Tabloid ***1/2
Realização: Errol Morris. Género: Documentário. Nacionalidade: EUA, 2010.
Em 1977, Joyce McKinney, ex-miss Wyoming, desesperadamente apaixonada pelo jovem mórmon Kirk Anderson, seguiu-o até Inglaterra, onde alegadamente o raptou e o manteve atado à cama como forma de o livrar da lavagem cerebral que a sua “seita” lhe tinha imposto, naquilo a que mais tarde chamou de “three days of fun, food and sex”. Detida em Londres uns dias depois, a sua história serviu de alimento para os tablóides durante largos meses.
Uma e outros usando-se mutuamente, duas versões da realidade em contenda, com a verdade, muito possivelmente, algures a meio caminho entre ambos.
È sobre a verdade, e a forma como ela pode ser usada, manipulada e distorcida para distintos fins que o documentário de Errol Morrisa se debruça. Dando rédea solta aos seus entrevistados, onde se inclui uma instável McKinney, Morris tira todo o partido cómico das suas contradições e linguagem, ilustrando aguçadamente as suas histórias com trechos de filmes antigos, e fazendo um fabuloso e imaginativo trabalho de composição gráfica.
Se dissermos uma mentira bastantes vezes, acabaremos por acreditar verdadeiramente nela. Assim é McKinney. Assim é a imprensa de escândalos. Ambas obsessivas e manipuladoras. Ambas pisando uma ténue linha entre a lucidez e a loucura.