too mush flesh (breves impressões de «9 songs»)
9 songs
ALIGN=JUSTIFY>Há pele a mais no filme «9 songs». Há música que vale a pena. Há filme a menos.
COLOR=#AAAAAA>por Miguel
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Quem tenha visto o filme “Bridget Jones: The Edge of Reason” (Beeban Kidron, 2004), para seduzir a mais recente namorada ou simplesmente para não pensar muito, ter-se-á inevitavelmente deparado com a voz de Jamie Cullum no tema “Everlasting Love”.
Este “twentysomething” inglês apresentou ontem o seu álbum do mesmo nome na Cidadela de Cascais, no âmbito do Cool Jazz Fest, num espectáculo pleno de paixão, técnica, humor e simpatia.
Sem perceber exactamente se isto é “cool jazz” (e com grandes dúvidas na inclusão de Mariza e Marianne Faithful na mesma classificação), e esquecendo as etiquetas, basta-nos saber que se trata de boa música.
Jamie Collum, um pianista exímio, e que faz do piano um verdadeiro instrumento de percussão (além de o utilizar como uma elevação no palco donde se atira de vez em quando), arrasta-nos com a sua interpretação enérgica, onde raras vezes se senta no banco como um menino bem comportado. E ainda bem.
O baixista / contra-baixista Geoff Gascoine e o baterista Sebastiaan de Krom, a quem Cullum deu imenso tempo de antena para uns solos verdadeiramente espectaculares, compõem a restante equipa.
O álbum “Twentysomething” foi passado a pente fino quase na sua totalidade, dos clássicos “I Get A Kick Out of You”, “What A Difference A Day Made” e “Singing In The Rain”, aos belíssimos originais “These Are The Days”, “Blame It On My Youth”, “Frontin’ ” e “All At Sea”, que, já no encore, serviu de fecho para uma noite perfeita.
Houve também tempo para apresentar algumas canções do novo disco “Catching Tales”, que sairá em Setembro próximo. Mas alguns dos momentos mais vibrantes foram vividos ao som da poderosa “Wind Cries Mary”, de Jimi Hendrix, seguida da emotiva “Lover, You Should Have Come Over”, de Jeff Buckley, e da doce “High And Dry”, dos Radiohead.
Jamie Cullum prometeu que nos íamos divertir. E não é que cumpriu!
Numa cena da “Residência Espanhola” (Cédric Klapisch, 2002), a música de Ali Farka Touré era o elemento comum que aproximava dois estranhos numa nova cidade. Sexta-feira passada, este guitarrista do Mali, juntou umas centenas de pessoas no anfi-teatro Keil do Amaral, em Monsanto.
Apesar do frio, e de uma fraca primeira parte, valeu a pena esperar pela mestria dos dedos de Ali Farka Touré, num blues condimentado com percussões africanas. A Lua cheia e a vista sobre o Tejo não poderiam ter tido melhor banda sonora.
Ansiosamente aguardando pelo novo filme de Klapisch, “Les Poupées Russes”, que deveria estrear ainda este ano, e por novas descobertas musicais.
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UNTADOS
de Aterciopelados
COLOR=#AAAAAA>En el país del sagrado corazón
a nadie se le puede dar absolución
cuando el billete es emperador
ya no hay decencia que valga no hay honor
la horrible ley de la selva de cemento
supervivencia para el más violento
honor y escrúpulos son un invento
de un pasado lejano polvoriento
Coro:
todos estamos untados
todos estamos involucrados
todos estamos armados
queremos harto billete de contado
Aquí no quedan inocentes
todos aquí somos delincuentes
los hay de muchos pelambres y colores
de cuello blanco
esos son los peores
aquí política es sinónimo de robo
millonarios sueldos y papayas de oro
animal social como leones
es la presa riqueza somos depredadores
«My Tear for London. Like a scribbled poem taped to a tree at the scene of an atrocity, Haris Uzeirbegovic's curious little grieving scrap of Flash anime mourns the horrors of London's July 7 bombings.»
[in Guardian- o filme pode ser visto aqui]
por Miguel
Em 2001, foi assim no dia seguinte. As principais cadeias de salas de cinema estavam às escuras. Fechadas, a aguardar. Era a América ainda sob os efeitos dos atentados daquela terça-feira, 11 de Setembro. A maior parte das produções de televisão e cinema estavam também paradas. A aguardar.
Em Los Angeles nenhuma produção era filmada na “downtown”. A entidade que atribuía licenças para filmagens – a Entertainment Industry Development Co. (EIDC) – dava a conhecer a sua posição: «Não temos negado nenhuma autorização nem pedimos a nenhuma produtora para encerrar. Apenas informámos as empresas que a polícia e os bombeiros estão em alerta máximo e que algumas produções podem ser afectadas, sobretudo as que usam pirotecnia e armas de fogo.»
Os filmes nas salas de cinema servem-se com pipocas, naturalmente. Ao som de explosões, tiros, destruição – os ingredientes de muitas produções cinematográficas. Com a realidade a ultrapassar a imaginação dos argumentistas de Hollywood, o debate sobre a violência reacendia-se na América.
Ainda em Junho de 2001, as audiências aplaudiam a abertura do novo filme de Dominic Sena, «Swordfish» – uma espectacular sequência em que a câmara descreve um arco de 360 graus pelos destroços e detritos de um edifício. Depois dos atentados de Nova Iorque e Washington, os produtores e realizadores reequacionaram a escalada nas cenas de violência. Um passo atrás naquilo que era a aposta forte dos “blockbusters”. A parafernália pirotécnica não surgiria como algo inocente aos olhos dos espectadores de pipocas. Há imagens reais bem mais fortes – e então muito presentes. Hoje, de novo, presentes.
Assentada a poeira, ultrapassada a estupefacção da América e do Mundo, a indústria voltou a desenhar violentos enredos de explosões e pancadaria. Hoje, depois de Bali, Madrid ou Bagdad, Londres. Não sabemos se havia filmes ou séries a serem rodados ali, nas proximidades. Se alguém amanhã questionará argumentos ou se tremerá a rever o «Assalto a Nova Iorque» ou (o aparentemente inocente) «Speed». Sabemos que o mundo continua diferente. E o cinema não nos ajuda a compreender ainda tudo.