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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Ferro 3 ****

28.11.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Bin-jip. Realização: Kim Ki-duk. Elenco: Jae Hee, Lee Seung-yeon, Kwon Hyuk-ho. Nacionalidade: Coreia do Sul / Japão, 2004.


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ALIGN=JUSTIFY>Bolas de golfe atiradas contra uma rede. Em pano de fundo uma estátua feminina. Assim começa o último filme de Kim Ki-duk, realizador do perturbante “O Bordel do Lago” (2000) e do belíssimo “Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera” (2003), e que, com “Ferro 3” obteve o prémio de melhor realizador na 61ª Mostra de Cinema de Veneza.

ALIGN=JUSTIFY>Tae-suk (Jae Hee) cola folhetos de restaurantes nas portas das casas. Mas esse não é o seu trabalho. Tae-suk volta mais tarde para ver se alguma delas tem ainda o papel na porta, se tiver, estará vazia, e ele terá onde passar a noite. Tae-suk arromba portas, mas não é um ladrão. Paga a generosidade ignorante dos seus hóspedes concertando aparelhos estragados e regando as plantas. Aproveita também para comer qualquer coisa, lavar roupa e ver um pouco de televisão.

ALIGN=JUSTIFY>Movendo-se como um fantasma, Tae-suk regista a sua existência através das fotografias que tira junto dos retratos dos donos em cada uma das casas. No meio da sua solidão descobriu uma forma diferente de se ligar ao mundo, protegendo-se das pessoas reais, tão diferentes das suas imagens.

ALIGN=JUSTIFY>Um dia, uma das casas não está vazia e Tae-suk cruza-se com Sun-hwa (Lee Seung-yeon), uma mulher agredida pelo marido (Kwon Hyuk-ho), um homem de negócios temperamental e com gosto pelo golfe. A Tae-suk não lhe restava mais que salvar Sun-hwa, por isso leva-a consigo por diversas casas de Seul e os dois juntos formam um barreira para o mundo exterior. A ligação instantânea e inexplicável entre ambos justifica a opção de Kim-duk pelo silêncio. Sem pretensões artísticas, ao excluir a troca de palavras entre os protagonistas, o filme enche-se de uma leveza que se preenche através dos corpos e das emoções. Agarrados a cada gesto e a cada olhar, entramos nas personagens e na sua relação de uma forma compulsiva.

ALIGN=JUSTIFY>Mas o destino tem outras coisas programadas para o casal, e quando Sun-hwa reproduz a cena inicial do filme, colocando-se, como a estátua do jardim, diante da bola de golfe de Tae-suk, tem início o fim do seu idílio. Do romance passa-se à tragédia, da vingança à redenção, do quotidiano à fantasia, do thriller ao misticismo.

ALIGN=JUSTIFY>Através do símbolo do taco de golfe do título, que se torna, por mais de uma vez, uma arma de prazer e de retaliação, mas também pela confrontação com a sensibilidade dos marginais, Ki-duk critica a hipocrisia da classe burguesa, ainda que a sua recusa em condenar o marido abusador venha testar a capacidade do espectador para o perdão.

ALIGN=JUSTIFY>Misturando imagens violentas com outras de perturbante beleza, “Ferro 3” está cheio de solidão, de medo, de desespero, de amor e de esperança. Ainda que pareça um sonho.



SRC=http://www.mymovies.it/filmclub/2004/09/049/locandina.jpg>









Proof ***

24.11.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: John Madden. Elenco: Gwineth Paltrow, Anthony Hopkins, Hope Davis, Jake Gyllenhaal. Nacionalidade: EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>“Proof” é a adaptação cinematográfica da premiada peça de David Auburn (vencedora do Pulitzer Prize de Drama e diversos Tony Award em 2001). O argumento, escrito por Auburn em parceria com Rebecca Miller (realizadora de “Personal Velocity” - 2002 e “The Ballad of Jack and Rose” - 2005), volta a juntar o realizador John Madden (“Shakespeare in Love”, 1998) com Gwineth Paltrow.

