Os resultados da cerimónia de ontem:
MELHOR FILME
The King’s Speech, de Tom Hooper
MELHOR ACTOR PRINCIPAL
Colin Firth por “The King’s Speech”
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
Christian Bale por “The Fighter”
MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
Natalie Portman por “Black Swan”
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Melissa Leo por “The Fighter”
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Toy Story 3, de Lee Unkrich
MELHOR DIRECÇÃO ARTÍSTICA
Robert Stromberg (Production Design), Karen O'Hara (Set Decoration) por “Alice in Wonderland”
MELHOR FOTOGRAFIA
Wally Pfister por “Inception”
MELHOR GUARDA-ROUPA
Colleen Atwood por “Alice in Wonderland”
MELHOR REALIZADOR
Tom Hooper por “The King’s Speech”
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Inside Job, de Charles Ferguson
MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL
Strangers No More, de Karen Goodman e Kirk Simon
MELHOR MONTAGEM
Angus Wall e Kirk Baxter por ”The Social Network”
MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA
Hævnen - In a Better World (Dinamarca), de Susanne Bier
MELHOR CARACTERIZAÇÃO
Rick Baker e Dave Elsey por “The Wolfman”
MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
Trent Reznor e Atticus Ross - “The Social Network”
MELHOR CANÇÃO
We Belong Together – “Toy Story 3” (música e letra de Randy Newman)
MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
The Lost Thing, de Shaun Tan e Andrew Ruhemann
MELHOR CURTA-METRAGEM
God of Love, de Luke Matheny
MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Richard King por “Inception”
MELHOR SONOPLASTIA
Lora Hirschberg, Gary A. Rizzo e Ed Novick por “Inception”
MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
Paul Franklin, Chris Corbould, Andrew Lockley e Peter Bebb por “Inception”
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Aaron Sorkin por “The Social Network”
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
David Seidler por “The King’s Speech”
Restantes nomeados aqui.
Realização: Debra Granik. Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Kevin Breznahan, Dale Dickey, Lauren Sweetser, Tate Taylor, Garret Dillahunt, Sheryl Lee, Shelley Waggener. Nacionalidade: EUA, 2010.
Ree Dolly (Jennifer Lawrence) é uma jovem de 17 anos que toma conta de uma mãe quase catatónica e dos dois irmãos mais novos, enquanto o pai, desaparecido, deu como fiança a casa e as terras da família caso não se apresente dentro de poucos dias em tribunal para se defender da acusação de produção de metanfetaminas.
“Winter’s Bone” é um filme lento, como a vida nas geladas montanhas do Missouri, onde paira a desolação, física e emocional, e os sentimento são tão duros como as acções. Num mundo onde, estranhamente, todos parecem ser parentes, e que se rege por leis de honra familiar e justiça de sangue, quem existe é porque sobreviveu – a todas as pancadas da vida e a todos os ossos partidos.
Movidos a raiva animal, amor e ódio significam ambos duas coisas: perseverança e coragem.
Realização: Derek Cianfrance. Elenco: Ryan Gosling, Michelle Williams. Nacionalidade: EUA, 2010.
Entre o passado e o presente, entre a facilidade do começo e a dificuldade do fim, entre a paixão imediata e o longo e doloroso processo de abandonar aquilo em que se depositaram todas as expectativas, “Blue Valentine” acompanha Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams). de uma relação inevitável a uma relação para além do remediável.
Dentro de uma patológica dinâmica de casal, onde todas as concessões e as consecutivas desilusões se transformaram em rancor, e o que é pensado mas não dito se transformou em desconforto, uma discussão insignificante passa a significar o fim de tudo. E o quarto de motel escolhido por Dean para uma escapadela romântica (apropriadamente sob o tema “Futuro”), e que surge como a desesperada e derradeira tentativa para salvar o irrecuperável, é decadente, como decadente é a sua relação.
As diferenças que coloriram o início transformam-se em abismos intransponíveis. E o caminho, que se queria comum, diverge agora com objectivos irreconciliáveis. Lutar pelo passado só porque é passado é tão sem sentido como desistir do presente por preguiça. Um resultado triste e sem esperança.
“You always hurt the ones you love...”
Realização: Sofia Coppola. Elenco: Stephen Dorff, Elle Fanning, Chris Pontius. Nacionalidade: EUA, 2010.
O último filme de Sofia Coppola (“Marie Antoinette”), vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza, começa com a cena de um Ferrari ás voltas numa pista. Ironicamente, esta acaba por ser a infeliz metáfora para o próprio filme: muitas voltas para chegar a lugar nenhum.
Reminiscente do universo de Bret Easton Ellis, mas sem o seu sarcasmo, observa desde dentro a vida vazia e fútil de uma celebridade (Stephen Dorff), que sucumbe à fome canibal do mundo que lhe deu tudo.
Numa existência egocêntrica, marcada pela auto-comiseração e mania da perseguição, apenas o aparecimento da sua filha (Elle Fanning) parece romper com a preguiça de viver que é a sua rotina, para rapidamente ela mesma se ver absorvida pela inércia e pela repetição.
