Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Mrs. Henderson Presents ***

27.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Stephen Frears. Elenco: Judi Dench, Bob Hoskins, Will Young, Kelly Reilly, Thelma Barlow, Christopher Guest. Nacionalidade: Reino Unido, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1153897/photo_03.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>1931. Depois da morte do marido, a rica e excêntrica viúva de 69 anos Mrs. Henderson (Judi Dench) não se consegue contentar com bordados e decide comprar o velho teatro Windmill no West End londrino. Para o gerir, contrata Vivian Van Damm (Bob Hoskins), que sugere que o musical que vão produzir, “Revudeville” seja exibido em sessões contínuas, como forma de se diferenciarem dos outros teatros. Mas rapidamente esta ideia é copiada, e Mrs. Henderson sugere que, à semelhança do Moulin Rouge parisiense, o espectáculo inclua raparigas nuas. Para contornar a pressão dos censores, Mrs. Henderson consegue convencer o Lord Chamberlain (Christopher Guest) de que a nudez é arte.


ALIGN=JUSTIFY>Inspirado em acontecimentos reais, o Windmill permaneceu aberto mesmo com os raids aéreos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo apenas fechado as suas portas entre 4 e 16 de Setembro 1939, daí herdando o slogan “We Never Closed”. E ali se formou uma família, onde Mrs. Henderson e Van Damm eram os guardiões.

ALIGN=JUSTIFY>Judi Dench está excelente, dominando o ecrã com uma energia e uma força que os seus 71 anos não atenuam. Impressionantemente cómica no registo de rebeldia adolescente, mas evidenciando a sabedoria pragmática da experiência, uma personagem a quem o que lhe falta em conhecimento do mundo do espectáculo lhe sobra em imaginação. E que ansiava por emoções, mesmo que fossem vividas através de outros.

ALIGN=JUSTIFY>Mas a dinâmica dramática do filme reside na relação de raiva, controlo e ciúme, mas também de admiração e afecto que se estabelece com Van Damm (um imprescindível Bob Hoskins). Entre insultos e sarcasmo, ambos partilham uma forte persistência e uma paixão por aquilo que estão a construir.
ALIGN=JUSTIFY>De não esquecer Kelly Reilly, forte e vulnerável, e o seu belíssimo peito. Felizmente para “Mrs. Henderson Presents”, a abordagem artística de Stephen Frears retira qualquer lascívia à nudez que marca todo o filme. Adicionalmente, está o argumento cheio de humor de Martin Sherman, onde se mistura sabiamente a tragédia, sem que nunca um choque com o outro.
ALIGN=JUSTIFY>Um filme divertido, tocante e envolvente.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “You must never interrupt a perfectly good argument.”
JUDI DENCH (Laura Henderson)


ALIGN=JUSTIFY> “It’s surprising to find that standing naked on a stage in front of an audience is the safest place to be.”
KELLY REILLY (Maureen)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “You can take these young soldier's lives, but before you do, don't take their joy.”
JUDI DENCH (Laura Henderson)










Memórias de uma Gueixa **

26.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Memoirs of a Geisha. Realização: Rob Marshall. Elenco: Zhang Ziyi, Ken Watanabe, Michelle Yeoh, Gong Li, Kaori Momoi, Tsai Chin, Cary-Hiroyuki Tagawa, Suzuka Ohgo. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/columbia_pictures/memoirs_of_a_geisha/gong_li/memoirs2.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Lamechas, aborrecido e previsível.
ALIGN=JUSTIFY>Na sala cheguei a pensar que a minha irritação se devia apenas a não me ter conseguido abstrair durante quase todo o filme da respiração incomodativa do senhor que se sentou ao meu lado. Mas agora, no silêncio, a má impressão permanece.

ALIGN=JUSTIFY>Eu já tinha visto o livro “Memórias de uma Gueixa” nas primeiras estantes das livrarias e nunca me senti seduzida por aquilo que me parecia uma leitura de Verão. Agora descubro que (ao contrário do que eu pensava quando estava a ver o filme), o autor é o americano Arthur Golden, que conta de ouvir dizer e que foi processado pela ex-gueixa de quem ele diz ter recolhido a informação para o livro. Este facto, aliado à produção Hollywoodesca de Rob Marshall (“Chicago”, 2002) justificam completamente a aura de falsidade que envolve este filme e que impede qualquer possibilidade de emoção.

ALIGN=JUSTIFY>Telegraficamente, “Memórias de uma Gueixa” conta a história de Chiyo (Suzuka Ohgo), a filha de um pobre pescador que, em 1929, é vendida para uma casa de gueixas (um género de animadoras sociais). A la Dickens ela é objecto da crueldade da gueixa mais importante da casa, Hatsumomo (Gong Li), que a vê como uma futura rival. É ainda na infância que um encontro com um gentil homem de negócios (Ken Watanabe) irá fazê-la decidir pela vida de gueixa. Já adolescente, Chiyo (Zhang Ziyi) é amadrinhada por Mameha (Michelle Yeoh), que a baptiza de Sayuri e que lhe ensina a arte, pelos seus próprios motivos pessoais.

ALIGN=JUSTIFY>As personagens não têm profundidade psicológica, não há conflitos dramáticos que captem o nosso interesse, os diálogos são pobres e ridículos (a metáfora sexual da cobra e da gruta ainda me causa arrepios), e tudo em inglês. Deus nos livre que os americanos tenham alguma vez de ver um filme com legendas!!! Mas também, num elenco de chineses, malaios e japoneses, talvez o inglês fosse de facto o denominador comum. (Mais um ponto a acrescentar a esta fantasia ocidental de uma Cinderela asiática: todos os orientais são iguais!) E vemos grande actores como Michelle Yeoh (“O Tigre e o Dragão”), Ken Watanabe (“Batman Begins”)e Gong Li (“A Tríade de Xangai”, “Hero”) castrados numa das suas ferramentas essenciais, a palavra. Quando à protagonista Zhang Ziyi (“Hero”, “O Segredo dos Punhais Voadores”, “2046”), de indiscutível beleza, tem ainda muito para aprender com no que a expressividade diz respeito, inclusivamente com a pequena Suzuka Ohgo que faz o papel de Chiyo na infância.

