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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Por culpa da 76ª Feira do Livro

31.05.06, Rita



...este foi viver lá para casa:


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O que me parece bem. Assim faz companhia a este:


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FESTIVAL DE CANNES 2006

29.05.06, Rita




A 59ª edição do Festival de Cinema de Cannes, concluída ontem, premiou os seguintes filmes:




LONGAS-METRAGENS

Palma de Ouro
THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY, de Ken Loach

Grande Prémio
FLANDRES, de Bruno Dumont

Prémio de Argumento
PEDRO ALMODÓVAR, por VOLVER

Prémio de Realização
ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑÁRRITU, por BABEL

Prémio de Interpretação Masculina
JAMEL DEBBOUZE, SAMY NACÉRI, ROSCHDY ZEM, SAMI BOUAJILA, BERNARD BLANCAN, em INDIGÈNES de Rachid Bouchareb

Prémio de Interpretação Feminina
PENÉLOPE CRUZ, CARMEN MAURA, LOLA DUEÑAS, BLANCA PORTILLO, YOHANA COBO, CHUS LAMPREAVE, em VOLVER de Pedro Almodóvar

Prémio do Júri
RED ROAD, de Andrea Arnold


CURTAS-METRAGENS

Palma de Ouro
SNIFFER, de Bobbie Peers

Prémio do Júri
PRIMERA NIEVE, de Pablo Aguero

Menção Especial
CONTE DE QUARTIER, de Florence Miailhe


UN CERTAIN REGARD

Prémio Un Certain Regard - Fondation Gan pour le Cinéma
LUXURY CAR, de Chao Wang

Prémio Especial do Júri
TEN CANOES, de Rolf De Heer

Prémio de Interpretação Masculina
DON ANGEL TAVIRA, em EL VIOLÍN de Francisco Vargas

Prémio de Interpretação Feminina
DOROTHEEA PETRE, em CUM MI-AM PETRECUT SFÂRSITUL LUMII de Catalin Mitulescu

Prémio do Presidente do Júri
MEURTRIÈRES, de Patrick Grandperret


QUINZENA DOS REALIZADORES

Prémio Camera de Ouro
A FOST SAU N-A FOST?, de Corneliu Porumboiu


CINÉFONDATION

Primeiro Prémio
GE & ZETA, de Gustavo Riet

Segundo Prémio
MR. SCHWARTZ, MR. HAZEN & MR. HORLOCKER, de Stefan Mueller

Terceiro Prémio - ex-æquo
MOTHER, de Siân Heder
A VÍRUS, de Ágnes Kocsis


PRÉMIO VULCAIN DE ARTISTA-TÉCNICO

STEPHEN MIRRIONE, pelo seu trabalho na montagem do filme BABEL

 

L’Ivresse du Pouvoir ****

26.05.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Claude Chabrol. Elenco: Isabelle Huppert, François Berléand, Patrick Bruel, Marilyne Canto, Robin Renucci, Thomas Chabrol, Jean-François Balmer, Pierre Vernier, Jacques Boudet, Philippe Duclos, Roger Dumas. Nacionalidade: França, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Pela sétima vez, Isabelle Hupert é a musa de Claude Chabrol, e carrega este filme com a leveza que só é possível a uma grande actriz. Desta feita, no papel da juíza de instrução Jeanne Charmant-Killman. Teimosa e incansável, Jeanne está decidida a limpar o sistema biunívoco de favores entre negócios e política. Um pouco à laia de exemplo, Jeanne manda prender o arrogante presidente de uma grande empresa, Michel Humeau (Francois Berleand). Uma série de provas incriminatórias atribuem a Humeau o gasto de avultadas somas de dinheiro da empresa em prendas para a sua amante. Humeau é preso sem sequer receber os medicamentos para a sua alergia dermatológica. No final do primeiro interrogatório a que Jeanne o sujeita, começamos a ter pena de quem quer que tenha de enfrentar a dura juíza apelidada de “piranha”. Entretanto, Jacques Sibaud (Patrick Bruel), um jovem arrogante que forneceu a Jeanne uma série de pistas proveitosas passa convenientemente a ocupar o lugar de Humeau na empresa.

