Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Visitor ****

27.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Thomas McCarthy. Elenco: Richard Jenkins, Haaz Sleiman, Danai Gurira, Hiam Abbass, Marian Seldes, Maggie Moore, Michael Cumpsty. Nacionalidade: EUA, 2008.


SRC=http://latimesblogs.latimes.com/photos/uncategorized/2008/07/07/visitor_2.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Walter Vale (Richard Jenkins) é professor de economia na universidade. Viúvo, ele vive uma vida de calmo desespero, num espaço morno e aborrecido, a meio caminho entre a tristeza e a alegria. Os seus serões passados bebendo vinho e ouvindo música clássica. Walter vê-se obrigado a ir a uma conferência em Nova Iorque apresentar um trabalho no qual ele apenas colocou o seu nome. Regressando ao seu pouco usado apartamento na cidade para passar aqueles dias, Walter é surpreendido pela presença de Zainab (Danai Gurira) e Tarek (Haaz Sleiman). Ela é senegalesa, ele sírio, e, sem saberem que o apartamento pertencia a Walter, alugaram-no a uma personagem dúbia. Depois de alguma tensão, eles pedem desculpa e saem para a rua sem saber muito bem onde irão passar a noite. Walter acaba por lhes oferecer de novo o apartamento. E com isso, oferece-se a si mesmo uma nova vida.

ALIGN=JUSTIFY>“The Visitor” é um daqueles filmes que se vai abrindo a pouco e pouco até nos mostrar a pérola que esconde no seu interior. Um pouco à semelhança do que acontece com o seu protagonista. Walter é distante nas suas relações interpessoais, limitando-as às socialmente obrigatórias – alunos e colegas. As suas acções estão reduzidas a uma rotina segura e sem surpresas.

ALIGN=JUSTIFY>Na improvável amizade que ele estabelece com este casal de imigrantes ilegais, Walter vai-se reencontrando com as suas próprias emoções. Tarek é um virtuoso do djembé, e Walter não consegue disfarçar a atracção que a percussão lhe desperta. Tarek decide então ensinar Walter e, num simbolismo muito próximo das batidas cardíacas, Walter vai-se adentrando nos seus sentimentos. Quando Tarek é detido no metro e preso, a explosão de emoção descontrolada de Walter é tão mais forte quanto a sua quietude tinha sido silenciosa.

ALIGN=JUSTIFY>As interpretações em “The Visitor” são excelentes, do nomeado ao Oscar Richard Jenkins, conjugando a suavidade com a tensão de uma mola comprimida, ao simpático e doce Haaz Sleiman, passando por uma cuidadosa e céptica Danai Gurira e o optimismo generoso de Hiam Abbass, no papel de Mouna, a mãe de Tarek.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de abordar a arbitrária política de imigração americana, em especial no caso de árabes, baseada num medo e burocracia ferozes, o realizador Thomas McCarthy (“The Station Agent”) não quis fazer deste um filme político. O que lhe interessa são as suas personagens, a quem ele confere tantas dimensões quanto possível.

ALIGN=JUSTIFY>Com humor, com raiva, com ternura e com um incómodo final “The Visitor” fala da beleza das amizades mais estranhas e da forma como as pessoas podem mudar com apenas pequenos gestos de generosidade. Talvez seja mesmo esse o caminho.








Oscar® 2009 – vencedores

23.02.09, Rita



 

And the Oscar® went to...



 



MELHOR ACTOR PRINCIPAL
Sean Penn por “Milk”

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
Heath Ledger por “The Dark Knight”

MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
Kate Winslet por “The Reader”

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Penélope Cruz por “Vicky Cristina Barcelona”

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
WALL•E, de Andrew Stanton

MELHOR DIRECÇÃO ARTÍSTICA
Donald Graham Burt e Victor J. Zolfo por “The Curious Case Of Benjamin Button”

MELHOR FOTOGRAFIA
Anthony Dod Mantle por ”Slumdog Millionaire”

MELHOR GUARDA-ROUPA
Michael O'Connor por “The Duchess”

MELHOR REALIZADOR
Danny Boyle por ”Slumdog Millionaire”

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Man on Wire, de James Marsh

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL
Smile Pinki, de Megan Mylan

MELHOR MONTAGEM
Chris Dickens por “Slumdog Millionaire”

MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA
Okuribito (Departures), de Yojiro Takita (Japão)

MELHOR CARACTERIZAÇÃO
Greg Cannom por “The Curious Case of Benjamin Button”

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
A.R. Rahman“Slumdog Millionaire”

MELHOR CANÇÃO
Jai Ho (A.R. Rahman e Gulzar) – “Slumdog Millionaire”

MELHOR FILME
Slumdog Millionaire, de Danny Boyle

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato

MELHOR CURTA-METRAGEM
Spielzeugland, de Jochen Alexander Freydank

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Richard King por “The Dark Knight”

MELHOR SONOPLASTIA
Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty por “Slumdog Millionaire”

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton e Craig Barron por “The Curious Case of Benjamin Button”

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Dustin Lance Black por “Milk”

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Simon Beaufoy por ”Slumdog Millionaire”


 

Restantes nomeados aqui.