ALIGN=JUSTIFY>Mas há que dar a mão à palmatória, Rob Marshall percebe de sumptuosidade. Por isso junta a bela fotografia de Dion Beebe, o design de produção de John Myhre, o guarda-roupa de Colleen Atwood e a música de John Williams. Mas nem só de técnica se faz um filme. E, sem essência, isto é só cosmética, que na manhã seguinte está colada à almofada. Nada disto soa a verdade. É apenas uma bonita mentira, para quem quiser acreditar. Se ao menos mentisse melhor...

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>NOTA para quem for já a correr comprar este livro: é bastante provável a nova edição tenha já o poster do filme na capa. Tenham atenção e não comprem por engano “A Sombra do Vento” de Carlos Ruiz Záfon!



WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Remember, Chiyo, geisha are not courtesans. And we are not wives. We sell our skills, not our bodies. We create another secret world, a place only of beauty. The very word "geisha" means artist and to be a geisha is to be judged as a moving work of art.”
MICHELLE YEOH (Mameha)


ALIGN=JUSTIFY> “It is not for geisha to want. It is not for geisha to feel. Geisha is an artist of the floating world. She dances, she sings. She entertains you, whatever you want. The rest is shadows, the rest is secret.”
ZHANG ZIYI (Sayuri)












Transamerica ****

24.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Duncan Tucker. Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Fionnula Flanagan, Elizabeth Peña, Graham Greene, Burt Young, Carrie Preston, Venida Evans. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1153569/photo_01.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>A premissa de “Transamerica” é antiga: um pai e um filho numa road trip que reforça a ligação entre ambos. Mas o argumentista-realizador Duncan Tucker, na sua estreia nas longas-metragens, marca a diferença com um pai que sofre disforia de género, ou seja, é transsexual.

ALIGN=JUSTIFY>Bree (Felicity Huffman) - anteriormente conhecida por Stanley - vive no sul da Califórnia e está a uma semana de fazer a operação que finalizará o processo para se tornar mulher. Um telefonema de Nova Iorque informa-a de que Toby (Kevin Zegers), o filho incógnito de Stanley agora com dezassete anos, se encontra detido por actos de delinquência. A psicóloga de Bree, Margaret (Elizabeth Peña), recusa-se a assinar a autorização para a operação enquanto Bree não resolver este assunto do seu passado. Por isso, ocultando a sua identidade sob a capa de uma organização religiosa, Bree vai pagar a fiança de Toby. E assim tem início a sua viagem através da América, ambos em busca do seu sonho: Bree da sua operação, Toby da sua carreira no cinema pornográfico.

ALIGN=JUSTIFY>Bree vive para o dia em que se tornará totalmente ela, mas é o processo gradual de se afirmar perante Toby que, em última instância, será a afirmação perante si própria. A tensão desta viagem reside sobretudo no facto de Bree se comportar instintivamente de uma forma paternal sem, no entanto, querer revelar a sua paternidade. Quando Bree se confronta com os seus pais, e especialmente uma mãe (Fionnula Flanagan) inconformada com o desaparecimento do seu filho Stanley, dá-se uma mudança de papéis, e é Toby que assume o papel protector face a Bree.

ALIGN=JUSTIFY>Tucker teve a ideia para este filme pela amizade que estabeleceu com uma mulher e que só mais tarde veio a descobrir ser transsexual. Optando por evitar os assuntos sociais mais polémicos, deu maior relevância ao lado humano. “Transamerica” é um filme que se ri de si mesmo, mas que, ao mesmo tempo, enfrenta com força uma verdade que magoa, mas cujo confronto conduz a melhores qualidade humanas. Mas a atitude global é tão positiva que nunca somos levados ao sentimentalismo. Como a personagem de Bree, “Transamerica” não é exactamente uma comédia nem exactamente um drama, mas um pouco de ambos. Um balanço equilibrado entre seriedade e humor, com a transsexualidade como pano de fundo.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de ser um projecto anterior, o papel de Felicity Huffman (apoiado pelo produtor e marido William H. Macy) acaba por estar altamente potenciado pela projecção de Huffman na série “Desperate Housewives”. É a sinceridade da entrega de Huffman que impede que este filme seja um sermão sobre a tolerância ou sobre os valores conservadores da família tradicional (sim, porque, apesar de tudo, Bree é também ela conservadora). O seu poder de transformação, que passou também por técnicas vocais que lhe permitiram baixar o registo da sua voz, fez dela uma mulher que se veste cuidadosamente, mas que se move com rigidez, tensão e incerteza, como se não estivesse ainda habituada ao corpo pelo qual tanto lutou.

ALIGN=JUSTIFY>A opção de uma mulher para fazer o papel de um homem que se quer tornar uma mulher não é chocante se pensarmos que essa mulher é de facto quem ele já se sente e quem ele quer ser. Por isso é tão marcante a cena em que Bree coloca um dedo num disco de vinil para ouvir a voz da cantora ficar grave como a de um homem.

ALIGN=JUSTIFY>Não, o mundo não é justo. Não, não nascemos todos iguais e com iguais oportunidades. Não, não há soluções fáceis.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Bree - I got a phone call last night from a juvenile inmate of the New York prison system. He claimed to be Stanley's son.
Margaret - No third-person.
(...)
Bree - My son.”
FELICITY HUFFMAN (Bree) e ELIZABETH PEÑA (Margaret)


ALIGN=JUSTIFY> “Murray - Your mother and I both love you.
Elizabeth - But we don't respect you!”
BURT YOUNG (Murray) e FIONNULA FLANAGAN (Elizabeth)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “We all look much happier than we really are.”
CARRIE PRESTON (Sydney)


ALIGN=JUSTIFY> “Hormones are hormones. Yours and mine just happen to come in purple little pills.”
FELICITY HUFFMAN (Bree)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Toby - Your parent's house is a lot nicer.
Bree - My parent's house comes with my parents.”
KEVIN ZEGERS (Toby) e FELICITY HUFFMAN (Bree)

















Capote ****

23.02.06, Rita

Realização: Bennett Miller. Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper, Bruce Greenwood, Bob Balaban, Amy Ryan, Mark Pellegrino, Allie Mickelson, Marshall Bell, Araby Lockhart. Nacionalidade: Canadá / EUA, 2005.