ALIGN=JUSTIFY>Jeanne não teme ninguém e desde um senador ao juiz presidente, ela reduz todos ao seu verdadeiro tamanho. No entanto, a sua capacidade de controlo termina no campo laboral. Em casa, Philippe (Robin Renucci) é um marido à beira da depressão que, com a crescente notoriedade do caso de Jeanne, se sente cada vez mais à sombra da mulher.

ALIGN=JUSTIFY>O sobrinho do casal, Félix (Thomas Chabrol, o filho do realizador numa excelente participação) é o mentor de Jeanne, com os conselhos e o humor necessários, e contrapondo a sua falta de ambição à obsessão de Jeanne com o trabalho.

ALIGN=JUSTIFY>A estratégia do “grupo de interesses” de juntar Jeanne com uma outra juíza (Maryline Canto) com a expectativa de que esta limite a acção de Jeanne não funciona. Numa outra leitura deste ‘poder’, as duas mulheres juntam-se contra “os homens”, enquanto eles tratam de se delatar uns aos outros (quem disse que as mulheres são sempre cabras umas para as outras?).

ALIGN=JUSTIFY>Mas da mesma forma que a ignorância da lei não pode ser usado como desculpa, o desconhecimento das regras tácitas e códigos silenciosos de entendimento a nível tão elevado não permite automaticamente que Jeanne continue o seu caminho, por mais justas que sejam as suas intenções.

ALIGN=JUSTIFY>A origem humilde de Jeanne parece dar-lhe legitimidade para esta luta do mérito contra os privilégios. Mas Jeanne é também ela detentora de um poder que a domina. Também ela está ébria com o poder que a lei francesa lhe atribui. E da mesma forma que aquele grupo de empresários e políticos que usam fundos públicos no seu interesse particular, também Jeanne, na sua mistura charmosa (Charman) e mortal (Killman), parece ignorar que o seu poder é uma ilusão.

ALIGN=JUSTIFY>Enchendo este filme de humor (os interrogatórios de Jeanne no seu pequeno gabinete são hilariantes), e de detalhes (mentiras denunciadas no tom de voz e nos olhares), Chabrol despe todos eles dos seus privilégios, revelando pessoas incapazes de controlar as suas própria vidas.

ALIGN=JUSTIFY>A música de Matthieu Chabrol (também filho do realizador) reforça o tom crítico do filme e cria o ambiente adequado aos momentos mais hitchcockianos, enquanto a fotografia do português Eduardo Serra (na sua quinta colaboração com Chabrol) rodeia de cores naturais o natural jogo de influências.

ALIGN=JUSTIFY>“L’Ivresse du Pouvoir” fala da embriaguez do poder, dos seus efeitos secundários, da ressaca, e dos seus sérios perigos para a saúde.






Wassup Rockers **

25.05.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Larry Clark. Elenco: Jonathan Velasquez, Francisco Pedrasa, Milton Velasquez, Yunior Usualdo Panameno, Eddie Velasquez, Luis Rojas-Salgado, Carlos Velasco, Iris Zelaya, Ashley Maldonado, Laura Cellner, Jessica Steinbaum. Nacionalidade: EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Jonathan (Jonathan Velasquez), Kiko (Francisco Pedrasa), Milton (Milton Velasquez), Eddie (Eddie Velasquez), Louie (Luis Rojas-Salgado), Porky (Yunior Usualdo Panameno) e Carlos (Carlos Velasco) são sete amigos que vivem em South Central, na zona leste de Los Angeles, “o gueto” nas palavras de Kiko.

ALIGN=JUSTIFY>Ainda antes do título, Jonathan apresenta o seu grupo de amigos e lança o tom documental de uma ficção que se baseia livremente num grupo de jovens que Clark conheceu em Venice, Los Angeles.

