Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINEMA COM MÚSICA - em dose tripla

31.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Depois de um fim-de-semana de músicas do mundo, onde se destacou a percussão do indiano Trilok Gurtu e os blues saharianos de Mariem Hassan COLOR=#AAAAAA>*
, mantenho-me no tema musical, para divulgar três projectos cinematográficos em curso e com data de estreia prevista para 2007.

SEMANA DO CINEMA ESPANHOL

28.07.06, Rita


SRC=http://fotos.sapo.pt/almeida_rita/pic/0000fct6>


ALIGN=JUSTIFY>A cooperação cultural ibérica manifesta-se uma vez mais, através da COLOR=#E90909>SEMANA DO CINEMA ESPANHOL
, evento organizado pelo Ministério de Cultura de Espanha, o ICAA - Instituto da Cinematografia e das Artes Visuais e a Embaixada Espanhola em Portugal, que decorrerá de 27 de Setembro a 1 de Outubro no COLOR=#AAAAAA>Cinema Quarteto
em Lisboa, de 2 a 7 de Outubro no COLOR=#AAAAAA>Teatro Gil Vicente
em Coimbra e de 11 a 15 de Outubro no COLOR=#AAAAAA>Teatro Passos Manuel
no Porto (bilhetes a 3 euros).

The Passenger (Professione: Reporter) ****

24.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Michelangelo Antonioni. Elenco: Jack Nicholson, Maria Schneider, Jenny Runacre, Ian Hendry, Steven Berkoff, Ambroise Bia, Chuck Mulvehill. Nacionalidade: França / Itália / EUA / Espanha, 1975.


SRC=http://www.sonyclassics.com/thepassenger/gallery_images/14.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>David Locke (Nicholson) é um repórter inglês que está a cobrir um conflito num país africano (que nunca é identificado). As condições físicas do seu trabalho levam-no ao limite, já quase esgotado pelas suas circunstâncias pessoais. Por isso, quando o seu vizinho de quarto de hotel Robertson (Mulvehill) morre subitamente, Locke, quase sem hesitar, decide trocar de identidade para se libertar. Entretanto, em Londres, Rachel (Runacre), a mulher de Locke, intrigada pela sua morte, envia o editor televisivo Martin Knight (Hendry) em busca de um tal de Robertson, que foi quem esteve com seu marido pela última vez.

ALIGN=JUSTIFY>Claro que Robertson tinha uma vida. Locke decide seguir os compromissos da agenda de Robertson, mas acaba por descobrir o seu envolvimento no tráfico de armas e no apoio à revolução no mesmo país onde se encontrava a fazer a sua reportagem. Em Barcelona, Locke conhece uma rapariga (Schneider) que o acompanha na sua fuga - que é, ao mesmo tempo, a sua procura.

ALIGN=JUSTIFY>Ela representa de certa forma a possibilidade de algo novo, um impulso que tenta roubá-lo à sua passividade. Mas dada a interpretação de Schneider ser tão surpreendentemente letárgica, enfadonha e pouco convincente (além de fracamente construída nas suas motivações), não é difícil a Locke resistir aos seus argumentos.

ALIGN=JUSTIFY>O título em italiano “Professione: Reporter” coloca o foco em Locke, enquanto o título em inglês o move para a rapariga, ou talvez seja o mesmo Locke como “passageiro” da vida de Robertson. “The Passenger” é um filme profundamente existencialista, onde a profunda cisão entre o interior e o exterior é evidenciada na cena final, onde Antonioni observa a praça através das grades do quarto de hotel onde Locke descansa da sua viagem.

ALIGN=JUSTIFY>Com planos audaciosos e um ritmo que capta na perfeição a alienação inerente à condição humana, Antonioni enche esta viagem de descoberta de paisagens esmagadoras de uma Espanha asfixiante. A desolação é o elemento que faz o círculo entre o início (deserto) e o final do filme. É aí que as oportunidades de abrem, e que se fecham.