15 de Novembro de 1959. Em Holcomb, Kansas a abastada família Clutter é assassinada. Truman Capote (Philip Seymour Hoffman), experimentando ainda o êxito do seu último livro, “Breakfast at Tiffany’s”, lê a notícia desse massacre no New York Times e decide fazer um artigo para o New Yorker sobre os efeitos desse evento naquela comunidade. Acompanhado da sua amiga de infância Harper Lee (Catherine Keener), que está prestes a lançar o livro “To Kill a Mockingbird” vencedor do prémio Pulitzer, Capote inicia a sua pesquisa.


À medida que vai entrando nos detalhes desta história sórdida, quer através do detective que está a investigar o caso, Alvin Dewey (Chris Cooper), quer pela captura dos assassinos Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Richard Hickock (Mark Pellegrino), Capote decide que aquele material deverá ser utilizado para um livro - o romance não-ficcional “In Cold Blood” (1966), que lhe traria fama internacional.


Capote estabelece uma relação de proximidade com os reclusos, especialmente Perry, com o qual sente uma estranha identificação pelo seu carácter sensível, temperamental, criativo e incompreendido. O conflito de Capote, o seu dilema moral, é entre a obsessão por terminar um livro que se arrasta com os consecutivos adiamentos da execução dos criminosos, e a compaixão que sente por eles.


Em vez de condensar a vida de Capote em duas horas, Bennett Miller opta por se focar num acontecimento que marcou a sua vida, incluindo um forte desgaste emocional com graves e irreversíveis custos para a sua sanidade e integridade. De tal forma que, depois deste livro, ele não voltou a terminar mais nenhuma obra, tendo sucumbido ao álcool e às drogas que conduziram à sua morte em 1984.


O argumento de Dan Futterman, com base no livro de Gerald Clark “Capote: A Biography”, vai desvendando subtilmente as neuroses de Capote, a deterioração da sua relação com o também escritor Jack Dunphy (Bruce Greenwood), a alienação relativamente aos seus amigos, o ciúme pelo êxito de Harper Lee, o seu problema com o álcool. Ainda assim ficamos com a sensação de que, da mesma forma que Capote manipula tudo e todos para alimentar a sua obra e o seu ego, também neste filme ele é manipulado para efeitos dramáticos.


Mas ver Philip Seymour Hoffman compensa tudo. Depois de uma carreira cheia de fortes interpretações, Philip Seymour Hoffman tem aqui um papel à sua medida. Hipnotizador: na excentricidade, na voz infantil, nos maneirismos que nunca caem na caricatura, na sua linguagem corporal, nas suas capas emocionais. Catherine Keener e Chris Cooper estão inquestionavelmente bem, mas “Capote” é Philip Seymour Hoffman.


A reconstrução do período entre 1959 e 1965 está pensada ao pormenor (até a embalagem da aspirina) e o cuidado para que Hoffman pareça mais baixo do que realmente é para se assemelhar a Capote (que tinha 1,60m enquanto Hoffman tem 1,78m) é patente quer na filmagem quer no guarda-roupa. É esta atenção ao detalhe que nos faz sair de uma sala com a certeza de que o cinema é uma arte de artes.


“Capote” é um filme rico, absorvente e cheio de matizes. Um filme cativante sobre o agonizante processo criativo de um escritor.






CITAÇÕES:


“Ever since I was a child, folks have thought they had me pegged, because of the way I am, the way I talk. And they're always wrong.”
PHILIP SEYMOUN HOFFMAN (Truman Capote)


“It's as if Perry and I grew up in the same house. One day he stood up and he went out the back door and I went out the front.”
PHILIP SEYMOUN HOFFMAN (Truman Capote)


“I thought that Mr. Clutter was a very nice gentleman. I thought so right up to the moment that I cut his throat.”
CLIFTON COLLINS JR. (Perry Smith)



Walk the Line ****

22.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: James Mangold. Elenco: Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Dallas Roberts, Dan John Miller, Larry Bagby, Shelby Lynne, Tyler Hilton, Waylon Malloy Payne, Shooter Jennings. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1152824/photo_03.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Eu só conhecia Johnny Cash de nome e eis-me diante de uma versão da sua vida. E a vida de Cash tem tudo o que é preciso para justificar um filme: uma infância marcada por uma relação complicada com o pai, a morte trágica do irmão, o estrelado, a negligência da família, um problema com álcool e drogas, e a redenção às mãos de uma mulher que o amava. Assim dito, parece que já vi esta vida em algum lugar. E é basicamente isso, a mesma história, outras personagens. E continua a funcionar.

ALIGN=JUSTIFY>Confesso que me é bastante indiferente se se trata ou não de uma história real. Aliás, mais do que uma biografia, este filme é uma história de amor. A primeira parte constrói o caminho para o encontro de Johnny Cash (Joaquin Phoenix) e June Carter (Reese Witherspoon), a segunda é a tentativa de Cash conquistar June, a terceira é o esforço determinado de June em salvar a vida de Cash.

ALIGN=JUSTIFY>James Mangold apostou, inteligentemente, naquilo que mais poderia diferenciar este filme de outros biopics. Mas a grande mais-valia de “Walk the Line” são, sem dúvida, as interpretações (em voz real) de Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon. Ainda que alguns dos momentos mais fortes sejam dominados por outros actores, como é o caso de Robert Patrick como pai de Cash, de Ginnifer Goodwin no papel da esposa de Cash, e a fala de Dallas Roberts (Sam Philips) no estúdio de gravação.