ALIGN=JUSTIFY>Em confronto com a cultura negra alimentada à base de hip hop, roupas largas e as ocasionais armas, eles preferem o punk, as calças justas e os skates. E, ao contrário do normal fascínio pelo delinquente que se salva do seu meio, estes são jovens consideravelmente normais, que apenas aproveitam o facto de não haver adultos por perto para fazerem o que querem (seja beber, namorar, ou tocar música punk).

ALIGN=JUSTIFY>Um dia decidem ir praticar skate nos “nove degraus” do liceu de Beverly Hills, onde conhecem duas jovens que ficam fascinadas pelo seu estilo Mas onde são também ameaçados pela polícia, e perseguidos pelos residentes (um deles uma cópia clara do “disparo primeiro, pergunto depois” Charlton Heston). Subitamente, o seu bairro torna-se o refúgio seguro para onde tentam voltar.

ALIGN=JUSTIFY>Dez anos depois de “Kids” (1995) e três do extraordinário “Ken Park” (2002), Larry Clark volta a confirmar a sua capacidade de observar jovens sem os julgar. Desta feita menos explícito sexualmente, Clark pega novamente num grupo de jovens não-actores dos quais consegue retirar interpretações de uma naturalidade desarmante. O diálogo honesto entre Kico (Francisco Pedrasa) e Nikki Jessica Steinbaum) sobre os seus respectivos estilos de vida é, sem dúvida, um dos melhores momentos de “Wassup Rockers”, em conjunto com o regresso a casa de comboio ao som “Take Me Somewhere Nice” de Mogwai.

ALIGN=JUSTIFY>Infelizmente, a imparcialidade de Clark com estes jovens não se estende ao resto das personagens: os brancos estão entre o estúpido e o mau, os negros são violentos, e os hispânicos têm todos uma noção de comunidade que se auto-protege. A eventual intenção de mostrar o processo de afirmação e crescimento desta juventude (é curiosa a cena em que Jonathan brinca com bonecos depois de supostamente ter tido sexo com a namorada), e a pressão dos pares quando apenas se quer ser criança, perde-se entre o excesso de medíocres manobras de skate, a barulhenta e cansativa banda sonora à base de punk rock latino, e todos os condescendentes preconceitos.






Lisboetas **1/2

24.05.06, Rita

Realização: Sérgio Trefaut. Género: Documentário. Nacionalidade: Portugal, 2004.





Aos que “tradicionalmente” se consideram lisboetas, o filme “Lisboetas” não dá a conhecer nada de novo. As comunidades de africanos, brasileiros, russos, ucranianos e chineses que vieram para Lisboa à procura de melhores condições de vida fazem já parte do pano de fundo desta cidade. Mas o que este filme consegue é dar uma dimensão humana a essa realidade paralela, com a qual muitos de nós se cruzam, mas que raramente consideramos parte integrante da cidade, e sim como um anexo.


Infelizmente, o tempo é escasso, e cada comunidade merecia um olhar mais atento e mais profundo. Ainda assim, os olhos ficam abertos, com uma nova atenção, que se espera ajude a criar a aceitação e inclusão desejadas.


Sérgio Tréfaut documenta experiências, soterradas na burocracia do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, nos enganosos estratagemas de empreiteiros que fogem aos contratos, numa escola pouco integradora e na postura condescendente para quem não consegue comunicar na nossa língua.


A câmara passeia mais por rostos do que por espaços, numa abordagem personalizada e tocante. No entanto, Tréfaut cinge-se ao lado negativo, os casos de integração e de sucesso são esquecidos, aí reside o grande desequilíbrio desta obra.


Lisboa continua a mudar, num processo quase orgânico, onde diferentes culturas, religiões e identidades se juntam, mas a maior parte das vezes sem se misturar. Estou certa de que todos ganharíamos se percebêssemos, de uma vez por todas, que as fronteiras são elementos totalmente artificiais, e que temos sempre algo a aprender com o outro, especialmente se esse outro for diferente de nós.