ALIGN=JUSTIFY>Paltrow é Catherine, agora com 27 anos e a um dia do seu aniversário, uma talentosa estudante de matemática que se viu obrigada a abandonar a faculdade para tomar conta do pai, Robert Llewellyn (Anthony Hopkins), um famoso matemático, que aos 21 anos tinha já feito descobertas marcantes, mas a quem foram diagnosticadas perturbações mentais, e cujos últimos anos foram vividos no meio de um intenso nevoeiro.

ALIGN=JUSTIFY>O drama central deste filme prende-se com o profundo medo de Catherine de ter herdado, juntamente com o talento do pai, a sua loucura. A esta família disfuncional vem juntar-se Claire (Hope Davis), irmã de Catherine, uma bem sucedida analista de câmbios em Nova Iorque, e que está decidida a levar Catherine para viver consigo.

ALIGN=JUSTIFY>O antagonismo que se estabelece entre as duas baseia-se em ressentimentos mútuos (de Claire pelo talento de Catherine; de Catherine por ter tido que lidar sozinha com o pai). A personalidade anti-social, depressiva e auto-comiseradora de Catherine contrapõe-se com a de Claire, decidida e autoritária, mas também com as suas excentricidades (como é o caso da sua obsessão por listas COLOR=#E90909>*
).

ALIGN=JUSTIFY>A quarta personagem deste drama é Hal (Jake Gyllenhaal), um estudante orientado por Robert que tem a esperança de encontrar, nas dezenas de cadernos que Robert escreveu, a base para uma tese que lhe dê entrada directa em qualquer universidade do país. Nas suas pesquisas, Hal descobre uma demonstração matemática - a prova -, a validação de uma teoria relacionada com números primos, que tanto pode ter sido escrita por Robert como por Catherine.

ALIGN=JUSTIFY>É neste momento que entram em jogo os verdadeiros dilemas de “Proof”: no amor, que parte precisa de provas, e que parte precisa de fé? Entre a verdade e a mentira, de qual deveremos proteger os seres que amamos? Até onde a necessidade e a exigência de provas contradiz o conceito de confiança e coloca uma barreira nas relações?

ALIGN=JUSTIFY>Paltrow tem aqui uma forte interpretação, cheia de nuances que vão desde a tocante ternura e uma profunda tristeza até à raiva agressiva. Hopkins continua um portento, entre a arrogância e a vulnerabilidade. E Davis (“American Splendor”, de Shari Springer Berman e Robert Pulcini, 2003), entre a condescendência, a preocupação, o ressentimento e culpa é o elemento necessário neste equilíbrio.

ALIGN=JUSTIFY>Madden consegue aqui uma combinação eficaz entre um filme profundo e, simultaneamente, leve na forma. A estrutura em flashbacks é essencial para revelar a complexidade das personagens, não prejudicando, no entanto, a fluidez da acção. Sem nunca reportar a uma encenação teatral, e aproveitando a força dos diálogos, Madden não cai no erro de abafar a narrativa principal com o sub-plot romântico. No entanto, a última parte do caminho vai perdendo progressivamente força, até chegarmos a um final que só com alguma fé satisfaz.

ALIGN=JUSTIFY>De salientar o momento mais cómico do filme (e há vários), que surge quando a banda de rock onde Hal é baterista, um grupo de “geeks” matemáticos, toca o seu “grande éxito”: “i”, uma música que consiste em 3 minutos de silêncio. Uma “private” rebuscada, visto i ser o número imaginário que equivale à raiz quadrada de -1.

ALIGN=JUSTIFY>“Proof” junta-se assim ao grupo dos filmes matemáticos, como “Good Will Hunting” (Gus Van Sant, 1997), “Pi” (Darren Aronofsky, 1998) e “A Beautiful Mind” (Ron Howard, 2001), que evidenciam o carácter sedutor, apaixonante e arriscado dos números.


