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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Paris **1/2

17.10.08, Rita

Realização: Cédric Klapisch. Elenco: Juliette Binoche, Romain Duris, Fabrice Luchini, Albert Dupontel, François Cluzet, Karin Viard, Mélanie Laurent, Zinedine Soualem, Julie Ferrier, Kingsley Kum Abang. Nacionalidade: França, 2007.





“Paris” é um filme melancólico sobre o peso do passado e do futuro sobre o presente. A capital francesa é a epítome desse duelo, quer a nível cultural quer a nível social. E porque a cidade é o indivíduo, enquanto identidade e enquanto ligação com o outro, Cédric Klapisch (“L’Auberge Espagnol”, “Ni pour, ni contre (bien au contraire)”, “Les Poupées Russes”) traz-nos uma narrativa quase episódica em torno de relações: que se estabelecem, que se redefinem, que se quebram.


O centro narrativo de “Paris” é Pierre (Romain Duris), um bailarino do Moulin Rouge que, vítima de um problema cardíaco que apenas lhe deixa o transplante como alternativa, é forçado a enfrentar cedo de mais a sua mortalidade. Élise (Juliette Binoche) é a sua irmã mais velha, que, juntamente com os seus três filhos, se muda para casa de Pierre para cuidar dele. Aliás, Élise cuida de todos – trabalha como assistente social – menos de si própria. A sua falta de sorte no campo amoroso conduziu-a ao desleixo e à descrença. A melhor tirada do filme é-lhe dirigida: o conselho de optar pela homeopatia, ou seja, tomar homens em pequenas doses.


Mas em Paris vive também Roland (Fabrice Luchini), um professor de história de meia idade que se apaixona por uma aluna (Mélanie Laurent) e que inveja o aparente êxito da vida do seu irmão mais novo, Philippe (Francois Cluzet), um arquitecto prestes a ser pai. A dona de uma padaria (Karin Viard), racista e com um feitio que a incompatibiliza com todas as suas empregadas, é desfiada por Khadija (Sabrina Ouazani), uma jovem da ascendência magrebina, que se propõe para a vaga. Benoît (Kingsley Kum Abang) é um jovem dos Camarões decidido a ir ter com o seu irmão a Paris onde sonha conseguir uma vida melhor. Jean (Albert Dupontel) um merceeiro tenta lidar com as constantes seduções a que a sua ex-mulher Caroline (Julie Ferrier), com quem trabalha, é alvo.


O formato de “Paris” está longe de ser original e Klapisch tem uma notória dificuldade na gestão do tempo dedicado às suas personagens, conseguindo oferecer pouco mais que retratos superficiais que acabam por nunca se unir de forma coerente. O seu talento, no entanto, vem ao de cima quando ele dá o devido espaço para que a história cresça. Isso é especialmente notório com as personagens de Binoche e Duris.


Além da qualidade, o elenco de “Paris” é também generoso em qualidade. Só um grupo de actores excepcional tem a capacidade de causar impacto emocional nos poucos minutos que lhe são permitidos pelo ritmo dinâmico da montagem. Juliette Binoche é particularmente avassaladora num desafio à vaidade e à vergonha.


Cédric Klapisch quer levar-nos numa viagem pelas várias cidades que formam Paris, tirando partido da sua fotogenia através de espectaculares imagens aéreas. Mas para um caleidoscópio de vida e morte, amor e desamor, faltou-lhe um pouco mais de combustível.



NOTA: É bom ver o cinema São Jorge cheio. É péssimo continuar a aguentar o calor infernal. É ainda pior aguentar uma massa se espectadores que acha que à ironia se deve reagir com gargalhadas. Talvez para fazer ver ao amigo: “vês, eu percebi o sarcasmo, eu sou inteligente!”. Ou talvez porque a falta de hábito de ir ao cinema se reflecte numa falta de civismo e respeito pela experiência do outro. Melhor seria que digerissem aquilo que lhes é dado, em vez de cuspirem sonoramente a sua imaturidade.


















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