 

Rachel Getting Married ***

21.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Jonathan Demme. Elenco: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Mather Zickel, Bill Irwin, Anna Deavere Smith, Anisa George, Tunde Adebimpe, Debra Winger, Jerome Le Page. Nacionalidade: EUA, 2008.


SRC=http://www.sizzlingpopcorn.com/moviepics/rachelgettingmarried/rachelgettingmarried14.png>


ALIGN=JUSTIFY>Kim (Anne Hathaway) sai do centro de reabilitação (um dos vários nos últimos anos) para assitir ao casamento da sua irmã mais velha Rachel (Rosmarie DeWitt), com Sidney (Tunde Adebimpe, vocalista dos TV On The Radio). O pai Paul (Bill Irwin) e a madrasta Carol (Anna Deavere Smith) vão buscá-la e logo nessa viagem de carro nos apercebemos que esta é uma família com dores e rancores passados.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de estar limpa há 9 meses, e diligentemente cumprir com os procedimentos e reuniões de acompanhamento, Kim sabe que, quando olham para ela, todos vêem os seus problemas. Uma parte dela reclama por essa atenção, o que incomoda substancialmente Rachel, sempre habituada a passar para um segundo plano perante as crises da irmã. No ambiente de caos pouco controlado que é a preparação de um casamento, a instabilidade de Kim vem atiçar todas as feridas. Paul tenta mediar os conflitos, mas a sua constante preocupação e super-protecção parecem colocar todos num estado de nervos ainda maior. À medida que o casamento se aproxima, a dinâmica familiar, que inclui ainda a mãe de Rachel e Kim (Debra Winger) – uma mulher fria que se mantém à margem da vida das filhas –, vai-se tornando cada vez mais precária.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento de Jenny Lumet (filha de Sidney Lumet) não dá demasiadas explicações, primando por uma subtileza honesta. O momento escolhido para observar esta família disfuncional (à sua maneira, não são todas?) implica sabermos dela apenas o que se passa neste espaço e neste tempo. Mas nada do que fica por dizer parece ser, de facto, relevante.

ALIGN=JUSTIFY>Jonathan Demme filma “Rachel Getting Married” como um home movie, criando um ambiente de grande intimidade. De câmara na mão, Declan Quinn faz-nos entrar numa festa. Vamos percorrendo a casa e vendo as pessoas, mas detendo-nos em apenas algumas delas. É o que sucede, por exemplo, com a personagem de Anna Deavere Smith, que quase sem qualquer fala, é extremamente presente em pano de fundo, cuidando de todos os pormenores e partilhando da dor familiar.

ALIGN=JUSTIFY>Este equilíbrio é também conseguido graças às interpretações sinceras de todo o elenco. Mas Anne Hathaway é, com efeito, a força motriz de “Rachel Getting Married”. Num registo inesperado mas credível, que vai da raiva à calma contemplação, ela é uma mulher que se despreza a si mesma, mas que está decidida a expiar os seus pecados.

ALIGN=JUSTIFY>Demme não tem o domínio que Robert Altman tinha nestas narrativas de grupo, mas o uso de Tim Squyres na montagem, também responsável por “Gosford Park”, não parece ter sido casual. No entanto, o ritmo de “Rachel Getting Married” não raras vezes esmorece, como uma festa na sua fase final, deixando o espectador um pouco à deriva.

ALIGN=JUSTIFY>Uma família erra, tem ciúmes e rivalidades. Uma família ri e ama intensamente. Uma família partilha e perdoa. “Rachel Getting Married” fala, e o seu grande mérito é nem sequer o dizer, de um conceito universal (e multicultural) de família, pelo qual aceitamos o outro de coração aberto e sem restrições.








The Reader ****1/2

20.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Stephen Daldry. Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross, Lena Olin, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2008.


SRC=https://farm4.static.flickr.com/3180/2915193775_a4dc2de4ba.jpg?v=0>


ALIGN=JUSTIFY>Para começar, ‘O Leitor’ é um belíssimo livro da autoria do escritor alemão Bernhard Schlink. Uma história bem contada, envolvente e surpreendente. Para terminar, o argumento de David Hare e a realização de Stephen Daldry (que tinham já colaborado em 2002 em “The Hours”) fazem desta uma adaptação quase perfeita da obra.

ALIGN=JUSTIFY>Em 1995, Michael Berg (Ralph Fiennes) é um advogado em Berlim, um homem auto-condenado a uma vida solitária. Em 1958, com 15 anos, Michael (David Kross) adoece no caminho para casa e é ajudado por Hanna (Kate Winslet), uma brusca mulher de 36 anos. Quando, passado uns meses, Michael recupera a sua saúde, ele volta a casa dela para lhe agradecer. Esse é o início de uma atracção incontornável e de uma relação incorrecta. Depois da escola de Michael e depois do trabalho de Hanna como revisora no eléctrico de Berlim, eles encontram-se na casa dela, onde rapidamente o sexo é complementado com um pedido curioso por parte de Hanna: que Michael leia para ela os vários livros que ele vai estudando na escola. A relação de ambos compreende um sinuoso jogo de poder, que Hanna manipula. No final desses breves meses de Verão, Hanna desaparece, deixando o apartamento vazio. Oito anos mais tarde, como estudante de direito na Universidade de Heidelberg, Michael reencontra Hanna, acusada de homicídio num julgamento que incrimina várias guardas prisionais nazis.

