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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Quantum of Solace **1/2

07.11.08, Rita

Realização: Marc Forster. Elenco: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric, Judi Dench, Jeffrey Wright, Gemma Arterton, Giancarlo Giannini, Anatole Taubman. Nacionalidade: Reino Unido /EUA, 2008.





Abaixo da surpreendernte qualidade de “Casino Royale”, “Quantum of Solace” revela-se, no entanto, como a única verdadeira sequela de um filme de James Bond. Pegando nas pontas soltas deixadas pelo filme de Martin Campbell, Marc Forster (“Finding Neverland”, “Stranger Than Fiction”) ata-as misturando uma nova missão.


Com a raiva e a tristeza pela traição de Vesper Lynd (Eva Green em “Casino Royale”), James Bond (Daniel Craig) fica obcecado com encontrar e vingar-se do homem que a matou. Quando Bond e M. (Judi Dench) interrogam Mr. White (Jesper Christensen) ele revela-lhes que a organização que chantageou Vesper é bem maior e mais perigosa do que eles possam imaginar. Seguindo uma pista do MI6, Bond vai para o Haiti à caça de um traidor. Numa troca de identidades, ele cruza-se com a bonita e voluntariosa Camille (Olga Kurylenko), também ela com o seu plano pessoal de vingança. Através de Camille, Bond conhece Dominic Greene (Mathieu Amalric), um implacável homem de negócios disposto a repor um antigo um general boliviano (Joaquin Cosio) no poder, em troca de um terreno aparentemente sem valor algum.


A acção vai-se desenrolando em diferentes locais, cada um indicado numa fonte tipográfica diferente e específica (pronto, gosto de pormenores, que fazer?), quase em forma de capítulos onde se estabelecem alianças frágeis, onde se trai e se engana, onde se mata e se luta pela sobrevivência. “Quantum of Solace” chega a insinuar uma preocupação ecológica que fica por explorar e os conflitos acabam por nunca se revestir de uma verdadeiro perigo para o herói.


O título deste filme é extraído de um conto que integra a colecção ‘For Your Eyes Only’ e no qual James Bond e o Governador de Nassau discutem sobre o nível de amor/conforto (‘Quantum of Solace’) necessário para manter uma relação e qual a melhor altura para sair dela. “Quantum of Solace” funciona essencialmente para encerrar o ciclo emocional de Bond, porque como de per si é uma aventura apenas razoável. O argumento de Paul Haggis, Neal Purvis e Robert Wade está pleno de irrepreensíveis cenas de acção, perseguições por terra, céu e mar, numa acção visceral e frenética que tendemos a associar à personagem de Jason Bourne. Mas os locais de tirar a respiração (de Siena às pedreiras de mármore de Carrara, do deserto de Atacama à ópera de Bergenz na Áustria), as bond girls da praxe (além de Camille há ainda a Agente Fields, Strawberry Fields (sim!), interpretada por Gemma Atherton, numa mistura entre profissionalismo e vulnerabilidade) e, sobretudo, as presenças carismáticas de Daniel Craig e Judi Dench mantêm-nos situados.


“Quantum of Solace” continua a demarcação deste novo Bond face à sua imagem clássica. Neste processo são sacrificadas as tiradas cómicas, os gadgets e as sequências eróticas habituais. Nesse compromisso, “Casino Royale” conseguiu um equilíbrio bastante melhor. Apesar disso, existem alguns piscares de olhos à tradição Bond, nomeadamente ‘Goldfinger’.


É até um pouco estranho que, sendo Marc Forster conhecido por filmes tão fortes em termos de personagens, aqui tenha desperdiçado a oportunidade para fazer Bond ir um pouco mais além. Nota-se um investimento na personagem de Dench, que surge mais forte e cuja relação com Bond é a contra-cena mais interessante do filme. Mas outras, como é o caso da personagem de Jeffrey Wright, o agente da CIA Felix Leiter, é completamente desperdiçada. Mathieu Amalric é um vilão bastante menos icónico que outros, mas é precisamente a sua “normalidade” que torna a personagem ainda mais esquizofrénica, entre a timidez e a calma públicas e a implacável crueldade que revela em privada. Daniel Craig continua a provar que veio para ficar. A sua força como homem revoltado, um assassino frio, eficaz e longe da sua humanidade é tão credível como o seu lado mais sensível. A sua confiança e sexualidade exuberantes mascaram um animal ferido onde o conflito emocional apenas se vislumbra. E (caramba!) a sua presença é tão enigmática num smoking como num par de jeans.


Em termos gastronómicos, “Casino Royale” abriu-nos um apetite devorador. Infelizmente, “Quantum of Solace” não chegou para nos tirar a fome.



NOTA: Quem tiver a oportunidade, espreite a fantástica exposição FOR YOUR EYEY ONLY, patente até Março de 2009 no Imperial War Museum em Londres. Foi de lá que eu trouxe isto:







Seguindo a linha gráfica da reedição que a Penguin fez dos livros de Ian Fleming, esta foi a colecção de contos compilada sob o título do filme agora estreado (capa da edição americana):



From a View to a Kill
For Your Eyes Only
Quantum of Solace
Risico
The Hildebrand Rarity
Octopussy
The Living Daylights
The Property of a Lady
007 in New York