Centrado numa personagem sonâmbula e derrotada, incapaz de gerar empatia pela vacuidade da sua vida privilegiada, “Somewhere” é, também ele, um filme inerte e repetitivo. Apontando redutoramente para a solução da paternidade como razão e sentido da vida, apenas vislumbramos a inquietação gerada pelo paradoxo da liberdade e de não ter (ou não saber) para onde ir nos planos abertos e estáticos que Sofia Coppola, estilisticamente, nos oferece.
Este não é um daqueles pequenos filmes em que o silêncio está cheio de relevância. “Somewhere” é silencioso porque pouco tem a dizer.
Realização: Danny Boyle. Elenco: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Clémence Poésy. Nacionalidade: EUA / Reino Unido, 2010.
Pela lei do eterno retorno, proposta por Nietzsche, o homem, condenado a viver a mesma vida eternamente, teria o estímulo necessário para ser a melhor versão de si mesmo em cada momento, fazendo da sua vida uma vida que merecesse a pena ser repetida incessantemente, sem arrependimentos.
Muito poucos de nós deixariam de apagar ou corrigir alguma coisa. Menos ainda Aron Ralston (James Franco). O canivete suíço esquecido, o telefonema não atendido, a bebida energética deixada no carro, sem dizer a ninguém onde ia passar o fim-de-semana. Em 2003, Ralston teve 127 horas para pensar em tudo isso e ainda nas formas possíveis de libertar o seu braço direito de um pedregulho que o prendeu à parede do desfiladeiro Bluejohn no Utah.
Esta é a história de um homem que confiou demasiado nas suas capacidades, que tomava o mundo e a vida como garantidos e não teve outra alternativa senão reajustar a sua percepção do que é importante.
Este filme é James Franco. Da incompreensão inicial à frustração das várias tentativas. Da recusa a cair na impotência, achando-se demasiado inteligente para ceder ao pânico, do seu humor resistente à percepção final de que a vida deve ser vivida como um valioso prémio.
Boyle liberta o espectador da prisão de Ralston em breves respiros de flashbacks e alucinações. Apenas o tempo suficiente para nos colocar de novo ao seu lado, partilhando a sua angústia e racionalmente negando o desfecho que sabemos vir a caminho.
Brutal de ver, duro de digerir (dificilmente na lista dos “a rever”), “127 Hours” leva-nos ao limite, numa luta determinada contra o desespero.
Realização: George Hickenlooper. Elenco: Kevin Spacey, Barry Pepper, Kelly Preston, Rachelle Lefevre, Jon Lovitz, Maury Chaykin. Nacionalidade: Canadá, 2010.
Da duplicidade e hipocrisia humanas, da asquerosa manipulação de interesses, dos dúbios negócios de bastidores, da absurda inculpabilidade dos principais intervenientes, da assustadora realidade política.
Realização: David O. Russell. Elenco: Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo, Jack McGee, Mickey O'Keefe. Nacionalidade: EUA, 2010.
Sem aspirações a metáfora generalista, “The Fighter” é um biopic sobre o pugilista Micky Ward (Mark Wahlberg) e o seu percurso desde Lowell, um subúrbio operário de Boston, até ao êxito profissional.
Dominado por uma mãe (Melissa Leo), que insiste em gerir a sua carreira, e pelo meio-irmão Dicky (Christian Bale), que insiste em ser seu treinador apesar da sua irresponsabilidade e do seu pouco saudável interesse pelo crack, Micky submete-se às escolhas que os outros fazem por ele, parecendo ser o único que não quer explorar o seu próprio talento.
Com e entrada em cena de Charlene (Amy Adams), e por insistência do seu pai (Jack McGee) e do seu preparador físico (Mickey O'Keefe interpretando-se a si mesmo), Micky terá, eventualmente, de assumir a responsabilidade pela sua própria vida.
“The Fighter” é, antes de mais, um drama familiar sobre escolhas difíceis e oportunidades perdidas. Com a atenção focada nas suas personagens, beneficiando todas elas de fortes interpretações, as cenas de boxe acabam por ser, curiosamente, as mais mornas.
Especialmente por Christian Bale: em perfeito domínio do seu talento.
“Pa Negre”, filme de Agustí Villaronga sobre o pós-guerra civil na Catalunha rural, foi o grande vencedor da 25ª edição dos Prémios Goya, que tiveram lugar este fim de semana.
(trailer)
Eis os vencedores da edição deste ano dos Orange British Academy Film Awards.
