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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

I'm Not There ****

03.04.08, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Todd Haynes. Elenco: Cate Blanchett, Ben Whishaw, Christian Bale, Richard Gere, Marcus Carl Franklin, Heath Ledger, Charlotte Gainsbourg, Julianne Moore, Michelle Williams. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2007.


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ALIGN=JUSTIFY>“I’m Not There” é um filme ‘inspired by the life and music of Bob Dylan’ com o subtítulo “Suppositions on a Film Concerning Dylan”. Mas como abarcar num filme as facetas tão díspares e até contraditórias de Dylan? A constante recriação que fazia de si mesmo, sem se prender a qualquer definição, reinventando-se e lutando contra rótulos e pré-definições fazem de Dylan um artista indefinível.

ALIGN=JUSTIFY>Todd Haynes (“Safe”, “Velvet Goldmine”, “Far From Heaven”) optou por uma visão fracturada em seis versões, cada uma delas num espaço temporal distinto, mas sem evitar alguns cruzamentos e ligações. O argumento de Haynes e Oren Moverman não se esforça por explicar nada, apesar de alguns episódios da vida de Dylan e dos seus intervenientes serem reconhecíveis: Claire (Charlotte Gainsbourg) em representação da primeira mulher de Dylan, Sara; Alice Fabian (Julianne Moore) como versão da cantora folk Joan Baez, Coco Rivington (Michelle Williams) como uma personificação de Edie Sedgewick.

ALIGN=JUSTIFY>Mais do que um possível retrato de Dylan, “I’m Not There” é sobre a nossa percepção desse Dylan (‘máscara’ de Robert Allen Zimmerman). Haynes elimina a lógica e o sentido para instituir o caos inerente à vida real. Afinal de contas a coerência nunca pode, nem deve, valer por ela mesma. Esta espécie de colagem sobre um ícone da cultura pop americana é um verdadeiro caleidoscópio, com distorções e as diferentes texturas de um homem, que é também a imagem de um país ao longo de diversas décadas.

ALIGN=JUSTIFY>Para quem não tenha qualquer conhecimento da carreira de Dylan, este filme será certamente confuso. Para um melhor proveito, aconselho uma prévia espreitadela ao documentário “No Direction Home: Bob Dylan” de 2005 de Martin Scorsese.

ALIGN=JUSTIFY>Quatro das interpretações, nenhuma delas com o nome Dylan, reproduzem o seu visual: Jack Rollins (Christian Bale) é um cantor protestante de Greenwich Village que, mais tarde, se converte ao Cristianismo; Jude Quinn (Cate Blanchett) é uma estrela de rock em tournée por Londres, acusado pelos fãs de fraude ao ter mudado da guitarra acústica para a eléctrica; Robbie Clark (Heath Ledger) é um actor de Hollywood a braços com um casamento em derrocada; e Arthur Rimbaud (Ben Whishaw) é entrevistado sobre a sua carreira por um jornalista que nunca se vê. Há ainda Woody Guthrie (Marcus Carl Franklin, de 11 anos), que vagabundeia de comboio pelo país com a sua guitarra e a sua música folk, e Billy the Kid (Richard Gere) no segmento mais surreal de um carnaval western.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar dos segmentos serem comuns no look documental, a estética da câmara de Edward Lachman é distinta em todos eles. Marcus Carl Franklin é a liberdade e displicência na fase inicial da carreira de Dylan, Bale é o Dylan que viajou de Minneapolis para Greenwich Village e reinventou-se como herdeiro de Woody Guthrie (músico folk falecido em 1967) e, mais tarde, convertido ao Cristianismo, endurecido, tenso, trágico. Cate Blanchett, cambaleante e de olhos inflamados como o Dylan dos anos 60 é de tirar a respiração, magnética! Ben Wishaw é o cínico e o misterioso. O pó (e a magia) de Billy the Kid é uma referência à participação de Dylan no filme de 1973 de Sam Peckinpah “Pat Garrett and Billy the Kid”, onde o papel de Billy the Kid era interpretado por Kris Kristofferson (narrador em “I’m Not There”).

ALIGN=JUSTIFY>“I’m Not There” é profundamente estranho, mas é ainda mais profundamente arrojado e original. A composição visual é apenas superada pelas composições interpretativas, onde se destacam Blanchett, Bale e Wishaw.

ALIGN=JUSTIFY>Bob Dylan foi um homem que, a cada passo, cobriu o seu próprio trilho, mudando constantemente de direcção. Com “I’m Not There” continuamos sem saber quem ele foi/é, e talvez esse seja exactamente o objectivo. No final, ficamos com a música (originais e versões autorizados por Dylan para a banda sonora), que, em última instância, é tudo aquilo que o artista deve ao seu público.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Narrador – There he lies. God rest his soul, and his rudeness. A devouring public can now share the remains of his sickness, and his phone numbers. There he lay: poet, prophet, outlaw, fake, star of electricity. Nailed by a peeping tom, who would soon discover...
Jude – A poem is like a naked person...
Narrador – even the ghost was more than one person.
Arthur – ...but a song is something that walks by itself.”
KRIS KRISTOFFERSON (narrador), CATE BLANCHETT (Jude Quinn) e BEN WHISHAW (Arthur Rimbaud)


ALIGN=JUSTIFY> “Repórter – Jude! One word for your fans?
Jude – Astronaut.”
CATE BLANCHETT (Jude Quinn)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I accept chaos. I don't know whether it accepts me.”
BEN WHISHAW (Arthur Rimbaud)


