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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

I Don't Want To Sleep Alone ***

30.04.07, Rita

Realização: Tsai Ming-liang. Elenco: Lee Kang-sheng, Norman Bin Atun, Chen Shiang-chyi, Pearlly Chua. Nacionalidade: Taiwan / França / Áustria, 2006.





Depois de ser roubado e agredido, um sem-abrigo chinês, Hsiao-kang (Kang-sheng Lee) é salvo por trabalhadores do Bangladesh. Um deles, Rawang (Norman Bin Atun, o mais forte do elenco) toma a seu cargo a recuperação de Hsiao-kang, deixando-o dormir a seu lado num colchão que ele encontrou na rua. Mais tarde, Hsiao-kang conhece Chyi (Shiang-chyi Chen), empregada num restaurante, e entre os dois surge uma forte atracção. Mas, quer a patroa de Chyi, quer o marido em estado vegetativo de quem Chyi toma conta (representado pelo mesmo Kang-sheng Lee), constituem fortes barreiras ao seu amor. Enquanto isso, uma nuvem de poluição cai sobre Kuala Lumpur.


“I Don’t Want To Sleep Alone” foi elaborado no contexto do projecto ‘New Crowned Hope’ realizado em 2006 pela cidade de Viena como parte integrante do aniversário do nascimento de Mozart. À semelhança do anterior “Adeus, Dragon Inn”, também este é um filme parco em diálogos, feito sobretudo de composições estáticas que nos vão conduzindo com uma fluidez poética – e que, por isso, exige uma leitura poética – numa história sobre a extrema necessidade humana de intimidade física.


Como o prédio onde decorre grande parte de acção, cuja construção foi interrompida e cujo centro se tornou uma enorme piscina, assim somos nós: eternamente incompletos, abarcando sentimentos contraditórios e instáveis, nessa incessante busca de com quem partilhar o sono.





Fresh Air ***

29.04.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Friss Levegö. Realização: Ágnes Kocsis. Elenco: Izabella Hegyi, Júlia Nyakó, Anita Turóczi, Zoltán Kiss. Nacionalidade: Hungria, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Viola (Júlia Nyakó) trabalha como supervisora numa casa de banho pública no metro de Budapeste. Os seus dias passam-se entre a limpeza da casa de banho e os bailes de solteiros. Cada dia, quando chega a casa, Viola assiste à sua filha Angéla (Izabella Hegyi), de 17 anos, abrindo todas as portas e janelas para que o cheiro que a sua mãe traz do trabalho não permaneça pela casa. Cedo se percebe que este acto, mais do que derivar da necessidade é uma afronta pessoal. Viola e Angéla apenas partilham um programa de televisão. As refeições são feitas em separado e os recados são escritos e colados na porta do quarto de Angéla, que ela faz questão de fechar à chave.

ALIGN=JUSTIFY>Viola respeita o espaço e o silêncio da sua filha. Enquanto isso, decora o seu local de trabalho de forma semelhante â sua própria casa, um empenho profissional (quase obsessivo) que a sua filha desconhece. Angéla tem vergonha da mãe e a sua arrogância aumenta ainda com a oportunidade aberta por um concurso de estilismo, que Angéla acredita ser uma oportunidade de fugir ao padrão genético.

ALIGN=JUSTIFY>Um filme feito de rotinas e rituais, onde a barreira de comuicação é reforçada pelo guarda-roupa: Viola veste em tons de vermelho e Angéla de verde. A atenção ao detalhe por parte de Ágnes Kocsis é extensiva às suas personagens, quem ela trata com extremo afecto, numa história tocante sobre a aproximaçao entre dois seres que mal se conhecem, mas que inevitavelmente estão condenados ao amor.








Love Conquers All **

28.04.07, Rita

Realização: Tan Chui Mui. Elenco: Coral Ong Li Whei, Stephen Chua, Leong Jiun Jiun, Ho Chi Lai. Nacionalidade: Holanda / Malásia, 2006.