 

MÚSICA E CINEMA - SEU JORGE

22.05.06, Rita




As versões em português que Seu Jorge fez das músicas de David Bowie para o filme “The Life Aquatic With Steve Zissou”, de Wes Anderson, encontram-se a rodar ininterruptamente no meu leitor, ainda que não necessariamente por esta ordem:

01. Rebel Rebel
02. Life on Mars?
03. Starman
04. Ziggy Stardust
05. Lady Stardust
06. Changes
07. Oh! You Pretty Things
08. Rock N' Roll Suicide
09. Suffragette City
10. Five Years
11. Queen Bitch
12. When I Live My Dream
13. Quicksand
14. Team Zissou (bónus)


E para quem este conceito de versão faz muita confusão, aqui fica a opinião do visado e a citação incluída no CD:

“Had Seu Jorge not recorded my songs acoustically in Portuguese, I would never have heard this new level of beauty which he has imbued them with.”
DAVID BOWIE



E em Novembro vai ser a vez de passar mais uma noite com este senhor.



The New World *****

18.05.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Terrence Malick. Elenco: Colin Farrell, Q'Orianka Kilcher, Christian Bale, Christopher Plummer, August Schellenberg, Wes Studi, David Thewlis, Yorick van Wageningen. Nacionalidade: EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>1607. Três navios ingleses chegam às costas da Virginia. Liderados pelo Capitão Newport (Christopher Plummer), um grupo de colonizadores prepara-se para se estabelecer no Novo Mundo, e fundar a cidade de Jamestown. Com eles está o Capitão John Smith (um doce e sujo Colin Farrell), libertado das acusações que o traziam preso no convés do barco, que é enviado à aldeia dos nativos para trocas comerciais. Capturado pelos índios e arrastado para a casa de Powhatan (August Schellenberg), o chefe da tribo, John Smith é salvo de uma nova morte por Pocahontas (Q'Orianka Kilcher), a filha preferida do chefe. Pocahontas é uma adolescente movida pela curiosidade, que se apaixona por John Smith como se ele fosse uma representação do divino. Por sua vez, John Smith, um explorador romântico, sonhador e idealista, apaixona-se pela ideia que ela representa: a esperança de uma nova vida, uma liberdade selvagem, e a possibilidade utópica de construir uma sociedade iluminada, baseada na justiça, na igualdade e na prosperidade.

ALIGN=JUSTIFY>Eu não conhecia a história da Pocahontas (suponho que facilita o facto de não me dar com crianças) e acho que isso acabou por ser uma vantagem neste caso. Aliás, o facto de o seu nome nunca ser referido ao longo do filme, insinua que Malick também se quis afastar das versões existentes.

ALIGN=JUSTIFY>Filmar com bom gosto um romance entre um homem de 27 anos e uma rapariga de 11 (neste caso Farrell tem 30 e Kilcher 15), por muito fictício que seja, requer algum talento. E aqui ‘TALENTO’ é mesmo a palavra-chave, a todos os níveis.

ALIGN=JUSTIFY>A relação de descoberta mútua de John Smith e Pocahontas é filmada como se de um sonho se tratasse, como um encontro de espíritos, sensual e apaixonado. Malick mostra o espanto da descoberta como se o experimentasse ele mesmo, e o primeiro encontro de ambos tem mais encantamento e receio do que qualquer filme sobre invasões de extraterrestres.

ALIGN=JUSTIFY>Com o crescimento da colónia surge o fiável, gentil e moderado John Rolfe (Christian Bale). Como contraponto a Smith, ele constrói com Pocahontas uma relação totalmente nova, mais madura. Enquanto Smith queria conquistar e ser conquistado, Rolfe ama a pessoa que Pocahontas é. A tragédia de Smith é só tarde de mais se dar conta disso. Um e outro simbolizam a oposição entre sonho e realidade.