ALIGN=JUSTIFY>Primeiro que tudo “The Reader” não é nenhuma história de amor. Ou melhor, é uma história de amor próprio e de respeito, de dar-se a si próprio uma oportunidade de felicidade. “The Reader” é um filme sobre a vergonha. A vergonha de uma mulher ocultada num segredo, a vergonha de um homem por ter amado essa mulher, a vergonha de um país pelo seu passado.

ALIGN=JUSTIFY>Da mesma forma que estas duas pessoas procuram uma na outra a confirmação do seu valor como ser humano, a Alemanha olha para si mesma buscando o que lhe resta de humanidade após Hitler. Perante a possibilidade de ilibar Hanna, Michael permanece silencioso, como muitos alemães fizeram enquanto à sua volta tinham lugar os crimes mais hediondos.

ALIGN=JUSTIFY>Kate Winslet é agressiva e impenetrável, conseguindo uma interpretação tão hermética como arrebatadora. Um desafio que o jovem actor alemão David Kross enfrenta com muita competência. Do ponto de vista dramático, algumas das soluções criadas em específico para o filme (como o flashback inicial ou a personagem da filha de Michael) funcionam de forma bastante eficaz. O design de produção de Brigitte Broch, em concreto do apartamento de Hanna, é de um extremo e cuidadoso detalhe. E depois há a fotografia de Roger Deakins e Chris Menges, que nos tira a respiração.

ALIGN=JUSTIFY>Cumprir ordens tende a criar um blackout moral onde se fica ilibado da responsabilidade. Condição base de qualquer sistema militar ou paramilitar repressivo. As cicatrizes alemãs são profundas, e a luta entre a consciência individual e a culpa colectiva ainda persiste nos dias de hoje. Mas os alemães somos nós também. Ontem e hoje, a maioria de nós cala-se e assiste a tudo de forma conivente. A maioria das vezes escolhemos ser cúmplices. Mas fazer o bem é também uma escolha.








Fantas 2009

20.02.09, Rita


SRC=http://fotos.sapo.pt/geR5wEkPEB04RdyvE4gt/>


ALIGN=JUSTIFY>Começa hoje a 29ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico - Fantasporto. Este ano, a sessão de abertura cabe ao filme “Che - The Argentine”, de Steven Soderbergh, enquanto a sessão de encerramento de dia 28 fica a cargo de “Adam Resurrected”, de Paul Schrader.

Bons arrepios!


ALIGN=LEFT> COLOR=#E90909>CINEMA FANTÁSTICO

ABSURDISTAN de Veit Helmer (Ale, 88’)
ASTROPIA de Gunnar B. Gudmundsson (Isl/GB/Fin, 92’)
BABYSITTER WANTED de Michael Manasseri, Jonas Barnes (EUA, 88’)
BELLINI E O DEMÓNIO de Marcelo Galvão (Bra, 120’)
EDEN LAKE de James Watkins (GB, 91’)
HANSEL & GRETEL de Pil-Sung Yim (Cor Sul, 116’)
IDIOTS AND ANGELS de Bill Plympton (EUA, 78’)
LE PRINCE DE CE MONDE de Manuel Gómez (Bel, 100’)
SEXYKILLER, MORIRÁS POR ELLA de Miguel Marti (Esp, 100’)
OUTLANDER de Howard McCain (EUA, 115’)
PRIME TIME de Luis Calvo Ramos (Esp, 105’)
THE UNBORN de David S. Goyer (EUA, 87’)
VIRUS UNDEAD de Wolf Wolff, Ohmuthi (Ale, 75’)
WALLED IN de Gilles Paquet-Brenner (EUA/Fra/Can, 92’)

COLOR=#E90909>CURTAS METRAGENS CINEMA FANTÁSTICO

ANYONE THERE de Holger Frick (Ale, 9’35’’)
CENTIGRADE de Colin Cunningham (Can, 17’)
HOLD YOUR FIRE de Wes Benscoter (EUA, 8’)
MAMA de Andy Muschietti (Esp, 3’31’’)
MONSTERS AND RABBITS de Nicky Lianos (GB, 10’40’’)
NEXT FLOOR de Denis Villeneuve (Can, 12’)
THE FACTS IN THE CASE OF MISTER HOLLOW de Rodrigo Godiño, Vincent Marcone (Can, 6’)
VAULT de Fred Neun (Lux, 10’)

COLOR=#E90909>SEMANA DOS REALIZADORES

CHOKE de Clark Gregg (EUA, 89’)
DELTA de Kornél Mundruczó (Ale/Hun, 100’)
DUNYA & DESIE de Dana Nechushtan (Hol, 94’)
MOSCOW, BELGIUM de Christophe Van Rompaey (Bel, 102’)
O’HORTEN de Bent Hamer (Nor/Ale/Fra, 90’)
PALERMO SHOOTING de Wim Wenders (Ale, 124’)
THE DEAL de Steven Schachter (Can/EUA, 98’)
THE ESCAPIST de Rupert Wyatt (GB/Ire, 102’)
THE VANISHED EMPIRE de Karen Shakhnazarov (Rus, 105’)
THE WRESTLER de Darren Aronofsky (EUA, 109’)
VANAJA de Rajnesh Domalpalli (Ind/EUA, 111’)

