Der Baader-Meinhof Komplex ***
Realização: Uli Edel. Elenco: Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu, Johanna Wokalek, Bruno Ganz, Nadja Uhl, Jan Josef Liefers, Niels-Bruno Schmidt, Vinzenz Kiefer, Alexandra Maria Lara, Heino Ferch, Daniel Lommatzsch, Hannah Herzsprung. Nacionalidade: Alemanha / França / Rep. Checa, 2008.
Nos motins que se levantaram aquando da visita do Xá do Irão a Berlim em 1967, o estudante Benno Ohnesorg foi morto a tiro pela polícia. Após um discurso inflamado contra a guerra do Vietname, o activista Rudi Dutschke foi vítima de uma tentativa de assassinato por um extremista de direita. Em consequência, um grupo de activistas liderados pela motivada Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek) e o temperamental Andreas Baader (Moritz Bleibtreu) incendeia uns grandes armazéns em Frankfurt. Àquilo que eles vêm como uma luta contra um projecto de direita, e que inclui o apoio dado aos EUA no seu envolvimento no Vietname, junta-se a jornalista de esquerda Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) que, cansada de usar apenas as palavras como arma, abandona o marido e as filhas, num caminho de radicalismo e militância.
Perante a passividade da geração que os precedeu e que viveu na pele o regime nazi, perante a evidência de um estado autoritário cujas medidas repressoras se alastram, assumem como seu dever garantir a libertação da República Democrática Alemã do seu próprio passado. Sob o nome RAF - Rote Armee Fraktion, este grupo de guerrilha urbana foi responsável por crimes desde o assalto a bancos a atentados bombistas, culminando no rapto do proeminente industrial Hanns-Martin Schleyer e no sequestro de um avião da Lufthansa com 87 passageiros.
Adaptando o livro de Stefan Aust, “Der Baader-Meinhof Komplex” contextualiza as tensões políticas que marcavam a Alemanha nos anos 70 com a morte de Che Guevara e os assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy. Apesar de se ler no argumento de Bernd Eichinger (“Der Untergang - A Queda”) uma identificação com as palavras e as ideias, os actos e o escalar de violência são claramente condenados.
O realizador Uli Edel (“Christiane F”) tem o cuidado de não glamourizar o terrorismo, mas sua opção pelo extremo detalhe dos crimes perpetrados pela RAF e, numa segunda parte, pelo acompanhamento exaustivo do período de encarceramento dos cabecilhas do grupo, capturados em 1973, tornam o filme demasiado longo. Em resultado, são sacrificados dois momentos interessantes: (1) a transformação de um grupo de estudantes numa unidade terrorista; (2) as dissidências internas que levaram à ruptura do grupo.
De um lado estão jovens idealistas que lutam contra a injustiça e a desigualdade dos valores capitalistas. A sua agressividade apenas comparável a uma grande dose de ingenuidade (patente, em especial, no campo de treino da Al Fatah na Jordânia, em contraste com a obediência e seriedade dos seus “formadores”). Do outro lado está Horst Herold (Bruno Ganz), o chefe de polícia alemã, incansável na sua determinação em parar a RAF, mas também ciente de que para parar estes actos de terrorismo a sociedade tem de compreender o que leva as pessoas a assumir estas atitudes radicais, e tentar dar resposta às suas preocupações.
Após o aprisionamento de Baader, Ensslin e Meinhof em Stammheim, teve início um atribulado julgamento que, intercalado com uma greve de fome, incluiu insultos aos juízes com claro apoio da assistência. Do seu pedestal mítico, eles serviram de inspiração a jovens seguidores (Baader ainda hoje é visto como uma espécie de Che Guevara pelos jovens radicais alemães), cujas acções se tornam cada vez mais extremas e brutais.
As fortes interpretações são dominadas pela multidimensional Johanna Wokalek (“Das Leben der Anderen - As Vidas dos Outros”) e pelo arrogante e perigoso Moritz Bleibtreu (“Lola Rennt”, “Das Experiment”). Mas a observação mais contundente sobre a legitimidade de uma luta – de qualquer tipo –, vem de dois secundários, interpretando os pais de Ensslin, numa entrevista sobre os actos cometidos pela sua filha.
Por muito justas que tantas causas comecem por ser, o recurso à violência, sobretudo a uma violência indiscriminada, acaba por minar os mais essenciais valores humanos. Em última instância, a violência política é um “sintoma”. Uma “consequência” à qual as grandes potências têm vindo a dar crescente importância. O mesmo não se pode dizer do empenho em olhar para e resolver as “causas” que lhe estão subjacentes.