ALIGN=JUSTIFY>Johnny Cash forma a sua banda em 1954 em Memphis com o guitarrista Luther Perkins (Dan John Miller) e o baixista Marshall Grant (Larry Bagby). E o início da sua carreira é feita em tournées de caravana por todo o país, acompanhado por artistas como Elvis Presley (Tyler Hilton), Roy Orbison (Johnathan Rice), Jerry Lee Lewis (Waylon Payne) e uma conhecida cantora country, June Carter.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento de Gil Dennis e James Mangold, baseado nas duas autobiografias de Cash, tenta fazer a viagem pelos “como” e “porquê” de Cash, mas a raiz dessas respostas reside na parte inicial do filme, que é exactamente a que tem menos tempo. Somos levados a correr pelo seu conflito com o pai na infância, a sua ida para a força aérea, a compra da primeira guitarra na Alemanha. Tudo é acelerado (possivelmente na mesa de montagem), para se poder chegar ao momento dos êxitos musicais reconhecíveis e à história de amor que move o filme.

ALIGN=JUSTIFY>Em “Walk the Line” os clichés abundam, mas a química de Phoenix e Wittherspoon e o seu empenho conseguem contorná-los. Os números musicais contam também a sua história (e quando dei por mim tinha o pé a marcar o tempo das músicas), ilustrando a relação de amor e admiração mútua entre uma mulher com um forte sentido de moral e um homem com uma história de comportamento auto-destrutivo. Ele criou canções de tristeza, culpa e redenção, ela deu-lhe a razão para ele não se deixar sucumbir aos seus demónios.

ALIGN=JUSTIFY>Johnny Cash era o rebelde de negro que cantava sobre cocaína, a vida na prisão, sobre matar um homem para o ver morrer, ou magoar-se a si mesmo para saber se conseguia sentir. Mas tudo o que fez, toda a sua vida foi o esforço de chamar a atenção da única pessoa a quem ele queria provar o seu valor: o seu pai.

ALIGN=JUSTIFY>Quanto às outras categorias todas, tenho as minhas dúvidas, mas se houvesse Oscar® para melhor cartaz, o meu voto ia para este:


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1152824/photo_31.jpg>


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“God said not to touch the apple. He didn't say have a nibble, He didn't say touch it every once in a while! He said "Don't. Touch. It." Don't think about touchin' it, don't sing about touchin' it, don't think about singing about touchin' it. Don't touch it!”
WAYLON MALLOY PAYNE (Jerry Lee Lewis)


ALIGN=JUSTIFY> “Director da prisão - Mr. Cash, please refrain from singing songs that would remind them that they're in prison.
Johnny Cash - You think they forgot?”
JAMES KEACH (Director da prisão) e JOAQUIM PHOENIX (Johnny Cash)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Now you'll finally be able to sing your music without being a fake.”
ROBERT PATRICK (Ray Cash)














BAFTA 2006

21.02.06, Rita




No passado domingo, dia 19, a British Academy of Film and Television Arts entregou os seus Orange British Academy Film Awards. Aqui fica o palmarés (vencedores a vermelho):



MELHOR FILME
BROKEBACK MOUNTAIN - Diana Ossana/James Schamus
CAPOTE - Caroline Baron/William Vince/Michael Ohoven
THE CONSTANT GARDENER - Simon Channing Williams
CRASH - Cathy Schulman/Don Cheadle/Bob Yari
GOOD NIGHT, AND GOOD LUCK. - Grant Heslov

MELHOR FILME BRITÂNICO (The Alexander Korda Award)
A COCK & BULL STORY - Andrew Eaton/Michael Winterbottom/Martin Hardy
THE CONSTANT GARDENER - Simon Channing Williams/Fernando Meirelles/Jeffrey Caine
FESTIVAL - Christopher Young/Annie Griffin
PRIDE & PREJUDICE - Tim Bevan/Eric Fellner/Paul Webster/Joe Wright/Deborah Moggach
WALLACE & GROMIT: THE CURSE OF THE WERE-RABBIT - Claire Jennings/David Sproxton/Nick Park/Steve Box/Mark Burton/Bob Baker

MELHOR REALIZADOR/PRODUTOR OU ARGUMENTISTA BRITÂNICO EM PRIMEIRA LONGA-METRAGEM (The Carl Foreman Award)
DAVID BELTON (Producer) - Shooting Dogs
PETER FUDAKOWSKI (Producer) - Tsotsi
ANNIE GRIFFIN (Director/Writer) - Festival
RICHARD HAWKINS (Director) - Everything
JOE WRIGHT (Director) - Pride & Prejudice

MELHOR REALIZADOR (The David Lean Award)
BROKEBACK MOUNTAIN - Ang Lee
CAPOTE - Bennett Miller
THE CONSTANT GARDENER - Fernando Meirelles
CRASH - Paul Haggis
GOOD NIGHT, AND GOOD LUCK. - George Clooney

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
CINDERELLA MAN - Cliff Hollingsworth/Akiva Goldsman
CRASH - Paul Haggis/Bobby Moresco
GOOD NIGHT, AND GOOD LUCK. - George Clooney/Grant Heslov
HOTEL RWANDA - Keir Pearson/Terry George
MRS. HENDERSON PRESENTS - Martin Sherman

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
BROKEBACK MOUNTAIN - Larry McMurtry/Diana Ossana
CAPOTE - Dan Futterman
THE CONSTANT GARDENER - Jeffrey Caine
A HISTORY OF VIOLENCE - Josh Olson
PRIDE & PREJUDICE - Deborah Moggach

MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA
DE BATTRE MON COEUR S'EST ARRÊTÉ (The Beat That My Heart Skipped) - Pascal Caucheteux/Jacques Audiard
LE GRAND VOYAGE - Humbert Balsan/Ismaël Ferroukhi
KUNG FU HUSTLE - Stephen Chow/Chui Po Chu/Jeff Lau
JOYEUX NOËL (Merry Christmas) - Christophe Rossignon/Christian Carion
TSOTSI - Peter Fudakowski/Gavin Hood

