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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

She Hate Me **

30.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Spike Lee. Elenco: Anthony Mackie, Kerry Washington, Dania Ramirez, Ellen Barkin, Woody Harrelson, Monica Bellucci, John Turturro, Jim Brown, Ossie Davis, Jamel Debbouze, Brian Dennehy, Ling Bai, Lonette McKee, Paula Jai Parker, Q-Tip. Nacionalidade: EUA, 2004.


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ALIGN=JUSTIFY>No final do genérico feito à base de dólares esvoaçantes de “She Hate Me”, surge uma nota de 3 dólares com a cara de George W. Bush e um selo da Enron. Lee lança assim o mote da fraude financeira, deixando-nos a pensar quem será “She”.

ALIGN=JUSTIFY>Jack (Anthony Mackie) é vice-presidente da empresa Progeia, uma empresa farmacêutica que está prestes a lançar no mercado uma vacina contra a SIDA. O suicídio de um colega leva-o a descobrir a fraude financeira que decorre na empresa. A sua ética leva-o a denunciá-la. As represálias levam ao seu despedimento, à sua utilização como bode expiatório, ao congelamento da sua conta bancária e da sua vida profissional na cidade de Nova Iorque.

ALIGN=JUSTIFY>A par desta tragédia surge a inacreditável situação da ex-namorada de Jack, Fatima (Kerry Washington), que aparece com a sua namorada Alex (Dania Ramirez), propondo em conjunto a Jack que ele as engravide para que elas possam partilhar, simultaneamente, o prazer da maternidade. Pela bonita soma de 10.000 dólares por cabeça, e abdicando de quaisquer obrigações paternais, Jack inicia uma carreira como fecundador de lésbicas.

ALIGN=JUSTIFY>Das duas histórias de “She Hate Me” só a primeira se aproveita. Lee critica (ou pelo menos sugere uma crítica) as hipocrisias da cultura empresarial, a ausência de moral na religião do dinheiro e a sede de sangue da indústria de entretenimento.

ALIGN=JUSTIFY>Mas Lee preferiu negligenciar isso a favor da livre iniciativa de Jack no campo pessoal, e da sua contabilidade no grande mercado das lésbicas. Melhor dizendo, da sua fantasia masculina de colocar um homem no meio de lésbicas, que estranhamente têm um imenso prazer em estar com um homem (Lee confunde – propositadamente??? – homossexualidade com bissexualidade), fazendo sexo sem protecção (só a ele são exigidos testes de saúde, a elas não!), e não tendo que assumir quaisquer responsabilidades por isso.

ALIGN=JUSTIFY>O eventual propósito de Lee em abordar diferentes formas de amor e estrutura familiar é completamente frustrado por todos os estereótipos relativamente à homossexualidade feminina. Saberá ele que o método de reprodução preferido das lésbicas é a inseminação artificial? Mas quem quer ver isso em cinema?

ALIGN=JUSTIFY>Lee tenta redimir Jack, transformando-o de um garanhão reprodutor numa pessoa sensível e preocupada com os que o rodeiam, mas chega-nos tudo com a mesma falsidade com que os patrões de Jack negam quaisquer crimes.

ALIGN=JUSTIFY>Como pontos positivos estão as interpretações e o trabalho de fotografia de Matthew Libatique, utilizando diferentes cores para ilustrar os dois mundos onde Jack se move, o profissional, em tons frios e claros, e o pessoal, com tonalidades quentes e escuras.

ALIGN=JUSTIFY>Esperava-se muito mais de alguém que deveria compreender melhor os efeitos nocivos da propagação de estereótipos, e que se entregou de forma tão dedicada a erradicar os estereótipos dos afro-americanos. É triste que Lee não consiga estender essa dedicação à eliminação dos estereótipos de lésbicas também elas afro-americanas.

ALIGN=JUSTIFY>Felizmente, é tudo tão pouco credível que o mal causado não é grande. E já sabem, uma relação lésbica é bastante saudável desde que tenha um homem lá no meio!

