Começa amanhã a 23ª edição do FESTROIA. Este ano o festival fará uma homenagem a Mário Ventura e ao cinema espanhol. Estarão incluídas uma mostra de clássicos alemães e uma retrospectiva da obra do realizador Billy Wilder. Os homenageados com o Golfinho de Carreira serão o actor britânico Christopher Lee e o realizador checo Jirí Menzel. Nesta edição foi ainda criado um novo Prémio SAPO Vídeos de Curtas Digitais, direccionado a novos talentos.
O júri do festival, este ano presidido pelo actor britânico Charles Dance, irá deliberar sobre as quatro habituais secções competitivas:
SECÇÃO OFICIAL
AFTER THE WEDDING, de Susanne Bier (Dinamarca, 122’)
ARMIN, de Ognjen Svilicic (Croácia/Bósnia/Alemanha, 82’)
AVIVA MY LOVE, de Shemi Zarhin (Israel, 107’
BORDERPOST, de Rajko Grlic (Sérvia/Croácia/Eslovénia Macedónia/Bósnia/UK, 94’)
EL CAMINO DE SAN DIEGO, de Carlos Sorin (Argentina/Espanha, 98’)
FALSE ALARM, de Katerina Evangelakou (Grécia, 88’)
FROZEN CITY, de Aku Louhimies (Finlândia, 92’)
HEARTBREAK HOTEL, de Colin Nutley (Suécia, 98’)
ISKA’S JOURNEY, de Csaba Bollock (Hungria, 75’)
LATE BLOOMERS, de Bettina Oberli (Suiça, 87’)
MADRIGAL, de Fernando Pérez (Cuba/Espanha, 112’)
PLEASANT MOMENTS, de Vera Chytilová (Rep. Checa, 108’)
THE OPTIMISTS, de Goran Paskaljevic (Sérvia, 98’)
THE SWORD BEARER, de Philipp Jankovsky (Rússia, 110’)
PRIMEIRAS OBRAS
ALL FOR FREE, de Antonio Nuic (Croácia/Bósnia/Sérvia, 94’)
CIUDAD EN CELO, de Hernan Gaffet (Argentina/Espanha, 104’)
EL VIOLIN, de Francisco Vargas Quevedo (México, 98’)
FRAULEIN, de Andrea Staka (Suiça/Alemanha/Bósnia, 81’)
HEART EDGES, de Hicham Ayouch (Marrocos, 87’)
LO QUE SÉ DE LOLA, de Javier Rebollo (Espanha/França, 100’)
PRINCESS, de Birgit Grosskopf (Alemanha, 81’)
REPRISE, de Joachim Trier (Noruega/Suécia, 106’)
RETRIEVAL, de Slawomir Fabicki (Polónia, 103’)
SONS, de Eric Richter Strand (Noruega, 103’)
THE ART OF CRYING, de Peter Schonau Fog (Dinamarca, 105’)
VANAJA, de Rajnesh Domalpalli (Índia/EUA, 111’)
O HOMEM E A NATUREZA
CARPA DIEM, de Sergio Cannella (Itália, 2’)
CHERNOBYL: THE INVISIBLE THIEF, de Christoph Boekel (Alemanha, 59’)
CHOCOLATE CON CHURROS, de Mario Espinosa (Espanha, 5’)
CLANDESTINO, de Sylvain Rigollot (França, 15’)
COVER BOY… LAST REVOLUTION, de Carmine Amoroso (Itália, 97’)
CURFEW HOUR, de Levan Adamia (Georgia. 20’)
GREY MATTER, de Ina van Beek (Holanda. 25’)
HOW MUCH I OWE YOU, de Bouffard Olivier (França, 27’)
LULLABY, de Margreth Olin (Noruega, 30’)
MATOPOS, de Stéphanie Machuet (França, 11’)
MESSAOUD, de Omar Mouldouira (Marrocos, 8’)
MILAN, de Michaela Kezele (Sérvia/Alemanha, 23’)
MY LIFE AT 40, de Laurie Hill (Inglaterra, 8’)
NASIJA, de Guillermo Rios (Espanha, 11’)
ON THE WINGS OF DREAMS, de Golam Rabbany Biplob (Bangladesh, 88’)
SELVAGENS: A ÚLTIMA FRONTEIRA, de Filipe Araújo (Portugal, 30’)
TAMBOGRANDE, de E. Cabellos e S. Boyd (Peru, 85’)
THE GATHERING, de Kim Kindersley (Austrália, 86’)
THE POWER OF COMMUNITY: HOW CUBA SURVIVED PEAK OIL, de Faith Morgan (E.U.A., 53’)
THE STARFISH, de Caroline Deruas (França, 22’)
TIME’S BECKON, de Bapee Daas (Índia, 10’)
INDEPENDENTES AMERICANOS
BOY CULTURE, de Q. Allan Brocka (88’)
CHALK, de Mike Akel (85’)
CHOKING MAN, de Steve Barron (85’)
MAN IN THE CHAIR, de Michael Schroeder (107’)
THE DEAD GIRL, de Karen Moncrieff (85’)
THE TREATMENT, de Oren Rudavsky (86’)
NOTA ECOLÓGICA:
“O Festroia 2007 é o primeiro festival internacional de cinema CarbonoZero®. Isto significa que as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) resultantes das actividades do festival serão quantificadas e compensadas, através do sequestro de uma quantidade equivalente de dióxido de carbono (CO2) numa área de nova floresta autóctone em Portugal, anulando assim o respectivo efeito no clima. O projecto envolve a contabilização das emissões associadas à energia consumida nas salas e restantes espaços onde decorre o festival, ao tratamento dos resíduos produzidos, ao transporte de carga e às deslocações da organização, convidados e público.”
