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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Man About Town ***

31.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Mike Binder. Elenco: Ben Affleck, Rebecca Romijn, John Cleese, Mike Binder, Gina Gershon, Adam Goldberg, Howard Hesseman, Samuel Ball, Bai Ling, Jerry O'Connell, Kal Penn, Amber Valletta. Nacionalidade: EUA, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Jack Giamoro (Ben Affleck) é um agente de talentos que representa argumentistas de televisão. A carreira de sucesso, o dinheiro, a casa imensa, o carro rápido, a mulher deslumbrante. Estilo lista de compras soa consideravelmente pior, mas é mais ou menos isso que se passa na vida de Jack, numa ordem de prioridades bastante semelhante. Apesar de tudo isso, Jack não é feliz (nos filmes nunca são, pois não?, havia de ser eu...). Aliás, se o fosse não havia filme. Para tentar preencher esse vazio, Jack inicia um curso de auto-conhecimento com o arrogante e temperamental professor Primkin (genial John Cleese), que o obriga a manter um diário com os seus pensamentos mais profundos. Tudo começa a ruir quando Jack descobre que a sua mulher, Nina (Rebecca Romijn), tem um caso com o seu mais importante cliente, Phil Balow (Adam Goldberg). O cataclismo chega quando o diário de Jack é roubado, num acto de vingança (ah, a justiça divina por caminhos ínvios...), coloca sob a ameaça de exposição dos seus segredos pessoais e profissionais. Jack é então obrigado a enfrentar-se a si mesmo e às suas opções.

ALIGN=JUSTIFY>A reavaliação da vida de um homem de sucesso não é original. O mesmo Ben Affleck já o fez antes (“Surviving Christmas”, “Jersey Girl”) e com a mesma inaptidão. Continuo a achar que apenas Kevin Smith conseguiu em “Dogma” (1999) fazer alguma (pouca) coisa dele. Se fosse realmente um agente de talentos Jack nunca faria um contrato com Ben Affleck. Como protagonista, Jack/Ben não consegue despertar a mínima simpatia e aquele simulacro de auto-conhecimento que deriva da tentativa desesperada de se agarrar a tudo aquilo que ele conquistou não convence. Felizmente, Mike Binder (“The Upside of Anger”, 2005) trouxe para “Man About Town” um bom elenco de secundários, desde Rebecca Romijn (que faz o que pode com o pouco que lhe dão), passando pelos colegas de escritório de Jack (Gina Gershon – lindíssima como sempre, Kal Penn e o próprio Binder, num registo que me trouxe à memória Judd Hirsch em “Dear John”), até ao casal aspirante a cliente Jerry O'Connell e Amber Valletta (por favor, alguém pegue na veia humorística desta manequim).

ALIGN=JUSTIFY>Mike Binder aponta para uma mensagem sobre a desilusão que acaba por chegar quando a profissão/ambição se torna no centro fulcral da vida. Mas entre a sátira e o disparate há uma linha ténue que ele atravessa sem pedir licença. E a exploração das situações cómicas, algumas levadas ao limite (como o caso dos dentes postiços, que invoca o já kitsch Jerry Lewis), não encontra equilíbrio no lado filosófico. E até as situações trági-cómicas do álbum de família de Jack são fracos fundamentos para as suas motivações.

ALIGN=JUSTIFY>Mas um filme sobre o SENTIDO DA VIDA com a enérgica presença de John Cleese nunca pode ser mau, ainda que as suas aparições num delicioso tom de amargo desprezo por tudo e por todos saibam a pouco. E só porque é ele que o diz, dá vontade de obedecer e de reforçar: atenção à ortografia!








CINEMATECA EM SETEMBRO

30.08.06, Rita




HITCHCOCK NA ESPLANADA

Em Setembro, Hicthcocok continua a estar na esplanada da Cinemateca, aproveitando o último calor do Verão. De quinta a sábado, às 22h30.


01. SEXTA

THE TROUBLE WITH HARRY (O Terceiro Tiro)

com Edmund Gwenn, Shirley MacLaine, John Forsythe, Mildred Natwick, Mildred Dunnock, Royal Dano, Jerry Mathers
EUA, 1955 - 99’’ / legendado em espanhol

THE TROUBLE WITH HARRY é um Hitchcock diferente… o reverso dos outros filmes de Hitchcock: ao mundo da culpa contrapõe-se o universo onde ela não existe. Porque é que esse universo nos faz rir tanto? Talvez convenha, depois de rirmos, pensar nesta pergunta. Talvez Harry seja muito mais perturbante do que alguma vez pensámos. Mais de três décadas após este filme, a obra de um cineasta como David Lynch (BLUE VELVET, TWIN PEAKS) com imagens de um paraíso terrestre representado pelas comunidades rurais nos EUA, que encobrem o crime, o medo e a indiferença, confirma o que Hitch eventualmente pressentiu. Talvez THE TROUBLE WITH HARRY seja não só o mais inquietante mas também o mais amoral dos filmes de Hitchcock.



02. SÁBADO

DIAL M FOR MURDER (Chamada Para a Morte)

com Grace Kelly, Ray Milland, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson
EUA, 1954 - 105’’ / legendado em espanhol

Adaptação da peça homónima de Frederick Knott. História de um crime falhado que procura transformar-se em crime perfeito. Tendo falhado o atentado contra a mulher, o marido procura fazê-la passar como assassina do homem que contratou para a matar. Uma das grandes obras de suspense de Hitchcock, com Grace Kelly a enganar o marido, este a contar com o dinheiro dela e John Williams num irresistível inspector da polícia. Originalmente em 3-D.



07. QUINTA

THE LADY VANISHES (Desaparecida!)

com Margaret Lockwood, Michael Redgrave, Paul Lukas, Dame May Whitty
Reino Unido, 1938 - 95’’

Um dos mais famosos filmes do período inglês de Hitchcock, é também uma espécie de resumo dessa fase da sua obra. Colocando a tónica no humor, narra uma história de espionagem clássica, que envolve um grupo de nazis e uma velha e fleumática senhora inglesa, num comboio que atravessa a região dos Balcãs. Um dos mais brilhantes exercícios de estilo do realizador.