Ah Ping (Coral Ong Li Whei) muda-se de Penang para Kuala Lumpur para trabalhar no restaurante da tia. Ah Ping deixou um namorado em Panang a quem telefona regularmente. Mas a persistência de um novo amigo, John (Stephen Chua), para que Ah Ping seja sua namorada irá não só pôr em causa as suas opções emocionais, como testar a sua capacidade de entrega.


A realizadora Tan Chui Mui opta por um registo de instrospecção, marcado por um ritmo lento, onde o aborrecimento e a solidão são estados naturais. A relação de Ah Ping com John tem essas mesmas raízes. E apesar de ela continuar a dizer ao namorado que o ama, não consegue deixar de se sentir atraída por John. Mas o hermetismo destas personagens – Ah Ping é especialmente inexpressiva – impede que as compreendamos e que nos relacionemos com elas. Em última instância, facilmente nos deixamos de preocupar com o seu destino. Aliás, a narrativa secundária da prima de Ah Ping, Mei (Leong Jiun Jiun), e do seu relacionamento com um amigo por correspondência torna-se gradualmente mais interessante que a narrativa principal.


“Love conquers all” é referido no filme como a credulidade romântica de que o sentimento pode tudo. Poderia, se não fosse habitual separar o amor da confiança e do respeito pelo outro e por si mesmo. Quando isso acontece, muitas vezes estamos perante simples resignação. Se as acções não falarem por elas mesmas, “amo-te” será somente uma palavra.



Old Joy ****

27.04.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Kelly Reichardt. Elenco: Daniel London, Will Oldham, Tanya Smith. Nacionalidade: EUA, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Kurt (Will Oldham, músico também conhecido como Bonnie 'Prince' Billy - e que recomendo vivamente) regressa à sua cidade e convida o seu velho amigo Mark (Daniel London) para dois dias de acampamento perto das nascentes de água quente de Bagby nas Cascade Mountains no Oregon. A cidade mudou, a amizade também e esta parece ser a última oportunidade para recuperar as memórias e as histórias que um dia os uniram. Mark está prestes a ser pai e é um membro activo da sua comunidade. Kurt é o eterno adolescente com pena de si próprio, usufruindo de uma liberdade que lhe começa a pesar. Mark já foi Kurt, e Kurt, apesar de não desejar as prisões de Mark, inveja-o em certa medida.

ALIGN=JUSTIFY>Eles embrenham-se na montanha como se tentassem regressar às raízes da sua relação, um caminho difícil de encontrar, onde se perdem sem referências. Evitando uma conversa franca sobre o seu passado, a dinâmica emocional entre os dois vai mudando com gestos e olhares cuja interpretação é deixada ao espectador.

ALIGN=JUSTIFY>Com o ritmo de um passeio de fim-de-semana e a sua luza natural, este é um regresso a um estado mais natural e harmonioso. À medida que se sai da cidade, as notícias da rádio são substituídas pela banda sonora original os Yo La Tengo.

ALIGN=JUSTIFY>Adaptado pela realizadora Kelly Reichardt e por Jonathan Raymond do conto deste último, “Old Joy” trata da frágeis e mutáveis ligações humanas, da solidão, do remorso, da saudade e do sentimento de perda que vem com a idade adulta. Quem conhecemos hoje poderá ser amanhã um estranho, mas estabelecendo objectivos comuns poderá ser a desculpa perfeita para fazer essa viagem juntos.

ALIGN=JUSTIFY>E só para esclarecer: “Sorrow is nothing but worn our joy”.








Drama-Mex **1/2

26.04.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Gerardo Naranjo. Elenco: Fernando Becerril, Juan Pablo Castaneda, Diana Garcia, Martha Claudia Moreno, Miriana Moro, Emilio Valdés. Nacionalidade: México, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Quem seguiu a série televisiva “The Love Boat” só se pode lembrar de Acapulco como um porto de sonho. Mas o Acapulco de “Drama/Mex” (Semana Internacional da Crítica na edição de 2006 do Festival de Cannes) está bem longe disso.