ALIGN=JUSTIFY>Na parcialidade do “nobre selvagem”, que parece desconhecer a violência antes da chegada do branco, Pocahontas representa uma ponte entre as duas culturas, mas que ainda assim acaba por ter o sabor amargo da cedência ao mundo branco. Quando se entra na corte do Rei James I (um cameo de Jonathan Pryce), encontra-se um mundo geométrico e simétrico, onde a natureza é confinada entre linhas rectas, como Pocahontas dentro de um corpete.

ALIGN=JUSTIFY>Malick traduz os pensamentos das personagens em voice over, hipnotizando-nos como ondas que, aliados à fotografia dolorosamente bela de Emmanuel Lubezki, à sublime banda sonora de James Horner, e a uma montagem quase lírica nos transportam através de uma deliciosa poesia épica.

ALIGN=JUSTIFY>O empenho de Malick neste projecto vai mais além do tecnicamente soberbo, é uma obra emocional (o seu quarto filme em 32 anos). Com a sua singular visão, Malick usa som e imagem para criar um universo sensorial. Mais do que recriar ele tenta experimentar, e através de personagens de dimensões humanas ele cria uma série de perspectivas pessoais onde se mistura a verosimilhança e o espectáculo de gloriosas e inebriantes paisagens. Numa abordagem filosófica, Malick faz uma observação atenta de como os seres humanos lidam com o amor, a morte, a guerra e a natureza.

ALIGN=JUSTIFY>Ao seu serviço estão os magnéticos Colin Farrell e Christian Bale, fabulosos numa expressividade quase mímica. Christopher Plummer saiu claramente prejudicado da sala de montagem mas as faladas 3 horas de DVD prometem compensá-lo. Quanto à quase estreante Q'Orianka Kilcher (prima da cantora Jewel) só há elogios a fazer (tirando a audácia de ter nascido em 1990 numa combinação letal de pai peruano e mãe suiça). A beleza pouco convencional e o ar grave dão à sua Pocahontas a medida certa de deslumbramento e sabedoria. No seu rosto espelham-se todas as emoções e a câmara não tem outra alternativa senão segui-la. Malick dá-se ainda ao luxo de ter grandes actores em pequeno papéis, como é o caso de Noah Taylor, John Savage, David Thewlis e Ben Chaplin.

ALIGN=JUSTIFY>No fim deste impressionante drama sobre os primeiros passos de uma nação, sentimo-nos subjugados pela sua dimensão, cogitando sobre aquilo que foi ganho e perdido num suposto processo de civilização.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“They are gentle, loving, faithful, lacking in all trickery; they have no jealousy, no sense of possession. They know no slander, envy, or forgiveness.”
COLIN FARRELL (John Smith)


ALIGN=JUSTIFY> “Love...shall we deny it when it visits us...shall we not take what we are given.”
COLIN FARRELL (John Smith)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “There is only this. All else is unreal.”
COLIN FARRELL (John Smith)


ALIGN=JUSTIFY> “Tell her what? It was just a dream. I am now awake.”
COLIN FARRELL (John Smith)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “I let her love me. I made her love me.”
COLIN FARRELL (John Smith)


ALIGN=JUSTIFY> “You run through me, like a river.”
Q’ORIANKA KILCHER (Pocahontas)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Come away.”
Q’ORIANKA KILCHER (Pocahontas)


ALIGN=JUSTIFY> “Conscience is a nuisance. A fly. A barking dog.”
YORICK VAN WAGENINGEN (Argall)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “She weaves all things together.”
CHRISTIAN BALE (John Rolfe)


ALIGN=JUSTIFY> “Sweet wife, love made the bond, love can break it too.”
CHRISTIAN BALE (John Rolfe)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Pocahontas - Did you find your Indies, John?
John Smith - I may have sailed passed them.”
Q’ORIANKA KILCHER (Pocahontas) e COLIN FARRELL (John Smith)
