08. SEXTA

STRANGERS ON A TRAIN (O Desconhecido do Norte-Expresso)

com Farley Granger, Robert Walker, Ruth Roman, Patricia Hitchcock, Leo G. Carroll
EUA, 1951 - 101’’

STRANGERS ON A TRAIN é um filme onde Hitchcock filma, de maneira quase abstracta, o enorme novelo moral que envolve a humanidade (e para o qual não há resposta, nem saída, nem solução). Neste thriller, exemplo eloquente do seu génio, adapta uma novela que impôs Patricia Highsmith como autora de referência do género, onde conta a história de uma estranha "troca" de crimes.



09. SÁBADO

PSYCHO (Psico)

com Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam, John McIntire, Simon Oakland
EUA, 1960 - 109’’

Hitchcock usou PSYCHO para definir o que considerava "cinema puro". "Não se trata de uma grande interpretação que tivesse abalado o público. Não se trata de um romance muito apreciado que tivesse cativado o público. O que emocionou o público foi o filme puro" (Hitchcock). Em PSYCHO, o filme mais mítico de Hitch e o mais imitado, e o maior êxito comercial do realizador, que lançou a "moda" dos "serial killers" no cinema, Hitch aplicou muitas das experiências que desenvolveu nas séries televisivas que realizou na mesma época.



14. QUINTA

JAMAICA INN (A Pousada da Jamaica)

com Charles Laughton, Maureen O’Hara, Robert Newton, Leslie Banks, Emlyn Williams
Reino Unido, 1939 - 94’’ / sem legendas

O ultimo filme da fase britânica de Hitchcock, feito já com um pé na América, segundo uma popular novela de Daphne du Maurier, autora também de REBECCA, a estreia de Hitch nos EUA. É a história de uma órfã irlandesa (Maureen O’Hara no papel que a revelou) na costa da Cornualha no século XVIII, vivendo numa sinistra mansão que abriga um bando responsável pelos naufrágios na costa. Feito por iniciativa de Laughton e para Laughton, tudo indica que o realizador jogou consciente e voluntariamente uma partilha de carácter com o actor.



15. SEXTA

UNDER CAPRICORN (Sob o Signo do Capricórnio)

com Ingrid Bergman, Joseph Cotten, Michael Wilding, Margaret Leighton, Cecil Parker
EUA, 1949 - 115’’

Um dos filmes mais discutidos de Hitchcock, que nele leva a cabo outra experiência notável no uso do plano-sequência (depois de ROPE), e que aqui tem uma genial aplicação na sequência da confissão de Ingrid Bergman, num grande plano que dura quase dez minutos. Tendo por cenário a Austrália do século XIX, que era também um local de degredo para condenados pela lei, UNDER CAPRICORN é uma admirável história de amor, de culpa e de redenção, fotografada com mão de mestre por Jack Cardiff.



16. SÁBADO

ROPE (A Corda)

com James Stewart, Farley Granger, John Dall, Cedric Hardwicke, Joan Chandler
EUA, 1945 - 80’’

ROPE é o mais famoso "tour de force" técnico de Hitchcock: narrado em tempo real, o filme inteiro é composto por um só plano aparente, cada bobina contendo um único plano-sequência. É a história de dois estudantes, que matam um amigo unicamente pelo "prazer" de cometer um "acto gratuito", e que recebem um grupo de convidados para jantar, com o cadáver escondido no apartamento.



21. QUINTA

YOUNG AND INNOCENT

com Nova Pilbeam, Derrick de Marney, Percy Marmont, Mary Clare
Reino Unido, 1937 - 80’’ / legendado em espanhol

YOUNG AND INNOCENT é um dos menos conhecidos filmes de Hitchcock, embora se inclua na fase mais rica do seu período inglês. É também aquele que, neste período, se afasta do tema da espionagem, centrando-se apenas na questão do "falso culpado" que procura descobrir o autor do crime de que é acusado. YOUNG AND INNOCENT contem um dos grandes "tour de force" técnicos de Hitchcock: o famoso travelling que atravessa a sala de baile para mostrar o criminoso entre os membros da orquestra.



22. SEXTA

SPELLBOUND (A Casa Encantada)

com Gregory Peck, Ingrid Bergman, Leo G. Carroll, John Emery, Michael Chekhov, Rhonda Fleming
EUA, 1945 -111’’

SPELLBOUND marca o encontro de Hitchcock com Gregory Peck e Ingrid Bergman. O tema principal é o amor, numa história de dedicação e sacrifício de uma mulher capaz de tudo para defender o seu amado. Ela é uma psicanalista. Ele um seu paciente, que se fez passar pelo médico que é acusado de ter morto. E à volta disto, uma incursão pelos meandros da psicanálise, com uma sequência de antologia; o sonho de Gregory Peck, encenado por Salvador Dali.



23. SÁBADO

NOTORIOUS (Difamação)

com Cary Grant, Ingrid Bergman, Claude Rains, Louis Calhern, Leopoldine Konstantin
EUA, 1946 - 99’’

Para muitos, trata-se da obra-prima absoluta de Hitchcock, uma soberba história de amor tendo por pano de fundo uma intriga de espionagem. NOTORIOUS é o filme do voluptuoso beijo entre Ingrid e Cary, num movimento de câmara tantas vezes imitado e nunca igualado. É o filme de uma expiação, de uma mulher pelos homens, primeiro o pai, e depois o amante. É também o filme da suspeita, mas esta exterior, dos serviços secretos americanos a propósito da utilização do urânio no argumento do filme. E é também o filme em que ao gosto do champanhe se junta o sabor do suspense.



28. QUINTA

REBECCA

com Laurence Olivier, Joan Fontaine, Judith Anderson, George Sanders, Nigel Bruce, Gladys Cooper, Florence Bates, Reginald Denny, C. Aubrey Smith, Leo G. Carroll
EUA, 1940 - 130’’

REBECCA foi a passadeira vermelha lançada por Hollywood para receber o "mestre do suspense". De certo modo, a própria novela de Daphne du Maurier fora escrita a pensar na sua adaptação por Hitch, e para Olivier como intérprete. Mas o filme é também a frágil personagem de Joan Fontaine, a "sombra" sinistra de Mrs Danvers, a governanta (Judith Anderson) e o fantasma presente de Rebeca, que domina o filme de uma ponta a outra.



