The Brothers Grimm *****
Realização: Terry Gilliam. Elenco: Matt Damon, Heath Ledger, Jonathan Pryce, Peter Stormare, Lena Headey, Monica Bellucci, Mackenzie Crook, Richard Ridings, Julian Bleach, Bruce McEwan. Nacionalidade: EUA / República Checa, 2005.
Antes de mais, convém dizer que esta não é a história dos irmãos Grimm. Essa dificilmente seria material para um filme. Mas talvez seja a história que eles gostariam de ter vivido.
Will (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger) são caçadores de demónios, que salvam as aldeias das suas bruxas de estimação. O seu sucesso vai-se espalhando pelas terras alemãs, agora ocupadas pelos franceses. Mas a sua eficácia depende tanto deles como dos ajudantes Hidlick (Mackenzie Crook) e Bunst (Richard Ridings), um manipulando todos os artifícios e o outro vestindo-se de demónio. Will e Jacob são impostores. Mas enquanto para Will esta é uma forma como outra qualquer de ganhar dinheiro, para Jacob esta é a fonte de todas as lendas e contos que vai apontando no seu livro.
Presos pelo general francês Delatombe (Jonathan Pryce), os irmãos são obrigados a resolver o mistério das crianças desaparecidas na aldeia de Marbaden, onde parece haver uma floresta encantada que as engole. Por segurança, o seu assistente italiano de Delatombe, Cavaldi (Peter Stormare, numa deliciosa interpretação), deverá acompanhá-los.
Aqui se inicia a grande aventura deste filme. Só nos resta encostarmo-nos para trás e saborear o doce que Terry Gilliam fez. E cada dentada é um prazer. Pelo caminho há ainda uma donzela (Lena Headey) e uma rainha má (Monica Bellucci). Os cenários medievais são luxuosos em detalhes e superstições e a criatividade de Gilliam parece não ter limites.
Apesar de todos os contratempos, habituais quando falamos de Terry Gilliam, (Bob e Harvey Weinstein, da Miramax, não deixaram que Gilliam contratasse Samantha Morton, insistindo numa actriz menos conhecida; e Gilliam recusou-se a trabalhar durante duas semanas depois d’“Os Irmãos Weinstein” terem despedido o seu director de fotografia por trabalhar demasiado devagar), o resultado parece estar bem perto da alucinação pretendida.
Os contos de fadas são geralmente designados de contos infantis talvez porque aos adultos esteja já vedada a capacidade de os aceitar (para nem sequer falar de os entender). “Os Irmãos Grimm” é todos os contos que povoam o nosso imaginário infantil: da Bela Adormecida ao Capuchino Vermelho, passando por Hensel e Gretel, João e os Feijões Mágicos, a Branca de Neve, Rapunzel, e Cinderella. Mas é também, ao mesmo tempo, um único conto, o essencial, o que está contido em todos os outros. Terry Gilliam junta, numa história, todos os medos (fantasmas, bruxas, lobos) e conta-nos uma maravilhosa história para adormecer. Daquelas que, quando chega ao final, pedimos para ouvir outra vez.
“Os Irmãos Grimm” é sobretudo um tributo à capacidade de acreditar que o mundo pode assumir infinitas formas, diferentes da realidade que conhecemos. Um festim para os olhos, uma injecção directa de adrenalina na imaginação.
CITAÇÕES:
“We're here to save your land from evil enchantments.”
MATT DAMON (Will Grimm)
“I made the armor myself. It's not magic, it's just shiny.”
MATT DAMON (Will Grimm)
“MATT DAMON (Will Grimm) – You killed my friends!
JONATHAN PRICE (Delatombe) – I only wish you had more!”
“Trust the Toad!”
MATT DAMON (Will Grimm)