Freedomland **

17.05.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Joe Roth. Elenco: Samuel L. Jackson, Julianne Moore, Edie Falco, Ron Eldard, William Forsythe, Aunjanue Ellis, Anthony Mackie, Marlon Sherman. Nacionalidade: EUA, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Brenda Martin (Julianne Moore) entra nas emergências de um hospital em estado de choque e com as mãos cobertas de sangue, dizendo que o seu carro foi roubado perto de Armstrong Houses, um bairro social de negros. Lorenzo Council (Samuel L. Jackson) é o detective encarregue da investigação, ele próprio oriundo de Armstrong. À beira da histeria, Brenda acaba por dizer que o seu filho de quatro anos, Cody (Marlon Sherman), se encontra no banco de trás do carro. Ao saber da notícia, o irmão de Brenda, Danny Martin, detective na cidade vizinha de Gannon (Ron Eldard) parece querer precipitar a resolução do caso, e rapidamente um destacamento da polícia de Gannon (maioritariamente branca), cerca o bairro de Armstrong, proibindo os residentes de sair até que o criminoso seja preso.

ALIGN=JUSTIFY>A tensão no bairro vai aumentando, à medida que chegam cadeias de televisão para cobrir o caso. Lorenzo vê-se pressionado entre o bairro que conta com ele e o seu dever profissional para com Brenda, sobretudo porque sente que esta não lhe está a contar toda a história. Para o ajudar, conta com a ajuda de Karen Colluci (Edie Falco), a líder de um grupo que procura crianças desaparecidas.

ALIGN=JUSTIFY>“Freedomland”, cujo argumento foi adaptado por Richard Price, autor do livro no qual o filme se baseia, ambiciona levantar questões fortes sobre as relações raciais, a responsabilidade parental, a dor e a culpa. Mas Joe Roth parece estar tão desesperado por dizer algo que, no processo, se esquece do que pretende realmente dizer. A falta de consistência da história é evidente no pouco tempo dado ao conflito em Armstrong, como se este fosse apenas um pano de fundo, e ficamos sem acompanhar devidamente o crescendo de raiva e tensão que se vai criando.

ALIGN=JUSTIFY>Samuel L. Jackson tem aqui uma interpretação emocionalmente honesta. A sua intensidade dirigida ao exterior contrastando com a abordagem introvertida de Julianne Moore. Apesar da sua personagem despertar pouca compaixão, Moore domina a complexidade das suas várias dimensões, algumas mais tortuosas. E Edie Falco (“Sopranos”), como uma mãe em sofrimento, orgulhosa da sua lealdade com o filho desaparecido e da sua teimosia em não continuar com a sua vida. A cada uma destas actrizes é dado um forte monólogo, perturbante e desconfortável.

ALIGN=JUSTIFY>Mas todo este esforço dramático é desperdiçado em falhas como arcos de personagens deixados em aberto ou o pouco sentido que faz Lorenzo tirar tempo a uma investigação urgente para ir ver o seu filho à cadeia. Percebe-se que a cena tem o propósito de mostrar a auto-recriminação pelo seu insucesso como pai, mas fica-se com a sensação de ter sido filmada sem saber onde iria ser encaixada. E é esta a ideia geral com que se fica de um filme que tem mais olhos que barriga.

ALIGN=JUSTIFY>Quem tenha prioridades mais urgentes no cinema (COLOR=#E90909>AVISO: VÃO VER O “THE NEW WORLD” DE TERRENCE MALICK
) poderá deixar “Freedomland” para trás sem remorsos.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Sometimes there’s nothing left to do but let go.”
SAMUEL L. JACKSON (Lorenzo Council)









L’Enfant ***

16.05.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Jean-Pierre e Luc Dardenne. Elenco: Jérémie Renier, Déborah François, Jérémie Segard, Fabrizio Rongione, Olivier Gourmet, Stéphane Bissot, Mireille Bailly. Nacionalidade: Bélgica / França, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Mantendo o pano de fundo dos reveses das classes baixas da Bélgica industrial, os irmãos Dardenne conseguem com “L’Enfant” um resultado mais acessível que os anteriores “Rosetta” e “Le Fils”. O que não quer dizer necessariamente melhor. Em 2005, em Cannes, “L’Enfant” recebeu a Palma de Ouro, “Rosetta” recebeu o mesmo prémio na edição de 1999, mas, para mim, “Le Fils” continua a ser o trabalho mais forte e mais coeso dos Dardenne.