ALIGN=JUSTIFY>Num local onde ninguém nos conhece e onde não conhecemos ninguém somos obrigados a confrontar-nos com a nossa própria insignificância. Esse descer à essência pode fazer-nos perceber o que realmente nos motiva, mas pode igualmente evidenciar a ausência de rumo. Mesmo não sendo necessário conhecer o destino, é preciso dar o passo seguinte. Só assim se caminha. E não é o lugar que nos define, não são sequer as pessoas de quem nos rodeamos, nem mesmo um documento de identificação. O que nos define é aquilo que queremos construir, dentro e fora de nós.

ALIGN=JUSTIFY>E sim, as pessoas desaparecem todos os dias. Basta saírem da sala.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“MARIA SCHNEIDER (The Girl) - Who are you?
JACK NICHOLSON (David Locke) - I used to be someone else but I traded him in.”


ALIGN=JUSTIFY> “MARIA SCHNEIDER (The Girl) - People disappear every day.
JACK NICHOLSON (David Locke) - Every time they leave the room.”












FESTA DO CINEMA - INATEL

21.07.06, Rita




Com o calor, regressa o cinema ao ar livre no estádio do INATEL. Para ver num ecrã de grandes dimensões filmes que se deixaram escapar, ou para rever os que nos abriram o apetite.


Com sessões às 22h00.
Bilhetes normais - 2,50€; Associados do INATEL: 2,00€; Colecção de 13 filmes - 9,00€.



Sábado, 22 Julho
“THE DA VINCI CODE”
De Ron Howard com Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Jean Reno (EUA, 2006, 155’)

Domingo, 23 Julho
“CHARLIE AND THE CHOCOLATE FACTORY”
De Tim Burton com Johnny Depp, Freddie Highmore, David Kelly, Helena Bonham Carter (EUA, 2005, 115’)

Terça, 25 Julho
“BROKEBACK MOUNTAIN”
De Ang Lee com Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Randy Quaid, Anne Hathaway( EUA, 2005, 134’)

Quarta, 26 Julho
“FUN WITH DICK AND JANE”
De Dean Parisot com Jim Carrey, Téa Leoni, Alec Baldwin, Richard Jenkins (EUA, 2005, 90’)

Quinta, 27 Julho
“HARRY POTTER AND THE GOBLET OF FIRE”
De Mike Newell com Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson (EUA, 2005, 157’)

Sexta, 28 Julho
“WAR OF THE WORLDS”
De Steven Spielberg com Tom Cruise, Dakota Fanning, Miranda Otto, Justin Chatwin (EUA, 2005, 116’)

Sábado, 29 Julho
“MADAGASCAR”
De Eric Darnell, Tom McGrath (EUA, 2005, 86’, versão portuguesa)

Domingo, 30 Julho
“O CRIME DO PADRE AMARO”
De Carlos Coelho da Silva com Jorge Corrula, Soraia Chaves, Nicolau Breyner, Glória Férias (Portugal, 2005, 110’)

Terça, 01 Agosto
“THE EXORCIST”
De William Friedkin com Jason Miller, Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee J. Cobb (EUA, 1973, 131’)

Quarta, 02 Agosto
“WALK THE LINE”
De James Mangold com Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick (EUA, 2005, 136’)

Quinta, 03 Agosto
“CRASH”
De Paul Haggis com Karina Arroyave, Dato Bakhtadze, Sandra Bullock, Don Cheadle (EUA, 2004, 100’)

Sexta, 04 Agosto
“THE CHRONICLES OF NARNIA: THE LION, THE WITCH AND THE WARDROBE”
De Andrew Adamson com Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley, Anna Popplewell (EUA, 2005, 125’)

Sábado, 05 Agosto
“MISSION: IMPOSSIBLE III”
De J. J. Abrams com Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Ving Rhames, Billy Crudup (EUA, 2006, 126’)


Happy Endings **1/2

19.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Don Roos. Elenco: Lisa Kudrow, Steve Coogan, Jesse Bradford, Bobby Cannavale, Maggie Gyllenhaal, Jason Ritter, Tom Arnold, David Sutcliffe, Sarah Clarke, Laura Dern, Hallee Hirsh, Eric Jungmann. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC= http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/lions_gate_films/happy_endings/happyendings_bigposter.jpg >