ALIGN=JUSTIFY>Fiquei a pensar que talvez o “She” do “She Hate Me” pudesse ser a audiência... Spike Lee no seu pior.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “We are a family, and family protects its own.” ELLEN BARKIN (Margo Chadwick)









Dear Wendy ****

28.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Thomas Vinterberg. Elenco: Jamie Bell, Bill Pullman, Michael Angarano, Danso Gordon, Novella Nelson, Chris Owen, Alison Pill, Mark Webber. Nacionalidade: Dinamarca / França / Alemanha / Reino Unido, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Dick (Jamie Bell) é um rapaz tímido que vive numa pobre cidade mineira do sul dos Estados Unidos. Por não trabalhar na mina, Dick é um pária naquela sociedade. Até ao momento em que aparece uma pistola na sua vida, uma pistola pela qual ele se sente irremediavelmente atraído apesar dos seus ideias pacifistas. Stevie (Mark Webber), um outro “marginal” junta-se a Dick para fundar um clube secreto – Os Dandies – onde lhes é permitido usar armas, mas onde a regra essencial é nunca as sacar.

ALIGN=JUSTIFY>O clube alarga-se a Susan (Alison Pill), Huey (Chris Owen) e Freddy (Michael Angarano), bem como às “parceiras” de cada um, ou seja, as suas armas. A idolatria que se gera à volta das pistolas, cada uma com o seu nome próprio, contrasta com os ideais pacifistas partilhados por todos. Mas são as armas que aumentam a sua auto-estima e os fazem sentir seguros, não em relação ao exterior mas em relação a eles mesmos.

ALIGN=JUSTIFY>A inspiração do grupo vem de livros que estão na biblioteca do seu templo – uma mina abandonada –, livros como “The Picture of Dorian Gray” de Oscar Wilde (o dandy por excelência), “The Art of Strategy” de Sun Tze, “The Three Musketeers” de Alexandre Dumas e “The Prince” de Maquiavel.

ALIGN=JUSTIFY>The Dandies são jovens que procuram uma “família”, à semelhança de qualquer um. The Dandies são um grupo de pacifistas com armas, exactamente como a maioria da sociedade actual. A chegada de Sebastian (Danso Gordon), o neto da ama de Dick, um delinquente cuja atitude para com as armas é do menos Dandy possível, vem causar instabilidade dentro do grupo, pondo em causa a sua filosofia.

ALIGN=JUSTIFY>Thomas Vinterberg pegou no argumento do seu colega Lars Von Trier (certamente ainda imbuído do espírito do segundo filme da sua trilogia sobre os Estados Unidos – “Manderlay”, 2005), que volta a centrar a sua crítica na sociedade americana, desta feita na parte apologista do porte de armas.

ALIGN=JUSTIFY>O ambiente teatral do filme, com o cenário limitado a uma rua, e apresentando apontamentos que reportam a “Dogville” (Lars Von Trier, 2003), deixa transparecer a claustrofobia de uma pequena cidade, onde a necessidade de aceitação assume uma especial relevância. As interpretações, com destaque para Jamie Bell, protagonista do aclamado “Billy Elliot” (Stephen Daldry, 2000), são fortes e fluídas, aumentando a densidade e a complexidade moral de “Dear Wendy”.

ALIGN=JUSTIFY> A banda sonora, a cargo de The Zombies, um grupo pop britânico dos anos 60, com uma sonoridade bem mais interessante que os Beatles, são mais uma razão para ver este filme (isto é, se chegar às nossas salas). COLOR=#E90909> [ACTUALIZAÇÃO 28 Junho 2007: Pelos vistos, chegou!]



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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Lee is cold as ice
Grant is hot as hell
I think they are both real nice
And I hope it all ends well”
ALISON PILL (Susan)


ALIGN=JUSTIFY> “What is youth except a man or a woman before it is ready of fit to be seen?”
EVELYN VAUGHN

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “If you have not bonded with true emptiness You will never undersand the way to peace.”


ALIGN=JUSTIFY> “Consistency is the last refuge of the unimaginative.”
OSCAR WILDE

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “To hit your opponent is to hit yourself. To control agression without harming is the way to peace.”


ALIGN=JUSTIFY> “Loyalty and devotion lead to bravery. Bravery leads to spirit of self-sacrifice. Spirit of self-sacrifice creates the power of love.”