ALIGN=JUSTIFY>Sonia (Deborah Francois), uma jovem de 18 anos, regressa a casa depois do nascimento do seu filho, Jimmy, para descobrir que o namorado Bruno (Jérémie Renier) sub-alugou o seu apartamento enquanto ela estava no hospital a dar à luz e ele dormia num abrigo. Num tom de hábito, Sonia perdoa Bruno, com a condescendência de quem espera pouco mais dele. Bruno é um pequeno criminoso, sem amigos (apenas cúmplices), que faz uso de jovens para levar a cabo os seus pequenos golpes. Mas a Bruno falta-lhe engenho e ambição, os seus pequenos meios chegam para os seus pequenos fins, e a sua despreocupação com o dinheiro “ganho” nunca o fará chegar mais longe.

ALIGN=JUSTIFY>A vida de Bruno é feita de objectos, um casaco, uma máquina fotográfica, um chapéu. Tudo pode ser trocado, vendido, comercializado. É com essa frieza que Bruno aproveita a oportunidade de vender o seu filho para adopção por 5.000 euros.

ALIGN=JUSTIFY>Bruno e Sonia vivem uma relação imatura. A constante postura de Bruno de pedido de desculpas, encontra em Sonia uma receptividade de quem quer muito ser amada e que, por isso, tudo aceita. Mas a cega confiança que Sonia deposita nele é destruída, num misto de incompreensão e raiva, com o desaparecimento de Jimmy.

ALIGN=JUSTIFY>Sonia é a única pessoa a quem Bruno parece conseguir ligar-se, é por ela que ele volta atrás. E é através do seu companheiro de assaltos de 14 anos, Steve (Jérémie Segard), que Bruno tenta remediar as consequências do seu comportamento e a sua indiferença para com Jimmy.

ALIGN=JUSTIFY>Os Dardenne não constroem convincentemente em Bruno uma personagem tão dura e fria que torne credível a venda do seu filho com base num impulso. Além disso, o permanente silêncio desse recém-nascido torna-o quase ausente na história, como um boneco. No cinema realista e humanista dos Dardenne, este tipo de pormenores é indesculpável. Por outro lado, Bruno não demonstra um fio de sentimento pelo filho (o mais próximo a isso que ele parece conseguir chegar é ao dar-se conta de que isso lhe falta). Ao contrário do filme “Tsotsi”, onde um bebé muda o rumo do protagonista, a redenção de Bruno é muito pouco merecida.

ALIGN=JUSTIFY>Mas, em contrapartida, a mão dos Dardenne não falha no que toca a mostrar o mais escuro da condição humana com um toque devastadoramente leve. O ambiente das ruas, do tráfego, das luzes florescentes, engolem estas personagens sujas e de roupas velhas tornando-as invisíveis. As opções de confronto fogem ao habitual histerismo, e a falta de maturidade para verbalizar os confrontos permite soluções mais emocionais, mas nem por isso menos brutais.

ALIGN=JUSTIFY>Bruno passeia um carrinho de bebé vazio, tal como passeia uma moto avariada, símbolos das suas falhas humanas. Do que lhe falta ainda crescer, porque é ele a verdadeira criança desta história. E todo o crescimento é feito com dor.






Mary ***

15.05.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Abel Ferrara. Elenco: Juliette Binoche, Forest Whitaker, Matthew Modine, Heather Graham, Marion Cotillard, Stefania Rocca. Nacionalidade: Itália / França / EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>O filme com que Abel Ferrara venceu o Prémio Especial do Júri no passado ano em Veneza é bastante mais interessante pelas questões que levanta do que por aquilo que relata. “Mary” fala da procura espiritual de três personagens com distintas relações com a religião.