Confesso a minha declarada frustração com aquele que é supostamente um ícone da cinematografia porno mundial.
O DVD, comprado em Londres, sem qualquer tipo de extras (sugiro um pack conjunto com o documentário de 2006 “Inside Deep Throat” de Fenton Bailey e Randy Barbato), tem um som mono de péssima qualidade. Pode-se defender que o som é o de somenos importância neste tipo de produção, especialmente tendo em conta o argumento pseudo-freudiano e os ridículos diálogos, mas confesso que esperava imagens bastante mais explícitas. É de facto espantoso como o enquadramento dos planos consegue ficar exactamente na margem do que se pretende ver. E a maioria das vezes é impossível fugir ao riso.
Tudo bem, falta-me subtileza. Mas sempre me irritou a falta de coragem para assumir os riscos na sua totalidade. Suponho que deveria fazer o exercício de viagem temporal e tentar perceber o impacto de uma obra deste tipo dentro do seu contexto histórico, mas falta-me a paciência para o fazer. Eu só queria um filme porno...
A 60ª edição do Festival de Cinema de Cannes, concluída no passado dia 27, premiou os seguintes filmes:
Hoje o filme é outro.
Naquele que promete ser mais um momento inesquecível.
Vou passar a noite com este senhor:
E estou a contar que ele me diga coisas deste género:
THE SPACE BETWEEN
You cannot quit me so quickly
Is no hope in you for me
No corner you could squeeze me
But I’ve got all the time for you love
The space between
The tears we cry is the laughter that keeps us coming back for more
The space between
The wicked lies we tell to keep us safe from the pain
Will I hold you again
(...)
CRASH
You've got your ball
you've got your chain
Tied to me tight tie me up again
Who's got their claws
in you my friend
Into your heart I'll beat again
Sweet like candy to my soul
Sweet you rock
and sweet you roll
Lost for you I'm so lost for you
You come crash into me
And I come into you,
I come into you
In a boys dream
(...)
DREAMGIRL
(...)
I was feeling like a creep
as I watched you asleep
face down in the grass in the park
in the middle of a hot afternoon
Your top was untied and I thought how nice
It'll be to follow the sweat down your spine
You're like my best friend
After a good good drunk...you and me
Wake up and make love after a deep sleep
where I was dreaming
I was dreaming of a
Dream Girl
(...)
(Dave Matthews Band)
Entre 19 e 24 de Junho terá lugar em Serpa a quinta edição do Seminário Internacional sobre Cinema Documental DOC’S KINGDOM, um evento que se posiciona como um ponto de encontro e reflexão sobre o cinema documental contemporâneo.
Já estão confirmadas as presenças do realizador etnográfico David MacDougall, do alemão Peter Nestler e dos franceses Vladimir Léon e Pierre Creton.
Data limite de inscrição: 8 de Junho.
Na secção competitiva PrimeirOlhar dos VII Encontros de Viana, finalizados no passado dia 13, o prémio oficial foi atribuído ex aequo aos filmes “Rockumentário” de Sandra Castiço e “Bom Dia, Noite”, de Rui Costa. O prémio PrimeirOlhar - Cineclubes coube ao filme “Minotauro” de Patrícia Leal.
Kaló, Filipe, Calhau e André personificam o rock’n’roll que define os Bunnyranch, uma das mais estimulantes bandas portuguesas, surgidas do contexto rock’n’roll que caracteriza Coimbra. Com apenas quatro anos de vida, um EP e um CD lançados, contam já com actuações em Espanha, Holanda, Inglaterra e por todo o Portugal. O seu som incaracterístico e explosivo, aliado à sua postura em palco são as marcas da banda. É acompanhando de perto os quatro, na sua relação com os amigos, a música e cidade que nos apercebemos que são a sua atitude, carisma e estilo de vida que os distingue, fazendo deles uma banda promissora. Os Bunnyranch parecem imparáveis. No entanto, algo vai acontecer e mudará a banda para sempre.
“Bom Dia, Noite” é um filme que penetra no mundo do trabalho da força de elite de limpeza da cidade do Porto: os cantoneiros de limpeza do turno das 20h30. Quem são estes homens que correm atrás do camião? Como trabalham?
O labirinto não tem de ser resolvido, tem de ser explorado. Mas quem foi Minotauro? Minotauro vivo um jogo de milhares de reflexos do próprio corpo e da sua sombra, que se reproduzem no infinito. O ilusório de qualquer tentativa de fuga… um monstro com cabeça de touro e corpo humano, mantido prisioneiro num labirinto de espelhos. Lá fora esperam os humanos que externam os sentimentos e emoções que ele poderia sentir: amor, felicidade e infelicidade, medo e tormento. Mas que, dada a sua natureza, ele não pode sentir. E nós, por quem torcemos?