29. SEXTA

TO CATCH A THIEF (Ladrão de Casaca)

com Cary Grant, Grace Kelly, Charles Vanel, Brigitte Auber, John Williams
EUA, 1955 - 97’’ / legendado em espanhol

Hitchcock e Grace Kelly no seu último encontro, antes dela se tornar princesa de Mónaco. Grant é um ladrão de jóias retirado, que volta à acção quando alguém lhe usurpa o nome numa série de audaciosos roubos. É também uma comédia onde sobressaem mais claramente as obsessões eróticas que povoam a obra de Hitch, com destaque para a cena arquetípica do fogo de artifício.



30. SÁBADO

REAR WINDOW (Janela Indiscreta)

com James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr
EUA, 1954 - 112’’ / legendado em francês

Pode chamar-se um “filme de câmara”, de tal forma tudo se circunscreve à visão a partir da sala onde o herói, um fotógrafo com a perna em gesso devido a um acidente (James Stewart), passa o tempo bisbilhotando a vida dos vizinhos, até ao momento em que se depara com um crime. A notável articulação entre os espaços do interior do apartamento de Stewart e o pátio e as traseiras dos vizinhos, é o resultado de um dos mais fabulosos trabalhos de “set designing” da história do cinema.






Retomando a viagem pelo mundo dos Oscar®, em Setembro a estatueta em questão é a Direcção Artística:


THE MERRY WIDOW, de Ernst Lubitsch (1934)
LOST HORIZON (Horizonte Perdido) , de Frank Capra (1937)
THE THIEF OF BAGDAD (O Ladrão de Bagdad) , de Michael Powell, Ludwig Berger e Tim Whelan (1940)
THE SONG OF BERNADETTE (A Canção de Bernadette) , de Henry King (1943)
FRENCHMAN’S CREEK (A Gaivota Negra) , de Mitchell Leisen (1944)
BLACK NARCISSUS (Quando os Sinos Dobram) , de Michael Powell e Emeric Pressburger (1946)
LITTLE WOMEN (Mulherzinhas) , de Mervyn LeRoy (1949)
BARRY LYNDON (Barry Lyndon) , de Stanley Kubrick (1975)
SUNSET BOULEVARD (Crepúsculo dos Deuses) , de Billy Wilder (1950)
AMERICA, AMERICA, de Elia Kazan (1963)
MY FAIR LADY, de George Cukor (1964)
AN AMERICAN IN PARIS (Um Americano em Paris) , de Vincente Minnelli (1951)
STAR WARS (A Guerra das Estrelas) , de George Lucas (1977)
TESS, de Roman Polanski (1979)
RAIDERS OF THE LOST ARK (Os Salteadores da Arca Perdida) , de Steven Spielberg (1981)
DANGEROUS LIAISONS (Ligações Perigosas) , de Stephen Frears (1988)
BATMAN, de Tim Burton (1989)
HOWARDS END (Regresso a Howards End) , de James Ivory (1992)
MOULIN ROUGE, de Baz Luhrmann (2001)
THE AVIATOR (O Aviador), de Martin Scorsese (2004)
MEMOIRS OF A GEISHA (Memórias de Uma Gueisha), de Rob Marshall (2005)

 






NOVO CINEMA DO SOL NASCENTE

Além da continuação da História Permanente do Cinema, e de um ciclo sobre os Quatro Elementos, em Setembro a Cinemateca debruça-se sobre as mais recentes produções asiáticas.


REN XIAO YAO (Prazeres Desconhecidos) , de Jia Zhang Ke (2002)
SHIJIE (O Mundo), de Jia Zhang Ke (2004)
ZHANTAI (Plataforma) , de Jia Zhang Ke (2000)
BU SAN (Adeus Dragon Inn), de Tsai Ming-liang (2003)
XIAO CHENG ZHI CHUN (Primavera Numa Pequena Cidade) , de Tian Zhuangzhuang (2002)
DARE MO SHIRANAI (Ninguém Sabe), de Koreeda Hirokazu (2004)
OLDBOY (Oldboy – Velho Amigo) , de Park Chan-wook (2003)
2046, de Wong Kar Wai (2004)
BIN-JIP (Ferro 3), de Kim Ki-duk (2004)
SAMARIA (A Samaritana), de Kim Ki-duk (2004)
BOM YEOREUM GAEUL GYEOUL GEURIGO BOM (Primavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera) , de Kim Ki-duk (2003)
FA YEUNG NIN WA (Disponível Para Amar) , de Wong Kar Wai (2000)
CHIHWASEON (Embriagado de Mulheres e de Pintura) , de Im Kwon-taek (2002)
ZUOTIAN (A Separação) , de Zhang Yang (2001)
ZATOICHI, de Takeshi Kitano (2003)
SHIQI SUI DE DAN CHE (Bicicleta de Pequim) , de Wang Xiaoshuai (2001)
NI NEIBIAN JIDIAN (Que Horas São Aí?) , de Tsai Ming Liang (2001)
KOHI JIKO (Café Lumière) , de Hou Hsiao-hsien (2003)
SUZHOU HE (O Rio Suzhu) , de Lou Ye (2000)
CHA NO AJI (O Gosto do Chá) , de Ishii Katsuhito (2004)

 



Mais detalhes em Cinemateca Portuguesa.




Mozart and the Whale ***

29.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Petter Næss. Elenco: Josh Hartnett, Radha Mitchell, Gary Cole, John Carroll Lynch, Rusty Schwimmer, Sheila Kelley, Erica Leerhsen. Nacionalidade: EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Donald (Josh Hartnett) sofre da síndrome de Asperger, uma forma de autismo, e lidera um grupo de ajuda com pessoas com perturbações semelhantes, porque não quer sentir-se sozinho. Um dia, Isabelle (Radha Mitchell) junta-se ao grupo. Ao contrário de Donald, Isabelle aceita a sua doença e as suas (des)vantagens. Mas as vulnerabilidades de Isabelle, rapidamente conduzem Donald a um romance tumultuoso, quando desafiam o seu profundo desejo de ser “normal”.