ALIGN=JUSTIFY>Fernanda (Diana García) não consegue resistir aos encantos do seu ex-namorado, Chano (Emilio Valdés), apesar de todos os seus defeitos, e põe em risco a sua relação com Gonzalo (Juan Pablo Castañeda). Entretanto, Jaime (Fernando Becerril), um homem de meia-idade decidido a terminar com a sua vida, conhece uma impetuosa jovem de 15 anos, Tigrillo (Miriana Moro), que acabou de fugir de casa e que anda à procura do sustento de homens.

ALIGN=JUSTIFY>Um olhar interessante sobre um quotidiano de dor, perda e solidão, vistos desde diferentes pontos de vista, numa construção que foge da normal linearidade (espacial e temporal). Melancólico sem ser sentimental, a energia de “Drama/Mex” vem de onde menos se espera: de Jaime e de uma experiência de rejuvenescimento que advém simplesmente de sair do “seu mundo”.


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A Scanner Darkly ***

25.04.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Richard Linklater. Elenco: Keanu Reeves, Robert Downey Jr., Woody Harrelson, Winona Ryder, Rory Cochrane. Nacionalidade: EUA, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>O livro de Philip K. Dick “A Scanner Darkly” (1977) tem como base a experiência do autor com o mundo das drogas. Richard Linklater, realizador de “Before Sunrise”, “Before Sunset”, “Fast Food Nation” adapta o mundo surreal de alucinações e paranóias fazendo uso de uma técnica - o rotoscoping - já utilizada por ele em “Waking Life”, e que consiste em desenhar à mão cada um dos frames previamente filmados. Daqui resulta uma animação quase orgânica e com imensas possibilidades criativas (nota para a presença de George Clooney e Steven Soderbergh na equipa de produção executiva).

ALIGN=JUSTIFY>Fred é um polícia da brigada de narcóticos de Orange County, California, que tenta controlar a venda da Substância D, ilegal e altamente viciante, e que já atingiu uma parte muito relevante da população. Fred usa diariamente um ‘scramble suit’, uma inovação técnica que lhe permite mudar entre feições femininas e masculinas de todos os tipos e impedido a sua identificação. As verdadeiras feições de Fred são apenas visíveis quando ele assume a identidade de Bob Arctor (Keanu Reeves), um dos elementos sob investigação pelo departamento, mas que poucos sabem ser também polícia. Mas para fazer parte do grupo de Barris (Robert Downey Jr.), Luckman (Woody Harrelson), Donna (Winona Ryder) e Freck (Rory Cochrane), Arctor viu-se obrigado a também ele consumir a Substância D, o que lhe começa a causar sérias perturbações. Os dois hemisférios do seu cérebro iniciaram uma intensa batalha, tentando deter o domínio e distorcendo a sua noção de realidade.

ALIGN=JUSTIFY>O ‘scanner’ do título são os aparelhos de vigilância que continuamente invadem as casas das pessoas e a sua intimidade. Ao ser narrador da história, a personagem de Keanu Reeves vê a sua vida de fora, distanciando-se de si mesmo. Infelizmente, emocionalmente a sua personagem é muito pouco envolvente (confesso que é isso que acho deste actor), sendo totalmente ofuscado pelos loucos Robert Downey Jr. e Woody Harrelson.