MELHOR FILME
THE KING’S SPEECH - Iain Canning, Emile Sherman, Gareth Unwin
MELHOR FILME BRITÂNICO
THE KING’S SPEECH - Tom Hooper, David Seidler, Iain Canning, Emile Sherman, Gareth Unwin
MELHOR REALIZADOR, ARGUMENTISTA OU PRODUTOR BRITÂNICO EM PRIMEIRA OBRA
FOUR LIONS - Chris Morris (Director/Writer)
MELHOR REALIZADOR
THE SOCIAL NETWORK - David Fincher
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
THE KING’S SPEECH - David Seidler
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
THE SOCIAL NETWORK - Aaron Sorkin
MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA
THE GIRL WITH THE DRAGON TATTOO - Søren Stærmose, Niels Arden Oplev
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
TOY STORY 3 - Lee Unkrich
MELHOR ACTOR
COLIN FIRTH - The King’s Speech
MELHOR ACTRIZ
NATALIE PORTMAN - Black Swan
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
GEOFFREY RUSH - The King’s Speech
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
HELENA BONHAM CARTER - The King’s Speech
MELHOR BANDA SONORA
THE KING’S SPEECH - Alexandre Desplat
MELHOR FOTOGRAFIA
TRUE GRIT - Roger Deakins
MELHOR MONTAGEM
THE SOCIAL NETWORK - Angus Wall, Kirk Baxter
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
INCEPTION - Guy Hendrix Dyas, Larry Dias, Doug Mowat
MELHOR GUARDA-ROUPA
ALICE IN WONDERLAND - Colleen Atwood
MELHOR SOM
INCEPTION - Richard King, Lora Hirschberg, Gary A Rizzo, Ed Novick
MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
INCEPTION - Chris Corbould, Paul Franklin, Andrew Lockley, Peter Bebb
MELHOR CARACTERIZAÇÃO
ALICE IN WONDERLAND - Nominees TBC
MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
THE EAGLEMAN STAG - Michael Please
MELHOR CURTA-METRAGEM
UNTIL THE RIVER RUNS RED - Paul Wright, Poss Kondeatis
THE ORANGE WEDNESDAYS RISING STAR AWARD (atribuído pelo público)
TOM HARDY
ACADEMY FELLOWSHIP
SIR CHRISTOPHER LEE
MELHOR CONTRIBUIÇÃO BRITÂNICA PARA O CINEMA
THE HARRY POTTER FILMS
Restantes nomeados aqui.
Realização: Tom Hooper. Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Guy Pearce, Jennifer Ehle, Derek Jacobi, Michael Gambon, Timothy Spall, Anthony Andrews. Nacionalidade: Reino Unido / Austrália / EUA, 2010.
“The King’s Speech” é um filme sobre a gaguez de George VI (Colin Firth), que sucedeu no trono britânico ao seu irmão Edward VIII (Guy Pearce), após a abdicação deste para casar com a divorciada Wallis Simpson. “The King’s Speech” é também um filme sobre a metafórica gaguez do dilema entre o dever e a vontade.
O inteligente argumento de David Seidler alia-se ao olhar artístico de Tom Hooper, em redor daquela que é uma improvável amizade entre um quase-rei e um plebeu australiano (Geoffrey Rush) decidido a ajudá-lo na sua incapacidade. Rodeados de paredes descascadas ou no meio de um denso nevoeiro, entre raivas e angústias, dois homens cumprem o seu caminho, ainda que este se venha a revelar bem diferente do que aquilo que qualquer um deles pretendia.
Uma luta como tantas outras, contra o passado, contra o futuro. Contra aquilo que em nós mesmos nos impede de largar o primeiro e de aceitar os desafios do segundo. Fazendo da vida a soma de todas as nossas abdicações, tanto como das nossas escolhas.
Realização: Darren Aronofsky. Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder, Benjamin Millepied, Ksenia Solo. Nacionalidade: EUA, 2010.
Na tentativa de ser aquilo que todos os outros esperam dela, Nina (Natalie Portman) não se conhece a si mesma. Frágil perante as suas críticas, ela trabalha para ser perfeita. Mas o verdadeiro desafio surge quando lhe é exigido que abandone todo esse controlo que impôs a si mesma. Na busca da sua identidade, ela descobre a dualidade que a habita.
Da mesma forma que a degradação física emula o desgaste psicológico (numa leitura de amoralidade não muito longínqua de Dorian Gray), Aronofsky utiliza os efeitos visuais para traduzir as apreensões e ansiedades de Nina.
“Black Swan” é uma visão visceral sobre o agonizante caminho para a perfeição e a agonizante tragédia que é atingi-la. Descobrirmo-nos a nós mesmos pode implicar descobrir coisas que desprezamos. E o maior drama da nossa vida pode ser exactamente conseguir aquilo que sempre desejámos.
Realização: Clint Eastwood. Elenco: Matt Damon, Cécile De France, Jay Mohr, Bryce Dallas Howard, George e Frankie McLaren, Thierry Neuvic. Nacionalidade: EUA, 2010.
Sob a premissa do sobrenatural, “Hereafter” não tinha, aos meus olhos a vida facilitada. Entre o meu natural cepticismo e a minha relutância perante as habituais abordagens cinematográficas desta temática, só mesmo Clint Eastwood, como avalista, para me conduzir nesta nova tentativa.
Infelizmente, os meus receios, comprovaram-se. Num pacthwork de clichés sobre a dor, a perda e a morte, “Hereafter” oferece soluções simplistas numa história que se propõe abordar uma das maiores dúvidas espirituais do Homem. O nome “Shyamalan” veio-me à mente, e no pior sentido do termo.
Talvez Eastwood esteja mais perto de si mesmo. Mas, para nós que estamos deste lado, as suas preocupações já foram muito, muito mais interessantes.