Tropic Thunder **1/2
Realização: Ben Stiller. Elenco: Ben Stiller, Jack Black, Robert Downey Jr., Brandon T. Jackson, Jay Baruchel, Danny McBride, Nick Nolte, Matthew McConaughey, Steve Coogan, Tom Cruise. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2008.
Na selva do Vietname, um grupo de arrogantes estrelas do cinema tenta fazer um dispendioso filme de guerra. Tugg Speedman (Ben Stiller) é um completo idiota, suficientemente bem sucedido para que os seus caprichos sejam tomados como ordens, mas que se sente menosprezado pela indústria. Jeff Portnoy (Jack Black), é um actor de filmes de acção, reduzido pelo vício da heroína a uma patética e desavergonhada versão de si mesmo. Kirk Lazarus (Robert Downey, Jr.) é um actor australiano galardoado com 5 Oscar que decidiu tingir cirurgicamente a pele para interpretar um afro-americano neste filme. Alpa Chino (Brandon T. Jackson) é um rapper que quer aproveitar a sua incursão no cinema para promover a sua bebida energética Booty Sweat. A completar o grupo está Kevin Sandusky (Jay Barcuhel) um jovem actor, e o único cujo ego parece ter uma dimensão mais normal.
Pressionado pelo director do estúdio Les Grossman (um impressionante cameo de Tom Cruise) para terminar o filme, o realizador Damien Cockburn (Steve Coogan) aceita a disparatada ideia de John "Four Leaf" Tayback (Nick Nolte), o soldado que escreveu o argumento auto-biográfico que eles estão a filmar: colocar os actores no meio da selva rodeados de câmaras, longe das suas habituais comodidades, para que vivam as experiências das suas personagens e consigam interpretações credíveis. É óbvio que o plano corre mal; eles acabam por cair nas mãos de traficantes de droga. A especial dificuldade é fazê-los crer que esta se trata de uma guerra real.
À semelhança de “Zoolander”, também realizado por Stiller, “Tropic Thunder” ataca o mundo das celebridades, satirizando o conceito dos blockbusters, com as suas inevitáveis vítimas. O sarcasmo em torno de Hollywood e do estatuto de estrela pode até ser ofensivo, mas revela o olhar crítico de quem o observa de perto. Da mistura de arrogância e insegurança que convivem dentro da persona à loucura que advém do “método” como processo interpretativo para “vestir” uma personagens até às últimas consequências.
O mérito do argumento de Ben Stiller, Justin Theroux e Etan Cohen é transformar “Tropic Thunder” no exemplo do que ele próprio pretende criticar: um filme de acção com um orçamento desmesurado e cheio de actores de renome que serve pouco mais do que para ocupar aqueles minutos na sala de cinema.
Mas entre os momentos de loucura e descontrolo (alguns dos quais conseguem ser brilhantes, como é o caso do conjunto de trailers fictícios que apresentam as personagens principais) há uns compassos de espera que rasam o aborrecido. Uma inconsistência que se estende também às interpretações, sem sombra de dúvidas lideradas por Downey Jr. e Cruise, mas onde Stiller se repete a si mesmo.
Numa indústria que se alimenta da tragédia humana (seja ela uma guerra ou uma incapacidade física/psicológica), “Tropic Thunder” pode ser um inocente e revigorante passatempo.
P.S. - Visto num cinema com poltronas, de pernas esticadas, jantar acabado de comer e um copo de copo de vinho tinto na mão, qualquer filme ganha uma dimensão especial.
CITAÇÕES:
“I don't read the script. The script reads me.”
ROBERT DOWNEY JR. (Kirk Lazarus)
“I don't break character until I'm done recording the DVD commentary...”
ROBERT DOWNEY JR. (Kirk Lazarus)