COLOR=#E90909>ORIENT EXPRESS

HANSEL & GRETEL de Pil-Sung Yim (Cor Sul, 116’)
NIGHTMARE DETECTIVE 2 de Shynia Tsukamoto (Jap, 102’)
TAKUT: FACES OF FEAR de Riri Riza, Raditya Sidharta, Rako Prijanto, The Mo Brothers, Robby Ertanto, Ray Nayoan (Indonésia, 90’)
THE CHASER de Hong-jin Na (Cor Sul, 125’)
TOKYO GORE POLICE de Yoshihiro Nishimura (Jap, 110’)

COLOR=#E90909>MÉLIES DE PRATA - LONGAS METRAGENS

ABSURDISTAN de Veit Helmer (Ale, 88’)
ASTROPIA de Gunnar B. Gudmundsson (Isl/GB/Fin, 92’)
EDEN LAKE de James Watkins (GB, 91’)
LE PRINCE DE CE MONDE de Manuel Gómez (Bel, 100’)
SEXYKILLER, MORIRÁS POR ELLA de Miguel Marti (Esp, 100’)
PRIME TIME de Luis Calvo Ramos (Esp, 105’)
VIRUS UNDEAD de Wolf Wolff, Ohmuthi (Ale, 75’)

COLOR=#E90909> MÉLIES DE PRATA - CURTAS METRAGENS

ANYONE THERE de Holger Frick (Ale, 9’35’’)
MAMA de Andy Muschietti (Esp, 3’31’’)
MONSTERS AND RABBITS de Nicky Lianos (GB, 10’40’’)
VAULT de Fred Neun (Lux, 10’)


ALIGN=JUSTIFY>Lista completa de filmes a concurso aqui.

































































Slumdog Millionaire ***1/2

19.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Danny Boyle. Elenco: Dev Patel, Anil Kapoor, Irrfan Khan, Madhur Mittal, Freida Pinto. Nacionalidade: Reino Unido, 2008.


SRC=http://www.filmdetail.com/wp-content/uploads/2008/09/slumdog_millionaire_0071.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Jamal (Dev Patel) é um jovem de 18 anos que trabalha como assistente numa empresa de telecomunicações, servindo chai (chá de especiarias com leite). Oriundo de um dos muitos bairros de lata da cidade de Mumbai, e com uma reduzida formação académica, é o menos provável concorrente no concurso ‘Quem Quer Ser Milionário?’.

ALIGN=JUSTIFY>À medida que Jamal vai acertando, consecutivamente, cada resposta, o arrogante apresentador do programa Prem Kumar (Anil Kapoor) passa de ridicularizá-lo para uma atitude ameaçadoramente desconfiada. Antes da última edição do programa, que constará de uma única e final pergunta, Jamal é detido para um aceso interrogatório conduzido por um céptico polícia (Irrfan Khan). Através de uma série de flashbacks, que percorrem a sua infância e adolescência, Jamal vai explicando a forma (por vezes brutal) de como a vida lhe deu todas as respostas certas.

ALIGN=JUSTIFY>Baseado no livro “Q&A” de Vikas Swarup, “Slumdog Millionaire” tem sido alvo de uma febre de entusiasmo um pouco por todo o mundo. Fala-se da universalidade da sua temática, do seu carácter inspirador, da sua alma. Sinceramente, é demasiado barulho.

ALIGN=JUSTIFY>Claro que “Slumdog Millionaire” é um filme bem feito, com um argumento consistente (Simon Beaufoy), uma realização cuidada (Danny Boyle teve ainda a ajuda de Loveleen Tandan na Índia), uma câmara ágil e uma belíssima fotografia (Anthony Dod Mantle), uma montagem frenética (Chris Dickens), uma música de tirar a respiração (A.R. Rahman) e um bom conjunto de interpretações (dos veteranos às crianças, passando pelo tocante Patel, descoberto pela série “Skins”). Mas “Slumdog Millionaire” não é o melhor que se fez este ano. Caramba, nem sequer é o melhor do realizador que nos deu “Shallow Grave”, “Trainspotting” ou “28 Days Later...”.

ALIGN=JUSTIFY>O que sim, prova, é que com a equipa certa, uma história que poderia descambar numa lamechice pegada, se torna num eficaz objecto de entretenimento. Sem a presunção de ser um relato documental da Índia real ou uma viagem de despertar espiritual, “Slumdog Millionaire” é um conto quase “dickensiano” de um sobrevivente que tinha todas as probabilidades contra si.

ALIGN=JUSTIFY>Como num conto de fadas, Boyle pede-nos que suspendamos o nosso cepticismo e acreditemos que não há coincidências e que tudo acontece por alguma razão, que a resignação alimentada pelo sistema de castas pode ser vencida pela força do amor, que a justiça, a compaixão e a honestidade conseguem sobrevir à fome, ao abuso e à miséria.

ALIGN=JUSTIFY>Por vezes sombrio por vezes cómico, “Slumdog Millionaire” olha para a memória e para a forma dolorosa como ela permanece; para a verdade que, tantas vezes, é aquilo em que menos se acredita; e lembra-nos também que os livros (ou os filmes), por muito bons que sejam, ficarão sempre aquém da grande aventura que é a vida.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“When somebody asks me a question, I tell them the answer.”
DEV PATEL (Jamal)












Revolutionary Road ***1/2

18.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Sam Mendes. Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Michael Shannon, Ryan Simpkins, Ty Simpkins, Kathy Bates, Richard Easton, David Harbour, Kathryn Hahn. Nacionalidade: EUA / Reino Unido, 2008.