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#E90909>*
SIZE=1> Se bem que a obsessão por listas é uma coisa completamente normal... Não é?! Espero...



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ALIGN=JUSTIFY>TAGLINE:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “The biggest risk in life is not taking one.”



ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Crazy people can't be aware that they are crazy, they can't even ask whether they are crazy, because they are so immersed in the minutiae that delimits their craziness - their obsessions with daily details, paranoid fantasies, or the architecture of their subjective, fabricated worlds.”
ANTHONY HOPKINS (Robert)


ALIGN=JUSTIFY> “Hal - You read a lot of maths.
Catherine - I read Cosmo. It is just a window dressing.”
GWINETH PALTROW (Catherine) e JAKE GYLLENHAAL (Hal)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Catherine - It doesn't fit me.
Hal - It fits perfectly.
Catherine - You can't prove it.
Hal - I can disprove the opposite.”
GWINETH PALTROW (Catherine) e JAKE GYLLENHAAL (Hal)













The Constant Gardener ****

18.11.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Fernando Meirelles. Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Koundé, Danny Huston, Bill Nighy, Pete Postlethwaite, Archie Panjabi. Nacionalidade: Reino Unido, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Da favela brasileira para a africana, da Cidade de Deus (Rio de Janeiro) para Kibera (Nairobi), da “Cidade de Deus” (2002) para “The Constant Gardener”, Fernando Meirelles mantém a sua preocupação social, e tem aqui a sua vingança pessoal pela forma como os Estados Unidos estão a tentar impedir a produção brasileira de medicamentos genéricos.

ALIGN=JUSTIFY>Baseado no livro homónimo de John le Carré, “The Constant Gardener” é um thriller político, uma história de amor e uma denúncia às abusivas técnicas de experimentação das corporações farmacêuticas em África.

ALIGN=JUSTIFY>Justin Quayle (Ralph Fiennes) é um fechado e charmoso diplomata inglês sediado em África. É também ele o jardineiro do título, como referência ao seu hobby. A sua mulher, Tessa (Rachel Weisz) é o seu oposto, uma impetuosa, apaixonada e determinada activista social, pela qual qualquer um seria levado a apaixonar-se.

ALIGN=JUSTIFY>Inabalável na sua missão de desvendar os métodos pouco éticos de investigação farmacêutica praticados à custa dos desvalidos cidadãos quenianos, Tessa acaba por se tornar num alvo a abater para qualquer empresa farmacêutica com segredos para proteger.

ALIGN=JUSTIFY>Paralelamente a esta intriga, Meirelles leva-nos ao romance de ambos, à intensidade que servirá de força motivadora para que Justin possa completar o trabalho de Tessa, entrando mesmo em conflito com alguns dos seus colegas do Alto Comissariado Britânico, incluindo o seu amigo Sandy Woodrow (Danny Huston) e o obscuro Sir Bernard Pellegrin (Bill Nighy).

ALIGN=JUSTIFY>O par romântico surpreende, mas convence. A doçura de Fiennes e a força de Weisz complementam-se. Fiennes está exemplar como um Justin hesitante e desapontado pela sua própria incapacidade de agir, angustiado por ter de competir com todas as paixões que movem a sua mulher; e Weisz é uma presença luminosa, mesmo grávida de 9 meses e transpirada (ainda que dada a forma como lida com o mundo, seja pouco credível que a sua personagem de Weisz tenha apenas 24 anos).

ALIGN=JUSTIFY>Meirelles manipula como ninguém a estrutura não linear, mantendo a sensação de ameaça ao longo de todo o filme e deixando o espectador saber apenas o mesmo que o protagonista.