Realização: Rachid Bouchareb. Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila, Bernard Blancan, Assaad Bouab, Mathieu Simonet, Benoît Giros, Antoine Chappey. Nacionalidade: França / Marrocos / Argélia / Bélgica, 2006.
Os “indígenas” são os mais de 100.000 magrebinos provenientes das colónias francesas em África que combateram pela França durante a Segunda Guerra Mundial. O filme do argelino Rachid Bouchareb, nomeado para o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira, segue um grupo deste homens desde o seu recrutamento na Algéria em 1943, o seu magro treino em Marrocos, a sua primeira batalha em Itália, até França e à sua última batalha na Alsácia, aguardando o reforço das tropas aliadas.
O argumento de Bouchareb e Olivier Lorelle acompanha a história episódica de um grupo de árabes: Saïd (Jamel Debbouze - “Amélie”, “Angel-A”), que deixa a pobreza da sua casa para se alistar no exército, acabando por se tornar assistente pessoal do Sargento Martinez (Bernard Blancan); o inteligente Cabo Abdelkader (Sami Bouajila) que ambiciona uma carreira militar; o romântico Messaoud (Roschdy Zem), que se apaixona por uma francesa em Marselha; e os irmãos marroquinos Yassir (Samy Naceri) e Larbi (Asaad Bouab), tentando sobreviver e juntar dinheiro (mesmo pelo saque) para poder casar Larbi.
Apesar de nunca terem visto aquele país e da família de muitos deles ter sido massacrada pelo colonizador em nome da “pacificação”, estes homens consideram-se cidadãos franceses. Os oficiais exploram o seu (irónico) patriotismo, fazendo-lhes promessas ilusórias, para que morram pela “mãe-pátria”, uma mãe que os trata como filhos bastardos e que apenas espera que eles sigam cegamente as suas ordens. Mas o sentido do dever é abalado pela desconfiança, quando começam a perceber que o apregoado lema da “liberdade, igualdade e fraternidade” parece não se estender a eles. À sua luta contra o nazismo, acrescenta-se a luta contra o racismo dentro das suas próprias fileiras. Nem sequer as fardas os tornam iguais. Tratados como inferiores, e a quem é negado equipamento, promoções e até um simples tomate na sua ração. A discriminação é ainda mais gritante no caso dos negros sub-saharianos.
As cenas de batalha são de forte impacto, sobretudo porque a câmara se move como estando ao lado destes homens. Mas o elemento de maior força simbólica neste filme é a terra, nas explosões mas também como elemento de nacionalidade e de pertença (afinal de contas, nem toda ela cheira ao mesmo).
As personagens de “Indigènes” não fogem a tipificações e o filme é consideravelmente panfletário, especialmente nas suas cenas finais. Relevando esse facto, há que valorizar o elemento de chamada de atenção, recordando a França (e o mundo) do injusto tratamento a que votou estes homens. Em 1959, com a descolonização, o governo francês congelou as pensões dos ex-combatentes não-franceses. Todos os sucessivos governos se recusaram a suprir esta dívida e somente em 2006, com a saída de “Indigènes”, o Presidente Jacques Chirac rectificou esta medida.
Infelizmente, estas desigualdades não terminam na Segunda Guerra Mundial. O valor do ser humano não se mede pela utilidade que ele tem para nós em determinado momento. Até conseguirmos respeitar a dignidade inerente a cada um, como parte de uma sociedade que não se extingue no nosso pequeno bairro nem nos nossos pequenos objectivos nunca poderemos, com efeito, apregoar um conceito de “humanidade”.
Entre 6 a 24 de Junho, terá lugar a primeira Mostra de Cinema Romeno em Portugal. Este evento, dividido entre as cidades de Coimbra (6 a 9 de Junho, Teatro Gil Vicente), Porto (12 a 15 de Junho, Cinema Passos Manuel) e Lisboa (21 a 24 de Junho, Cinema Quarteto), e organizado do Centro Cultural Romeno de Lisboa visa divulgar o que de mais recente se tem feito na cinematografia romena.
Entre curtas-metragens, longas-metragens e documentários, esta é uma oportunidade a não perder para ver obras da autoria de Cristi Puiu (realizador de “The Death of Mr. Lazarescu” - uma chamada de atenção para quem noutro dia me questionava sobre como e onde ver este filme), Catalin Mitulescu, Alexandru Solomon, Corneliu Porumboiu, Radu Muntean, Florin Iepan, Radu Jude e Cristian Mungiu.
Mais informações em www.semanaromena.com.
Realização: David Fincher. Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Anthony Edwards, Brian Cox, Elias Koteas, Donal Logue, John Carroll Lynch, Chloë Sevigny. Nacionalidade: EUA, 2007.
Do final dos anos 60 até ao início da década de 70, um serial killer auto-denominado Zodiac reclamou 37 assassinatos na zona de São Francisco. O número pode ter sido exagerado por uma fome de fama, mas pelo menos cinco desses crimes são garantidamente de sua autoria.