MELHOR ACTOR
DAVID STRATHAIRN - Good Night, And Good Luck
HEATH LEDGER - Brokeback Mountain
JOAQUIN PHOENIX - Walk the Line
PHILIP SEYMOUR HOFFMAN - Capote
RALPH FIENNES - The Constant Gardener

MELHOR ACTRIZ
CHARLIZE THERON - North Country
JUDI DENCH - Mrs. Henderson Presents
RACHEL WEISZ - The Constant Gardener
REESE WITHERSPOON - Walk the Line
ZIYI ZHANG - Memoirs of a Geisha

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
DON CHEADLE - Crash
GEORGE CLOONEY - Good Night, And Good Luck
GEORGE CLOONEY - Syriana
JAKE GYLLENHAAL - Brokeback Mountain
MATT DILLON - Crash

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
BRENDA BLETHYN - Pride & Prejudice
CATHERINE KEENER - Capote
FRANCES McDORMAND - North Country
MICHELLE WILLIAMS - Brokeback Mountain
THANDIE NEWTON - Crash

MELHOR BANDA SONORA (The Anthony Asquith Award)
BROKEBACK MOUNTAIN - Gustavo Santaolalla
THE CONSTANT GARDENER - Alberto Iglesias
MEMOIRS OF A GEISHA - John Williams
MRS. HENDERSON PRESENTS - George Fenton
WALK THE LINE - T Bone Burnett

MELHOR FOTOGRAFIA
BROKEBACK MOUNTAIN - Rodrigo Prieto
THE CONSTANT GARDENER - César Charlone
CRASH - J Michael Muro
MARCH OF THE PENGUINS - Laurent Chalet/Jerôme Maison
MEMOIRS OF A GEISHA - Dion Beebe

MELHOR MONTAGEM
BROKEBACK MOUNTAIN - Geraldine Peroni/Dylan Tichenor
THE CONSTANT GARDENER - Claire Simpson
CRASH - Hughes Winborne
GOOD NIGHT, AND GOOD LUCK - Stephen Mirrione
MARCH OF THE PENGUINS - Sabine Emiliani

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
BATMAN BEGINS - Nathan Crowley
CHARLIE AND THE CHOCOLATE FACTORY - Alex McDowell
HARRY POTTER AND THE GOBLET OF FIRE - Stuart Craig
KING KONG - Grant Major
MEMOIRS OF A GEISHA - John Myhre

MELHOR GUARDA-ROUPA
CHARLIE AND THE CHOCOLATE FACTORY - Gabriella Pescucci
THE CHRONICLES OF NARNIA: THE LION, THE WITCH AND THE WARDROBE - Isis Mussenden
MEMOIRS OF A GEISHA - Colleen Atwood
MRS. HENDERSON PRESENTS - Sandy Powell
PRIDE & PREJUDICE - Jacqueline Durran

MELHOR SOM
BATMAN BEGINS - David G Evans/Stefan Henrix/Peter Lindsay
THE CONSTANT GARDENER - Joakim Sundström/Stuart Wilson/Michael Prestwood Smith/Sven Taits
CRASH - Richard Van Dyke/Sandy Gendler/Adam Jenkins/Marc Fishman
KING KONG - Hammond Peek/Christopher Boyes/Mike Hopkins/ Ethan Van der Ryn
WALK THE LINE - Paul Massey/D M Hemphill/Peter F Kurland/Donald Sylvester

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
BATMAN BEGINS - Janek Sirrs/Dan Glass/Chris Corbould/Paul Franklin
CHARLIE AND THE CHOCOLATE FACTORY - Nick Davis/Jon Thum/Chas Jarrett/Joss Williams
THE CHRONICLES OF NARNIA: THE LION, THE WITCH AND THE WARDROBE - Dean Wright/Bill Westenhofer/Jim Berney/Scott Farrar
HARRY POTTER AND THE GOBLET OF FIRE - Jim Mitchell/John Richardson/Tim Webber/Tim Alexander
KING KONG - Joe Letteri/Christian Rivers/Brian Van't Hul/Richard Taylor

MELHOR CARACTERIZAÇÃO
CHARLIE AND THE CHOCOLATE FACTORY - Peter Owen/Ivana Primorac
THE CHRONICLES OF NARNIA: THE LION, THE WITCH AND THE WARDROBE - Howard Berger/Gregory Nicotero/Nikki Gooley
HARRY POTTER AND THE GOBLET OF FIRE - Nick Dudman/Amanda Knight/Eithne Fennell
MEMOIRS OF A GEISHA - Noriko Watanabe/Kate Biscoe/Lyndell Quiyou/Kelvin R Trahan
PRIDE & PREJUDICE - Fae Hammond

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
FALLEN ART - Jarek Sawko/Piotr Sikora/Tomek Baginski
FILM NOIR - Osbert Parker
KAMIYA'S CORRESPONDENCE - Sumito Sakakibara
THE MYSTERIOUS GEOGRAPHIC EXPLORATIONS OF JASPER MORELLO - Anthony Lucas/Julia Lucas/Mark Shirrefs
RABBIT - Run Wrake

MELHOR CURTA-METRAGEM
ANTONIO'S BREAKFAST - Howard Stogdon/Amber Templemore-Finlayson/Daniel Mulloy
CALL REGISTER - Kit Hawkins/Adam Tudhope/Ed Roe
HEAVY METAL DRUMMER - Amanda Boyle/Luke Morris/Toby MacDonald
HEYDAR, AN AFGHAN IN TEHRAN - Homayoun Assadian/Babak Jalali
LUCKY - Bex Hopkins/Avie Luthra

O prémio THE ORANGE RISING STAR AWARD, que vem substituir o ORANGE FILM OF THE YEAR, o único votado pelo público, foi atribuído a James McAvoy, que pudemos ver no papel de Mr.Tumnus no filme “As Crónicas de Narnia”. Os restantes candidatos eram Gael Garcia Bernal, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams e Michelle Williams.