ALIGN=JUSTIFY>Com igual deslumbre Meirelles mostra-nos paisagens avassaladoras, momentos íntimos, e agrupamentos de gente. Sem véus de camuflagem, com o suor e as duras cores da realidade, mostra-nos os horrores da pobreza, de quem só têm direito a medicamentos para se tratarem se aceitarem servir de cobaias para medicamentos ainda em estudo. Do outro lado, é a ganância, a sede do lucro e o desejo secreto de que uma epidemia aumente o capital dos accionistas.

ALIGN=JUSTIFY>As ruas africanas cheias de vida, estão também cheias de morte.

ALIGN=JUSTIFY>E porque nem todo o mundo ocidental é indiferente aos problemas dos países mais pobres, aqui ficam 2 links:
MAKE POVERTY HISTORY
OXFAM


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “It's like it's a marriage of convenience and all it produces are dead offspring.”
RACHEL WEISZ (Tessa Quayle)


ALIGN=JUSTIFY> “Big pharmaceuticals are right up there with the arms dealers.”
PETE POSTLETHWAITE (Lorbeer)












Elizabethtown ****

16.11.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Cameron Crowe. Elenco: Orlando Bloom, Kirsten Dunst, Susan Sarandon, Alec Baldwin, Bruce McGill, Judy Greer, Jessica Biel, Paul Schneider, Loudon Wainwright. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1152150/photo_28.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Drew Baylor (Orlando Bloom) é executivo de uma grande empresa de calçado desportivo, e é responsável pelo maior lançamento de sempre de um produto deste tipo. Mas o mercado é cruel e Drew torna-se também responsável por um fiasco que custará à empresa mil milhões de dólares. O rótulo de falhado ser-lhe-á colado em praça pública dentro de poucos dias. De carreira arruinada e largado pela namorada, a vida de Drew não podia estar pior. Mas uma chamada telefónica leva-o ainda mais fundo. Quando visitava uns familiares no Kentucky, o pai de Drew morreu, e a sua mãe (Susan Sarandon) precisa que Drew, o filho responsável, leve o fato azul do pai e o traga de volta.

ALIGN=JUSTIFY>Elizabethtown, Kentucky. Uma viagem, um despertar para as coisas realmente importantes. Um filme emocionante sobre a perda, a vida, o amor.

ALIGN=JUSTIFY>À semelhança de “Garden State” de Zach Braff (2004), “Elizabethtown” encaixa-se na categoria “o rapaz que volta a casa” e, da mesma forma que “Almost Famous” (2000), também de Crowe, é declaradamente autobiográfico, fazendo-nos, por um lado, acreditar que a vida de Crowe é realmente cinematográfica e, por outro lado, desejar que lhe continuem a acontecer coisas interessantes. Susan Sarandon junta-se, pois, a Frances McDormand no clube de actrizes que representaram o papel de mãe de Crowe.

ALIGN=JUSTIFY>Em torno da morte do pai de Drew, Crowe constrói um filme sobre as coisas simples, com subtileza e realismo. Drew imerge no seio desta família que o ama sem o conhecer, por apenas ser um deles. E sente-se seguro. Do outro lado, está uma história de amor, uma parte essencial do caminho que Drew tem de fazer, dividindo o seu tempo entre a família e Claire (Kirsten Dunst), uma hospedeira enérgica e impulsiva que ele conheceu no avião. Graças a estas pessoas Drew conseguirá estabelecer uma ligação com o pai (uma presença observadora ao longo de todo o filme), como nunca o tinha conseguido enquanto ele estava vivo. Mas o maior reencontro é feito consigo mesmo.

ALIGN=JUSTIFY>Orlando Bloom vai além de todas expectativas (e não me refiro apenas ao sotaque americano) e está perfeito como Drew Baylor. Apesar de não falar muito, excepto através na narração, Crowe usa as suas feições expressivas para mostrar um homem que se move no mundo de outros personagens mais dinâmicos, reagindo a eles e evoluindo através deles. Kirsten Dunst tem aqui uma representação cativante, transformando-se quase no guia espiritual de Drew, oferecendo-lhe a maior das dádivas: tempo e espaço para ele crescer.

