Realização: Sophie Barthes. Elenco: Paul Giamatti, David Strathairn, Dina Korzun, Katheryn Winnick, Lauren Ambrose, Emily Watson. Nacionalidade: EUA / França, 2009.
A alma é a pedra no sapato, que, a cada passo, nos incomoda, com as suas dolorosas memórias, com as suas aguçadas sensibilidades, com as suas ásperas emoções.
E se a pudéssemos remover com uma simples extracção cirúrgica? E se a vida sem alma fosse mais leve? E se só lhe soubéssemos dar valor quando, numa ilegal operação de tráfico, no-la roubassem? E se experimentar outra alma fosse o único caminho para conseguir compreender o outro?
Tudo começa com Tchékhov, o seu Tio Vânia e o peso existencial. Paul Giamatti é um actor (ele mesmo) incapaz de se separar da sua personagem. A possibilidade de remoção da alma parece ser a solução óptima para o seu problema.
“Cold Souls” aflora a filosofia e a moral sem clarificar questões ou as suas respostas. O cérebro é relegado para um papel de máquina de raciocínio, e isentado do de reservatório de sensações, sentimentos e emoções.
Ou a natureza da alma permanece como a grande incógnita, ou é um simples grão-de-bico. Esta última hipótese é, no entanto, insolitamente tranquilizadora…
(17.05.1936 - 29.05.2010)
Realização: Miguel Arteta. Elenco: Michael Cera, Portia Doubleday, Jean Smart, Zach Galifianakis, Erik Knudsen, Adhir Kalyan, Steve Buscemi, Fred Willard, Ari Graynor, Ray Liotta, Justin Long. Nacionalidade: EUA, 2009.
Com a ajuda do livro de C.D.Payne e do argumento adaptado por Gustin Nash, o realizador de “The Good Girl” traz-nos uma comédia adolescente que, no mínimo, nos garante um sorriso nos lábios até ao pedaço de animação no genérico final. De não negligenciar a interpretação apurada (e já especializada) do eterno adolescente Michael Cera (almost 22 and counting…)
O amor da juventude é desesperado e egoísta, reclamando para si todo o tempo e todo o espaço. Alimenta-se de todas as migalhas, ignorando tudo e todos. Expõe-nos ao ridículo e às intempéries. Leva-nos à loucura e dá-nos breves lampejos de lucidez para vermos o buraco onde estamos metidos e onde, conscientemente, nos deixamos ficar.
Resta a tranquilidade de saber que, com sorte, chegará o dia em que, mais do que ser suficiente, será necessário sermos quem somos.
Realização: Luca Guadagnino. Elenco: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini, Alba Rohrwacher, Pippo Delbono, Diane Fleri, Maria Paiato, Marisa Berenson, Waris Ahluwalia, Gabriele Ferzetti. Nacionalidade: Itália, 2009.
Sob a austera beleza arquitectural art déco, sobre as texturas dos tecidos e dos revestimentos, as emoções caladas começam a emergir, nem sempre belas e muito menos suaves.
O amor como revelador, como transformador.
O amor como impositor dos maiores sacrifícios.
O amor como algoz.
spend it with you now
GRIZZLY BEAR @Coliseu dos Recreios
where you start and I begin
THE XX @Aula Magna
T.O. Bakjwi. Realização: Park Chan-wook. Elenco: Song Kang-ho, Kim Ok-bin, Kim Hae-sook, Shin Ha-kyun, Park In-hwan, Oh Dal-su, Song Young-chang.. Nacionalidade: Coreia do Sul / EUA, 2009.
Na insistentemente aborrecida moda dos vampiros, “Thirst” é uma abordagem algo refrescante (ainda que a quilómetros de distância do Sueco “Deixa-me Entrar” (“ Låt den rätte komma in”) do realizador do belíssimo e romântico “I’m a Cyborg, but That’s OK”.
Na disputa entre a moral e os instintos, nem sempre é possível encontrar um meio-termo. O mesmo acontece na forma desequilibrada em que este filme oscila entre os momentos de terror e os cómicos.