ALIGN=JUSTIFY>A narrativa, para a qual é necessária alguma dose de atenção, sofre pelo tremendo encanto estético deste filme. Linklater transmite todo o ambiente repressivo e o limbo psicológico das suas personagens. Em vez dos diálogos densos a que nos habituou, desta feita ele resolveu falar a outra parte do nosso cérebro. Porque os olhos também comem.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“What does a scanner see? Into the head? Down into the heart? Does it see into me? Into us? Clearly or darkly? I hope it sees clearly because I can't any longer see into myself. I see only murk. I hope for everyone's sake the scanners do better, because if the scanner sees only darkly the way I do, then I'm cursed and cursed again.”
KEANU REEVES (Fred)












Sexualidades - En Soap ***

25.04.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Pernille Fischer Christensen. Elenco: Trine Dyrholm, David Dencik, Frank Thiel, Elsebeth Steentoft. Nacionalidade: Suécia / Dinamarca, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Veronica (David Dencik) é um transexual que divide calmamente a sua vida entre os seus clientes masculinos, a sua cadela Miss Daisy, e as abruptas incursões da sua mãe na sua vida solitária, enquanto aguarda a carta que lhe permita fazer a operação de mudança de sexo pela qual anseia. Ah, e também é viciada numa “soap opera” americana. Mas o aparecimento da nova vizinha (“Neighbours”???) Charlotte (Trine Dyrholm), uma mulher cansada do aborrecimento da sua vida com o namorado de 4 anos, Kristian (Frank Thiel), vem abalar por completo o seu mundo.

ALIGN=JUSTIFY>O filme divide-se em episódios, brevemente relatados por uma voz off como se aponta-se para a estrutura da “soap opera” do título, melodramática e irreal. Mas “En Soap”, a relação de Charlotte, uma mulher agressiva, aparentemente insensível e que diz aquilo que lhe vem à cabeça sem pedir desculpas, com Veronica, com Kristian e com os “one-night-stands” que leva para casa tem muito pouco disso, oscilando entre o ridículo e o doentio, ou seja, a vida real.

ALIGN=JUSTIFY>A estreia da dinamarquesa Pernille Fischer Christensen, que lhe valeu o prémio de melhor primeira obra na Berlinale de 2006, faz uso da previsibilidade da estrutura de base, com todas as lágrimas e tensão sexual que se exige, para contar, através de bons diálogos e boas personagens (em duas fortes e credíveis interpretações), uma relação de amor entre pessoas que vivem fora das convenções. Começando de uma forma hesitante, cada uma vai mostrando aos poucos a sua vulnerabilidade, mas também a sua força, evidenciando a necessidade de tomar decisões para romper com os ciclos de violência física e emocional e para construir aquilo que querem que seja a sua vida. Ao contrário do que Antony and the Jonhsons dizem na música ‘Cripple and the Starfish’, o afecto não se reflecte no sofrimento. E quem sofre é muitas vezes tão culpado desse ciclo como quem faz sofrer.

ALIGN=JUSTIFY>No final, é na gradual aceitação um do outro que todo o amor deixa de ser improvável.


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ALIGN=CENTER>COLOR=#E90909>CRIPPLE AND THE STARFISH

COLOR=#E90909 SIZE=1>Antony and the Johnsons


Mr. Muscle forcing bursting
Stingy thingy into little me, me, me
But just "ripple" said the cripple
As my jaw dropped to the ground
Smile smile

It's true I always wanted love to be
Hurtful
And it's true I always wanted love to be
Filled with pain
And bruises

Yes, so Cripple-Pig was happy
Screamed "I just completely love you!
And there's no rhyme or reason
I'm changing like the seasons
Watch! I'll even cut off my finger
It will grow back like a Starfish!
It will grow back like a Starfish!
It will grow back like a Starfish!"

Mr. Muscle, gazing boredly
And he checking time did punch me
And I sighed and bleeded like a windfall
Happy bleedy, happy bruisy

I am very happy
So please hit me
I am very happy
So please hurt me

I am very happy
So please hit me
I am very very happy
So come on hurt me

I'll grow back like a Starfish
I'll grow back like a Starfish
I'll grow back like a Starfish
I'll grow back like a Starfish...





















































Nipon x2

24.04.07, Rita


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ALIGN=JUSTIFY>Confesso que nunca tinha ouvido falar de Shinji Aoyama antes de ver a programação deste IndieLISBOA. Mas confesso também a tentação de descobrir uma obra que é objecto de homenagem. Como os restantes filmes, fiz uma pequena selecção somente pelas sinopses. Dessa, o extenuante calendário obrigou-me a deixar para trás “Embalming” (1999). Fiquei então com “Shady Grove” (1999) e “An Obsession” (1998), que vi em sessão dupla. Um contraste crasso entre dois géneros, a história de amor e o policial introspectivo.