David Fincher (“Seven”, “Fight Club”) que cresceu nessa zona, revisita o tempo de terror e tensão vividos pela população e os esforços das equipas de investigação - polícia e imprensa. O filme “Zodiac” baseia-se no livro homónimo de Robert Graysmith, um cartoonista que trabalhava no jornal San Francisco Chronicle e que é aqui interpretado por Jake Gyllenhaal. À semelhança de outras publicações o The Chronicle recebeu cartas e cifras de Zodiac com ameaças e troçando do trabalho policial. O caso estava nas mãos de Paul Avery (Robert Downey, Jr.), um jornalista rebelde que tentava cobrir todos os ângulos de uma investigação que abrangia várias jurisdições. Mas o fascínio de Graysmith por puzzles fê-lo acompanhar de perto os desenvolvimentos, coleccionando toda a informação existente. Do lado da polícia, os crimes perpetrados pelo Zodiac estavam a cargo dos detectives David Toschi (Mark Ruffalo) e William Armstrong (Anthony Edwards), da polícia de São Francisco, do Sargento Jack Mulanax (Elias Koteas) em Vallejo, e do detective Ken Narlow (Donal Logue) no condado de Napa Valley.
O filme de Fincher centra-se em Graysmith, Avery e Toschi e sobre a sua incapacidade, a título individual, de deixarem este mistério sem solução, da sua obsessão pela verdade e das consequências da mesma na vida pessoal de cada um deles. Mas “Zodiac”, mais do que preocupar-se pela personagem que lhe dá o nome (ou pelas cogitações sobre a sua psicologia), foca o terror da ameaça velada que a sua simples existência implica na comunidade (a cidade de São Francisco esteve inclusive sob recolher obrigatório). “Zodiac” alude igualmente, de uma forma nada ostensiva, à fome dos media pela história de Zodiac. Um apetite que é recíproco, desde a fixação de Zodiac no filme “The Most Dangerous Game” (Irving Pichel e Ernest B. Schoedsack, 1932) à preocupação por quem o interpretará quando a sua história for adaptada ao cinema.
O grande desafio de Fincher é manter o nosso interesse numa história sem desfecho, ou melhor, uma história baseada num crime que oficialmente está ainda por resolver. Abdicando desde logo dessa ilusão, Fincher coloca-nos dentro da obsessão das suas três personagens centrais. Entre pistas, suspeitos, ficheiros perdidos, informação não partilhada e frustrantes becos sem saída, acompanhamos com prazer o trabalho de dedução dos jornalistas e da polícia (numa versão bem mais real do que estamos habituados) na tentativa de juntar os pedaços de informação num todo coerente. Saltando de pergunta em pergunta somos conduzidos às mesmas respostas (ou dúvidas) que os investigadores.
A realização de Fincher e o argumento de James Vanderbilt constroem uma história de detalhe, suspense muitas vezes hitchockiano, planos belíssimos e crimes habilmente filmados. Do design de produção de Donald Graham Burtcom vai um destaque para a sala da redacção, totalmente seventies. No campo dos efeitos especiais, o belíssimo recurso de passagem temporal com a construção acelerada da Transamerica Pyramid.
É exactamente no tema tempo que poderão haver algumas críticas a “Zodiac” e ao seu ritmo. Críticas com as quais discordo, porque me parece essencial, por um lado, captar os detalhes envolvidos num processo deste tipo, e, por outro, apercebermo-nos da extensão temporal deste dramático episódio, numa investigação que se arrastou durante diversos anos de uma forma errática.
Sou uma fã praticamente incondicional de Fincher (apenas um minor disappointment com “Panic Room”) e “Zodiac” faz total jus ao seu talento. E uma peça essencial desse êxito é a matéria prima interpretativa: um trio de poderosos actores apoiados por uma série de secundários de elevada categoria (persiste ainda a perturbante imagem de Jake Gyllenhaal, numa das cenas finais, quando olha nos olhos aquele que ele acredita ser o responsável pelos crimes).
Em “Seven” Fincher deu-nos a ficção do serial killer, em “Zodiac” dá-nos a realidade. Ao contrário da primeira, onde é possível uma resolução (seja ela optimista ou pessimista), na vida nem sempre as culpas encontram a sua origem.
Realização: Lars Von Trier. Elenco: Jens Albinus, Peter Gantzler, Friðrik Þór Friðriksson, Benedikt Erlingsson, Iben Hjejle, Henrik Prip, Louise Mieritz, Mia Lyhne, Jean-Marc Barr, Casper Christensen, Sofie Gråbøl, Anders Hove. Nacionalidade: Dinamarca / Suécia / Islândia / Itália / França / Noruega / Finlândia / Alemanha, 2006.
Ravn (Peter Gantzler) é dono de uma empresa de Tecnologias de Informação que decidiu evitar conflitos com os seus empregados inventando um director para a empresa com a responsabilidade das decisões mais impopulares. Uma das quais é a venda da empresa a um magnata islandês, Finnur (Friðrik Þór Friðriksson). Mas para prosseguir com as negociações este exige a presença do director da empresa. Ravn decide então contratar o actor de método Kristoffer (Jens Albinus). Com um péssimo briefing e tendo de conviver com as erróneas percepções que cada um dos empregados tem da figura do director, Kristoffer ver-se-á obrigado a tomar decisões (morais) pela sua personagem.