ALIGN=JUSTIFY>Inspirado no caso real de Jerry Newport e Mary Meinel, “Mozart and the Whale” consegue aproximar-nos de uma realidade especial sem qualquer tipo de condescendência. Sem o sentimentalismo de um “Rain Man” (Barry Levenson, 1988), aliás o argumento é do mesmo Ron Bass, e com alguma da frescura de “Benny & Joon” (Jeremiah S. Chechik, 1993) somos arrastados para o território pessoal de pessoas que, tendo que viver com dificuldades de comunicação, com timidez e inseguranças, com agressividades e descontrolos, condicionados a padrões e rotinas, se esforçam por ser independentes.

ALIGN=JUSTIFY>“Mozart and the Whale” tem um óptimo trabalho interpretativo, que revela um forte trabalho de pesquisa e uma grande entrega por parte de ambos os protagonistas, sem nunca deixarem as suas personagens caírem no ridículo caricatural. Josh Hartnett (“Lucky Number Slevin”) tem a sua melhor participação até à data, e Radha Mitchell volta a encantar depois de “Melinda and Melinda”.

ALIGN=JUSTIFY>O realizador norueguês Petter Næss traz-nos um conto sobre o poder do amor incondicional, da aceitação da diferença, do apoio mútuo. Donald e Isabelle lutam para construir e manter a sua relação, apesar da constante ameaça das suas disfunções emocionais. Na base, isto é o que se verifica em qualquer relação dita “normal”. A questão pendente é sempre se o amor conseguirá sobreviver às idiossincrasias de cada um. Um esforço sem certezas. Nem promessas.


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ALIGN=JUSTIFY>TAGLINE:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>They don't fit in. Except together.



ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

COLOR=#AAAAAA>ALIGN=JUSTIFY> “I never know what to say!”
JOSH HARTNETT (Donald)

ALIGN=JUSTIFY>“RADHA MITCHELL (Isabelle) - This can last 2 days, or 20 years. I can’t promise.
JOSH HARTNETT (Donald) - At least we’re normal at something.”













Les Amants Réguliers **

28.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Philippe Garrel. Elenco: Louis Garrel, Clotilde Hesme. Nacionalidade: França, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Depois da falhada revolução estudantil de 68, um grupo de jovens retira-se para a mansão herdada de um deles. Aí, partilhando uma vida comunal, dão largas às suas artes, ao consumo de drogas e ao sexo ocasional. No centro deste paraíso hippie está o poeta de 20 anos, François (Louis Garrel, “Ma Mère” de Christophe Honoré, 2004), e a jovem escultora Lilie (Clothide Hesme). O seu romance é vivido de forma distinta pelos dois jovens, ele romântico e ingénuo, ela pragmática e realista. A inércia boémia acaba por substituir o falso idealismo deste jovens. O desequilíbrio emocional e mental acaba por instalar-se na casa, e a dissolução do grupo, precipitará o final de um sonho.

ALIGN=JUSTIFY>“Les Amants Réguliers” é um lento e extenuante passeio de três horas pelas memórias do cineasta Philippe Garrel sobre o Maio de 68. De carácter claramente autobiográfico, onde Louis Garrel desempenha o papel que teria sido o do seu pai, também não é arbitrária a presença de Maurice Garrel, pai do cineasta. “Les Amants Réguliers” é um exercício nostálgico que saúda a Nouvelle Vague francesa nos seus aspectos mais estéticos. O preto e branco da fotografia de William Lubtchansky é, neste caso, quase literal, sem cinzentos que atenuem os ambientes escuros ou que amenizem a luz excessiva. Infelizmente, junta-se a isto um péssimo trabalho de legendagem, que impede a leitura da esmagadora parte dos diálogos.

ALIGN=JUSTIFY>O filme “The Dreamers” (2003) de Bernardo Bertolucci (também protagonizado por Louis Garrel) resumia o Maio de 68 a sexo e beleza, mas a versão, supostamente mais realista de Garrel, é desesperadamente aborrecida e pretenciosa. Sendo esta a realidade, então tudo não passou de um entretém para jovens da classe média sem nada melhor para fazer do que atirar uns quantos cocktail molotov e ficar a vê-los arder (lentamente) ao sabor do ópio (ainda mais lento). E com tanta boa música para “colorir” este filme, Garrel opta por um minimalismo onde a música, quando existe, parece estar a substituir emoções que deviam lá estar por outros meios.

ALIGN=JUSTIFY>E depois há a relação entre François e Lilie, cuja intensidade é mencionada em palavras, mas que as personagens (talvez dormentes de tudo o resto) parecem ser incapazes de transmitir. Entre olhares intensos e sorrisos tímidos somos forçados a completar o puzzle de esperança e desespero vividos por ambos.

ALIGN=JUSTIFY>“Les Amants Réguliers” é um filme sobre oportunidades perdidas e a necessidade de dizer “adeus”. Talvez Philippe Garrel tivesse feito melhor em deixar o passado, histórico e estético, descansar na sua (e nossa) memória.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Peut-on faire la révolution pour le prolétariat, malgré le prolétariat?”
LOUIS GARREL (François Dervieux)












Angel-A ***

25.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Luc Besson. Elenco: Jamel Debbouze, Rie Rasmussen, Gilbert Melki, Serge Riaboukine. Nacionalidade: França, 2005.


SRC=http://www.linternaute.com/cinema/image_diaporama/540/angel-a-14275.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>André (Jamel Debbouze) é baixo, nada agradável à vista e completamente neurótico. Além disso está endividado até à alma. Perseguido pelos seus credores (Gilbert Melki e Serge Riaboukine), André decide atirar-se de uma das muitas pontes de Paris. André repara que ao seu lado está uma loira de pernas intermináveis (Rie Rasmussen, de “Femme Fatale”, de Brian de Palma). Ela salta, ele salva-a. Ela é Angela, e está decidida a salvar André dele mesmo. Oferece-se para resolver todos os seus problemas, mas os seus métodos, recorrendo sobretudo ao seu físico, são mais que questionáveis.