ALIGN=JUSTIFY>Este é o tipo de filme que nos deixa a pensar no nosso futuro, no que queremos da vida e do que estamos dispostos a arriscar para o conseguir.

ALIGN=JUSTIFY>No final, Cameron oferece-nos um postal ilustrado do que pode ser uma viagem de carro pelo sul dos Estados Unidos. Só fica a faltar um Chevrolet antigo, e, no auto-rádio, a fantástica banda sonora de “Elizabethtown”.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Drew, it was real, and it was great, and it was really great.”
JESSICA BIEL (Ellen Kishmore)


ALIGN=JUSTIFY> “You know the way people look at you as if it's the last time? I've started collecting these looks.”
ORLANDO BLOOM (Drew Baylor)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “I don't know a lot about everything, but I do know a lot about the part of everything that I know, which is people.”
KIRSTEN DUNST (Claire Colburn)


ALIGN=JUSTIFY> “I'm impossible to forget, but I'm hard to remember.”
KIRSTEN DUNST (Claire Colburn)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “All forward motion counts.”
SUSAN SARANDON (Hollie Baylor)


ALIGN=JUSTIFY> “It takes time to be funny. It takes time to extract joy from life.”
SUSAN SARANDON (Hollie Baylor)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “I'm going to miss your lips. And everything attached to them.”
KIRSTEN DUNST (Claire Colburn)


ALIGN=JUSTIFY> “I want you to get into the deep beautiful melancholy of everything that's happened.”
KIRSTEN DUNST (Claire Colburn)













In Her Shoes **

14.11.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Curtis Hanson. Elenco: Cameron Diaz, Toni Collette, Mark Feuerstein, Shirley MacLaine, Richard Burgi, Brooke Smith, Candice Azzara, Alan Blumenfeld, Marcia Jean Kurtz. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/twentieth_century_fox/in_her_shoes/_group_photos/cameron_diaz5.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Quem se lembra de “LA Confidential” terá dificuldades em acreditar que Curtis Hanson se tenha sentido inspirado pelo livro de Jennifer Weiner para fazer uma “female-bonding story”, à qual se juntaram os produtores e irmãos Ridley e Tony Scott.

ALIGN=JUSTIFY>A acção gira em torno de duas irmãs, que cresceram sem a sua mãe: Maggie (Cameron Diaz), que não pára num emprego, iletrada e disléxica, emocionalmente imatura, mas com sentido estético, e que vai pelo mundo alardeando a sua boa aparência e a sua sexualidade; e Rose (Tony Collette), a responsável, advogada de sucesso em Filadélfia, workaholic, mas com baixa auto-estima. A única coisa que têm em comum é o número que calçam.

ALIGN=JUSTIFY>Dado o seu comportamento repetitivamente errante, a madrasta de ambas expulsa Maggie de casa do pai e Rose, assumindo mais uma vez o papel materno, vê-se obrigada a receber a irmã. Mas tomar conta de Maggie é uma verdadeira batalha, especialmente quando se tem uma vida própria para viver. Num crescendo de desespero, Rose expulsa Maggie, que acaba por ir procurar ajuda junto da avó recém-descoberta (Shirley McLaine), que vive numa comunidade de reformados na Flórida. Enquanto Maggie vai lutar por colocar a sua vida nos eixos, Rose lutará por descobrir o que quer realmente da vida. O desfecho não surpreende: a reaproximação das irmãs é inevitável.

ALIGN=JUSTIFY>Mas para quem defenda que todas as histórias em cinema já foram contadas e o que importa é a forma, temos os pontos altos de leitura de poemas de Elizabeth Bishop e E.E.Cummings, que, ainda assim, não atribuem seriedade suficiente à leveza com que os problemas emocionais são tratados. Em vez do longo caminho de construção de uma amizade, somos levados por uma montanha russa de emoções, com todos os desgostos e sentimentalismos possíveis, com o único propósito de puxar pela lágrima.