Depois de liberdade de câmara ao ombro do Dogma95 e da rigidez espacial de “Dogville” e “Manderlay”, Von Trier adoptou agora uma nova técnica de filmagem - Automavision. Após escolher uma série de ângulos e planos, um programa de computador selecciona automaticamente as melhores opções segundo critérios predefinidos, estabelecendo mesmo a sequência de montagem. O objectivo é limitar a interferência humana e libertar o trabalho do hábito e da estética. O lado positivo desta opção é o efeito de documentário (na senda Dogma 95) conseguido pela naturalidade dos planos, o lado negativo é que, muitas vezes temos personagens a desaparecerem do ecrã simplesmente porque nem a câmara se move, nem o plano é aberto.
Fugindo do seu habitual tom dramático, Lars Von Trier envereda pela comédia com o domínio de quem é, de facto, o “chefe disto tudo”. Aliás, é a sua voz off que avisa de início o espectador de que este filme se trata de uma comédia e, portanto, não deverá ser merecedora sequer de um momento de reflexão. Ora, é mesmo isso que apetece fazer.
“O Chefe Disto Tudo” é uma sátira sobre o mundo empresarial e sobre a manipulação dos trabalhadores através do engano. Mas é também um olhar sobre o trabalho do actor e o processo de construção de uma personagem incoerente e que é, com efeito, várias. Entre os hilariantes mal-entendidos e a divertida rivalidade entre dinamarqueses e islandeses, um homem tenta desesperadamente defender as acções de “outro” e resolver os problemas por ele criados. A dura realidade é que a melhor forma de evitar o confronto é atribuir a responsabilidade a uma instância superior (seja ela um chefe ou um deus).
De 21 a 27 de Maio, A MONSTRA | Festival de Animação de Lisboa, na sua 6ª edição, promete animar a cidade com cinema, exposições e espectáculos.
A MONSTRA compreende uma competição de curtas e longas-metragens, uma retrospectiva de autores de relevo - este ano coube a vez aos russos, a transversalidade artística (artes plásticas, música, dança, teatro), acções de formação em animação, e a Monstrinha - especialmente destinada ao público infantil.
A sessão de lançamento terá lugar no dia 16 de Maio no Cabaret Maxime.
Programa e detalhes em http://www.monstrafestival.com/.
Realização: Bart Freundlich. Elenco: David Duchovny, Julianne Moore, Billy Crudup, Maggie Gyllenhaal, Eva Mendes. Nacionalidade: EUA, 2005.
Rebecca (Julianne Moore) é uma famosa actriz prestes a estrear uma peça de teatro. Tom (David Duchovny), o seu marido, é um ex-publicitário que desistiu da sua carreira para tomar conta da casa e dos seus dois filhos. Entre os dois existem problemas de natureza sexual (ele parecendo querer muito e ela pouco) que as sessões anuais de terapia não parecem resolver. O irmão mais novo de Rebecca e melhor amigo de Tom, Tobey (Billy Crudup) tem uma relação de sete anos com Elaine (Gyllenhaal), que parece estar a caminhar para sítio nenhum. No cerne deste conflito está a vontade dela de casar e ter filhos e imaturidade dele.
Antes demais espero que este filme não seja espelho de nenhuma realidade. Primeiro, porque resume os homens a irritantes idiotas. Segundo, porque resume as mulheres a irritantes idiotas. Enquanto uns se tentam redimir de uma culpa das qual as outras parecem estar totalmente isentas, as tentações dos homens (materializadas nas bombásticas Eva Mendes e Dagmara Dominczyk) são muito mais interessantes que as das mulheres (os entediantes Justin Bartha, James LeGros e Glenn Fitzgerald), o que as faz parecer mais fortes e as coloca do lado bom.
Apesar da boa química entre os actores, o argumento de Bart Freundlich (marido da sempre linda Julianne Moore) coloca personagens caricaturais em situações artificiais, rodeando todo o filme de uma atmosfera de falsidade que é preciso aceitar desde início, sob pena de dar o tempo por mal empregue. “Trust the Man” refugia-se no humor fácil (incluindo dispensáveis piadas escatológicas) para lidar com as crises de vida das suas personagens, sem nunca as enfrentar com seriedade (o que poderia ser feito satiricamente). Na base existem as dúvidas naturais que, mais cedo ou mais tarde, nos assaltam a todos, e projectos de vida que é necessário assumir ou então deixar definitivamente para trás. Como sucede aqui, o amor poderá ser a solução – desde que se escolha esquecer (a recuperação da confiança é uma questão habilmente evitada).
Dois esclarecimentos quanto ao moralismo subjacente ao happy ending: (1) ser adulto não quer dizer que se queira casar e ter filhos, nem a recusa desse caminho significa obrigatoriamente imaturidade; (2) descobrir quem somos pode (deve?) ser um caminho feito em conjunto com as pessoas que amamos, não necessariamente longe (ou afastando-nos) delas.