ALIGN=JUSTIFY>Mamie (Lisa Kudrow) faz aconselhamento numa clínica de abortos. O seu meio-irmão, Charley (Steve Coogan), é gay e vive com Gil (David Sutcliffe). Pam (Laura Dern), a melhor amiga de Gil teve recentemente um filho com a sua namorada Diane (Sarah Clarke). Charley está desconfiado que o filho do casal lésbico é de Gil. Otis (Jason Ritter) trabalha no restaurante de Charley, toca bateria numa banda e está a tentar lidar com a sua atracção por homens. Jude (Maggie Gyllenhaal) torna-se vocalista da banda de Otis e envolve-se com o pai dele (Tom Arnold), com claras intenções de dar o golpe do baú. Nicky (Jesse Bradford) é um aspirante a realizador que vê em Mamie a oportunidade de fazer um documentário para a escola de cinema. A chantagem de Nicky com Mamie mexe em coisas do passado que ela prefere deixar intactas, por isso oferece o seu namorado Javier (Bobby Cannavale), um massagista mexicano, como tema alternativo.

ALIGN=JUSTIFY>Todo eles mentem, todos têm pena de si próprios, todos se sentem perdidos. Felizmente, Don Roos (“The Opposite of Sex” (1998) e “Bounce” (2000)) tem a preocupação de que não seja o espectador a perder-se nesta rede de relações. Mas o seu cuidado torna-se excessivo quando divide o ecrã para incluir dados que ele considera importantes para a história (a maioria deles são completamente irrelevantes, tendo apenas o efeito reflexo da piada). A originalidade acarreta riscos e, neste caso, o que deve ser explicado pela própria história, ou deixado à interpretação de cada um, é, de uma forma intrusiva, explicado com comentários laterais que desviam a atenção da história que decorre na outra metade do ecrã. É fácil ver imagens com comentários em off, outra coisa completamente distinta é ter de ler os comentários e ouvir/ler (legendas) tudo ao mesmo tempo, uma vez que ambos actuam sobre a parte do cérebro que lida com a linguagem.

ALIGN=JUSTIFY>Mais do que arrojado, este recurso de Roos surge como uma bengala. Desnecessária, porque o trabalho de construção das personagens está lá e conseguimos perceber as suas motivações (mesmo que não chegue a criar-se uma verdadeira empatia). Apesar disso, tem o mérito de colocar os actores em registos diferentes dos habituais. É o caso de Lisa Kudrown (que já tinha entrado em “The Opposite of Sex”), apesar da sua versão morena não ser nem metade de convincente da versão loura burra. É também o caso de Tom Arnold, num registo de sensibilidade e ternura. Maggie Gyllenhaal é perfeitamente convincente numa Jude auto-destrutiva. Mas a interpretação mais forte, porque mais complexa, acaba por ser a de Jesse Bradford, mesmo à custa de um humor morno.

ALIGN=JUSTIFY>O termo ‘happy endings’ tem um duplo significado. Além do imediato “final feliz”, ambicionado por todos, refere-se também ao prazer sexual (‘happy ending’) dado pelos massagistas aos seus clientes. Quanto ao filme “Happy Endings”, é previsível, e sabendo como sabemos que os finais, se são mesmo finais, nunca são felizes... atrevo-me a sugerir, como alternativa, uma boa massagem.

WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “JESSE BRADFORD (Nicky) - Oh, wow. You look really pretty if I stand far away and I use the zoom.
LISA KUDROW (Mamie) - Thank you.”


ALIGN=JUSTIFY> “That's not a zoom, by the way. That's the way it is: like a penis, only bigger.”
JESSE BRADFORD (Nicky)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “DAVID SUTCLIFFE (Gil) - She wouldn't lie.
STEVE COOGAN (Charley) - She's a mother. It's a sick, sick bond. Think of yours; think of mine. It's unwholesome.”