ALIGN=JUSTIFY>“Shady Grove” conta a história de Rika, abandonada pelo namorado com quem planeava casar. Entre o seu comportamento auto-destrutivo, vazio de orgulho e cheio de ridículo, ela tenta apenas conseguir o seu conto de fadas, mesmo que para isso tenha de recusar um amor sincero.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de algum poder de observação sobre a natureza humana, as opções de Aoyama são substancialmente previsíveis e demasiado açucaradas. O mesmo já não se pode dizer do olhar da sua câmara, com uma atenção simultaneamente estética e curiosa.


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ALIGN=JUSTIFY>Por sua vez, “An Obsession” pega no filme “Stray Dog” de Kurosawa e dá-lhe um cunho tremendamente noir. Após ser alvejado, um polícia demasiado centrado no seu trabalho perde a sua arma. Sem mulher e sem trabalho, essa arma passa a ser o seu único objectivo. Mas no seu caminho está o amor de dois jovens, um amor sob o intenso teste de contrariedades físicas e psicológicas. Esse homem, tão distante de si mesmo, será o guardião da maior prova de amor.

ALIGN=JUSTIFY>Um filme que gere com mestria a tensão e as revelações, que retrata os dilemas das suas personagens, sem as julgar, permitindo-lhe fazer as escolhas que, no final, as irão definir. Uma boa surpresa este Aoyama.


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Of course all life is a process of breaking down, but...”
F. SCOTT FITZGERALD












Offside ***

23.04.07, Rita

Realização: Jafar Panahi. Elenco: Trine Sima Mobarak Shahi, Safar Samandar, Shayesteh Irani, M. Kheyrabadi, Ida Sadeghi, Golnaz Farmani, Mahnaz Zabihi, Nazanin Sedighzadeh, M. Kheymeh Kabood, Mohsen Tanabandeh, Reza Farhadi, M. R. Gharadaghi. Nacionalidade: Irão, 2006.





“Offside” começa num autocarro que se dirige ao Estádio Azadi em Teerão para a eliminatória para o mundial de futebol de 2006 entre Irão e Bahrain. Entre os apoiantes iranianos senta-se uma assustada rapariga (Shima Mobarak-Shahi), vestida com roupas largas, a cara pintada com as cores do país e um boné enfiado na cabeça, mas sem conseguir disfarçar o seu género. Já no estádio ela é presa por um jovem soldado e levada para uma área onde se encontram já outras raparigas, cada uma delas com a sua estratégia de ataque, umas mais “profissionais” outras menos.


Elas tentam convencer os guardas, negociar alguma forma de ver o jogo e até fugir. Mas apenas conseguem uns breves relatos indirectos por parte de um dos guardas. De futebol temos direito a pouco mais que o barulho da multidão, e, como elas, somos também nós impedidos de ver o jogo. Pelo menos, aquele jogo. Porque ali fora desenrola-se um outro, um entre guardas e prisioneiras, entre as convenções sociais iranianas e os direitos das mulheres. Segundo o mal-humorado chefe dos guardas (Safar Samandar) elas necessitam ser protegidas dos empurrões e dos insultos masculinos, ao que uma delas responde “Prometemos não ouvir”.


