma paixão ridícula entre dois homens e uma perseguição a um shaman no meio de uma floresta, que tem tanto suspense como um ovo cozido (e com estes ainda podemos ter surpresas).
Em suma: uma interminável agonia (para meu azar este é dos filmes mais longos do festival!), no final da qual eu só clamava por que me dessem um tiro. Não é só o “Mar Adentro” e o “Million Dollar Baby” que abordam a temática da eutanásia. Com “Tropical Malady” terminei implorando-a!