O prémio ACADEMY FELLOWSHIP foi atribuído a Lord Puttnam, produtor cinematográfico, e o MICHAEL BALCON AWARD PARA A MELHOR CONTRIBUIÇÃO BRITÂNICA PARA O CINEMA a Robert ‘Chuck’ Finch e Bill Merrell, a equipa de electricistas do filme “Harry Potter and the Goblet of Fire”, entre outros.




Derailed - Pecado Capital **1/2

20.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Mikael Håfström. Elenco: Clive Owen, Vincent Cassel, Jennifer Aniston, RZA, Giancarlo Esposito, Melissa George, Addison Timlin. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1152864/photo_14.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Charles Schine (Clive Owen) é um publicitário de Chicago casado com a bonita, mas ocupada, Deanna (Melissa George) e com uma filha doente. Há sete anos que eles poupam para um tratamento médico de Amy (Addison Timlin). Uma manhã, Deanna tira dinheiro da carteira de Charles e ele fica sem poder pagar o bilhete de comboio. Uma bela estranha, Lucinda Harris (Jennifer Aniston), paga os 9 dólares do bilhete de Charles, e assim tem início a atracção entre ambos. Mas, por este pecado, eles terão de pagar ainda em vida. La Roche (Vincent Cassel) tratará disso, com agressões e chantagens consecutivas.

ALIGN=JUSTIFY>O filme de Håfström lida com as consequências de um erro e de várias más decisões, daquelas que sabemos à partida que vão trazer problemas. Tem o suave moralismo do “fazer o que está correcto” que implica que todo e qualquer instinto deve ser recalcado, mas o que nos impele para continuar é o sadismo de ver até onde se pode descer para evitar enfrentar as consequências dos nossos actos.

ALIGN=JUSTIFY>Clive Owen tem capacidade de desenvolver e alcançar a evolução emocional que a sua personagem lhe exige. O mesmo não se pode dizer de Jennifer Aniston, que apesar de umas breves nuances iniciais, acaba por cair no seu irritante registo “Friends”. Além disso, a química entre ambos é tão completamente inexistente (sobretudo pela falta de sex appeal de Aniston) que é impossível acreditar neste affair. Apesar de tudo, tendo-a visto em “The Good Girl” (Miguel Arteta, 2002), ainda a espero ver tornar-se algo mais do que uma promessa. Mas quem realmente merece toda a cena em que pisa, é Vincent Cassel. Se um thriller depende de um bom herói (e Owen é um), depende na mesma medida de um bom vilão, e Cassel não podia ser melhor - pior, claro.

ALIGN=JUSTIFY>A história de “Derailed” é previsível, incluindo os twists, mas não deixa de cumprir o seu papel de entretenimento. O ritmo é adequado, e a realização competente, apesar de algumas falhas de argumento. Mas não fosse o elo fraco do casting de Aniston, e este poderia ter sido um filme bem melhor.

ALIGN=JUSTIFY>Da mesma forma que um “one-night stand”, este filme agarra-nos um pouco enquanto dura, mas será difícil recordá-lo na manhã seguinte.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>FUTILIDADES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> Porque gosto muito deste senhor, e já não olhava insistentemente para ele desde “Sin City”, fica aqui uma foto.



SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1152864/photo_18.jpg>










Syriana ****

17.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Stephen Gaghan. Elenco: George Clooney, Christopher Plummer, Jeffrey Wright, Chris Cooper, Matt Damon, Amanda Peet, Mazhar Munir, Nicky Henson, Peter Gerety, Alexander Siddig, Amr Waked, William Hurt, Robert Foxworth, Daisy Tormé, Tim Blake Nelson, Akbar Kurtha, Nadim Sawalha, Mark Strong, Sonell Dadral. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1153345/photo_36.jpg>


ALIGN=JUSTIFY> “Syriana” é um filme complexo e ambíguo, cheio de duplicidades e interesses escusos. Tal como os meandros da indústria petrolífera internacional.

ALIGN=JUSTIFY>Bob Barnes (George Clooney) é um operacional da CIA que vende dois mísseis Stinger a um iraniano em Teerão. As companhias petrolíferas Connex e Killen preparam uma fusão que está a ser bloqueada pelo governo. A Connex está a perder para os chineses os seus direitos de exploração no Médio Oriente, enquanto a Killen, presidida pelo agressivo Jimmy Pope (Chris Cooper), adquiriu os direitos de acesso ao petróleo do Kazaquistão. Dean Whiting (Christopher Plummer) é um advogado de Washington com claros interesses em que esta fusão se concretize, e encarrega o jovem advogado Bennett Holiday (Jeffrey Wright) de descobrir e eliminar qualquer problema que possa servir de argumento ao governo para a impedir. Os chineses compram um poço de petróleo no Golfo Pérsico, despedindo parte dos seus trabalhadores, entre os quais os paquistaneses Wasim Khan (Mazhar Munir) e o seu pai. A única forma de arranjar trabalho é aprendendo árabe, por isso Arash inscreve-se com o amigo Farooq (Sonell Dadral) numa escola árabe, onde lhe ensinam também a fé muçulmana. Em Genebra, o analista financeiro Bryan Woodman (Matt Damon) torna-se consultor de um príncipe reformista (Alexander Siddig), pretenso herdeiro do trono de uma nação árabe.

ALIGN=JUSTIFY>Tudo isto em duas horas de filme!

ALIGN=JUSTIFY>Escrito e realizado por Stephen Gaghan, vencedor do Oscar pelo argumento de “Traffic” (2000), “Syriana” é um filme de ficção, mas parece real. A câmara move-se em ambiente quase documental, a imagem pouco tratada e os movimentos bruscos aproximam-nos daquele mundo. E o ideal, em termos de tempo, teria sido de facto meter tanta história e tantas personagens fantásticas num formato mais alargado. Cada segundo do filme é necessário, e o ritmo não abranda até ao final, mas ficamos também sem tempo para respirar ou digerir toda a informação que estamos a receber. Sem condescendência para o espectador, Gaghan não faz nenhuma explicação do que sucede, confiando que nós, ao longo do filme, iremos perceber a intricada rede em que se movem todas aquelas personagens. Mas um espectador mais preguiçoso terá de fazer um enorme esforço para ir ligando as diferentes histórias de “Syriana”, que, à semelhança de “Traffic”, acabam por coincidir num sentido final.