ALIGN=JUSTIFY> “LISA KUDROW (Mamie) - I'm not pro-life, though.
MAGGIE GYLLENHAAL (Jude) - Who is, once you start to pay attention?”












Me And You And Everyone We Know *****

14.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Miranda July. Elenco: John Hawkes, Miranda July, Miles Thompson, Brandon Ratcliff, Carlie Westerman, Hector Elias, Brad William Henke, Natasha Slayton, Najarra Townsend, Tracy Wright, JoNell Kennedy. Nacionalidade: EUA / Reino Unido, 2005.


SRC=http://www.nuncoo.com/blog/archives/Me.and.You.and.Everyone.We.Know3.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>“Me And You And Everyone You Know” é um filme lindíssimo sobre o amor, a pertença, a solidão, sobre a ligação entre amigos, entre amantes, entre familiares, com tudo e com todos. Esta fé no valor de todas as coisas evidencia-se desde logo numa das cenas iniciais: um peixe está dentro de um saco de plástico em cima de um carro em andamento. A travagem será o seu fim, só se salvaria se o carro andasse à mesma velocidade, para sempre.

ALIGN=JUSTIFY>Premiado em Cannes 2005 com o Camera d’Or e em Sundance com o Prémio Especial do Júri pela originalidade da sua visão artística, é este tom de magia que marca o filme escrito, dirigido e interpretado por Miranda July, cujo passado artístico inclui as artes performativas, vídeos, contos e peças radiofónicas.

ALIGN=JUSTIFY>Christine (Miranda July, à frente de um elenco irrepreensível) é uma artista que luta pela sua arte. Para pagar as contas guia um táxi para idosos. Ao levar Michael (Hector Elias), um cliente, para comprar uns sapatos, Christine apaixona-se à primeira vista por Richard (John Hawkes), um vendedor recém-separado da mãe dos seus dois filhos: Robby (Brandon Ratcliff) de 7 anos e Peter (Miles Thompson) de 14. Andrew (Brad William Henke), colega de trabalho de Richard, é seduzido por duas adolescentes, Heather (Natasha Slayton) e Rebecca (Najarra Townsend), com a sexualidade a despontar e uma amizade à prova de bala. Nancy (Tracy Wright) é a arrogante directora de uma galeria de arte. Sylvie (Carlie Westerman), filha da vizinha de Richard, vive obcecada com o seu enxoval. Eles são solitários e estranhos, pessoas perdidas e frágeis, mas que não são nunca objecto de pena. Eles são eu, tu, e todos os que conhecemos.

ALIGN=JUSTIFY>Sem esforço, deixamo-nos envolver por um mundo poético, delicado, curioso, mas também ousado e corajoso. “Me And You And Everyone You Know” é de uma ironia desarmante, com diálogos incríveis e uma linguagem simbólica onde se plasmam as ansiedades do crescimento, mas onde o optimismo impera.

ALIGN=JUSTIFY>Sem pretensiosismo académico, “Me And You And Everyone You Know” é simultaneamente existencialista e erótico, abordando a vida sexual dos adolescentes, os seus jogos e rituais de passagem, sem moralismos; ou um encontro cibernáutico pleno de um humor escatológico, onde a sinceridade infantil contrasta com a pornografia; ou a desconcertante imagem de uma árvore em cujos ramos está preso um quadro de um pássaro.

ALIGN=JUSTIFY>Numa das cenas mais românticas e bem escritas que vi, Christine e Richard caminham lado a lado à saída da loja, cada um em direcção ao seu carro. Imaginam que o caminho que fazem é o tempo de vida que têm juntos. Isso quer dizer que chegando a Tyrone Street (onde se têm de separar) é o final da sua relação. Richard vê o caminho da loja até ali como se fosse um ano, Christine como se fosse o resto da sua vida e Tyrone Street representasse a morte. Este filme faz a crónica do seu caminho em direcção um ao outro, um Richard relutante e uma Christine obsessiva.