SRC=https://farm4.static.flickr.com/1101/1228668034_68c555b231.jpg?v=0>


ALIGN=JUSTIFY>Estou neste momento a ler o premiado livro de 1961 de Richard Yates, o que pode deturpar a minha avaliação da adaptação cinematográfica, com argumento de Justin Haythe e realização de Sam Mendes (cujo “American Beauty” tinha já dissecado o desespero suburbano).

ALIGN=JUSTIFY>Ao contrário dos flashbacks extensivamente usados no livro, o filme opta por uma sequência cronológica mais linear. Assim, quando conhecemos o interessante Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) e a ambiciosa April (Kate Winslet) somos cúmplices das suas esperanças ingénuas de conseguirem ser, juntos, tudo aquilo que sempre sonharam: dois intelectuais urbanos (numa era pré-Beatnik) convictos de serem pessoas especiais destinadas a grandes coisas. Quando se mudam para os subúrbios em virtude de uma primeira gravidez (também ela diferentemente contextualizada no livro) vêem-no como uma aventura irónica, gozando com aquele mundo para onde se estavam a mudar de armas e bagagens. Sete anos passados, um casamento, dois filhos, uma casa e um relvado aparado depois, e Frank e April são um poço de amargura e ressentimento, atolados numa vida que nenhum dos dois desejou, mas da qual não sabem como escapar.

ALIGN=JUSTIFY>Todas as manhãs, Frank junta-se à marcha de homens de fato que desagua na Grand Central Station e que depois se divide em pequenos cubículos num open space, em tarefas aborrecidas e sem sentido. April fica a cargo das desesperantes tarefas domésticas e depositando toda a sua noção de valor numa peça de teatro amador. Perante a evidência do futuro vazio que os espera, April convence Frank da única maneira possível de fugirem à prisão onde se encontram: mudarem-se para Paris, onde ela arranjará um trabalho numa instituição internacional e ele poderá finalmente ter tempo para descobrir a sua verdadeira vocação.

ALIGN=JUSTIFY>Embriagados por esta ideia, Frank e April reaproximam-se numa felicidade que os afasta ainda mais da desesperança que eles vêm nos seus amigos Millie (Kathryn Hahn) e Shep (David Harbour), e para quem a viagem para França não passa de um impulso imaturo. Mas à medida que a data da partida se aproxima, Frank e April começam a enfrentar um duplo receio: por um lado, o medo da mudança, por outro, a convicção ainda mais aterradora de que nada, no fundo, muda.

ALIGN=JUSTIFY>“Revolutionary Road” tem bastante da dureza e algum do cinismo do livro e está impregnado de uma ansiedade sufocante. Na impossibilidade de entrar dentro das cabeças das personagens (uma facilidade do meio escrito), este filme depende grandemente da significância de pequenos gestos e das nuances de expressões. “Revolutionary Road” é uma história sobre aquilo que não é dito. A verdade passa-se nos silêncios, e não nas batalhas de palavras de Frank e April, perfeitamente cientes de onde espetar a farpa, tão infelizes e desiludidos consigo próprios como com o respectivo companheiro, que os deixou chegar àquele ponto.

ALIGN=JUSTIFY>Por isso se torna tão recompensador ter estes dois actores como protagonistas (e, por favor, não me obriguem a pensar no melodrama de “Titanic”), aliando doses generosas de subtileza e densidade. Fechado na sua frustração, a personagem de DiCaprio perdeu alguma da sua complexidade na adaptação. Kate Winslet, dirigida pelo marido, é o epítome do ennui. Num registo mais extremo, está o nomeado Michael Shannon no papel de John Givings, um professor de matemática recentemente internado num manicómio e que, sem misericórdia, coloca a verdade em frente dos olhos dos Wheelers, sem lhes dar hipótese de os fechar, e mostrando-os exactamente iguais a todos aqueles que eles desprezam.

ALIGN=JUSTIFY>Na América dos anos 50, a publicidade começa a tornar-me uma poderosa indústria, ditando os parâmetros da normalidade e limitando um conjunto infinito de opções a apenas um caminho “certo”. Com o dinheiro como motor das decisões, a individualidade é reduzida a uma massa cinzenta e indistinta de pessoas que acreditam não terem outras hipóteses. Todas as circunstâncias da vida (um filho, uma promoção, etc.) parecem conspirar num mesmo sentido. Mas se a vida é o resultado de todas as escolhas (e abdicações) que se fazem, os maiores culpados do seu desfecho seremos sempre nós mesmos. E é por isso que “Revolutionary Road” fala também de hoje, de sucumbirmos às expectativas de uma sociedade que condena e desconfia da diferença e negligencia a responsabilidade suprema: a de se ser feliz. O sonho americano é, afinal, um pesadelo.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Hopeless emptiness. Now you've said it. Plenty of people are onto the emptiness, but it takes real guts to see the hopelessness.”
MICHAEL SHANNON (John Givings)


