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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Reservation Road **

03.06.08, Rita

Realização: Terry George. Elenco: Joaquin Phoenix, Jennifer Connelly, Mark Ruffalo, Mira Sorvino, Antoni Corone, Gary Kohn, Elle Fanning, Eddie Alderson, Sean Curley. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2007.





Depois de um recital de violoncelo, Ethan Learner (Joaquin Phoenix), a sua mulher Grace (Jennifer Connelly), a filha Emma (Elle Fanning, irmã mais nova de Dakota) e o filho Josh (Sean Curley) param numa estação de serviço a caminho de casa, para que a filha possa ir à casa de banho. Aproveitando aquela paragem, Josh decide libertar uns pirilampos que tinham capturado anteriormente. Vindos de um jogo de basebol dos Red Sox, Dwight Arno (Mark Ruffalo) apressa-se para ir deixar o filho Lucas (Eddie Alderson) a casa da sua ex-mulher Ruth (Mira Sorvino). Um telefonema de Ruth queixando-se do atraso deles é o elemento de distracção que provoca um acidente fatal. O pânico de Dwight impele-o a fugir, destroçando a vida de Ethan e Grace. Perante a ineficácia da polícia em localizar o criminoso, Ethan decide tomar o assunto nas suas mãos, acabando por se ir alienando da sua mulher e filha.


Existem duas semelhanças entre “Reservation Road” e o anterior filme de Terry Jones, “Hotel Rwanda”: uma situação trágica e um bom elenco. Mas a primeira é tratada de uma forma manipuladora, enquanto as sólidas interpretações são ameaçadas pela inverosimilhança e flacidez do argumento, co-escrito por Georger e por John Burnham Schwartz, o autor do livro aqui adaptado. Por coincidência, Ruth é também professora de música dos filhos de Ethan e Grace, e por uma coincidência ainda maior, quando Ethan contrata os serviços de um escritório de advogados para o ajudar com o caso, o advogado que lhe é atribuído é nada mais nada menos que Dwight.


“Reservation Road” é uma flácida tentativa de ensaio sobre as diferentes formas de lidar com a perda e a natureza da vingança. Percebemos o sofrimento e a raiva em Ethan e a angústia e o remorso em Dwight, mas não nos importamos verdadeiramente com nenhum deles. E já que a ambos são dados os mesmos sintomas (irritabilidade, insónias, etc.) teria sido interessante que, à semelhança de Dwight, também Ethan revelasse um dilema moral. Mas George adentra-se muito pouco, quer nas personagens quer na sua gestão da culpa e da admissão da responsabilidade pelos próprios actos.


Dentro de uma temática semelhante, o meu conselho vai para o recentemente revisto “Le Fils”, dos irmãos Dardenne.


A arte do cinema é fazer com que a coincidência pareça natural credível. Este não é o caso. Além disso, os estereótipos a que as personagens são reduzidas tornam o filme cansativo, à medida que se arrasta para um confronto final que parece nunca chegar. E que, quando chega, é solucionado da forma emocionalmente mais simples. Entre criminoso e vítima(s) não há equilíbrio possível, nem através da vingança nem mesmo através do perdão.