ALIGN=JUSTIFY>“Angel-A” é, antes de mais uma fábula romântica e uma ode a Paris e à sua beleza nostálgica. Luc Besson faz uma viagem estética pelo cinema francês, entre discussões em cafés, cigarros acendidos, ruas vazias, e paisagens do Sena. O preto e branco e a luz natural são as opções de Thierry Arbogast, numa belísisma fotografia que lembra “As Asas do Desejo”, de Wim Wenders.

ALIGN=JUSTIFY>“Angel-A” tem uma história pouco original, consideravelmente fraca e com reduzida tensão. Apesar disso, vale a pena, não só pela fotografia, mas também pelas interpretações. O humor entre as duas personagens, começando pelo contraste físico, funciona muito bem, e a química entre esta “bela e o monstro” é surpreendentemente boa. Além disso, Jamel Debbouze, “Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain” e “She Hate Me”, é um cómico nato, com uma presença é magnética.

ALIGN=JUSTIFY>Angela mostra a André que a vida vale a pena, que deve ser aproveitada nas suas coisas simples e que ele é, no fundo, por baixo da maré cheia de desaires, uma boa pessoa que merece ser feliz. Tudo isto é demasiado cliché, mas é também uma verdade que, de tão essencial, é abafada por todas as mentiras que criamos para nos protegermos.

ALIGN=JUSTIFY>“Angel-A” é também uma metáfora sobre as pessoas que entram na nossa vida como que por magia, que a viram do avesso, e depois das quais sabemos que nada voltará a ser como antes. Mas se estiverem destinadas a partir, cortar-lhes as asas para prendê-las nunca deverá ser uma opção.








Find Me Guilty **

24.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Sidney Lumet. Elenco: Vin Diesel, Peter Dinklage, Linus Roache, Ron Silver, Alex Rocco, Annabella Sciorra, Raúl Esparza. Nacionalidade: EUA, 2006.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/yari_film/find_me_guilty/_group_photos/peter_dinklage1.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>O julgamento Lucchese, que começou em 1987 e se arrastou durante 21 meses, reuniu 20 réus acusados de 76 crimes. Entre eles encontrava-se Giacomo "Jackie Dee" DiNorscio (Vin Diesel), já a cumprir uma pena de 30 anos por tráfico de drogas. Tendo recusado o acordo proposto pelo procurador do Ministério Público (Linus Roache) de denunciar os seus amigos, DiNorscio decide defender-se a si próprio em tribunal, dispensando os serviços de um advogado. Esta opção encontra reservas por parte dos advogados dos restantes arguidos, bem como do chefe da família Lucchese, Nick Calabrese (Alex Rocco), incluído no rol, que se mostra imune ao charme e humor de DiNorscio.

ALIGN=JUSTIFY>Os 125 minutos de “Find Me Guilty” decorrem quase exclusivamente num tribunal apinhado de gente. Em termos de acção, o filme reduz-se a uns quantos confrontos verbais, sendo que grande parte do texto faz uso das declarações oficiais registadas em tribunal. Este ponto de partida torna a tarefa de realização um desafio. Infelizmente, Sidney Lumet (que para mim será sempre "o realizador de “Running on Empty”"), com uma realização estática, não supera esta prova.

ALIGN=JUSTIFY>É fácil acreditarmos que este se tratou do julgamento mais longo da história americana, porque é exactamente isso que sentimos ao ver o filme. A paciência do espectador é levada ao limite, sem que fiquemos a perceber o que havia de tão magnético em DiNorscio que levou o júri a considerá-los inocentes de todas as acusações. Em vez de charmoso, ele é apenas arrogante.

ALIGN=JUSTIFY>“Find Me Guilty” é um filme que romantiza o crime organizado, manipulando o espectador para desprezar a acusação e defender assassinos, ladrões, extorsionários, dealers e proxenetas, sem nunca considerar as consequências das sua acções, como se de crianças temperamentais se tratassem. Só porque Jackie nunca denunciou os seus amigos, e valoriza a amizade e a lealdade de uma forma quase doentia, ele é-nos apresentado como um verdadeiro herói, caminhando às apalpadelas pelo processo jurídico.

ALIGN=JUSTIFY>Já que mais não seja, “Find Me Guilty” é essencial no Curriculum Vitae de Vin Diesel. Por muito que eu tenha gostado de “XXX” (mas acho que a culpa disso é de Asia Argento e de Praga), o seu registo nunca tinha sido tão testado como neste filme, entre o cómico e o dramático, vislumbra-se algures uma possibilidade de actor. Vislumbre que rapidamente se desvanece quando contracena com Linus Roache (“The Forgotten”) no papel de procurador do Ministério Público, com o sarcástico Ron Silver como o juiz, com o seco e assustador Alex Rocco como Nick Calabrese, ou ainda com a sensual Annabella Sciorra na única cena a que ela tem direito. E sai-se do filme com a sensação de que o verdadeiro protagonista desta história é Ben Klandis, um dos advogados de defesa, aliás, o único que parece profissional no meio de uma tremenda palhaçada, interpretado pelo fantástico Peter Dinklage (“The Station Agent”) que, independentemente da sua altura (1,35m), esmaga todos os outros.