ALIGN=JUSTIFY>“Me And You And Everyone You Know” é um filme doce, divertido, inteligente e apaixonado, de uma beleza de tirar o fôlego, com uma alma transbordante e um coração descompassado. Assim como na vida, a inocência perde-se, e reencontra-se, perde-se e reencontra-se... Para sempre.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“You think you deserve that pain but you don't.”
JOHN HAWKES (Richard)


ALIGN=JUSTIFY>“I don't want to have to do this living. I just walk around. I want to be swept off my feet, you know? I want my children to have magical powers. I am prepared for amazing things to happen. I can handle it.”
JOHN HAWKES (Richard)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“JOHN HAWKES (Richard) - What if I am a killer of children?
MIRANDA JULY (Christine) - That would put a damper on things.”


ALIGN=JUSTIFY>“Say, "You poop into my butt hole and I poop into your butt hole... back and forth... forever."”
BRANDON RATCLIFF (Robby)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“We have a whole life to live together you fucker, but it can't start until you call.”
MIRANDA JULY (Christine)


ALIGN=JUSTIFY>“It needs air. It needs to do some living. Let's take my hand for a walk.”
JOHN HAWKES (Richard)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Fuck! Fuck you! Fuck me! Fuck old people! Fuck children! Fuck peace! Fuck peace...”
MIRANDA JULY (Christine)


ALIGN=JUSTIFY>“MIRANDA JULY (Christine) - But she's the love of your life, You're just going to let her go?
HECTOR ELIAS (Michael) - No, she's just going...”



SRC=http://www.eidersuso.com/share/me_and_you_poster_01.gif>


















Asylum ***

13.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: David Mackenzie. Elenco: Natasha Richardson, Hugh Bonneville, Ian McKellen, Marton Csokas, Gus Lewis, Joss Ackland, Wanda Ventham, Sarah Thurstan, Anna Keaveney, Robert Willox, Judy Parfitt, Sean Harris. Nacionalidade: Reino Unido / Irlanda, 2005.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/paramount_classics/asylum/_group_photos/ian_mckellen3.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>No final da década de 50, Max Raphael (Hugh Bonneville) toma posse como director-adjunto de um hospital psiquiátrico. A sua mulher, Stella (Natasha Richardson, também produtora executiva) e o seu filho Charlie (Gus Lewis) mudam-se com ele para o campo. Max é frio e puritano, Stella é reprimida e inquieta. A distância emocional entre ambos é um abismo, e o mesmo acontece em relação a Charlie, que acaba por se afeiçoar a um dos pacientes, Edgar Stark (Marton Csokas). Isolada e aborrecida, Stella acaba por se apaixonar por Edgar. O Dr. Peter Cleave (Ian McKellen) observa este relacionamento à distância, ao mesmo tempo que prossegue as sessões de terapia com Edgar, internado por ter morto a mulher num acesso de ciúmes. É ainda lançada uma pista sobre uma anterior transgressão de Stella, associada a algum desequilíbrio psicológico.

ALIGN=JUSTIFY>Partindo do romance gótico de Patrick McGrath (1997), David Mackenzie (realizador de “Young Adam”, 2003, também ele uma história sobre uma mulher casada atraída por um homem jovem e potencialmente perigoso) cria um elegante melodrama sobre a repressão e a obsessão, com a dose de tragédia que se exige. A câmara de Giles Nuttgens faz do asilo um espaço soturno e opressivo, o ambiente propício para actos de desespero motivados por uma paixão que consome e destrói tudo e todos no seu caminho.

ALIGN=JUSTIFY>Por ela, Stella abandona o seu marido, o seu filho, e, de certa maneira, o mundo. Neste processo, assistimos à sua degradação, de vitimadora a vítima. Eventualmente, Stella terá de fazer uma última escolha, que ditará o seu futuro e o das pessoas que a rodeiam.

