Je Préfère Qu'on Reste Amis ***
Realização: Eric Toledano e Olivier Nakache. Elenco: Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Annie Girardot, Lionel Abelanski, Isabelle Renauld, Yves Jacques, Élisabeth Vitali, Xavier De Guillebon, Mar Sodupe, Caroline Frank, Cassandra Harrouche, Tilly Mandelbrot. Nacionalidade: França, 2005.
“Prefiro que continuemos amigos” é uma frase dolorosa. A menos que venha de um amigo.
Claude (Jean-Paul Rouve, o carteiro de “Un Long Dimanche de Fiançailles”) é um informático nos seus 30, celibatário, tímido, hipocondríaco, que não sabe dizer não, que ficou esteticamente bloqueado no tempo, que limita o seu lazer a uns jogos de Gin Rummy com colegas de trabalho e que é constantemente confundido com um empregado do supermercado. Serge (Gérard Depardieu) anda nos 50, é divorciado e pai de duas filhas, obcecado por estatísticas e determinado em romper com os tradicionais métodos de conhecer mulheres (entre os casamentos de desconhecidos, as agências matrimoniais e o “speed dating” – em que se tem 7 minutos para saber informações sobre o outro).
O encontro casual destas duas personagens, que apenas têm em comum ambos andarem à procura da alma gémea, dá início a uma história cheia de situações de um humor irresistível, numa sátira às angústias da meia-idade.
Os realizadores Eric Toledano e Olivier Nakache, amigos de longa data, basearam o conflito no choque dos opostos, à volta do qual construíram uma comédia romântica, onde, sem nunca entrar no equívoco sexual, o amor é substituído pela amizade (onde se traça o limite?). Um casal de amigos acaba por funcionar, não estranhamente, de uma forma muito próxima a um casal de amantes, entre os quais pode também existir ciúme e cumplicidade. Felizmente, os realizadores não caíram no cliché de meter uma mulher entre os dois.
Depardieu e Rouve (César para Melhor Esperança Masculina em 2003, por “Monsieur Batignole”) criam duas personagens tocantes e plenas de nuances, através das quais percebemos a diferença entre o que dizem e o que pensam, e com uma evolução credível, por via desta amizade. Um destaque também para Annie Girardot, no papel da mãe de Claude sofrendo de Alzheimer.
Este é um filme leve e sem pretensões, mas característico de uma era que se assume como sendo da comunicação, e onde comunicar, no verdadeiro sentido da palavra, é que menos se faz.
Aos amigos!