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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Para Que No Me Olvides ****

09.06.05, Rita

Realização: Patricia Ferreira. Elenco: Fernando Fernán Gómez, Emma Vilarasau, Marta Etura, Roger Coma, Carlos Blanco, Ana Cuerdo, Marisa de Leza, Manuel Feijóo. Nacionalidade: Espanha, 2005.





Irene (Emma Vilarasau) dirige um grupo teatral de invisuais com uma dedicação que não aplica em sua própria casa, onde vive com o seu pai Mateo (Fernando Fernán Gómez), um octogenário que fala com os mortos, na sua maneira pessoal de fazer face à sua história, profundamente marcada pela Guerra Civil, onde perdeu a sua casa e a sua família. Nessa casa vive também o filho de Irene, David (Roger Coma), estudante de arquitectura.


Até ao dia em que este decidir ir viver com a namorada Clara (Marta Etura). Durante um ano de namoro, Irene não conheceu Clara e a sua possessividade em relação a David, impede-a de aceitar a sua relação com uma simples caixa de supermercado. Apesar disso e do amor que sente pela mãe, David não hesita em viver a sua vida. Esta é a primeira ruptura, a segunda surge com um trágico acidente, onde David perde a vida.


Cada um deles vai agora enfrentar a dor da sua perda de formas distintas e, muitas vezes, contrárias. Enquanto Irene precisa de esquecer para conseguir continuar viva, Mateo tenta lembrar-se de tudo, não só para devolver ao neto o presente que este lhe deixou (a sua própria memória, na sua história e a dos seus mortos), mas porque a idade também começa a pregar as suas partidas. Clara, pelo seu lado, tem a grande tristeza de não ter tido o tempo suficiente para conhecer tudo de David, tentando reter dele tudo o que pode.


Patricia Ferreira (o apelido engana, mas é espanhola) constrói um drama cheio de segredos e nuances, pleno de intimidade, mas de grande consistência. Do seu lado está um grande elenco, encabeçado por Fernando Fernán Gómez, actor que recebeu um Urso de Ouro Honorário na passada edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, numa maravilhosa interpretação.


Os boleros e as árias de ópera conduzem-nos pelas emoções destas personagens: três gerações, em diferentes níveis de aprendizagem, que de uma forma profundamente emotiva e credível, sem cair em sentimentalismos ridículos, se conseguem sintonizar.


Mas além do drama pessoal, “Para Que No Me Olvides” fala também de uma tragédia nacional, da qual os jovens de hoje sabem muito pouco, e de vítimas incontáveis, às quais o país fez por esquecer, dessa forma impedindo a homenagem que é a recordação.