ALIGN=JUSTIFY>Mas quem consiga desenredar o novelo terá um entendimento mais profundo das complexidades que rodeiam a corrida pelo petróleo. Onde a extrema dependência americana do petróleo do Médio Oriente não só justifica todo o tipo de acções, como também condiciona a sua política externa. Com efeito, Syriana é um termo usado em Washington para descrever um Médio Oriente reformulado e reestruturado segundo a ideologia ocidental.

ALIGN=JUSTIFY>Com base no livro “See No Evil” de Robert Baer, um ex-operacional da CIA, Gaghan faz uma profunda reflexão sobre a nossa assustadora realidade. E a maior verdade deste filme é não oferecer soluções, pelo menos enquanto os poderes instituídos se mantiverem nos seus confortáveis e super-protegidos assentos. A mesma ambiguidade estende-se às personagens. Gaghan não as julga, porque cada uma delas está a ser impelida por forças superiores a elas mesmas, seguindo o seu instinto de sobrevivência.

ALIGN=JUSTIFY>Aliado a um bom argumento, estão grandes interpretações. George Clooney está muito bem (apesar - ou devido? - aos quilos a mais), e, se depois de “O Brother, Where Art Thou?” (2000) eu já desconfiava que ele era um actor, agora tive a confirmação. Mas é complicado neste tipo de filme atribuir-lhe tão claramente o papel principal. Confesso o meu apreço especial pelo sinuoso Jeffrey Wright, mas não posso deixar de mencionar um sinistro Christopher Plummer e Alexander Siddig como o Príncipe Nasir Al-Subaai.

ALIGN=JUSTIFY> Infelizmente, nada do que vemos no ecrã é verdadeiramente chocante ou surpreendente, apenas triste. Este é um filme sobre a impotência: impotência para combater as grandes empresas, impotência para reformar as rígidas monarquias do Médio Oriente, impotência para acreditar que os EUA almighty olhem alguma vez para lá do seu umbigo.

ALIGN=JUSTIFY> “Syriana” é um filme de ficção mais duro e poderoso pela falta dela.


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>NOTA PESSOAL:
Quando, depois deste filme, chego a casa e vejo a Secretária de Estado dos EUA dizer barbaridades com um sorriso cínico na cara e sei de um relatório da ONU recomendando o encerramento da prisão de Guantanamo e que os americanos insistem estar feito com parcialidade, bem... o meu estômago revolve-se em ácidos e a minha crença de que algum dia o mundo irá encontrar o seu caminho fica um pouco mais ténue.



WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Corruption charges. Corruption? Corruption ain't nothing more than government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That's Milton Friedman. He's got a god-damn Nobel Prize. We have laws against is precisely so we can get away with it. Corruption is our protection! Corruption is what keeps us safe and warm. Corruption is why you and I are here in the white-hot center of things instead of fighting each other for scraps of meat out there in the streets. Corruption is how we win.”
TIM BLAKE NELSON (Danny Dalton)


ALIGN=JUSTIFY> “You want to know what the business world thinks of you? We think a hundred years ago you were living out here in tents in the desert chopping each others heads off, and that's exactly where you're gonna be in another hundred. So yes, on behalf of my firm, I accept your money.”
MATT DAMON (Bryan Woodman)


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Not guilty until being investigated.”
CHRISTOPHER PLUMMER (Dean Whiting)













4 Heróis Independentes no IndieLisboa

16.02.06, Rita

A 3ª edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, que terá lugar de 20 a 30 de Abril, irá homenagear quatro realizadores, no âmbito da secção Herói Independente: Michael Glawogger, Jay Rosenblatt, Nobuhiro Suwa e Edgar Pêra.

Este ano, além das salas do Fórum Lisboa e Cinemas King, também as duas salas do Cinema Londres estarão disponíveis, o que permitirá a exibição de cerca de 24 sessões diárias.






«Glawogger, aclamado realizador austríaco, é autor de extraordinários documentários, tais como o assombroso “Megacities” (já exibido em Portugal, com bastante êxito, num ciclo organizado pela Zero em Comportamento, no Cine 222), ou o seu último épico, “Workingman’s Death”, um objecto provocador que denuncia o trabalho que se faz em todo o mundo sob condições extremas. Poético e sensível, Michael Glawogger destaca-se pelo seu estilo único. “Slumming”, a mais recente longa de ficção do cineasta, vai ser exibida em antestreia mundial na secção competitiva da próxima edição do Festival de Berlim.






«Inteligente, clarividente, analítica, lírica e surreal. Estas são algumas das principais características da obra notável de Jay Rosenblatt, na sua maioria constituída por curtas-metragens experimentais a preto e branco, compostas a partir de filmes retirados de arquivos históricos, found footage e filmes educacionais do pós-Segunda Guerra Mundial, e que são colecções de reflexões perturbantes sobre a sociedade e as suas políticas. O IndieLisboa distinguiu o seu “Phantom Limb” no ano passado com o prémio Onda Curta.






«Já o realizador japonês Nobuhiro Suwa é o herdeiro oriental do cinema europeu. Se “H Story” parte da memória de “Hiroshima, Mon Amour” de Alain Resnais, o seu quarto e mais recente filme, “Un Couple Parfait”, evoca Antonioni, neste retrato de uma relação moribunda, com as devastadoras interpretações de Valeria Bruni-Tedeschi e Bruno Todeschini. Os filmes de Suwa nunca tiveram estreia comercial em Portugal, e esta será uma oportunidade única para o público português conhecer o seu belíssimo trabalho.






«Por fim, Edgar Pêra, o primeiro Herói Independente português a que o IndieLisboa presta homenagem. Com uma obra multi-facetada, experimental, descomprometida e inclassificável, Pêra trilhou um caminho caracterizado por uma profunda independência. Até hoje, num percurso que conta com um sem número de obras realizadas nos mais diversos formatos e suportes, apenas “A Janela - Maryalva Mix” contou com financiamento público. O realizador está a acabar o seu mais recente filme que o IndieLisboa apresentará em antestreia, num programa que irá passar em revista a sua obra.