O cinema italiano regressa este mês, na 3ª edição de 8 ½ Festa do Cinema Italiano.
Em antestreia nacional, será apresentado “Vincere”, o filme de Marco Bellocchio nomeado para a Palma de Ouro na edição de 2009 do Festival de Cannes.
Tem início hoje, na Fundação de Serralves no Porto, a segunda edição da mostra DOC_EUROPA.
A partir do dia 14 será a vez de Lisboa, no Instituto Franco-Português, poder assistir às 27 obras documentais que estão em representação de cada uma das nações da União Europeia. Portugal estará presente com a obra “A Casa que eu Quero” (2008), de Joana Frazão e Raquel Marques.
A entrada é livre e a programação pode ser consultada no site da Apordoc – Associação pelo Documentário.
Realização: Todd Solondz. Elenco: Shirley Henderson, Ciaran Hinds, Allison Janney, Michael Lerner, Chris Marquette, Rich Pecci, Charlotte Rampling, Paul Reubens, Ally Sheedy, Dylan Riley Snyder, Renee Taylor, Michael Kenneth Williams. Nacionalidade: EUA, 2009.
Numa atmosfera surreal, onde ser disfuncional é a norma, Solondz fala sobre a necessidade do perdão para se poder enfrentar o futuro.
Através de diálogos absurdos e geniais parte do particular para o geral, e eis que deixamos de questionar as atitudes das suas personagens para passarmos a questionar as atitudes do nosso mundo.
Realização: Cédric Dupire e Gaspard Kuentz. Género: Documentário. Nacionalidade: França, 2009.
O Japão é um lugar estranho.* O conformismo é um lugar comum.
O grupo de artistas/performers japoneses que o documentário “We don’t care about music anyway…” apresenta são tudo menos conformistas. E são bem estranhos. Felizmente! Que piada é que têm japoneses normais?
O ruído e a improvisação. Os instrumentos mais suspeitos, tendo no corpo humano a derradeira fonte de ritmos.
E Tóquio. Uma Tóquio fascinante, pulsante, desmesurada na sua escala, cuspindo para os seus subúrbios todo o lixo e ruínas que não encaixam na sua obsessão por ordem e rigor.
Uma experiência visual e sonora, que tanto pode (e deve) ser exibida numa sala de cinema como numa galeria de arte. Mesmo que os ouvidos tenham dificuldade em suportar alguns decibéis.
Estes japoneses não querem saber de música e fazem muito bem.
Já há por aí demasiada gente interessada em música.
Com produtos sonoros bem mais ruidosos (e cansativos) do que esta malta nipónica faz.
*A minha vénia ao Peter Carey e ao seu belo livro.
T.O.: Nanjing! Nanjing! Realização: Lu Chuan. Elenco: Liu Ye, Fan Wei, Hideo Nakaizumi, Gao Yuanyuan . Nacionalidade: China / Hong Kong, 2009.
Ao testemunharmos as atrocidades da guerra, somos implicados no seu terror e na angústia dos seus intervenientes.
Quando um ser humano rebaixa outro rebaixa-se a si mesmo.
Quando deixamos de conseguir sentir empatia pela dor e pelo sofrimento do outro, resta muito pouco, quase nada. Não, minto. Resta muita, muita tristeza.
Realização: Lynn Shelton. Elenco: Mark Duplass, Joshua Leonard, Alycia Delmore. Nacionalidade: EUA, 2009.
Uma relação pode impedir-nos de ser aquilo que queremos ser, quando não há espaço para nos questionarmos, nos descobrirmos e crescermos.
Mentimos ao outro para poder ser aquilo que somos, mentimos a nós mesmos ao pensar que somos o que um dia idealizámos.
Fazer o que mais nos assusta pode ser a única forma de testar a nossa identidade. Mas o receio pode apenas ser um mecanismo de alerta.
Arte não é fazer. Mas ser.