ALIGN=JUSTIFY>Natasha Richardson, bela até mais não poder, é dona de cada cena, seja subjugada à culpa ou à luxúria. E Ian McKellan tem mais um grande papel como um psiquiatra calculista e manipulador. À sombra destes portentos, Marton Csokas não passa de um homem bonito.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento, co-escrito por Patrick Marber (“Closer”), está cheio de bons diálogos. Mas a quantidade extrema de erros de julgamento destas personagens, onde ironicamente as atitudes mais razoáveis são as do vilão, retiram credibilidade à história, e o perturbante desfecho acaba por nos deixar algo indiferentes.

WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“We wish you many contented years here among the confined and the confused.”
JACK STRAFFEN (Joss Ackland)


ALIGN=JUSTIFY> “HUGH BONNEVILLE (Max Raphael) - May I remind you that I am your superior?
IAN McKELLAN (Peter Cleave) - In what sense?”

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I want you to understand what's going to happen next. The shock will wear off, and it will be replaced by a devastating grief. In time, you will come to terms with what you have done and you'll just be very, very sad. And that sadness will stay with you for the rest of your life.”
HUGH BONNEVILLE (Max Raphael)


ALIGN=JUSTIFY>“To sacrifice all for love would soon find (one) in a very difficult situation ... love at a certain point, has to relinquish its exclusiveness, lovers have to become rehabilitated into the wider society.”
PATRICK McGRATH












The Squid And The Whale ****

12.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Noah Baumbach. Elenco: Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, Halley Feiffer, Anna Paquin, William Baldwin, David Benger. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/samuel_goldwyn_films/the_squid_and_the_whale/_group_photos/jeff_daniels2.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Após 16 anos de casamento, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney) decidem separar-se. O seu casamento estava já esgotado, mas o fim é acelerado pela arrogância dele e pela infidelidade dela, ao mesmo tempo que o declínio da carreira literária de Bernard choca com o repentino sucesso de Joan. Entre outros, eles cometem o erro de estabelecer uma custódia conjunta, o que implica que os seus dois filhos Walt (Jesse Eisenberg), o adolescente, e Frank (Owen Cline), o mais novo, passem dias alternados com cada um dos pais. Walt e Frank tomam os seus partidos nesta disputa, e, cada um à sua maneira, expressa a sua revolta.

ALIGN=JUSTIFY>O papel de “mau” é inicialmente feito por Bernard, ele é frio e amargo, mantendo-se arrogante perante a rejeição e dividindo o mundo entre intelectuais (que gostam de livros e filmes interessantes) e filisteus (que não). Bernard é uma personagem da qual não se gosta totalmente nem se admira, mas Daniels é soberbo ao camuflar todo o seu sofrimento com uma maldade forjada. As falhas de Joan (mais uma boa prestação de Laura Linney) acabam por também vir à tona e a empatia pela falta de inteligência emocional que os caracteriza é inevitável.

ALIGN=JUSTIFY>“The Squid And The Whale” tem algo de auto-biográfico e isso nota-se. Noah Baumbach, co-argumentista de “The Life Aquatic With Steve Zissou” (2004), enche o filme de detalhes e diálogos impregnados de autenticidade, a crueldade (intencional e fortuita) de todas as personagens é demasiado íntima para não reflectir a feia verdade da vida familiar.

ALIGN=JUSTIFY>Além disso, Jeff Daniels usa roupa que pertenceu ao pai do realizador (o escritor Jonathan Baumbach; a mãe é Georgia Brown, crítica de cinema); muitos dos livros que aparecem nas estantes dos Berkman pertenciam aos pais de Baumbach, e este também foi um adolescente de Brooklyn no final da década de 80.

ALIGN=JUSTIFY>O título do filme refere-se a uma instalação no Museu de História Natural de Nova Iorque, onde uma lula luta com uma baleia, uma memória feliz da infância de Walt, e uma metáfora para a luta entre Bernard e Joan. Ou um piscar de olho aos documentários sobre a vida animal, afinal de contas também a natureza humana é digna de uma observação científica.

