ALIGN=JUSTIFY>Tendo terminado nestes dias a leitura de “O Segredo de Joe Gould”, de Joseph Mitchell, eis que encontro nesta comédia de absurdo argentina mais uma personagem que se recusa a ser prisioneira de um trabalho, que lhe roubará o tempo para viver e amar, a sanidade e, em última instância, a sua identidade.
Como os diálogos, os corpos correm para não se perderem de si mesmos, para escaparem daquilo que o mundo parece ter decidido para cada deles, sem sequer os consultar.
Talvez aquele desespero e aquele cansaço fossem meus também, pois, à semelhança de Castro, também eu não quero ser definida por aquilo que faço das 9 às 5.
ALIGN=JUSTIFY>Realização: John Hindman. Elenco: Jeff Daniels, Lauren Graham, Lou Taylor Pucci, Olivia Thirlby, Kat Dennings, Nora Dunn, Tony Hale, Max Antisell. Nacionalidade: EUA, 2009.
ALIGN=JUSTIFY>Quando os outros são o nosso “inferno” e todas as fraquezas humanas são objecto de desprezo, que espaço existe para o amor? ALIGN=JUSTIFY>Por vezes leva muito tempo (e dor) para descobrirmos que a verdade não reside numa resposta, mas numa pergunta.
ALIGN=JUSTIFY>Como moscas, presenciamos conversas alheias, pessoas que se revelam em palavras banais num cenário quotidiano.
A fotografia de um momento onde sobrevém a noção de “lar” como um refúgio de afectos.
Entre "Love Will Tear Us Apart” dos Joy Division e “Remember Me” de Cat Power, percebemos a fragilidade de tudo o que é humano e a fugacidade de tudo o que é. No final, apenas um espaço vazio.
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ALIGN=CENTER>COLOR=#E90909>CAT POWER COLOR=#E90909>Remember Me
COLOR=#AAAAAA>remember me don't ever forget me child we all are only here just for a little while you remember that guy that guy you were dating he broke your heart and then just walked away yes, you did know you remember when you were sick you were cripple and you were lame I stood by your bedside 'til you were on your feet again yes, I did know you were tired and you want to be free I need someone to stand just right by me all day and all night again and again and again I can't stop now with you my life my life has been so wonderful I need your love I need you to walk all day and all night remember me don't ever forget me child we are all only here just for a little while please, please… remember me
ALIGN=JUSTIFY>Da força (também destruidora] do amor.
Uma viagem (estética e narrativamente irrepreensível) em busca daquele ponto de acupunctura onde, com uma agulha, todas as recordações de dor se podem apagar.
ALIGN=JUSTIFY>Realização: Oliver Parker. Elenco: Colin Firth, Ben Barnes, Rebecca Hall, Rachel Hurd-Wood, Emilia Fox, Caroline Goodall, Ben Chaplin. Nacionalidade: Reino Unido, 2009.
ALIGN=JUSTIFY>Nos contos góticos o terror era criado pela imaginação. Na obra de Oscar Wilde a sociedade era objecto de uma crítica subtil e inteligente. No argumento de Toby Finlay, que adapta livremente o clássico “The Picture of Dorian Gray”, todos estes elementos falham. ALIGN=JUSTIFY>Em vez disso, temos situações amorosas que nos distraem do dilema central, explicações simplistas que reduzem a perda da inocência e o abraçar de uma vida de perfeito hedonismo a uma infância de abusos. Como se o mal, por si só (e em especial com um bom “vendedor” como Colin Firth) não fosse suficientemente sedutor. ALIGN=JUSTIFY>A fotografia consegue conferir um ambiente soturno e decadente, mas, também visualmente, “Dorian Gray” é demasiado evidente, explicando tudo, mostrando ainda mais. Cada cena parece vir com um carimbo moral que atesta a incapacidade do espectador de interpretar a obra. De perceber que o bem e o mal existem e se defrontam interiormente, da deterioração de uma alma sem humanidade, da angústia que é carregar os nossos vícios no corpo aos olhos de todos.