Vá lá, depois de um petisco de caracóis, já com sabor a Verão, um inofensivo feel good movie não é assim tão chocante.
TAGLINE:
Could you? Would you? Should you?
EVERYTHING
Ben Harper
Behind all of your tears
There's a smile
There's a smile
Behind all of the rain
There's a sunshine
For miles and miles
Oh- Everything
Everything
You mean everything
You mean everything
Everything to me
Everything to me
The colors of your garden
They're yellow, blue and green
And the sound of your sweet voice
It's better than all my dreams
Oh- Everything
Everything
You mean everything
You mean everything
Everything to me
Everything to me
Your my first thought in the morning
When I rise
Oh- when I rise
You're my last thought in the evening
When I rest my head at night
Oh- Everything
Everything
You mean everything
You mean everything
Everything to me
Everything to me
Oh- Everything
Everything
You mean everything
You mean everything
Everything to me
Everything to me
Everything to me
Everything to me
T.O.: Gwai wik. Realização: Oxide Pang Chun e Danny Pang. Elenco: Angelica Lee, Lawrence Chou, Siu-Ming Lau, Qiqi Zeng. Nacionalidade: Tailândia / Hong Kong, 2006.
Os realizadores de “The Eye” (2002) trouxeram aquela que foi a especial desilusão dos filmes do Fantasporto que passaram por estes dias no Quarteto, em Lisboa. Deixei-me seduzir pela superficialidade do prémio de Melhores Efeitos Especiais mas, de facto, este filme pouco mais é do que um exercício técnico visual.
Ting-Yin (Angelica Lee) é uma bem sucedida escritora que, depois do êxito da sua obra romântica, resolve enveredar pela temática sobrenatural. A urgência para terminar o seu novo livro “Re-cycle”, e o reaparecimento de um antigo namorado, provocam uma forte pressão psicológica em Ting-Yin, que começa a sentir-se ameaçada por uma estranha presença.
Enquanto os realizadores se mantêm no espaço fechado da casa de Ting-Yin, a sua eficácia é razoável, com bons movimentos de câmara e um uso dos efeitos sonoros que criam a tensão necessária. Infelizmente, isso dura pouco tempo. Assim que se saem de casa e se adentram no mundo interior de Ting-Yin, o argumento desfaz-se em cenas que se amontoam sem outro sentido que não seja o de se superarem visualmente.
A heroína desta história desperta tão pouca empatia que no momento do clímax dramático, com as lágrimas a escorrerem-lhe esteticamente pela cara, se ouve um riso sonoro em toda a plateia, tamanho é o ridículo de toda a história. No final, resta uma mensagem moralista que apenas consegue ter um efeito oposto a si mesma. Talvez haja obras que, simplesmente, não deviam ganhar vida.
Realização: Gregory Hoblit. Elenco: Anthony Hopkins, Ryan Gosling, David Strathairn, Rosamund Pike, Embeth Davidtz, Billy Burke, Cliff Curtis. Nacionalidade: EUA, 2007.
Ted Crawford (Anthony Hopkins) é um engenheiro de estruturas que, depois de descobrir que a sua mulher, Jennifer (Embeth Davidtz), está a ter um caso com outro homem, lhe dá um tiro na cabeça e confessa o seu crime à polícia. Willy Beachum (Ryan Gosling) é o promotor público a quem é entregue o caso, um jovem ambicioso que está prestes a passar para uma grande empresa e para o dinheiro do direito corporativo. O caso parece simples, existe uma confissão verbal e outra assinada, bem como a arma do crime. Mas nem tudo é o que parece, começando pelo facto do detective que toma conta do assassinato, Rob Nunally (Billy Burke), ser o amante da vítima.
Gregory Hoblit (realizador de episódios de “Hill Street Blues”, “NYPD Blue” e “L.A. Law“) constrói um thriller cheio de jogos mentais. De um lado está Hopkins, um homem com a capacidade de descobrir as mínimas falhas numa construção maciça e que desenha um plano meticuloso onde a ausência de provas impossibilita a sua condenação. Hopkins é um mestre na frieza calculista e na intimidação e o seu casting é perfeitamente previsível, o que não prejudica de modo algum a sua eficácia. Do outro lado está Gosling, com uma presença e expressividade capazes de equilibrar a balança do veterano, um homam lutando com o seu próprio ego e obrigado a fazer escolhas morais cada vez mais difíceis.
O argumento de Daniel Pyne e Glen Gers está bem estruturado, com voltas na narrativa que vão construindo desafios progressivamente maiores, e permitindo uma agradável disputa de intelectos. Dispensava-se, no entanto, o romance entre Willy Beachum e Nikki Garner (Rosamund Pike), com uma nota de falsidade e que parece existir por meras razões comerciais.
Uma palavra sobre o design de produção de Paul Eads e as fabulosas máquinas Rube Goldberg utilizadas, da autoria do professor de música holandês Mark Bishoff (Rube Goldberg machine: (1) Accomplishing by extremely complex roundabout means what actually or seemingly could be done simply. WEBSTER’S DICTIONARY; (2) Any exceedingly complex apparatus that performs a very simple task in a very indirect and convoluted way. WIKIPEDIA).
