The Final Cut ****
Realização: Omar Naïm. Elenco: Robin Williams, Mira Sorvino, Jim Caviezel, Mimi Kuzyk, Stephanie Romanov, Thom Bishops, Genevieve Buechner, Brendan Fletcher, Vincent Gale, Michael St. John Smith. Nacionalidade: Canadá / Alemanha, 2004.

Num mundo não muito longe do nosso, os pais podem mandar implantar nos filhos o microchip Zoë, com capacidade para gravar toda a sua vida: o cúmulo dos vídeos caseiros. Quando se morre, o implante é removido e as imagens gravadas são montadas e mostradas num serviço de re-memória, na altura do funeral.
Alan (Robin Williams) é o melhor editor do ramo, um solitário que vive para o trabalho. Ao fazer a montagem da memória do magnata Charles Bannister (Michael St. John Smith), Alan depara-se com uma imagem da sua infância, relacionada com um traumático acontecimento que ainda o atormenta. Alan começa assim a sua busca pela verdade e, no caminho, pela redenção.
Dos momentos especiais aos mais mundanos, do bom e do mau, apenas sobra aquilo que os vivos querem guardar, mesmo quando as suas memórias não são exactas. Sob a censura da tecla ‘delete’, a vida de cada um transforma-se numa versão politicamente correcta.
Um grupo subversivo manifesta-se nas ruas contra esta inovação tecnológica, que tem vindo a provocar fortes alterações nas relações interpessoais, e tatuando-se com tintas sintéticas para interferir com a captação do chip. Um ex-editor, Fletcher (Jim Caviezel) exige a Alan o chip de Bannister, para poder divulgá-la e, assim, derrubar esta indústria.
“The Final Cut” fala da privacidade, do poder da imagem, do impacto das tecnologias de informação (cada vez mais intrusivas) na forma como as pessoas se relacionam entre si, dos caminhos que a ciência pode tomar, da ameaça dos direitos civis, de como as boas intenções podem trazer os piores resultados. A proximidade temporal da narrativa (para a qual os cenários e toda a envolvência são essenciais) faz com que o assunto nos toque com mais força. Colocar estas questões num plano futuro afasta-as.
À poderosa força visual deste filme, em tons de mogno, junta-se a sólida interpretação de Robin Williams, cheia de raiva interior, que mais uma vez demonstra que ele esteve demasiado tempo perdido na comédia.
Todos temos o nosso lado negro, ou, pelo menos, momentos que gostaríamos que ninguém visse. Talvez as memórias pertencem apenas a cada um e estejam destinadas a desvanecer-se.
Mais uma vez, a dificuldade do ser humano em dizer ‘Adeus’.
CITAÇÕES:
“My job is to let people remember what they want to remember.”
ROBIN WILLIAMS (Alan Hakman)
“Guillotine. You're like a mortician... or a priest... or a taxidermist. All of them.”
MIRA SORVINO (Delila)
“They say that friends help you move, but good friends help you move bodies, don't they?”
ROBIN WILLIAMS (Alan Hakman)