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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Reader ****1/2

20.02.09, Rita

Realização: Stephen Daldry. Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross, Lena Olin, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2008.





Para começar, ‘O Leitor’ é um belíssimo livro da autoria do escritor alemão Bernhard Schlink. Uma história bem contada, envolvente e surpreendente. Para terminar, o argumento de David Hare e a realização de Stephen Daldry (que tinham já colaborado em 2002 em “The Hours”) fazem desta uma adaptação quase perfeita da obra.


Em 1995, Michael Berg (Ralph Fiennes) é um advogado em Berlim, um homem auto-condenado a uma vida solitária. Em 1958, com 15 anos, Michael (David Kross) adoece no caminho para casa e é ajudado por Hanna (Kate Winslet), uma brusca mulher de 36 anos. Quando, passado uns meses, Michael recupera a sua saúde, ele volta a casa dela para lhe agradecer. Esse é o início de uma atracção incontornável e de uma relação incorrecta. Depois da escola de Michael e depois do trabalho de Hanna como revisora no eléctrico de Berlim, eles encontram-se na casa dela, onde rapidamente o sexo é complementado com um pedido curioso por parte de Hanna: que Michael leia para ela os vários livros que ele vai estudando na escola. A relação de ambos compreende um sinuoso jogo de poder, que Hanna manipula. No final desses breves meses de Verão, Hanna desaparece, deixando o apartamento vazio. Oito anos mais tarde, como estudante de direito na Universidade de Heidelberg, Michael reencontra Hanna, acusada de homicídio num julgamento que incrimina várias guardas prisionais nazis.


Primeiro que tudo “The Reader” não é nenhuma história de amor. Ou melhor, é uma história de amor próprio e de respeito, de dar-se a si próprio uma oportunidade de felicidade. “The Reader” é um filme sobre a vergonha. A vergonha de uma mulher ocultada num segredo, a vergonha de um homem por ter amado essa mulher, a vergonha de um país pelo seu passado.


Da mesma forma que estas duas pessoas procuram uma na outra a confirmação do seu valor como ser humano, a Alemanha olha para si mesma buscando o que lhe resta de humanidade após Hitler. Perante a possibilidade de ilibar Hanna, Michael permanece silencioso, como muitos alemães fizeram enquanto à sua volta tinham lugar os crimes mais hediondos.


Kate Winslet é agressiva e impenetrável, conseguindo uma interpretação tão hermética como arrebatadora. Um desafio que o jovem actor alemão David Kross enfrenta com muita competência. Do ponto de vista dramático, algumas das soluções criadas em específico para o filme (como o flashback inicial ou a personagem da filha de Michael) funcionam de forma bastante eficaz. O design de produção de Brigitte Broch, em concreto do apartamento de Hanna, é de um extremo e cuidadoso detalhe. E depois há a fotografia de Roger Deakins e Chris Menges, que nos tira a respiração.


Cumprir ordens tende a criar um blackout moral onde se fica ilibado da responsabilidade. Condição base de qualquer sistema militar ou paramilitar repressivo. As cicatrizes alemãs são profundas, e a luta entre a consciência individual e a culpa colectiva ainda persiste nos dias de hoje. Mas os alemães somos nós também. Ontem e hoje, a maioria de nós cala-se e assiste a tudo de forma conivente. A maioria das vezes escolhemos ser cúmplices. Mas fazer o bem é também uma escolha.
















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