À paixão das raparigas pelo desporto opõe-se a fraca convicção por parte dos guardas no desempenho do seu dever e uma simultânea impotência para alterar as regras. Uma cena particularmente cómica (apesar de um pouco mais extensa que o necessário) é a ida a uma das casas de banho masculinas por parte de uma das raparigas (Ida Sadeghi), na qual o guarda que a acompanha (M. Kheyrabadi), além de a obrigar a usar uma máscara, impede a entrada de outros homens na casa de banho, como se de um guarda-redes se tratasse.


Jafar Panahi (“Crimson Gold”), cujo trabalho é tradicionalmente banido no seu país, faz uso de não-actores e, em tom de comédia, aponta o dedo à discriminação sofrida pelas mulheres na sociedade iraniana.


“Offside” termina num outro autocarro, uma carrinha da polícia que abre caminho pelas ruas onde se festeja o resultado final do jogo. E apesar de uma quase forçada revelação da motivação de uma das raparigas, a explosão de nacionalismo mostra como é fácil atingir a igualdade. Mas há demasiada gente que recusa ouvir.




The Hottest State ***

23.04.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ethan Hawke. Elenco: Mark Webber, Catalina Sandino Moreno, Sonia Braga, Michelle Williams, Laura Linney, Ethan Hawke. Nacionalidade: EUA, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Na sua segunda incursão pela realização (em 2001 dirigiu “Chelsea Walls”), Ethan Hawke adapta o seu livro "The Hottest State", que conta a história do primeiro amor e primeiro desgosto de William (Aaron Webber), um energético jovem de 21 anos originário do Texas (o ‘estado mais quente’ do título) que vive em Nova Iorque e que aspira a ser actor. A fada, num momento, e bruxa, no outro, é Sarah (Catalina Sandino Moreno), uma rapariga emocionalmente retraída que deixou a sua mãe (Sonia Braga) no Connecticut para prosseguir uma carreira na música na ‘Big Apple’ (o playback está a cargo de Rosario Ortega, numa banda sonora da responsabilidade de Jesse Harris, interpretada por vozes como as de Cat Power, Emmylou Harris e Feist, entre outros).

ALIGN=JUSTIFY>É evidente que Hawke conhece bem as suas personagens, mas o pesado ponto de vista de William, acaba por prejudicar a complexidade que Sarah deveria conter. Ela acaba por ficar limitada a objecto de desejo e causadora de sofrimento. Felizmente, a dupla de protagonistas compensa esse desequilíbrio. Por um lado, porque Catalina Sandino Moreno (“Maria Cheia de Graça”) é uma actriz versátil e, por outro lado, porque a personagem de Aaron Webber (“Dear Wendy”) dispõe de um aguçado mecanismo de autocrítica.

ALIGN=JUSTIFY>Especialmente na parte dos diálogos lê-se bastante da colaboração de Hawke com Richard Linklater em filmes “Before Sunset”, onde vem ao de cima o ridículo - e verdadeiro - das relações humanas. Tal é o caso da chamada telefónica que se repete para se pedir desculpa pela chamada que se fez no minuto anterior, onde se finge distanciamento quando o simples acto de ligar se revela em toda a sua vulnerabilidade. Um outro momento, especialmente divertido e, simultaneamente, doloroso, é aquele em que William e Sarah, no início da sua relação brincam com o seu final, inventando as frases que dirão um ao outro quando terminarem.

ALIGN=JUSTIFY>Após uma intensa semana no México, sobrevém a distância da parte de Sarah e o desespero e irracionalidade da parte de William. Mas mais do que lutar por Sarah, William empenha-se por contrariar a hereditariedade da relação falhada dos seus pais (uma Laura Linney e um Ethan Hawke que sabem a pouco).

ALIGN=JUSTIFY>O ‘hottest state’ é também aquele da paixão, o calor do desconhecido, aquele momento de deslumbre onde tudo é possível, onde as qualidades são transbordantes e os defeitos encantadores. Com mais ou menos calor, a necessidade de amor é indiscutível, da mesma forma que o é a necessidade de um espaço individual onde se possa crescer como uma entidade independente.


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