L’Illusioniste ****1/2
Realização: Sylvain Chomet. Género: Animação. Vozes V.O.: Jean-Claude Donda, Eilidh Rankin, Duncan MacNeil, Raymond Mearns, James T. Muir, Tom Urie, Paul Bandey. Nacionalidade: Reino Unido / França, 2010.
Baseado num argumento original de Jacques Tati, “L’Illusioniste” é uma descarada e apaixonada homenagem a uma pessoa/persona que marcou o cinema de forma indelével. Transpirando Tati por todos os poros, dos trejeitos a la M. Hulot do protagonista Tatischeff (nome de nascimento de Tati), passando pela presença em cartaz do filme “Mon Oncle” até à dedicação final à filha de Tati, Sophie, esta é uma assumida carta de amor.
O humor físico, parco em diálogos, e – por isso mesmo – de uma universalidade abarcadora, o mesmo desconcerto com a modernidade (no entretenimento –representada pela banda de rock Billy Boy and the Britoons) e o desânimo pelos valores superficiais em que a mesma se alicerça, a tristeza de descobrir que as nossas capacidades laborais já não são de utilidade para ninguém.
Não só Tati, mas também Chomet é um ilusionista neste mundo de aguarelas. Que transforma penas em neve e a sombra das páginas desfolhadas de um livro num pássaro. Ainda assim, “L’Illusioniste” não é exactamente o original e maravilhoso “Belleville Rendez-Vous”. Porque a sua beleza está cheia de melancolia e a sua ternura de nostalgia.
Desiludir o outro, é, de uma forma não tão literal como aqui, desfazer a ilusão criada. Esse é o ingrato paradoxo da paternidade, no precário equilíbrio entre o que fazemos para proteger o amor ou a admiração despertada no outro e providenciar as ferramentas necessárias para enfrentar o mundo.
Afinal os mágicos existem: Tati foi um, Chomet é outro.