ALIGN=JUSTIFY>A fraqueza de “The Squid And The Whale” é o caminho melodramático que a angústia das personagens acaba por tomar sem que os seus problemas se resolvam.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de momentos extremamente cómicos, “The Squid And The Whale” torna-se por vezes incómodo e perturbador, porque representa a queda das ilusões românticas (neste caso, dos hippies dos anos 60). O choque da realidade pode ser traumático em qualquer idade. Para Walt é perceber que o seu pai e a sua mãe, e por isso ele mesmo, são seres com falhas. Apenas humanos.

WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “It's like... we were pals then... we'd do things together... we'd look at the knight armor at the Met. The scary fish at the Natural History Museum. I was always afraid of the squid and whale fighting. I can only look at it with my hands in front of my face.”
JESSE EISENBERG (Walt Berkman)











Samaria ****

11.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Kim Ki-Duk. Elenco: Kwak Ji-min, Seo Min-jeong, Lee Eol, Jung In-Gi. Nacionalidade: Coreia do Sul, 2004.


SRC=http://a69.g.akamai.net/n/69/10688/v1/img5.allocine.fr/acmedia/medias/nmedia/18/35/40/25/18389084.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>“Samaria” foi filmado entre “Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera” (2003) e “Ferro 3” (2004)), duas obras-primas do realizador sul-coreano Kim Ki-duk.

ALIGN=JUSTIFY>Duas adolescentes Yeo-jin (Kwak Ji-min) e Jae-yeong (Seo Min-jeong) estão a juntar dinheiro para irem para a Europa. Enquanto Jae-yeong se prostitui com homens mais velhos que conhece na Internet, Yeo-jin faz a gestão da agenda de Jae-yeong e do dinheiro, além de vigiar a aproximação de polícia perto do motel onde Jae-yeong tem os seus encontros. Jae-yeong vê-se como uma moderna incarnação de Vasumitra, uma lendária prostituta que converteu homens ao budismo através do sexo. Yeo-jin fica chocada com o divertimento de Jae-yeong nestes encontros, e impede-a de voltar a perguntar aos clientes o que eles fazem na vida ou qualquer outra conversa que a aproxime deles e, consequentemente, que a afaste dela num misto de vergonha, culpa e ciúme.

ALIGN=JUSTIFY>A tragédia destas duas vidas paira, inevitável e irreversível, em cada cena, mas, no intuito de fazer desta mais uma bela experiência cinematográfica, prefiro não contar mais. Mas o Urso de Prata de Melhor Realizador no 54º Festival Internacional de Cinema de Berlim parece-me bastante merecido.

ALIGN=JUSTIFY>Kim Ki-duk impõe um ritmo quase sufocante nas revelações, nos sofrimentos e nas angústias de vidas que se rompem sem misericórdia. Neste drama está também envolvido o pai de Yeo-jin (Lee Eol), um detective da polícia viúvo, angustiado pela impotência para proteger a própria filha.

ALIGN=JUSTIFY>Kim Ki-duk não mostra a prostituição infantil de um ponto de vista dogmático ou racional. É na vertente emocional que Kim Ki-duk nos abre os olhos a este grave problema social. “Samaria” é sobre a procura da redenção, da busca de um perdão dentro de nós mesmos, da cura espiritual, do sexo como fonte de felicidade e da incessante luta por emendar erros e impor a justiça onde ela falha. “Samaria” divide-se em três partes: "Vasumitra," "Samaria," e "Sonata." Cada parte reflecte o ponto de vista de uma personagem: Jae-yeong, Yeo-jin e Yeong-ki, o pai de Yeo-jin, respectivamente, a primeira vivendo num mundo onde tudo é bom, a segunda numa dura realidade e o terceiro perdido num limbo de incompreensão.

ALIGN=JUSTIFY>Como os outros filmes de Kim Ki-duk, também “Samaria” é um poema cheio de metáforas. A pedra une em si todas contradições: é ela que recebe a queda, é arma, barreira, libertação e túmulo. Os banhos públicos onde as duas jovens se lavam, o duche onde Yeong-ki se refugia, o ar fresco do campo são os veículos de limpeza, mais espiritual que física.