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “If you master the divine techniques that belong to the art of peace no enemy will dare challenge you.”











I Heart Huckabees ***

27.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: David O. Russell. Elenco: Jason Schwartzman, Isabelle Huppert, Dustin Hoffman, Lily Tomlin, Jude Law, Mark Wahlberg, Naomi Watts, Angela Grillo, Ger Duany. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2004.


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ALIGN=JUSTIFY>Albert (Schwartzman) é um ecologista perturbado com dúvidas existenciais. Convencido de que os encontros casuais com um porteiro sudanês contêm a chave do sentido da vida, Albert procura Bernard (Hoffman) e Vivian (Tomlin), um casal de detectives cujo trabalho é ajudar os clientes a resolver as suas questões metafísicas. Para isso, seguem-no e investigam os seus amigos e colegas e acabam por chegar à relação conflituosa de Albert com Brad Stand (Law), relações públicas da grande cadeia Huckabees. Brad acaba por contratar também os serviços de Bernard e Vivian. Juntamente com o “seu outro”, Tommy Corn (Wahlberg), um bombeiro que trava uma luta pessoal contra o petróleo, Albert começa a duvidar dos métodos dos detectives e deixa-se seduzir pela filosofia de Caterine Vauban (Huppert), niilista e totalmente oposta à holística de Bernard e Vivian.

ALIGN=JUSTIFY> “I Heart Huckabees” é um filme desconcertante, porque inclassificável. Um tratado filosófico sobre o sentido da vida. Mas ao mesmo tempo, uma farsa que ataca a cultura da terapia, a subjugação ao poder do petróleo e o dúbio mecenato empresarial. A procura da felicidade é universal, mas os meios para a atingir não deverão nunca deixar de ser questionados.

ALIGN=JUSTIFY>Um argumento um pouco na onda de Charlie Kauffman, mas consideravelmente aquém, “I Heart Huckabees” beneficia de um elenco de luxo, sem excepções. No entanto, não é a personagem de Albert aquela pela qual se cria mais empatia, mas a de Tommy, o que produz um certo desequilíbrio no filme. Visualmente forte, “I Heart Huckabees” não nos dá as respostas para as grandes perguntas da vida, mas, pelo menos, permite-nos rir durante uns bons momentos.

ALIGN=JUSTIFY>Aos fans aconselho que espreitem os anúncios da Naomi Watts na Huckabees.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Everything is the same, even if it's different.”
DUSTIN HOFFMAN (Bernard)


ALIGN=JUSTIFY> “Mr. Hooten – God gave us oil! He gave it to us! How can God's gift be bad?
Tommy Corn – I don't know. He gave you a brain too and you messed that up pretty damn good.”
RICHARD JENKINS (Mr Hooten) e MARK WAHLBERG (Tommy Corn)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “The universe is an infinite sphere whose center is everywhere and whose circumference is nowhere.”
DUSTIN HOFFMAN (Bernard)












Les Poupées Russes ***

25.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Cédric Klapisch. Elenco: Romain Duris, Kelly Reilly, Audrey Tautou, Cécile De France, Kevin Bishop, Evguenya Obraztsova, Irene Montalà, Gary Love, Lucy Gordon, Aïssa Maïga, Martine Demaret, Federico D'Anna, Barnaby Metschurat, Christian Pagh, Cristina Brondo. Nacionalidade: França / Reino Unido, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>Ao contrário da bi-logia de “Before Sunrise” e “Before Sunset” (Richard Linklater, 1995 e 2004), que fazia todo o sentido, esta sequela da “A Residência Espanhola” (2002) é desprovida de necessidade e, consequentemente, de impacto. A grande diferença parece residir no facto de Jesse e Celine terem crescido, e Xavier não.

ALIGN=JUSTIFY>Klapisch enamorou-se das personagens que criou em “A Residência Espanhola”, onde Xavier (Duris) viveu a experiência de fazer o programa Erasmus em Barcelona, e onde conheceu Wendy (Reilly), William (Bishop), Isabelle (De France), Alessandro (D'Anna), Tobias (Metschurat), Lars (Pagh) e Soledad (Brondo), mas marcou as suas preferências, relegando a maioria deles para a parte final, a título quase decorativo. Mas em vez de deixar Xavier amadurecer, empurrou-o para uma vida que só parece adulta à superfície.