ALIGN=JUSTIFY> “People are always talking about freedom. Freedom to live a certain way, without being kicked around. Course the more you live a certain way, the less it feel like freedom. Me, uhm, I can change during the course of a day. I wake and I'm one person, when I go to sleep I know for certain I'm somebody else. I don't know who I am most of the time.”
RICHARD GERE (Billy the Kid)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Seven simple rules of going into hiding: one, never trust a cop in a raincoat. Two, beware of enthusiasm and of love, both are temporary and quick to sway. Three, if asked if you care about the world's problems, look deep into the eyes of he who asks, he will never ask you again. Four, never give your real name. Five, if ever asked to look at yourself, don’t. Six, never do anything the person standing in front of you cannot understand. And finally seven, never create anything, it will be misinterpreted, it will chain you and follow you for the rest of your life.”
BEN WHISHAW (Arthur Rimbaud)


















Love in the Time of Cholera **

01.04.08, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Mike Newell. Elenco: Benjamin Bratt, Giovanna Mezzogiorno, Javier Bardem, John Leguizamo, Hector Elizondo, Fernanda Montenegro, Liev Schreiber, Catalina Sandino Moreno, Alicia Borrachero, Marcela Mar. Nacionalidade: EUA, 2007.


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ALIGN=JUSTIFY>Pois... que dizer? Percebo que um elenco multinacional exija um idioma comum. Não percebo que, na adaptação do livro de 1985 de Gabriel García Márquez, ‘Amor em Tempos de Cólera’, a escolha tenha recaído sobre o inglês, pior, o inglês com sotaque forçado. Por que não o original espanhol? Mesmo com a minha aversão à dobragem quase aposto que o resultado teria sido mais satisfatório com a dobragem dos actores saxónicos. Melhor ainda: o casting de actores latinos para esses papéis. E... o realizador é inglês... pois. (Pergunto-me se um Alfonso Cuarón não teria sido uma escolha acertada...) Mas os produtores têm a sua força e, tal como na história de García Márquez, o poder e o dinheiro falam mais alto.

ALIGN=JUSTIFY>Colômbia, final do século XIX. Florentino Ariza (Javier Bardem), um jovem telegrafista, apaixona-se perdidamente a primeira vez que vê Fermina (Giovanna Mezzogiorno). Vigiada de perto por um pai feroz (John Leguizamo) e com a cumplicidade da tia (Alicia Borrachero), ela arranjna forma de trocar cartas com Florentino. Quando o pai descobre, envia-a para o campo e consegue convencê-la que Florentino está abaixo da sua condição social. No seu regresso, Fermina rejeita Florentino e aceita a corte do médico Juvenal Urbino (Benjamin Bratt), acabando por casar com ele. Florentino mantém-se fiel ao seu amor, pelo menos em espírito. Porque a carne, essa, cede à tentação com mais 600 mulheres, segundo a sua própria contabilidade, na tentativa de esquecer Fermina mas sem sucesso. Passados 50 anos, quando Urbino morre, Florentino renova junto de Fermina o seu inabalável afecto.

ALIGN=JUSTIFY>O universo de García Márquez é mágico, surpreendente, absurdo, apaixonado e desmesurado. Infelizmente, a realização de Mike Newell (“Donnie Brasco”, “Mona Lisa Smile”), apesar de tranquila e confiante, é incapaz de transmitir qualquer destas sensações. O difícil desafio de traduzir um romance clássico para o cinema agrava-se quando esse livro depende tão grandemente de uma linguagem emocional e tão pouco da acção. Neste caso, a fidelidade ao original (exigência na cedência dos direitos) parece ter prejudicado a coerência do argumento, sendo uma colagem de cenas e de personagens artificiais que não chegam a comover o espectador.

ALIGN=JUSTIFY>No campo das interpretações, o potencial de Javier Bardem é desperdiçado (ainda fresca que está a sua participação em “No Country For Old Men”) em pouco mais que um stalker ansioso e patético, apesar de beneficiar do descanso de ter um outro actor para fazer a juventude da sua personagem (Unax Ugalde). O mesmo não acontece com Giovanna Mezzogiorno (“La Finestra di Fronte”), sujeita a um peso de caracterização facial que deixa bastante a desejar, especialmente tendo em conta o bom trabalho efectuado a nível corporal (onde estão os efeitos especiais quando precisamos deles?). Além disso, a química de Mezzogiorno com qualquer dos seus parceiros é paupérrima.
ALIGN=JUSTIFY>“Love in the Time of Cholera” levanta inquietantes questões: na banda sonora, a opção por Shakira (um guilty pleasure que aqui confesso, por isso não digo isto por não gostar dela – se até fazemos anos no mesmo dia!), dada a sua inadequação à narrativa, foi puramente comercial, não foi? (ou foi por ser um ‘produto’ colombiano?); que desplante foi esse de colocar Catalina Sandino Moreno num papel secundário? (Só por causa disso escolhi uma foto dela!); como é que um livro pleno de agitação emocional se converte num filme maçador?

ALIGN=JUSTIFY>Tudo isto paira no ar à saída da sala, mas mais inquietante questão de todas fica por colocar (o que é bastante mais grave do que ficar sem resposta): a paixão consome-nos ou dá-nos vida?


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ALIGN=CENTER>COLOR=#BBBBBB SIZE=1>o postal francês



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