ALIGN=JUSTIFY>A CRENTE.
Marie Palesi (Juliette Binoche) recusa-se a regressar a Nova Iorque no final das filmagens de “This Is My Blood”, onde desempenhou o papel de Maria Madalena. Usando a sua personagem do ‘filme dentro do filme’ como inspiração, Marie vai para Jerusalém, movida por um chamamento de fé. Durante mais de um ano perde-se por Israel. Marie abandona amigos e posses em busca das raízes da religião.

ALIGN=JUSTIFY>O NÃO-CRENTE.
O realizador Tony Childress (Matthew Modine), é ambicioso e movido pelo lucro, indiferente à crise de Marie, ele regressa a Nova Iorque, onde, passado um ano se prepara para fazer o lançamento do seu filme. Mas “This Is My Blood” está rodeado de polémica. Na ocasião de um boicote à estreia e de uma ameaça de bomba, Tony está decidido a tornar-se um mártir pela liberdade de expressão e de criação.

ALIGN=JUSTIFY>O CÉPTICO.
Ted Younger (Forest Whitaker) é apresentador de um programa de televisão de debates sobre a vida de Cristo (num improvável horário de prime-time). Para ele a religião é retórica, conceitos e argumentos, com poucas repercussões na sua vida privada, entre compromissos profissionais e pessoais, dúvidas existenciais e relações conflituosas. Face à estreia de “This Is My Blood”, Ted decide convidar Tony e Marie para o seu programa.

ALIGN=JUSTIFY>O filme de Ferrara não prima pela credibilidade, estranhas coincidências permitem recursos dramáticos demasiado óbvios. A meio da negociação de um pacto mediático entre Ted e Tony, a sua limusina é apedrejada por um gang, numa clara referência a “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. O «Go to Hell!» da mulher de Ted (Heather Graham) face à sua indiferença durante o período de gravidez lança, sem subtileza, o caminho descendente. Mais tarde, em simultâneo, as três personagens principais são confrontadas com a sua crise existencial, e a introspecção de última hora de Ted perante um trágico acontecimento dificilmente pode ser classificada de sincera redenção. A mensagem final parece andar à volta de “todos os pecados serão cobrados”. Mais uma vez a fé é vendida com o medo do castigo.

ALIGN=JUSTIFY>“Mary” vai intercalando a narrativa com imagens do filme “This Is My Blood” (filmado em Matera, Itália, também local de rodagem de “O Evangelho Segundo São Mateus” de Pasolini e de “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson), ajudando à fusão de Marie e Maria Madalena. É também ela, Marie e a sua serenidade, a fonte de inspiração de Tony e Ted, em diferentes momentos. A todos eles parece estar a ser dada uma segunda oportunidade de vida.

ALIGN=JUSTIFY>O mundo do cinema e da televisão é aqui mostrado como uma amálgama de pecados, um símbolo do mundo moderno, onde a busca espiritual é marcada por uma forte e dolorosa inquietude. Os meios de comunicação são também mostrados na sua duplicidade: como forma de aproximar quem está longe, mas também de afastar através de mentiras e dissimulações.

ALIGN=JUSTIFY>Especialistas como Jean-Yves Leloup, Elaine Pagels e Amos Luzzatto, que investigaram o Evangelho de Maria Madalena, documento encontrado em 1945 no Egipto e negado pelo Vaticano, fazem a sua aparição como convidados do programa de Ted Younger. “Mary” retira muita da sua força destes debates, que lançam insidiosamente ideias para pensar. E depois há o elenco, todo ele poderoso: Juliette Binoche, Forest Whitaker, Matthew Modine, Heather Graham e Marion Cotillard.

ALIGN=JUSTIFY>Cada um verá em “Mary” o que quiser. Ferrara não avança grandes explicações. Mas entre o positivo e o negativo, Ferrara mostra-nos meios para procurar as respostas.









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