ALIGN=JUSTIFY>Joe Pesci poderia ter sido perfeito no papel atribuído a Vin Diesel, ou pelo menos, poderia ter salvo grande parte do filme. E é com esse sabor de promessa por cumprir que saímos da sala, retirando de “Find Me Guilty” a evidência de um sistema jurídico kafkiano, cuja sobrevivência só é garantida se ninguém se atrever a trazer à luz do dia os seus muitos absurdos. Mas, máfia por máfia, prefiro uma noite de segunda-feira com “Os Sopranos”.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“They say a laughing jury is not a hanging jury.”
PETER DINKLAGE (Ben Klandis)












Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest ***

23.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Gore Verbinski. Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Jack Davenport, Bill Nighy, Jonathan Pryce, Tom Hollander, Stellan Skarsgård, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, Kevin McNally, Naomie Harris. Nacionalidade: EUA, 2006.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/walt_disney/pirates_of_the_caribbean__dead_man_s_chest/johnny_depp/deadmanschest3.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>“Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest” começa onde “Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl” (2003) tinha ficado. Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley) são presos por terem ajudado Jack Sparrow (Johnny Depp) a escapar da sua execução. Cutler Beckett (Tom Hollander), um caçador de piratas ao serviço da Companhia Inglesa das Índias Orientais, propõe a Turner salvar a sua vida e a da sua amada, se conseguir encontrar Sparrow e trocar um persão oficial pela bússola mágica de Sparrow. Mas Sparrow tem problemas mais graves, nomeadamente, a sua longa dívida com o lendário Davy Jones (Bill Nighy), o capitão do navio fantasma The Flying Dutchman. Os três heróis são conseguirão salvar-se se encontrarem a chave do baú que contém o coração de Davy Jones.

ALIGN=JUSTIFY>O excêntrico pirata Jack Sparrow é uma das mais deliciosas personagens provenientes da Disney (“Pirates of the Caribbean” é inspirado numa atracção do seu parque temático). O seu charme, a sua ambiguidade sexual, a sua moral volátil, o seu egoísmo congénito e o talento transbordante e entrega sem reservas de Johnny Depp continuam a fazer valer a pena esta aventura.

ALIGN=JUSTIFY>Neste caso, adicione-se ainda o belíssimo design de produção de Rick Heinrichs, o maior tempo de antena da deliciosa dupla de Pintel (Lee Arenberg) e Ragetti (Mackenzie Crook), e Bill Nighy como o vilão Davy Jones, e um rol de inúmeras superstições.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de tudo isso, a história desta sequela é consideravelmente mais fraca que a do primeiro filme e, intermitentemente divertido, acaba por tornar-se demasiado longo (150 min.), sobretudo nas sequências do barco fantasma com a assustadora tripulação de zombies de feições e corpos fundidos com seres marinhos como polvos e corais e que, longe de essencial para o enredo, se parece mais a um mostruário técnico.

ALIGN=JUSTIFY>À semelhança do coração instável de Jack Sparrow, “Pirates of the Caribbean: Dead Man’s Chest” não consegue decidir-se para onde quer ir, para prejuízo das diversas linhas de narrativa, como é o caso da relação de Will Turner com o seu pai, 'Bootstrap' Bill Turner (Stellan Skarsgård).

ALIGN=JUSTIFY>“Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest” termina exactamente onde começará “Pirates of the Caribbean: At World's End” (2007). Mas, nem que seja apenas para ver uma vez mais Johnny Depp a divertir-se desta maneira, contem comigo.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Loyalty is no longer the currency of the realm. Currency is the new currency.”
TOM HOLLANDER (Cutler Beckett)


ALIGN=JUSTIFY>“LEE ARENBERG (Pintel) - You know you can't read.
MACKENZIE CROOK (Ragetti) - It's the Bible, you get credit for trying.”

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>[para Elizabeth] “You know, these clothes do not flatter you at all. It should be a dress or nothing. I happen to have no dress in my cabin.”
JOHNNY DEPP (Jack Sparrow)


ALIGN=JUSTIFY>[para Elizabeth] “One word love; curiosity. You long for freedom. You long to do what you want to do because you want it. To act on selfish impulse. You want to see what it's like. One day you wont be able to resist.”
JOHNNY DEPP (Jack Sparrow)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“KEIRA KNIGHTLY (Elizabeth Swann) - There will come a time when you'll have the chance to do the right thing.
JOHNNY DEPP (Jack Sparrow) - I love those moments. I love to wave at them as they pass by.”
















The Lake House **

22.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Alejandro Agresti. Elenco: Keanu Reeves, Sandra Bullock, Shohreh Aghdashloo, Christopher Plummer, Ebon Moss-Bachrach. Nacionalidade: EUA, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY> Se gostam de uma história lamechas até mais não poder ser, com um par romântico com boa química, e não são muito exigentes com buracos no argumento, “The Lake House” é uma boa escolha.

ALIGN=JUSTIFY>Kate (Sandra Bullock) sai da casa do lago e deixa na caixa do correio a sua nova morada para reenvio de correspondência. 2004, Alex (Keanu Reeves) acaba de comprar essa mesma casa nas margens do lago Michigan. Ao verificar o correio, Alex encontra a carta deixada por Kate. A data dessa carta é de 2006.

ALIGN=JUSTIFY>Kate, uma médica solitária que afasta toda a gente que se aproxima dela, e Alex, um arquitecto com questões antigas para resolver com o pai (Christopher Plummer), começam a corresponder-se através de uma caixa do correio que funciona como máquina do tempo. E, a dois anos de distância, apaixonam-se. Resta saber se conseguirão arranjar uma forma de se encontrarem no futuro de um e no presente do outro.

ALIGN=JUSTIFY>Essencialmente, Reeves e Bullock narram o filme através das cartas que escrevem, por vezes interrompendo-se abruptamente como se de uma conversa se tratasse, depois de ”Speed”, a química entre ambos ainda se mantém, tal como se mantêm as dúvidas acerca da sua versatilidade interpretativa.

ALIGN=JUSTIFY>Sem ser tão enjoativo quanto “Ghost” (1990), esta história de amor que atravessa o tempo, uma versão do filme sul-coreano “Siworae” (“Il Mare”), é uma metáfora sobre o grande mito urbano de que “o verdadeiro amor espera”.

ALIGN=JUSTIFY>Para nos tentarem convencer disso, o realizador Alejandro Agresti e o argumentista e dramaturgo David Auburn (“Proof”) fazem uso da bela arquitectura de Chicago (potenciada pela fotografia de Alar Kivilo (“The Ice Harvest”)) para compensar a fraca densidade das personagens e um conjunto demasiado extenso de incongruências como, por exemplo, o facto de Alex e Kate nunca enviarem fotos um do outro, Kate nunca se lembrar de pesquisar o nome de Alex na Internet, e uma mensagem numa parede de grafitti que sobrevive dois anos sem que nenhum poster a tape. No final, dão-se graças aos lentos serviços postais americanos. Para culminar, o elemento coerente: o final piroso.