ALIGN=JUSTIFY>“You want to play house you got to have a job. You want to play nice house, very sweet house, you got to have a job you don't like.”
MICHAEL SHANNON (John Givings)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Tell me the truth frank remember that? We used to live by it. And you know what's so good about the truth? Everyone knows what it is however long they've lived without it. No one forgets the truth frank they just get better at lying.”
KATE WINSLET (April Wheeler)


ALIGN=JUSTIFY>“I wanted IN. I just wanted us to live again. For years I thought we've shared this secret that we would be wonderful in the world. I don't know exactly how, but just the possibility kept me hoping. How pathetic is that? So stupid. To put all your hopes in a promise that was never made. Frank knows what he wants, he found his place, he's just fine. Married, two kids, it should be enough. It is for him. And he's right; we were never special or destined for anything at all.”
KATE WINSLET (April Wheeler)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“It takes backbone to lead the life you want, Frank.”
KATE WINSLET (April Wheeler)














Milk ****1/2

17.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Gus Van Sant. Elenco: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna, James Franco, Alison Pill, Victor Garber, Denis O'Hare. Nacionalidade: EUA, 2008.


SRC=https://farm4.static.flickr.com/3197/3007884473_b36de0184f.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>O último filme de Gus Van Sant (“Elephant”, “Paranoid Park”) é providencial ao surgir em cartaz precisamente num momento em que também um homem invade o campo político e social americano com uma inspiradora mensagem de esperança. Sem se cingir ao cliché das enumerações biográficas, “Milk” é um biopic inteligente, belissimamente contado, com coração e com uma certa aura de orgulho.

ALIGN=JUSTIFY>O eficiente argumento de Dustin Lance Black, apresenta-nos Harvey Milk (Sean Penn) aos 48 anos, sentado a uma mesa de cozinha expondo a sua viagem pessoal para um gravador. Mas ao contrário de irmos parar à sua infância, encontramos Milk, um executivo nova-iorquino que, no dia do seu 40º aniversário conhece Scott Smith (James Franco), aquele que viria a ser seu companheiro e com quem se muda para São Francisco em 1972. Num bairro cada vez mais conotado com a comunidade gay, ele abre uma loja de máquinas fotográficas – Castro Camera. Perante a clara perseguição por uma polícia homofóbica e pelos preconceitos expressos por muitos estabelecimentos comerciais, Milk decide envolver-se activamente na comunidade, acabando por se candidatar ao cargo de Supervisor Municipal, para o qual concerreu três vezes antes de ser eleito em 1977 e se tornar o primeiro homossexual assumido a ocupar um cargo público nos Estados Unidos.

ALIGN=JUSTIFY>Em 1978, Milk foi assassinado pelo seu colega Dan White (Josh Brolin), um conservador católico que, prestes a ser demitido, matou também o Presidente da Câmara George Moscone (Victor Garber). Mesmo para quem, como eu, não sabia o exacto desfecho desta história, Gus Van Sant faz questão de o deixar claro desde início, ficando liberto para assim se concentrar naquilo que foi a luta de Harvey Milk, sem explicações supérfluas, e sem deixar de deitar um olhar acutilante aos caminhos ínvios da política e do uso do lobby como arma.

ALIGN=JUSTIFY>Milk instiga todos os homossexuais a assumirem-se perante os seus amigos, as suas famílias, os seus colegas de trabalho. Para ele, a única forma de eliminar o demónio de uma ideia abstracta é quando todos perceberem que no seu ciclo mais próximo havia pelo menos um gay/lésbica. Com o apoio de uma equipa que incluía Cleve Jones (Emile Hirsch), capaz de juntar multidões numa hora, e Anne Kronenberg (Alison Pill), um eficiente contacto de imprensa, Milk bate-se na luta contra a Iniciativa Briggs, ou Proposition 6, uma medida acerrimamente defendida pela puritana Anita Bryant (nenhum interpretação seria capaz de superar a tacanhez mental ou o despropósito argumentativo das imagens de arquivo utilizadas por Van Sant), e pela qual os professores homossexuais perderiam os seus postos de trabalho.

ALIGN=JUSTIFY>Milk pode ter sido um mártir da causa homossexual, mas estava longe de ser um santo. Este é um homem vulgar movido por um propósito, cuja persistência não foi isenta de custos e sacrifícios, mas cujo ânimo e o humor o tornaram um orador inspirado e inspirador. Um homem que falhou, consecutivamente, mas que conseguiu transformar cada derrota na oportunidade de aplicar o que tinha aprendido numa nova luta. É um empenho semelhante que vemos em Sean Penn, numa interpretação de afável sensibilidade e de um magnetismo apaixonante, e no Dan White de Josh Brolin, ambíguo e torturado.

