Frágeis ***
T.O.: Fragile. Realização: Jaume Balagueró. Elenco: Calista Flockhart, Yasmin Murphy, Richard Roxburgh, Elena Anaya, Gemma Jones, Colin McFarlane, Michael Pennington, Daniel Ortiz, Susie Trayling. Nacionalidade: Espanha, 2005.
O hospital de crianças de Mercy Falls, na Ilha de Wight (Reino Unido) está prestes a ser encerrado. Mas devido a um grande acidente que motiva a falta de camas disponíveis, algumas crianças ainda se encontram em Mercy Falls aguardando a transferência. Entretanto, uma das crianças aparece com a perna partida sem se perceber como, ao mesmo tempo que Maggie (Yasmin Murphy), uma outra criança, afirma que a culpa é de Charlotte, uma menina mecânica que supostamente vive no 2º andar (fechado há cerca de 40 anos) e que mais ninguém acredita existir. Amy (Calista Flockhart), uma enfermeira americana, vem de Londres designada para o turno da noite e estabelece uma forte empatia com Maggie. A imaterial presença de Charlotte vai-se fazendo notar cada vez mais e com maior agressividade, e Amy assume a tarefa de proteger estas crianças.
A premissa da casa assombrada é velha, e Balagueró não traz nada de novo com esta história. A personagem de Amy é fracamente trabalhada, o contexto dos seus demónios passados é incompreensível e a representação de Calista Flockhart (eternamente marcada pela personagem Ally McBeal) falha nas partes mais emocionais, sendo incapaz de motivar particular simpatia. O mesmo não acontecendo com Yasmin Murphy no papel de Maggie, que está fantástica.
Balagueró faz um uso subtil do fantasma, mostrando-o pouco, mas fazendo a sua presença sentir-se em cada instante. Infelizmente, em muitos momentos optou por um uso excessivo dos efeitos sonoros e do volume, que substituíram o efeito perturbante que deveria ser da cena. O final lamechas também não ajudou, retirando o efeito agridoce dos últimos minutos de filme e que deveria ter permanecido.
Apesar disso, o filme tem suficientes twists e momentos assustadores que compensam o fraco argumento (de Balagueró e Jordi Galcerán, autor da peça “El Método”). Tem tudo a ver com o ambiente, a atmosfera de perigo e desassossego, soturna e mórbida, quase sempre nocturna e deprimente, e cheia de chuva, cinzentos e sombras na fotografia de Xavi Giménez. A música de Roque Baños ajuda consideravelmente na criação da opressão que precede os sustos. Para mim o assunto “ossos” é particularmente sensível, causando-me um certo desconforto físico (até o simples estalar dos dedos das mãos já me arrepia), o que permitiu ampliar estes efeitos e tornar a viagem de terror um pouco mais gratificante.
A terceira estrela é porque me fez tapar a cara, várias vezes. E pela beleza quase irritante de Elena Anaya (um bónus para os meninos).