ALIGN=JUSTIFY>A acção divide-se agora entre Paris, Londres e São Petersburgo, entre o trabalho de Xavier e o casamento de William. A insatisfação de Xavier com a sua vida profissional e amorosa é aqui tratada como se os 30 anos dele fossem ainda os 20 e poucos, tudo muito limpo, ligeiro e sem dramas. Sem marcadas diferenças com o comportamento imaturo de Xavier em “A Residência Espanhola”, Klapisch foca quase apenas as suas relações com as mulheres. As tais “bonecas russas”, que, umas dentro das outras, vão tendo a essência do que ele verdadeiramente procura.

ALIGN=JUSTIFY>Klapisch tem aqui uma história muito fraca, que ele potencia com detalhes de realização verdadeiramente bons e com um argumento ágil e fragmentado que lhe dá o ritmo pop. Duris e Reilly dão o toque necessário, mas não suficiente.

ALIGN=JUSTIFY>Tudo isto se poderia passar com quaisquer outras personagens, isto é, se fosse mesmo necessário contar esta história. Não era preciso manchar a nossa imaginação. Mas suponho que valia mais a pena capitalizar nas bilheteiras com o sucesso do filme anterior. “Les Poupées Russes” ‘canibaliza’ o seu antecessor, alimentando-se da sua energia e retirando-lhe força. Vazio por vazio, preferia o do desconhecido.






SOBRE PAULETA E O CINEMA FRANCÊS

21.09.05, Rita

Algures a meio do excelente De Tanto Bater o Meu Coração Parou (e desculpem o lugar comum mas que título, meus Deus, que título!) de Jacques Audiard, o nosso Pedro Pauleta faz uma discreta aparição. Não se tratará de um cameo no sentido mais literal do termo, de facto ele "aparece" no relato de um jogo de futebol que está a ser transmitido numa televisão (deduzo que se trate de um jogo qualquer do PSG, mas ele durante os momentos que está “em cena” não marca nenhum golo pelo que não é de maneira nenhuma de excluir que se trate de um jogo da selecção portuguesa) e não me parece que apareça creditado no genérico final. Mas ainda assim ele está lá.


E está lá no papel de Pauleta, uma das estrelas maiores do campeonato francês (foi durante algumas épocas o vencedor crónico do troféu de melhor marcador) e como tal uma espécie de VIP no panorama social francês (mesmo tendo consciência que em França o futebol não tem de maneira nenhuma o peso mediático que tem em Portugal). De qualquer maneira um papel bastante diferente daquele que costuma ser atribuído à personagem do português.


De facto a aparição de Pauleta naquele filme fez-me desde logo lembrar da que é para mim a mais memorável participação de uma personagem portuguesa no cinema estrangeiro. Trata-se do filme Nuits Fauves de Cyril Collard, e a personagem lusa é... a mulher-a-dias do personagem principal. A cena que me marcou refere-se ao momento em que ela entra em casa do protagonista e o apanha em pleno fornicanço no meio da sala. Segue-se um grande plano da cara da nossa compatriota (e o que posso dizer quanto a essa cara é que é a cara... de uma mulher-a-dias portuguesa) e a expressão quase gritada "Ai valha-me Nossa Senhora", com um ligeiro sotaque, talvez beirão (peço desculpa por algumas incorrecções que possam surgir nesta descrição mas já vi o filme há bastantes anos e a memória às vezes cria imagens próprias). Depois abandona a casa (e penso que também o filme).


Era esta portanto a imagem que eu guardava do português no cinema francês. A mulher-a-dias, religiosa e provinciana (curiosamente ainda nesta semana num episódio do Seinfeld surgia uma personagem portuguesa... no papel de criada de mesa, embora substituindo o sotaque beirão pelo brasileiro e o ar provinciano por um ar, digamos, mais fresco). Pergunto-me então se a "estreia" cinematográfica de Pedro Pauleta mudará essa minha percepção.