ALIGN=JUSTIFY>A realização de Van Sant é enérgica quando deve e calma quando tem de ser, equilibrando a alegria e a reflexão de uma forma tão estimulante quanto absorvente. A fotografia de Harris Savides é exemplar na recriação da atmosfera da São Francisco dos anos 70, granulando a imagem e fundindo-a com as imagens de arquivo. De uma forma subtil “Milk” rompe o convencionalismo do relato biográfico, tornando impossível não respeitar aquilo que Harvey Milk conseguiu alcançar. Especialmente se formos capazes de compreender a universalidade da sua luta contra o ódio, o medo e a ignorância que, ainda hoje, recusam a possibilidade de liberdade e felicidade a tantos.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“My name is Harvey Milk and I'm here to recruit you!”
SEAN PENN (Harvey Milk)


ALIGN=JUSTIFY>“Dan White – Society can't exist without the family.
Harvey Milk – We're not against that.
Dan White – Can two men reproduce?
Harvey Milk – No, but God knows we keep trying.”
JOSH BROLIN (Dan White) e SEAN PENN (Harvey Milk)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“If it were true that children emulate their teachers, we'd have a lot more nuns running around.”
SEAN PENN (Harvey Milk)
















Changeling **1/2

16.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Clint Eastwood. Elenco: Angelina Jolie, John Malkovich, Jeffrey Donovan, Colm Feore, Jason Butler Harner, Amy Ryan, Michael Kelly, Gattlin Griffith. Nacionalidade: EUA, 2008.


SRC=http://dirtyharrysplace.com/wp-content/uploads/2008/10/the-changeling-movie-02.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Los Angeles, Março de 1928. Ao regressar a casa do trabalho como supervisora de uma secção de telefonistas, Christine Collins (Angelina Jolie) descobre que o seu filho de 9 anos, Walter (Gattlin Griffith), desapareceu. O pânico e a angústia são seguidos de incredulidade quando, passados cinco meses, a polícia de Los Angeles, famosa pela sua corrupção, lhe entrega um rapaz encontrado em DeKalb, Illinois, e que Christine afirma, de imediato, não se tratar do seu filho desaparecido.

ALIGN=JUSTIFY>Sob a insistência policial de que a criança poderá ter mudado no tempo que esteve fora, Christine acaba por levar a criança para casa em “período experimental”. Mas Christine volta à polícia, argumentando que esta criança é mais baixa que o seu filho e mais tarde comprovando com o ficheiro do dentista essa impossibilidade. Desesperado por evitar má publicidade que se tem vindo a acumular, liderada pelo activismo do Reverendo Gustav Briegleb (John Malkovich), determinado a expor a corrupção da força policial, o Capitão J.J. Jones (Jeffrey Donovan) tem ordens para abafar e fechar este caso o quanto antes, aproveitando o facto de Christine ser mãe solteira para a acusar de ser uma mãe negligente que não quer assumir a responsabilidade pelo filho. Impotente e revoltada, Christine expõe o seu caso à imprensa, acabando por ser internada num manicómio por decisão (e diagnóstico) policial.

ALIGN=JUSTIFY>Num contexto de galopante corrupção, numa sociedade onde as mulheres eram vistas como excessivamente emocionais e com tendência para a histeria, a verdade pode ser mais desconcertante que a ficção. Com efeito, “Changeling” é baseado nos crimes de Wineville Chicken Coop que tiveram lugar no final dos anos 20 e que resultaram na condenação à morte de Gordon Stewart Northcott, aqui interpretado por um perturbante e amoral Jason Butler Harner. O poder do argumento de J. Michael Straczynski reside no seu enfoque na acção mais do que na palavra. E sabendo à partida parte do desfecho do filme, o essencial é o caminho e Clint Eastwood gere o ritmo de “Changeling” na perfeição. É dado lugar a que todos os conflitos se materializem (Christine contra a polícia, o reverendo contra a polícia, o polícia bom contra o polícia mau) e se desenlacem.

ALIGN=JUSTIFY>À frente do elenco está uma forte Angelina Jolie (com tanta atenção dos media podemos ser levados a esquecer que sabe de facto representar): devastada e voluntariosa, forte e vulnerável, feroz e perseverante na procura da verdade. Nos secundários, e saltando por cima de Malkovich que não consegue errar o tom, Jeffrey Donovan é bastante competente como policia corrupto e autoritário, e o mesmo vale para o empenhado detective Lester Ybarra de Michael Kelly.

ALIGN=JUSTIFY>Há aqui um claro propósito em concentrar a atenção nesta mãe desesperada. A “Changeling” não lhe interessa procurar as razões para os crimes, ou, pela infância de Northcott ou o facto de ser filho da sua irmã e do seu pai, compreender os seus actos. Quando a força de uma narrativa está num sentimento, torna-se realmente complicado não cair na facilidade da emoção. Eastwood está mesmo em cima da linha e é por isso este filme está bastante aquém das suas últimas obras. A ansiedade fica assim guardada para o quase-a-estrear “Gran Torino”.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I used to tell Walter, "Never start a fight... but always finish it." I didn't start this fight... but by God, I'm going to finish it.”
ANGELINA JOLIE (Christine Collins)












Frost / Nixon ***

15.02.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ron Howard. Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Kevin Bacon, Matthew MacFayden, Oliver Platt, Rebecca Hall, Toby Jones. Nacionalidade: EUA / Reino Unido / França, 2008.


SRC=http://www.freewilliamsburg.com/archives/frost-nixon-langella-sheen.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>“Frost/Nixon” é a adaptação ao cinema da peça de teatro de Peter Morgan, responsável também pelo argumento, e que relata o conjunto de entrevistas dadas em 1977 pelo já retirado presidente Richard Nixon (Frank Langella) ao apresentador inglês David Frost (Michael Sheen).

