La Fille Coupée en Deux ***
Realização: Claude Chabrol. Elenco: Ludivine Sagnier, Benoît Magimel, François Berléand, Mathilda May, Caroline Silhol, Marie Bunel, Valeria Cavalli, Etienne Chicot, Jeremie Chaplain. Nacionalidade: Alemanha / França, 2007.
Gabrielle Deneige (Ludivine Sagnier) é a jovem apresentadora da meteorologia num canal de TV cabo de Lyon. Ambiciosa mas não a qualquer custo, ela vai-se esquivando airosamente dos avanços do gestor da estação. Gabrielle vive com a mãe (Marie Bunel), que trabalha numa livraria. É precisamente aí que ela reencontra o famoso autor Charles Saint-Denis (François Berléand), que anteriormente tinha sido entrevistado no seu canal, numa sessão de autógrafos. Apesar da grande diferença de idades, o sentimento que Charles desperta em Gabrielle vai para além da simples admiração. Este por sua vez, e apesar do seu casamento feliz com a bela Dona (Valeria Cavalli), não se fecha a novas conquistas. Até porque Dona lhe permite ter as suas aventuras desde que volte sempre para casa. Mas Gabrielle pretende algo sério. É isso que lhe oferece Paul Gaudens (Benoît Magimel), um playboy herdeiro de uma fortuna feita na indústria farmacêutica que fica enfeitiçado por Gabrielle ao primeiro olhar. Sem se poder cortar em duas, ela terá de decidir entre ambos.
Claude Chabrol volta a reunir-se com a família no local de trabalho. Um filho nos secundários (Thomas), outro na banda-sonora (Matthieu) e a enteada Cécile Maistre como assistente de produção e estreando-se como co-argumentista. Volta também ao seu humor negro e olhar crítico sobre a burguesia francesa, como tinha já feito em “L’Ivresse du Pouvoir”.
“La Fille Coupée en Deux”, baseado livremente em acontecimentos reais que ocorreram em 1906 nos EUA, é um filme cheio de detalhes que conferem às personagens uma dimensão consistente. Um pormenor/personagem que me agradou particularmente foi Franck (Jeremie Chaplain), um amigo de Paul que o segue para todo o lado, silenciosa e eficientemente corrigindo todos os seus erros.
De uma forma ou de outra, todos se definem por aquilo que querem e pelo que estão dispostos a fazê-lo para conseguir. A beleza de Gabrielle não ofusca o seu discernimento, e ela sabe o que quer e quem quer. Gabrielle é a inocente que busca o amor. Charles é a experiência que procura a diversão. Paul, arrogante e competitivo, não concebe não ter algo que deseja. Geneviève Gaudens (Caroline Silhol), a mãe de Paul, sabe o quem de fazer pela sua família. Dona, sacrifica o seu amor-próprio pela inabalável cumplicidade com o marido. Mesmo Capucine Jamet (Mathilda May), a editora de Charles, carrega consigo o peso de decidir viver sem barreiras.
Ludivine Sagnier está radiante, como sempre. Beneficiada ainda mais pela fotografia do português Eduardo Serra, a quem cabe também um belo postal de Lisboa, numa viagem efectuada por Gabrielle e Paul (nota máxima para o look dandy de Magimel a cargo de Mic Cheminal).
Como no jogo de espelhos que marca uma das cenas, o reverso de amar é ser-se amado. Mas entre um e outro, é preferível não ter de escolher.