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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

La Habitación de Fermat **1/2

15.06.08, Rita

Realização: Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña. Elenco: Lluís Homar, Alejo Sauras, Elena Ballesteros, Santi Millán, Federico Luppi, Helena Carrión. Nacionalidade: Espanha, 2007.





O jovem génio Galois (Alejo Sauras), que recentemente resolveu o Teorema de Goldbach, é convidado através de um pequeno enigma a participar numa reunião de matemáticos para, em conjunto, resolverem o problema matemático mais complexo de todos. A ele junta-se Hilbert (Lluis Homar), um professor de meia-idade, Pascual (Santi Millan), um inventor alcoólico, e a altiva Oliva (Elena Ballesteros). Apenas os quatro resolveram o enigma proposto e à hora e local marcados (um remoto celeiro abandonado) e com instruções para não levarem telemóvel, eles conhecem o seu anfitrião, Fermat (Federico Luppi).


Após uma chamada, Fermat vê-se obrigado a abandonar o local. Passado uns minutos, os quatro recebem o primeiro enigma num PDA. Têm um minuto para o resolver, passado esse minuto, a sala onde se encontram começa a encolher. Em cada novo enigma, a limitação de tempo, a tensão, factos acerca do passado daqueles quatro anónimos que começam a vir ao cima, e as quatro paredes que continuam a aproximar-se.


Juntar matemática e mistério parece uma tendência quase natural, tendo em conta que, para muita gente, a matemática em si mesma é um. “La Habitación de Fermat” não atinge os níveis de originalidade (ou de bizarria) de um “Cube” de Vicenzo Natali, e contém algumas falhas de lógica crassas, mas, no global, a estreia equipa de realizadores-argumentistas Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña oferece-nos um entretenimento inteligente e satisfatório.


No campo das interpretações há um contraste visível entre actores com a qualidade de Federico Luppi, Lluís Homar (“La Mala Educación”) e Santi Millán (“Amor Idiota”), este último habitualmente numa vertente mais cómica, e a fraca credibilidade dos jovens Alejo Sauras e Elena Ballesteros.


O ritmo dinâmico de “La Habitación de Fermat” é alimentado à base de equívocos e revelações, algumas delas consideravelmente frustrantes tendo em conta o ambiente criado. Em termos dos problemas propostos, alguns são tão óbvios/conhecidos que nos levam a questionar o talento destes supostos peritos. Esse é extremo oposto do dilema de colocar problemas demasiado complicados, que necessariamente afastariam o espectador incapaz de os resolver (dentro do tempo disponível ou fora). É pena que não tenha sido possível encontrar um equilíbrio.


Visualmente, “La Habitación de Fermat” está irrepreensível, desde o genérico inicial onde é construída uma miniatura do cenário, até à exploração de todas as potencialidades do espaço confinado de um quarto, onde cada detalhe e cada ruído adicionam intensidade dramática.


“La Habitación de Fermat”, premiado no Fantasporto 2008 com o Prémio de Melhor Argumento e o Méliès de Prata, é um aviso sobre a sedução do saber, sobre o desequilíbrio que o conhecimento pode gerar e sobre a necessidade do desconhecido para a sanidade emocional.



NOTA: Todas as personagens têm nomes de matemáticos. Para quem sinta curiosidade sobre o dito Fermat, pode espreitar aqui. Por sua conta e risco, claro.