ALIGN=JUSTIFY>As lições de vida que as personagens vão tendo, com situações que se precipitam em cada cena, implicariam, na realidade, anos de terapia e uns quantos casamentos falhados. Já para não falar da inverosimilhança de que Diaz e Collette pudessem alguma vez ser irmãs. Um casting que prejudica a história e que prejudica, sobretudo, Cameron Diaz. Apesar de estar a ser apontada como uma das suas melhores representações, teve a infelicidade de ser emparelhada com uma actriz infinitamente melhor que ela, Toni Collette (“Muriel’s Wedding” de P.J.Hogan – 1994, “The Sixth Sense” de M.Night Shyamalan – 1999, “Japanese Story” de Sue Brooks – 2003), que carrega a carga dramática do filme. Mas soube bem rever MacLaine, trazendo-nos à lembrança o “Terms of Endearment” (James L.Brooks, 1983).

ALIGN=JUSTIFY>Destes 130 minutos retiram-se dois poemas de indiscutível beleza, e duas personagens pouco empáticas, uma preocupada com futilidades e a outra com uma noção antiga de amor. Soa a estereótipos? Pois, é isso mesmo. Já vimos estas personagens vezes sem conta, e esta não será certamente a última vez.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:
COLOR=#E90909>ONE ART
SIZE=1>Elizabeth Bishop

COLOR=#AAAAAA>

art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something everyday. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these things will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.


COLOR=#E90909>I CARRY YOUR HEART WITH ME
SIZE=1>E.E.Cummings

=#AAAAAA>

I carry your heart with me (I carry it in my heart)
I am never without it (anywhere I go you go, my dear;
and whatever is done by only me is your doing, my darling)
I fear no fate (for you are my fate, my sweet)
I want no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

I carry your heart (I carry it in my heart)


















































El Método ***

04.11.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Marcelo Piñeyro. Elenco: Eduardo Noriega, Najwa Nimri, Eduard Fernández, Pablo Echarri, Ernesto Alterio, Carmelo Gómez, Adriana Ozores, Natalia Verbeke. Nacionalidade: Espanha / Argentina / Itália, 2005.


SRC=http://comohacercine.com/galeria/galeria/el_metodo_f09.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Sete candidatos a um importante lugar numa empresa multinacional, fechados nos escritórios de um arranha-céus madrileno, enfrentam diversos testes que irão determinar qual o mais apto. O processo decorrerá segundo o Método Gronholm, uma herança americana, como não podia deixar de ser. Enquanto isso, na mesma rua de Madrid, desenrola-se uma manifestação anti-globalização diante do local de uma cimeira entre os países mais ricos do mundo.

ALIGN=JUSTIFY>A tensão das ruas transporta-se para a sala, quando os candidatos são informados de que entre eles há um espião da empresa, que irá observar os seus comportamentos e avaliá-los. Submetidos a um conjunto de provas cada vez mais surreais, serão os próprios candidatos, através dos seus comportamentos e escolhas, que irão determinando quem fica e quem é eliminado nesta corrida. Tacteando e medindo os outros, cuidadosos com os seus próprios passos, mas vorazes, são o espectáculo de circo romano perfeito para uma empresa que os observa sem se mostrar.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento deste filme, de Marcelo Piñeyro (“Kamchatka”, 2002) e Mateo Gil, sócio de Amenábar em “Tesis” (1986), “Abre los Ojos” (1997) e “Mar Adentro” (2004), faz uma adaptação livre da peça teatral “El Método Gronholm”, de Jordi Galcerán, que esteve em cena entre nós com Marco Delgado, Maria João Bastos, António Pedro Cerdeira e José Boavida. A primeira diferença entre as duas abordagens reside no número de personagem, ampliado aqui para sete, como se dos sete pecados mortais se tratassem.