ALIGN=JUSTIFY>Kim Ki-duk aborda o bem e mal com a sua inerente fusão, sem julgar, de uma forma crua e sem compromissos, mas também emocional e comovente. As cores do Outono dão o tom melancólico, o surrealismo dos sonhos reflecte o espírito torturado de personagens complexas, consistentes e credíveis (em três excelentes interpretações). Só Kim Ki-duk consegue dar tamanha beleza, e até inocência, a uma história negra sobre os efeitos adversos do desejo humano.








Klimt ***

10.07.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Raoul Ruiz. Elenco: John Malkovich, Veronica Ferres, Saffron Burrows, Stephen Dillane, Paul Hilton, Sandra Ceccarelli, Karl Fischer, Irina Wanka, Antje Charlotte Sieglin, Nikolai Kinski. Nacionalidade: Áustria / França / Alemanha / Reino Unido, 2006.


SRC=http://www.moviesonline.ca/movie-gallery/albums/userpics//Klimt24.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>Reconhecido em Paris e condenado na Viena natal pelo carácter provocativo das suas obras, o trabalho de Gustav Klimt (1862-1918) é uma celebração da mulher e do erotismo. O filme de Raoul Ruiz sobre este artista, mais do que um biopic tenta ser uma abordagem fiel à visão que o próprio Klimt tinha da Europa no final do século XIX, onde o erotismo da sua obra é contextualizado num tempo de liberdade sexual (e moral), e a sua luta pela emancipação face à arte oficial tem como pano de fundo um insinuante clima de anti-semitismo.

ALIGN=JUSTIFY>Em 1918 Gustav Klimt (John Malkovich) está às portas da morte. Numa visita do seu amigo Egon Schiele (Nikolai Kinsky) - considerado um sucessor de Klimt -, tem início um flashback até à Exposição Universal de 1900 em Paris, onde Klimt recebe o grande prémio e onde encontra o mágico do cinema Méliès, uma misteriosa dançarina (Saffron Burrows) e a opressiva figura do Secretário de Estado (Stephen Dillane) que segue Klimt como uma sombra.

ALIGN=JUSTIFY>Ruiz constrói esta história como um caleidoscópio, marcado pelo mistério e pela paixão. O jogo visual da câmara, as suas movimentações, a deslocação dos cenários, o uso da luz, deformam a realidade, assumindo-se como uma interpretação. Da mesma forma que o próprio trabalho de Klimt (“Não é um quadro, é uma alegoria.”), o filme debruça-se sobre a relação entre imagem e realidade, onde a dissimulação e o logro estão patentes.

ALIGN=JUSTIFY>O ecrã é uma tela onde Ruiz “pinta” eventos reais e faz uso de citações de contemporâneos de Klimt, expressando o temperamento efusivo e experimentalista deste precursor da Arte Nova através de símbolos (o “Secretário de Estado” surge como uma espécie de consciência sublimada).

ALIGN=JUSTIFY>Aos bons cenários e guarda-roupa, junta-se a fotografia de Ricardo Aronovich banhada em âmbar, que remete necessariamente para os trabalhos de Klimt. No entanto, o ritmo que se pretendia musical, sofre pelos cortes na sala de montagem, criando cortes abruptos na narrativa que deixam uma sensação desconcertante de desapego à história e ao seu herói.

ALIGN=JUSTIFY>Malkovich é a escolha óbvia para o papel, que representa sem falhas. Infelizmente, esta opção impôs a condicionante do idioma inglês, para prejuízo do próprio filme, que se enche de uma mescla de sotaques, que parecem ser inevitáveis neste tipo de produções europeias.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar da força visual do filme, existe uma grande quantidade de diálogo (se compararmos com filmes como “Girl With a Pearl Earring” de Peter Webber, por exemplo), sobretudo no que toca a discussões de ordem filosófica. Mas é precisamente esta característica que melhor nos conduz ao tempo e espaço de um controverso artista, com uma obra única.


SRC=http://www.sescsp.org.br/sesc/galeria/20mundo/images/7big.jpg WIDTH=500>










Pág. 1/2