Todos nós temos alguma fraqueza, pequenas imperfeições, fissuras no nosso carácter que podem servir de arma para outros. Negá-las é pura arrogância. Não é à toa que quem melhor nos conhece é também quem mais nos pode ferir.
Dois belíssimos posters na edição de celebração dos 60 anos do Festival de Cannes, com início hoje.
Souleymane Cisse, Wong Kar Wai, Penélope Cruz, Juliette Binoche, Jane Campion, Gerard Depardieu, Bruce Willis, Samuel L. Jackson e Pedro Almodovar
Secção ‘UN CERTAIN REGARD’
Realização: Guillaume Canet. Elenco: François Cluzet, André Dussollier, Marie-Josée Croze, Kristin Scott Thomas, Nathalie Baye, François Berléand, Jean Rochefort, Gilles Lellouche, Olivier Marchal, Florence Thomassin, Marina Hands, Jalil Lespert. Nacionalidade: França, 2006.
Naquele que seria o dia de aniversário do seu casamento, Alex Beck (Francois Cluzet) recebe um e-mail com um link para uma câmara de vigilância na rua que lhe mostra uma imagem em tempo real da sua mulher Margot (Marie-Josée Croze), morta há 8 anos. Na altura as suspeitas recaíram sobre um serial killer, que sempre negou esse crime. Mas a recente descoberta de dois corpos começa a lançar dúvidas sobre essa explicação, colocando o próprio Alex como possível autor do crime. Sob vigilância cerrada, Alex vê-se obrigado a fugir, não só para provar a sua inocência, mas sobretudo para descobrir a verdade acerca da sua mulher.
Depois de “Mon Idole” (2002), o actor Guillaume Canet (“Jeux d'Enfants”) regressa à realização com a adaptação do livro 'Tell No One' de Harlan Coben. Fazendo uso das típicas pistas falsas, segredos e corrupção, Canet faz um bom uso do humor, e incute ao filme um ritmo irrepreensível com opções estéticas de grande bom gosto, como é o caso da brilhante cena da auto-estrada. É talvez por isso que a travagem necessária para momentos de revelação acabe por ser denunciadora e se sentir como demasiado forçada.
Bastará uma pequena atenção aos pormenores para decifrar o cerne da intriga. E há que conseguir negligenciar outros, como o facto de aqui as passwords não aparecerem como asteriscos, para conseguir continuar a acreditar na história. Mas ainda que saibamos qual o desfecho há um considerável prazer em ver de que forma o herói chegará à verdade. Sobretudo devido à interpretação tremendamente física de François Cluzet. No global, as personagens são consideravelmente caricaturais, numa vertente bastante unidimensional, mas o apoio de secundários da categoria de Kristin Scott Thomas, André Dussollier e François Berléand fazem com que “Ne Le Dis À Personne” se mantenha à tona.
Não é um filme genial, mas não direi nada a ninguém, porque nutro uma especial simpatia por Guillaume Canet e estou curiosa com a sua carreira, à frente e atrás das câmaras. Talvez o facto dele ter escolhido a música ‘Lilac Wine’ na voz de Jeff Buckley tenha amolecido o meu coração. Agora silêncio.
LILAC WINE
(de James Shelton)
I lost myself on a cool damp night
I gave myself in that misty light
Was hypnotized by a strange delight
Under a lilac tree
I made wine from the lilac tree
Put my heart in its recipe
It makes me see what I want to see
And be what I want to be
When I think more than I want to think
Do things I never should do
I drink much more that I ought to drink
Because it brings me back you
Lilac wine is sweet and heady,
Like my love
Lilac wine, I feel unsteady,
Like my love
Listen to me, I cannot see clearly
Isnt that she, coming to me
Nearly here
Lilac wine is sweet and heady,
Wheres my love
Lilac wine, I feel unsteady,
Wheres my love
Listen to me, why is everything so hazy
Isnt that she, or am I just going crazy, dear
Lilac wine, I feel unready for my love
Feel unready, for my love.
Realização: José Luis Cuerda. Elenco: Ricardo Darín, Irène Jacob, Bebe, Glòria Roig, Víctor Valdivia. Nacionalidade: Argentina / França / Portugal / Espanha, 2006.
Nicolás (Ricardo Darín), inventor de jogos para crianças, conhece a ornitóloga Ingrid (Irène Jacob) e o seu filho Raúl (Víctor Valdivia) num avião a caminho de Barcelona, e apaixona-se pelos dois. Este é o início do seu conto de fadas. É também através das fadas que Nicolás explica o mundo a Raúl, estimulando a sua criatividade num mundo que insiste em impor os seus factos, sem deixar lugar para a fantasia. Raúl sabe que se encontrar uma fada poderá pedir-lhe três desejos, mas antes terá de educá-la, porque muitas fadas não se lembram que o são. Em dado momento e sem explicações, Ingrid decide colocar um ponto final na relação com Nicolás. É nesse momento que nas suas vidas aparece Sezar (Bebe), uma jovem argelina que trabalha num supermercado, enquanto aguarda resposta para um bolsa na Sorbonne.