ALIGN=JUSTIFY> “El Método” apoia-se essencialmente nos diálogos e conflitos, mais e menos tácitos, que se estabelecem entre as personagens. A acção consiste em pouco mais do que um café ocasional e um ir à janela para esticar as pernas. Apesar disso, tem bom ritmo, fluidez e dose dramática. O reduzido espaço de acção ajuda a transmitir o ambiente claustrofóbico e inquietante a que os candidatos estão sujeitos, submissos perante a dureza da máquina empresarial.

ALIGN=JUSTIFY>Enquanto, do lado de fora, os manifestantes lutam pelos seus direitos e liberdades, estes candidatos são submetidos a provas que os tornam vítimas das suas próprias dúvidas, inseguranças, misérias e frustrações, com a única opção de, se recusarem fazer as provas, serem eliminados do processo.

ALIGN=JUSTIFY>Ao alargar o leque de personagens permite-se, por um lado, aumentar o número de suspeitos, para que o jogo da dinâmica de grupo dure o tempo do filme. Infelizmente, isso atenua a densidade das personagens, quando inevitavelmente comparadas com as da peça. Ainda assim, consegue-se o belíssimo momento em que uma simples frase descreve toda uma personagem: quando Fernando (Eduard Fernández) vai tomar o pequeno-almoço ao seu sítio habitual, recusa um conhaque ao empregado com um “no, hoy no”.

ALIGN=JUSTIFY>O elenco cumpre, apesar de algumas prestações mais fracas, nomeadamente de Eduardo Noriega (“Abre los Ojos” de Alejandro Amenábar, 1997 e “El Espinazo del Diablo” de Guillermo del Toro, 2001), Najwa Nimri (“Agents Secrets” de Frédéric Schoendoerffer, 2004 e “20 Centímetros” de Ramón Salazar, 2005), e Natalia Verbeke ( “El Hijo de la Novia” de Juan José Campanella, 2001 e “El Otro Lado de la Cama” de Emilio Martínez Lázaro, 2002). Um especial destaque vai para Eduard Fernández (“Fausto 5.0” de Álex Ollé, Isidro Ortiz e Carlos Padrisa, 2001) no papel de macho latino, para Ernesto Alterio (“El Otro Lado de la Cama” de Emilio Martínez Lázaro, 2002) como o inseguro, e para o promissor argentino Pablo Echarri como o pouco participativo. Mas Piñeyro comete o erro de dar mais protagonismo exactamente aos intérpretes mais fracos, e fica-se com pena de não ver mais Carmelo Gómez (“Entre las Piernas” de Manuel Gómez Pereira, 1999) e Adriana Ozores (“Héctor” de Gracia Querejeta, 2004). Piñeyro peca também por algumas cenas totalmente dispensáveis, quer para a intriga quer para a tensão.

ALIGN=JUSTIFY>Menos subtil que o texto de teatro na mensagem que transmite, “El Método” tem um final também distinto do da peça, ao qual fica a faltar o murro no estômago. Pedia-se um desfecho mais forte, mais cru e mais miserável.

ALIGN=JUSTIFY>No mercado compram-se escrúpulos e vendem-se integridades morais a preços de saldos. A empatia, a compaixão e os sentimentos são postos de lado, por objectivos MAIORES. É a sociedade devorando os seus eleitos. Quem já tenha participado em processos de selecção encontrará aqui exemplos bem perto da realidade. Por isso a força das conclusões a que chegamos quando pensamos na capacidade do ser humano para ser predador dele mesmo sejam tão assustadoras.

ALIGN=JUSTIFY>Já dizia Sean Connery em “Highlander” (1986): “In the end there can be only one.”


ALIGN=JUSTIFY>P.S. – Para os apreciadores dos anúncios da EVAX e que ainda estão ansiosos por saber o que tem ela tem na mala SIZE=1>(cliquem na foto)
:


SRC=http://comohacercine.com/galeria/galeria/el_metodo_f06.jpg>