Mas acima de tudo pergunto-me até que ponto a participação de Pauleta neste filme, tanto mais que se insere na acção não como uma personagem de ficção mas como persona real, uma intromissão do real na ficção (ele surge num relato de um jogo de futebol que aconteceu de verdade, que esta lá para dar autenticidade à cena), não poderá ser um indicador de um novo posicionamento do emigrante português na sociedade francesa (e a verdade é que desde o filme de Cyril Collard já passaram mais de 10 anos e as mulheres-a-dias portuguesas já terão atingido a idade da reforma). Da mesma maneira que a mulher-a-dias de Collard, propositadamente portuguesa, era uma representação real (apesar de ser uma personagem ficcionada) do estereótipo do português em França no início dos anos 90, não poderá esta intromissão de Pedro Pauleta pelo cinema francês (mesmo que involuntária), ser vista como uma representação, ou mais concretamente como um símbolo, de uma nova imagem do emigrante português em França?


E será a sua participação neste filme uma indicação de que o cinema francês começa a espelhar essa nova realidade (e a verdade é que a comunidade portuguesa em França não tendo o potencial dramático de outras comunidades imigrantes depara-se com uma fraca representação na cinematografia francesa, o que torna a intromissão de Pauleta simbolicamente ainda mais forte), ou limitou-se o açoreano a estar no sítio certo no momento certo, como um verdadeiro ponta de lança?


Ou, em última análise, será que tudo isto não passa de um desvario meu, principalmente tendo em conta que a participação de Pauleta no filme de Jacques Audiard é de tal maneira ténue que passará despercebida à maior parte dos espectadores.


Quaisquer que sejam as respostas, aqui fica o apontamento, aguardando-se as cenas dos próximos capítulos. E se estes vierem em filmes tão bons quanto este De Tanto Bater o Meu Coração Parou (e nunca é demais repetir este título) tanto melhor.




por Sérgio


 

VENEZA 2005 - PALMARÉS

13.09.05, Rita


SELECÇÃO OFICIAL

LEÃO DE OURO
BROKEBACK MOUNTAIN de Ang Lee

GRANDE PRÉMIO DO JÚRI
MARY de Abel Ferrara

LEÃO DE PRATA para MELHOR REALIZADOR
Philippe Garrel por LES AMANTS REGULIERS

PRÉMIO VOLPI MELHOR ACTOR
David Strathairn em GOOD NIGHT AND GOOD LUCK de George Clooney PRÉMIO VOLPI MELHOR ACTRIZ
Giovanna Mezzogiorno em LA BESTIA NEL CUORE de Cristina Comencini

PRÉMIO ORSELLA por CONTRIBUTO TÉCNICO
William Lubtchansky pela fotografia de LES AMANTS REGULIERS de Phillip Garrel

PRÉMIO ORSELLA para MELHOR ARGUMENTO
George Clooney e Grant Heslov por GOOD NIGHT AND GOOD LUCK de George Clooney

LEÃO ESPECIAL CARREIRA
Isabelle Huppert

LEÃO DE OURO CARREIRA
Hayao Miyazaki

PRÉMIO MARCELO MASTROIANNI para MELHOR JOVEM ACTOR
Ménothy Cesar em VERS LE SUD de Laurent Cantet

LEÃO DO FUTURO – LUIGI DE LAURENTIS para MELHOR PRIMEIRA OBRA
TZAMETI de Gela Babluani

PRÉMIO ORIZZONTI
EAST OF PARADISE de Lech Kowalski

PRÉMIO ORIZZONTI para MELHOR DOCUMENTÁRIO
PERVYE NA LUNE de Aleksey Fedortchenko


CORTO CORTISSIMO

LEÃO DE PRATA CORTO CORTISSIMO
XIAOZHAN de Lin Chien-ping

MENÇÃO HONROSA
LAYLA AFEL de Leon Prudovsky

PRÉMIO UIP para MELHOR CURTA EUROPEIA
BUTTERFLIES de Max Jacoby


por Sérgio


 

De Tanto Bater o Meu Coração Parou ****

06.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: De battre mon coeur s'est arrêté. Realização: Jacques Audiard. Elenco: Romain Duris, Niels Arestrup, Jonathan Zaccaï, Gilles Cohen, Linh Dan Pham, Aure Atika, Emmanuelle Devos, Anton Yakovlev, Mélanie Laurent. Nacionalidade: França, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>O realizador de “Sur Mes Lèvres” (2001), numa “vingança” pelos remakes americanos de filmes franceses, regressa com este remake do filme “Fingers” (1978), de James Toback com Harvey Keitel no papel agora desempenhado por Romain Duris (“L’Auberge Espagnol”, Cédric Klapisch, 2002).