ALIGN=JUSTIFY>Mas “The Lake House” vale por isso mesmo: o vidro, o aço e a luminosidade da casa no lago (mérito do design de produção de Nathan Crowley).

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#BBBBBB>Reality check
: o amor não espera, vive-se!


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“It's kind of a long distance relationship.”
SANDRA BULLOCK (Kate)











Stop Making Sense

21.08.06, Rita

SRC=http://images.amazon.com/images/P/B000021Y7X.01._SCLZZZZZZZ_.gif>


ALIGN=CENTER>COLOR=#BBBBBB>Psycho Killer (4:24)
Heaven (3:41) *
Thank You for Sending Me an Angel (2:09) *
Found a Job (3:15) *
Slippery People (4:00)
Burning Down the House (4:06)
Life During Wartime (5:51)
Making Flippy Floppy (4:40) *
Swamp (4:30)
What a Day That Was (6:00)
This Must be the Place (Naive Melody) (4:57) *
Once in a Lifetime (5:25)
Genius of Love (Tom Tom Club) (4:30) *
Girlfriend is Better (5:06)
Take me to the River (5:32)
Crosseyed and Painless (6:11) *

SIZE=1>* Previously unreleased





ALIGN=JUSTIFY>Provavelmente o melhor filme-concerto alguma vez filmado. A simplicidade do conceito inicial – o palco começa vazio, e constrói-se aos poucos à medida que vai entrando mais um elemento da banda – é genial, assim como os temas expostos. Além de inclassificável em géneros musicais, esta banda tem um carácter intemporal, e os seus temas que aparentam ser tão simples, são ao mesmo tempo brilhantes, e cada nova audição parece trazer-nos mais pormenores que nos escaparam anteriormente.

ALIGN=JUSTIFY>"Psycho Killer" abre o DVD, com David Byrne a sós num palco despido de quaisquer elementos cénicos, com uma guitarra acústica e um gravador de k7 a dar uma simples base rítmica. Esta é talvez a minha música favorita dos Talking Heads (e quanto a mim um dos melhores legados musicais dos anos 70), e esta interpretação, por ser tão simples e directa, parece que permite melhor ainda ver a genialidade da composição. É evidente que encaixa-se bem em Byrne o epíteto de outsider deslocado ("I can't seem to face up to the facts / I'm tense and nervous and I can't relax / I can't sleep 'cause my bed's on fire / Don't touch me I'm a real live wire."), principalmente considerando que esta música foi lançada em 1977, na altura (ou numa das alturas) dos excessos do rock. A esquizofrenia ("You start a conversation you can't even finish it / You're talking a lot but you're not saying anything / If I have nothing to say, my lips are sealed / Say something once, why say it again?") é também um elemento que não lhe fica mal. O final, quando Byrne começa como que a ser baleado ao ritmo de samplers, prepara-nos para o show de coreografia e cenografia que se vai seguir ao longo do DVD.

ALIGN=JUSTIFY>Para a entrada de Tina Weymouth (baixo), com a beleza simples de "Heaven", a frieza quase mecânica de David Byrne contrasta com o tom meloso do tema. Entretanto, começa a montar-se o estrado da bateria por detrás.

ALIGN=JUSTIFY>É com "Thank You for Sending Me an Angel" que surge Chris Frantz na bateria. Interessante o pormenor dele ter por hábito escutar um metrónomo por um auscultador, antes de começar a tocar os temas. É extraordinária a energia deste tema!

ALIGN=JUSTIFY>"Found a Job" traz ao palco Jerry Harrison (guitarra e teclados). Tão despido como o palco, este tema serve de base para que os assistentes de palco tragam os teclados e preparem a chegada dos músicos convidados nos coros, guitarra, percussões e teclados.

ALIGN=JUSTIFY>É então já a banda completa que, com "Slippery People", dá por encerrada a montagem do palco, já com uma tela negra em fundo. O ritmo é contagiante, o som é cru, são os Talking Heads!

ALIGN=JUSTIFY>"Burning Down the House" é (mais) um tema intemporal, que muitos músicos se sentiriam orgulhosos de ter escrito. Quem ouvir este tema e não bater o pé (no mínimo; eu normalmente acompanho-o com uns vigorosos acenos de cabeça), ou está morto, ou está surdo.

ALIGN=JUSTIFY>"Life During Wartime" continua a fazer com que o nosso corpo se mexa freneticamente (sim, ainda que estejamos refastelados no sofá a ver o DVD). Como diz David Byrne, "This ain't no party / This ain't no disco / This ain't no foolin' around / No time for dancing / or lovey dovey / I ain't got time for that now". Além das excêntricas danças, ainda nos presenteia com uma sessão de jogging no final, à volta do palco. E como bom professor, no final pergunta se alguém tem questões a colocar (!).

ALIGN=JUSTIFY>Onions / Video games / Air conditioned / Drugs / Deli / Public Library / Dog / Digital / Babies / Dustball ... Palavras que surgem em três painéis no fundo do palco, ilustrando as sonoridades de "Making Flippy Floppy". Funky, soul, pop, disco... tudo géneros que nos passam pelas ideias nestes momentos.

ALIGN=JUSTIFY>"Swamp" traz-nos um momento mais obscuro. É quase impossível agora negar a semelhança entre David Byrne e Anthony Perkins, apesar do olhar do primeiro ser, quanto a mim, bastante mais psicopático.

ALIGN=JUSTIFY>Mas, como quem não quer dar descanso a quem assiste, os Talking Heads entram de novo na máxima força com "What a Day That Was". Uma batida maníaca, que não nos deixa parar, e uma iluminação subtil, trazem ao filme-concerto mais um momento que lhe permite merecer o posto de "melhor filme-concerto de sempre".

ALIGN=JUSTIFY>"Naive Melody (This Must be the Place)" traz-nos mais elementos cénicos simples e conceptualmente brilhantes. A dança de David Byrne com o candeeiro merece estar ao lado de momentos cinematográficos como Gene Kelly em “Singing in the Rain” ou Kim Basinger e Mickey Rourke em “Nove Semanas e Meia”.