José Luis Cuerda (“La Lengua de las Mariposas”, 1999), com base no livro ‘L’Education d’une Fée’ (2000) do francês Didier Van Cauwelaert, constrói uma história mágica e intimista onde, através do olhar de uma criança, se desvenda um mundo adulto e cheio de medos. Talvez por isso às observações de Raúl, por muito interessantes e divertidas que sejam, lhe falte a naturalidade infantil.
Quando a fantasia é usada para explicar o mundo corre-se o risco de a usar como refúgio desse mesmo mundo. E “La Educación de las Hadas” refugia-se também na fantasia para disfarçar a previsibilidade com que responde às questões lançadas. Torna-se igualmente complicado desconstruir relações idílicas quando todas as personagens são tão boas e sem falhas que é difícil acreditar nelas.
Apesar de tudo, o elenco internacional encabeçado pelo argentino Ricardo Darín (“El Hijo de la Novia”) e pela francesa Irène Jacob (“La Double Vie de Véronique”) cumpre o seu papel, com uma chamada de atenção para a cantora espanhola Bebe, cujo álbum ‘Pafuera Telarañas’ toca com alguma insistência lá em casa, e que integrará o próximo filme de Julio Medem, “Caótica Ana”.
No bosque encantado de Montseny na Catalunha, a fotografia de Hans Burmann e a música de Lucio Godoy mostram-nos um mundo onde a inocência tem poder para vencer o cinismo, mas é a voz de Bebe cantando “deja que te acompañe que no es momento de andar sola” que nos enche a alma e nos agarra à cadeira no genérico final. Quando tudo na nossa vida parece estar ao contrário, existem forças (dentro e fora de nós) que conseguem fazer-nos crer que tudo irá correr bem. E não vale a pena indagar muito. Afinal de contas, o que seria do quotidiano sem os seus mistérios?
CITAÇÕES:
“Estábamos enamorados como críos. Ahora nos hicimos adultos. Será menos hermoso, pero más completo.”
IRÈNE JACOB (Ingrid)
TIEMPO PEQUEÑO
de Bebe e Lucio Godoy
¿Quién se va y quién se queda?
¿Quién le duele más la soledad?
¿Quién le duele más la soledad?
Si tós los rincones de mi vida tienen algo tuyo
¿Cual es tu camino?
¿Cual es el mío?
¿Dónde se encontraron
¿Dónde se han ió?
Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.
Con lo pequeño que es el tiempo
¿quién recogerá el perdió?
Si tu me cuidas yo me curo
Mi cura es tu compañía
Deja que te cuide las alas... tus alas
Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.
Mis cinco sentidos son pá ti
Mis manos pá sujetarte a ti
Y mi alegría pá que la bebas toda tu
Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.
Anda, deja que te acompañe que no es momento de andar sola.
Déjame que te acompañe.
6 horas de Alessio Boni e Jasmine Trinca.
Vistos em “La Meglio Gioventù” (2003) de Marco Tullio Giordana.
e aprender sobre a vida.
Realização: Karim Hussain. Elenco: Carole Laure, Caroline Dhavernas, Marc-André Grondin, David La Haye, Sébastien Huberdeau. Nacionalidade: Canadá, 2006.
Louise (Carole Laure) é uma viúva vaidosa e superficial, completamente enfeitiçada pela beleza do seu filho Patrice (Marc-André Grondin), com quem partilha uma intimidade incestuosa e da qual exclui totalmente a filha Isabelle-Marie (Caroline Dhavernas), alimentando o seu ciúme doentio. Após a morte do marido ela muda-se com os seus filhos para uma mansão senhorial isolada no campo, onde Isabelle-Marie tem suficiente espaço para se aproveitar da debilidade intelectual do seu irmão e martirizá-lo cruelmente. Reclusos do mundo, o seu amor perturbado e doentio é ilusoriamente normal. Mas este equilíbrio instável é perturbado pela chegada de um padrasto (David La Haye) que põe em causa o lugar de Patrice no coração da mãe.
“La Belle Bête”, adaptação do livro que a co-argumentista Marie-Claire Blais escreveu em 1959, quando tinha apenas 17 anos, baseia-se na dinâmica das relações humanas como reflexo para a eterna disputa entre o bem e o mal (mesmo que feito pelas melhores razões). Estas pessoas são prisioneiras da sua própria realidade, tendo-se tornado vítimas dos seus vícios, do seu egoísmo, da sua mesquinhez, da sua amoralidade. O desaparecimento da figura paternal veio destruturar a unidade familiar, que apenas se conseguiu refazer de uma forma perversa e psicologicamente violenta. Entre as sombras da solidão é essa figura – na imagem de um homem com cabeça de cavalo – que atormenta Isabelle-Marie.
O filme do canadiano Karim Hussain peca por uma débil transposição do conflito inter-pessoal das personagens. O ritmo no qual o filme se arrasta a maior parte do tempo é acompanhado de movimentos excessivos da câmara, que parecem limitar-se a uma vontade de realismo totalmente oposta às interpretações exageradamente teatrais.
“La Belle Bête”: quando o bem é equivalente à beleza, a degradação física transforma-se no castigo supremo, o símbolo do mal a emergir à superfície.