Be Kind Rewind ****
Realização: Michel Gondry. Elenco: Jack Black, Mos Def, Danny Glover, Mia Farrow, Melonie Diaz. Nacionalidade: EUA, 2008.
Em Passaic, New Jersey, no clube vídeo ‘Be Kind Rewind’ pode-se alugar um filme à escolha, desde que seja em VHS. Com a renda em atraso e a possibilidade de fecho da loja torna-se uma ameaça realista. Por isso o seu dono, Elroy Fletcher (Danny Glover), decide ausentar-se por uns dias para investigar a concorrência, dando instruções precisas ao seu pupilo Mike (Mos Def) para que não deixe o seu amigo Jerry (Jack Black) entrar na loja. Fletcher sabe que Jerry é um desastre ambulante. A mais recente obsessão de Jerry é com a central eléctrica perto da sua casa, que ele acredita estar a enchê-lo de radiações. Numa frustrada tentativa de a sabotar, Jerry acaba por ficar magnetizado e, quando vai visitar Mike à ‘Be Kind Rewind’, a sua energia apaga todos os vídeos disponíveis para aluguer. Para impedir que o negócio vá por água abaixo, os dois amigos optam pela solução pouco convencional de filmarem eles mesmos, com a ajuda da empregada de lavandaria Alma (Melonie Diaz), as versões substitutas dos filmes. E assim, passam a cobrar 20 dólares por filmes de 20 minutos que têm de ser requisitados com 24 horas de antecedência, com a desculpa de que os mesmos vêm da Suécia.
“Be Kind Rewind” é sobretudo uma sincera homenagem ao cinema, a todo o tipo de cinema, sem sequer excluir os maus filmes que fazem parte do imaginário de todos nós, e à acessibilidade que este passou a ter através do vídeo. E se aqui a narrativa é mais fraca que as que Michel Gondry nos tem habituado (“Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, “La Science des Rêves”), ele compensa largamente em paixão, entusiasmo e criatividade. Salvar a loja é totalmente secundário quando temos o prazer de ver as reconstruções imaginativas de Mike e Jerry (ou melhor, de Gondry). E as versões de filmes como “Ghostbusters”, “Driving Miss Daisy”, “Rush Hour”, “The Lion King”, “RoboCop” ou “2001: A Space Odyssey” são perfeitamente delirantes.
À semelhança de “La Science des Rêves”, também este é um mundo infantil com pequenas maravilhas feitas à mão. Um universo onde as aulas de trabalhos manuais da escola fazem todo o sentido, quando compradas com as vazias teorias universitárias. Mas ainda que “Be Kind Rewind” mantenha muita da inocência dos filmes anteriores é, de longe, o menos melancólico.
Também aqui as personagens de Gondry se descobrem a si mesmas e reinventam-se (ao mesmo tempo que o negócio da loja renasce) de uma forma quase onírica. Nos opostos, equilibra-se a doçura e timidez de Mike com a expansividade de Jerry, num casting feito à medida.
E se a literatura dificilmente pode ser entendida se for escrita ao contrário, o cinema é tão emocionante visto de um lado do ecrã como do outro.
CITAÇÕES:
“I'm Bill Murray, you're everybody else.”
MOS DEF (Mike)
“Jerry – How come you never got married Mr. Fletcher?
Elroy Fletcher – Well, the common story is, the girl that you's gon' ask you waited too long to ask. She went on to marry somebody else and then you can't find anybody to compare to her, so what happens?... You get old.”
JACK BLACK (Jerry) e DANNY GLOVER (Elroy Fletcher)
“Our past is ours. So we can change it if we want to.”
MIA FARROW (Ms. Falewicz)