ALIGN=JUSTIFY>Com "Once in a Lifetime", chega mais um genial momento da banda. As pressões e expectativas sociais do dia-a-dia, que conduzem à alienação, e o consequente alheamento dos nossos desejos individuais: ]"And you may find yourself living in a shotgun shack / And you may find yourself in another part of the world / And you may find yourself behind the wheel of a large automobile / And you may find yourself in a beautiful house, with a beautiful wife / And you may ask yourself-well... how did I get here?".

ALIGN=JUSTIFY>"Genius of Love" é o momento em que Tina Weymouth e Chris Frantz apresentam o seu projecto Tom Tom Club. Permite ver que David Byrne não é o único freak da banda.

ALIGN=JUSTIFY>É com "Girlfriend is Better" que Byrne nos traz o seu famoso "big suit" (ver a capa do DVD), um elemento evidentemente criado por si próprio, perfeitamente adequado ao seu estilo de humor, oblíquo, subtil, bizarro, maníaco. É genial o momento em que David Byrne aponta o microfone a um técnico de iluminação e ele canta, com aparente indiferença, "Stop making sense", e logo em seguida aponta-o para a câmara, olhando para nós com um ar convidativo.

ALIGN=JUSTIFY>"Take me to the River" é uma cover de Al Green, muito bem adaptada ao ritmo dos Talking Heads. Aproveitada também para apresentação da banda e o fecho do concerto.

ALIGN=JUSTIFY>"Crosseyed and Painless", em tom de encore, traz mais um momento frenético duma banda que ao vivo, e num só tema, consegue colocar elementos de pop, funk, soul, ritmos africanos, disco, rock, e tudo fazer sentido, quase que nos fazendo perguntar o porquê de semelhantes compartimentações, quando no fundo música é apenas isso: música.

ALIGN=JUSTIFY>O filme-concerto é dirigido por Jonathan Demme (realizador de “Philadelphia” e “O Silêncio dos Inocentes”), mas arrisco em dizer que o mérito visual está praticamente todo do lado da concepção cénica e cenográfica, a cargo de David Byrne.

ALIGN=JUSTIFY>Resta-me dizer que é um filme-concerto obrigatório para os amantes de música de todos os géneros. Porquê? Bem, porque... Bah! Stop making sense! ;)


ALIGN=JUTIFY>COLOR=#AAAAAA>por Luís























The Three Burials of Melquiades Estrada ****

17.08.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Tommy Lee Jones. Elenco: Tommy Lee Jones, Barry Pepper, Julio Cesar Cedillo, Dwight Yoakam, January Jones, Melissa Leo. Nacionalidade: EUA / França, 2005.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/sony_pictures_classics/the_three_burials_of_melquiades_estrada/_group_photos/tommy_lee_jones1.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Melquiades Estrada (Julio Cesar Cedillo) é um emigrante ilegal que veio do México para trabalhar nos ranchos do Texas. Melquiades aparece morto no meio do deserto, é esse o seu primeiro enterro. O rancheiro Pete Perkins (Jones) é o seu melhor amigo, e não fica descansado com o pouco interesse da polícia americana em desvendar o caso. Quanto Pete descobre que Melquiades foi sepultado numa campa rasa cuja cruz se reduz a um impessoal “Melquiades Mexico”, decide fazer justiça pelas próprias mãos. Além disso, tem uma promessa a cumprir: entregar o corpo de Melquiades à sua mulher, num pequeno lugar no México (o terceiro enterro). Mas Pete não vai sozinho: rapta o assassino de Melquiades, obriga-o a desenterrar Melquiades e os três iniciam uma viagem de vingança, castigo (por vezes violento, por vezes grotesco) e redenção.

ALIGN=JUSTIFY>“The Three Burials of Melquiades Estrada”, a primeira longa-metragem de Tommy Lee Jones (com Luc Besson como produtor executivo), premiada no ano passado em Cannes com os prémios de Melhor Argumento e Melhor Actor Principal, é um conto sobre a amizade, a honra, o dever, a confiança e a justiça. O argumento do mexicano Guillermo Arriaga (“21 Grams”, “Amores Perros”) apresenta ainda um ténue pano de fundo onde se aflora o racismo, as desigualdades e se questionam as políticas fronteiriças americanas.

ALIGN=JUSTIFY>Filmado com uma série de saltos temporais que nunca são denunciados por qualquer indicação visual, cabe ao espectador fazer o caminho entre o passado e o futuro de personagens tão diversas como um polícia fronteiriço demasiado empenhado (um atormentado Barry Pepper), a sua mulher, aborrecida longe dos seus centros-comerciais (uma subtil January Jones), e um homem cheio de raiva e tristeza (Tommy Lee Jones de uma autenticidade desarmante). Uma chamada de atenção ainda ao breve mas enorme cameo de Levon Helm no papel de cego (66 anos, membro da banda rock dos 70 ‘The Band’).

ALIGN=JUSTIFY>O ponto fraco de “The Three Burials of Melquiades Estrada” reside na falta de substanciação da devoção de Pete a Melquiades, que poderia legitimar com maior credibilidade as suas atitudes mais extremas. Em vez disso, temos um homem movido por uma noção transcendente de dignidade e devoção e obcecado por uma missão.

ALIGN=JUSTIFY>“The Three Burials of Melquiades Estrada” fala de uma culpa independente da responsabilidade e de um perdão só possível através do sofrimento (mesmo que sejam precisas coincidências um pouco rebuscadas para reequilibrar a balança das dívidas, como o caso do encontro com a curandeira mexicana).

ALIGN=JUSTIFY>Através de paisagens duras e belas, entre as margens do Rio Grande e o deserto, uma tortuosa viagem conduzirá um homem de volta à sua humanidade e outro à sua tranquilidade. Em todos os momentos nos questionamos onde acabará esta senda. Jones e Arriaga mantêm-nos na expectativa até ao final, com uma resolução tão surpreendente quanto satisfatória.








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