O realizador de “Memento” volta a usar a memória e os sentimentos como ingredientes, agora cozinhados com nova complexidade. E faz o filme mais ambicioso dos últimos anos: conceptualmente, tecnologicamente, narrativamente.

“Inception” tem o potencial de perder os espectadores nos meandros do seu intricado argumento. Mas, surpreendentemente, Nolan leva-nos numa viagem pelo mundo dos sonhos (e dos sonhos dentro dos sonhos (e dos sonhos dentro dos sonhos…)) com a segurança de quem sabe perfeitamente para onde vai e para onde nos quer levar. Nunca a confiança na lógica interna da sua obra foi tão palpável. Abdicando de falsos cepticismos, deixamo-nos ir, sem dificuldades nem nós mentais.

Um par de noites depois, desperto em sobressalto de um sonho onde a dor era real, tão real que a repulsa transborda para a vigília, mesmo sem eu querer. E percebo Nolan ainda melhor.

“Inception” é como uma ideia: contagiante.
Os grandes estúdios dão-lhe carta branca. Eu também.