ALIGN=JUSTIFY>Thomas Seyr (Duris) segue as pisadas do pai (Niels Arestrup) no negócio imobiliário, onde a sua tarefa é forçar os indesejáveis para fora das suas casas, por todos os meios possíveis (colocando ratos, cortando a electricidade e a água, e ocasionalmente partindo tudo), para depois as comprarem por um preço baixo para os seus clientes. Adicionalmente, Tom faz também algumas cobranças difíceis para o seu pai, geralmente recorrendo a argumentos violentos.

ALIGN=JUSTIFY>Um encontro com o antigo agente da sua mãe, Mr. Fox (Sandy Whitelaw), que o convida para uma audição, desperta em Tom a vontade de recuperar o tempo perdido e regressar ao piano. Mas, para isso, ele vai necessitar de treino e acaba por contratar Miao Lin (Linh Dan Pham), uma pianista chinesa recém-chegada a Paris que não fala uma palavra de francês.

ALIGN=JUSTIFY>Audiard coloca-nos a meio da narrativa, onde temos que decifrar quem é quem, o que fazem e porquê. Com o esclarecimento, somos obrigados a reavaliar a primeira impressão que temos de Tom e acompanhamos com vontade a sua evolução.

ALIGN=JUSTIFY>Tom vive num dilema, bastante próximo do colocado às crianças sobre gostarem mais do pai ou da mãe: divide-se entre a responsabilidade de corresponder às expectativas do pai, que aproveita qualquer ocasião para uma chantagem emocional, e a paixão pela música herdada da mãe, uma talentosa pianista já falecida que, como um fantasma ausente, impele Tom para a concretização de um sonho.

ALIGN=JUSTIFY>Duris tem uma interpretação poderosa, que consegue ser sedutora e repelente em diferentes momentos, mas com igual intensidade: de raiva, arrogância, ressentimento, vingança, intimidade, vulnerabilidade, sensibilidade, e até a generosidade com que cobre as mentiras adúlteras de um colega.

ALIGN=JUSTIFY>Tom é um anti-herói, uma bomba prestes a explodir, uma questionável moral, que não hesita recorrer à violência, mas também capaz de ternura. Audiard e Duris fazem um retrato complexo de uma personagem num contexto dinâmico e absorvente, sem nunca perder a consistência e credibilidade, dividido entre a expressão da arte e contenção da violência. E gostamos dele, com falhas e tudo.

ALIGN=JUSTIFY>A beleza deste filme não se resume ao título (do original “De battre mon coeur s'est arrêté”, passando pelo “De tanto bater o meu coração parou” português, até ao “The beat that my heart skipped” inglês). Os batimentos desta narrativa são compassados, a tensão ritmada e a música, entre sístoles e diástoles, enleante.






Os Edukadores ****

02.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Die Fetten Jahre sind Vorbei. Realização: Hans Weingartner. Elenco: Daniel Brühl, Julia Jentsch, Stipe Erceg, Burghart Klaußner. Nacionalidade: Alemanha / Áustria, 2004.


SRC= http://a69.g.akamai.net/n/69/10688/v1/img5.allocine.fr/acmedia/medias/nmedia/18/35/32/47/18384542.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>Jan (Daniel Brühl – “Good Bye Lenin!”, Wolfgang Becker, 2003), e Peter (Stipe Erceg) invadem casas de famílias abastadas e mudam-lhes a mobília, abalando o seu status quo e a segurança do seu “império” reduzido a uma acumulação voraz e sem sentido de bens materiais, e ameaçando-os com a frase: “os vossos dias de abundância terminaram” que assinam “Os Edukadores”. O seu activismo pela justiça social na Alemanha é partilhado também por Jule (Julia Jentsch), a namorada de Peter, que tem uma dívida de milhares de euros por causa de um acidente de viação. Jule precisa de algo em que acreditar e, quando Peter se ausenta por uns dias, Jan inicia-a nas incursões nocturnas,.