«Além destes 4 programas de homenagem, o IndieLisboa, em colaboração com o Instituto do Cinema Sueco, vai organizar uma retrospectiva de 110 anos de curtas-metragens suecas, onde serão mostrados trabalhos de Ingmar Bergman, Jan Troell, Roy Andersson e Lukas Moodyson, entre outros.»


in www.indielisboa.com




Brokeback Mountain ****

15.02.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ang Lee. Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway, Randy Quaid. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1152313/photo_15.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Este filme é uma experiência emocional e, como todas elas, dolorosa. A polémica em redor da temática homossexual é, a meu ver, completamente secundária e só serve para distrair do verdadeiro tema de “Brokeback Mountain”: de como o amor pode ser simultaneamente belo e destruidor.

ALIGN=JUSTIFY>Wyoming, EUA. Verão de 1963. Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) são contratados pelo rancheiro Joe Aguirre (Randy Quaid) para guardarem a suas ovelhas na Brokeback Mountain. O extrovertido Jack fica designado para dormir com os animas no alto da montanha, enquanto o pacato e taciturno Ennis (ajudado por um forte sotaque) fica encarregue do acampamento no vale. Durante estas semanas de isolamento a camaradagem cresce entre ambos. Até uma noite fria, regada com whisky, onde a partilha da tenda acorda uma atracção que já se insinuava.

ALIGN=JUSTIFY>Este encontro é marcado pela agressividade, que deriva sobretudo da negação do desejo e do sentimento. E Ang Lee filma tudo isto de uma forma tão honesta e real que somos levados de imediato para a espiral de inquietude de ambas as personagens.
ALIGN=JUSTIFY>No final desse Verão, a separação conduz Ennis para os braços da sua noiva Alma (Michelle Williams) e Jack de volta aos rodeios, para mais tarde também ele casar com Lureen Newsome (Anne Hathaway). A experiência dos sentimentos daquele Verão abala por completo a sua identidade, da negação à confrontação, e, anos mais tarde, o reencontro irá conduzi-los a uma vida dupla. Apenas Jack conseguirá de alguma forma aceitar este amor. Para Ennis esta será uma penosa luta. O segredo que partilham tem capacidade para destruir as suas vidas, as suas famílias e finalmente eles próprios.

ALIGN=JUSTIFY>Uma bem escrita adaptação do conto de Annie Proulx por Larry McMurtry e Diana Ossana, numa abordagem profunda, realizada com grande sensibilidade, e muito bem interpretada por dois grandes jovens actores, que capturam na perfeição as hesitações e estranhezas da sua situação, ainda que Heath Ledger seja quem de facto se destaca. As secundárias Michelle Williams e Anne Hathaway também não ficam atrás e, especialmente a primeira, tem momentos verdadeiramente intensos.

ALIGN=JUSTIFY>Tanto Ennis como Jack parecem deslocados dentro da sua própria pele, sofridos, e cheios de incertezas, em que o fatalismo de um contrasta grandemente com o optimismo e persistência do outro. Mas essas barreiras pessoais, tal como as externas, em vez de enfraquecerem o sentimento fortalecem-no. Mas, inevitavelmente, a insatisfação acaba por se acumular de uma forma dolorosa. Porque apesar dos breves momentos que passam juntos nenhum dos dois é verdadeiramente feliz. Simplesmente porque o amor em pequenas doses acaba por se tornar isso mesmo: pequeno.

ALIGN=JUSTIFY>Ang Lee filma com a calma necessária para que a história e as personagens se desenvolvam de uma forma credível. Sem chocar, não abdica nunca da veracidade e mostra o que tem de mostrar. Ang Lee não faz concessões, e não sufoca as suas personagens em camadas de insinuações. A vestir o filme está a música de Gustavo Santaoalla, e a dar-lhe forma a elegante fotografia de Rodrigo Prieto, especialmente nos exteriores.

ALIGN=JUSTIFY>A grande falha de “Brokeback Mountain” é a gestão de tempo. As elipses temporais pouco claras tornam complicado seguir o passar do tempo, sem ter de ser preciso olhar para as filhas de Ennis e ver que idade têm ou para os pêlos grisalhos nas patilhas de Jack. E “Brokeback Mountain” deveria ter terminado com o fechar do ciclo na própria Brokeback Mountain, uma cena antes do final.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar disso, Ang Lee consegue aqui um filme comovente e trágico sobre a angústia de um amor que fica por viver. Um filme onde todos fogem ao confronto, com a verdade, com os sentimentos, com a infidelidade, com a sexualidade. Lee entende a importância do silêncio entre os dois homens, e filma-os com contenção e intimidade. Um filme também corajoso, sobretudo por ser feito no e sobre os Estados Unidos, um país preso num fervor religioso, onde está na moda odiar e descriminar.

ALIGN=JUSTIFY>Um aviso para os que insistem em resistir a este filme, devido a qualquer rótulo que lhe tenham colocado: o prejuízo é vosso.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “It could be like this, just like this, always.”
JAKE GYLLENHAAL (Jack Twist)


ALIGN=JUSTIFY> “There ain't never enough time, never enough...”
JAKE GYLLENHAAL (Jack Twist)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Swear I didn't know we were gonna get into this again. Hell, yes I did, redlined it all the way, couldn't get here fast enough.”
JAKE GYLLENHAAL (Jack Twist)


ALIGN=JUSTIFY> “Tell you what. The truth is... sometimes I miss you so much I can hardly stand it.”
JAKE GYLLENHAAL (Jack Twist)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “I wish I knew how to quit you.”
JAKE GYLLENHAAL (Jack Twist)


ALIGN=JUSTIFY>“He was a friend of mine
He was a friend of mine
Every time I think about him now
Lord I just can't keep from cryin'
'Cause he was a friend of mine”
BOB DYLAN

















Pág. 1/2