ALIGN=JUSTIFY>Destruído pelo caso Watergate, Nixon vê esta entrevista como a possibilidade de limpar a sua imagem para voltar à cena política. Por sua vez, Frost, um playboy relegado para a apresentação de programas na televisão australiana, ambiciona a credibilidade de um trabalho sério. Os americanos, esses, anseiam pelo julgamento que nunca haveria de ter lugar, após o perdão concedido pelo presidente seguinte Gerald Ford.

ALIGN=JUSTIFY>À semelhança da peça que tinha já sido protagonizada por Langella e Sheen, também o filme depende, essencialmente, destes dois actores e do jogo de força que se faz entre ambos. Ron Howard sabe disso, por isso afasta-se pouco e faz uso de cenários reais como a casa de Nixon em San Clemente (Califórnia) ou o quarto de hotel de Frost. Quando o filme se distrai em elementos secundários torna-se aborrecido e supérfluo. Construído como um combate de boxe, de um lado está a equipa de Frost, composta pelo seu amigo e produtor John Birt (Matthew MacFayden), o jornalista Bob Zelnick (Oliver Platt) e o investigador James Reston Jr. (Sam Rockwell). Do lado de Nixon está Jack Brennan (Kevin Bacon), o seu dedicado chefe de gabinete, Swifty Lazar (Toby Jones), o seu agente, e uma equipa de consultores onde se destaca uma jovem Diane Sawyer (Kate Jennings Grant).

ALIGN=JUSTIFY>Se Nixon é indubitavelmente o vilão, o argumento de Morgan confere-lhe a humanidade necessária para evitar a caricatura. Nixon sabe que não é popular, mas sabe também que não carrega nos ombros todas as culpas (algumas delas herdadas do popular J. F. Kennedy). Ele é astucioso na forma como se evade das perguntas de Frost e se arrasta em divagações sobre a sua carreira. Ele não possui a personalidade mediática de Frost, mas consegue ser provocador e sair vitorioso e beneficiado de cada pergunta.

ALIGN=JUSTIFY>Perante a exasperação e o desespero dos seus companheiros, Frost, que começou por ser ridicularizado pela sua presunção nesta entrevista, é instigado a interromper Nixon e a insistir nas perguntas até obter uma resposta. Ele tem mais em jogo que a sua reputação: o grosso da quantia paga a Nixon pelas entrevistas (600.000 dólares) saiu do seu próprio bolso e grande parte do tempo (do filme e das entrevistas) é passado com Frost tentando arranjar financiamentos. Esta “ausência” de Frost, aliada ao facto de Nixon ser o elemento mais forte da equação, cria uma estranha dinâmica, pois até a “vitória” de Frost lhe é dada por Nixon num episódio ficcional de discutível valor dramático.

ALIGN=JUSTIFY>A interpretação de Langella, com um adequado doseamento dos maneirismos do presidente americano, é tão absorvente que nos abstraímos das sua falta de parecença física com Nixon. Michael Sheen fica na sua sombra, mesmo quando cresce de um inofensivo “entrevistador” ao “interrogador” que arranca a Nixon a tão catártica confissão.

ALIGN=JUSTIFY>Se Nixon, o homem, conseguiu, com a admissão de culpa, libertar-se para continuar com a sua vida. Nixon, o político, foi executado. A História, no entanto, foi-lhe benéfica, quando colocou no mesmo cargo e durante os últimos oito anos, um presidente assustadoramente pior.

ALIGN=JUSTIFY>“Frost/Nixon” é um duelo de vontades, debatido entre Frost e Nixon mas também por cada um deles com a consciência das suas próprias decisões e acções. A redenção só pode chegar quando aos valores e princípios defendidos se faz equivaler uma igual responsabilidade. Com momentos de silêncio e imobilidade, os intensos minutos finais do “combate” Frost/Nixon fazem a espera merecer a pena.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“David Frost – Are you really saying the President can do something illegal?
Richard Nixon – I'm saying that when the President does it, that means it's NOT illegal!
David Frost – ...I'm sorry?”
MICHAEL SHEEN (David Frost) e FRANK LANGELLA (Richard Nixon)


ALIGN=JUSTIFY>“I let them down. I let down my friends, I let down my country, and worst of all I let down our system of government, and the dreams of all those young people that ought to get into government but now they think; 'Oh it's all too corrupt and the rest'. Yeah... I let the American people down. And I'm gonna have to carry that burden with me for the rest of my life. My political life is over.”
FRANK LANGELLA (Richard Nixon)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“You know the first and greatest sin of the deception of television is that it simplifies; it diminishes great, complex ideas, trenches of time; whole careers become reduced to a single snapshot. At first I couldn't understand why Bob Zelnick was quite as euphoric as he was after the interviews, or why John Birt felt moved to strip naked and rush into the ocean to celebrate. But that was before I really understood the reductive power of the close-up, because David had succeeded on that final day, in getting for a fleeting moment what no investigative journalist, no state prosecutor, no judiciary committee or political enemy had managed to get; Richard Nixon's face swollen and ravaged by loneliness, self-loathing and defeat. The rest of the project and its failings would not only be forgotten, they would totally cease to exist.”
SAM ROCKWELL (James Reston, Jr.)















Pág. 1/2