ALIGN=JUSTIFY>Quando Jule descobre que a casa de Hardenberg (Burghart Klaußner), o milionário a quem deve dinheiro, está na lista de possíveis invasões, decide fazer-lhe uma visita. Mas essa investida corre mal, e eles vêem-se obrigados a raptá-lo, para mais tarde se darem conta de que foi também ele um revolucionário no Maio de 68.

ALIGN=JUSTIFY>Com um ritmo bem estudado, os arcos evolutivos das personagens estão construídos de uma forma consistente mas com uma boa margem de surpresa. Aos dilemas sobre o que fazer com o raptado, ou se os ideais justificam todas as acções, adiciona-se o conflito latente com o triângulo amoroso que se estabelece entre Peter, Jule e Jan, testando a longa amizade de Jan e Peter.

ALIGN=JUSTIFY> “Os Edukadores” fala da angústia da juventude de hoje (e também da dos jovens de antigamente), a quem parecem faltar motivos para se rebelar, ou talvez apenas falte a vontade de fazer o esforço, de pensar, de discutir os assuntos, falta-lhes tempo para se importarem com algo mais do que o “eu, aqui e agora”. De repente, tudo aquilo por que as gerações anteriores lutaram, vira-se hoje contra as novas gerações, onde as liberdades conquistadas infringem outras liberdades, mais essencias, mas que estranhamente estão ainda por conquistar.

ALIGN=JUSTIFY>Mas o idealismo, mesmo o deste grupo, que parece irredutível, é posto à prova quando colide com as suas fragilidades, e com o medo de perder aquilo que consquistaram.

ALIGN=JUSTIFY>“Os Edukadores” alia drama, comédia, tensão, amor e, sobretudo, paixão por uma causa, sem nunca cair em excessos demagógicos. Um belo filme, que fecha com o tom redentor de “Hallelujah”, na voz de Jeff Buckley.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Quem tem menos de 30 anos e não é liberal, não tem coração. Quem tem mais de 30 anos e é liberal, não tem cérebro.”


ALIGN=JUSTIFY> “Die fetten Jahre sind vorbei” DIE ERZIEHUNGSBERECHTIGTEN
(Os vossos dias de abundância terminaram) OS EDUKADORES

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Sie haben zu viel Geld” DIE ERZIEHUNGSBERECHTIGTEN
(Vocês têm demasiado dinheiro) OS EDUKADORES


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#E90909>HALLELUJAH
de Leonard Cohen, por Jeff Buckley


Now I've heard there was a secret chord
That David played, and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
It goes like this
The fourth, the fifth
The minor fall, the major lift
The baffled king composing Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew her
She tied you
To a kitchen chair
She broke your throne, and she cut your hair
And from your lips she drew the Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

You say I took the name in vain
I don't even know the name
But if I did, well really, what's it to you?
There's a blaze of light
In every word
It doesn't matter which you heard
The holy or the broken Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

I did my best, it wasn't much
I couldn't feel, so I tried to touch
I've told the truth, I didn't come to fool you
And even though
It all went wrong
I'll stand before the Lord of Song
With nothing on my tongue but Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah





















































War of the Worlds *

01.09.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Steven Spielberg. Elenco: Tom Cruise, Dakota Fanning, Miranda Otto, Tim Robbins, Justin Chatwin. Nacionalidade: EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>filme “Guerra dos Mundos” é uma guerra para ver, para conseguir aguentar os extra-terrestres, para suportar um Tom Cruise pouco convincente, para compreender como é que um profissional como Tim Robbins se sujeita a estas coisas, para perceber porque raio Steven Spielberg é tão famoso – nunca viver dos “rendimentos” passados justificou tanto desperdício de recursos e de tempo.

ALIGN=JUSTIFY>A evitar, sob pena de graves lesões cerebrais.