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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Thumbsucker ****

29.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Mike Mills. Elenco: Lou Taylor Pucci, Tilda Swinton, Vincent D'Onofrio, Kelli Garner, Keanu Reeves, Vince Vaughn, Benjamin Bratt, Chase Offerle. Nacionalidade: EUA, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>A adaptação do livro ‘Thumbsucker’ de Walter Kim é a estreia na realização de Mike Mills, realizador de vídeos musicais e anúncios, e da mesma escola de Spike Jonze e Sofia Coppola. A ver por este exemplo, o seu potencial não ficará atrás.

ALIGN=JUSTIFY>Justin Cobb (Pucci), 17 anos é um adolescente deslocado (como todos) que apenas encontra conforto para as grandes inseguranças e ansiedades da sua vida no seu polegar, chupando-o em busca de conforto e concentração. Hábito que o pai dele, a quem Justin trata pelo seu nome próprio Mike (D'Onofrio), encara com relutância (pela vergonha e pelas contas do dentista). A mãe, Audrey (Swinton, também produtora), adopta uma atitude mais compreensiva.

ALIGN=JUSTIFY>Mas enquanto Justin luta por definir a sua identidade, um e outro têm as suas próprias questões para combater. Mike vive com o desapontamento de uma carreira desportiva perdida, uma frustração que se manifesta nas suas fracas capacidades de comunicação e em cada conversa falhada com o filho. Audrey, em pleno desmoronamento, está obcecada com a estrela de cinema Matt Schramm (Bratt), e aproveita o seu trabalho de enfermeira para se aproximar de Schramm numa clínica de desintoxicação.

ALIGN=JUSTIFY>Uma abordagem curiosa deste argumento, também de Mills, é que a angústia não é aqui monopólio dos adolescentes. Ser pai também não é fácil e as respostas não estão escritas em nenhum manual.

ALIGN=JUSTIFY>Além dos seus pais, uma série de adultos bem-intencionados tenta ajudá-lo a superar este comportamento “infantil”: desde o seu dentista ‘new-age’ e pseudo-psicólogo (Reeves) hipnotiza-o ao director do grupo de debate (Vaughn), que sugere o uso de Ritalin, a droga que as escolas americanas promovem para combater o Défice de Atenção e Hiperactividade. E até a estrela Matt Schramm lhe ensina inesperadamente umas quantas verdades. A medicação surte efeito: Justin excede todas as expectativas. A medicação reduz o gesto automático de chupar no dedo, mas começa igualmente a alterar a sua personalidade.

ALIGN=JUSTIFY>Começam então as experiências com drogas e com o sexo. Mas nenhuma delas lhe dá a sensação de preenchimento que ele acha que devia sentir. É finalmente o seu irmão mais novo, Joel (Offerle), que acaba por confrontá-lo com a realidade e o ajuda a perceber que todos têm as suas ansiedades e falhas e, em última instância, é isso que torna as pessoas interessantes. Chupar no dedo torna-se uma metáfora do que nos faz diferentes, e que isso não é necessariamente mau.

ALIGN=JUSTIFY>“Thumbsucker” não é um filme sobre como as pessoas se relacionam umas com as outras, mas como se relacionam entre si. É um filme cheio de angústia, melancólico, introspectivo, mas imensamente divertido e inteligente. Realista na fragilidade das relações, mostra o adolescente como um ser humano racional, e não uma caricatura.

ALIGN=JUSTIFY>A representação de Pucci (que debutou em “Personal Velocity” (2002), de Rebecca Miller) é de extrema naturalidade e credibilidade, o que lhe valeu um prémio em Sundance. A manter debaixo de olho. De salientar igualmente Vincent D’Onofrio (que tive o prazer de ver recentemente em “Dangerous Lives of Altar Boys” (2002), de Peter Care, que não chegou a passar pelos cartazes portugueses) é exímio na sua contenção. E, para cúmulo, até Bratt e Reeves têm participações interessantes.

ALIGN=JUSTIFY> “Thumbsucker” é um filme sólido, que faz lembrar um pouco “Igby Goes Down” (2002), de Burr Steers, onde as situações exageradas nunca deixam de ser credíveis. No entanto, apesar de falar deles, os espectadores deste filme não serão maioritariamente adolescentes e os que o forem ver terão, certamente, uma surpresa.

ALIGN=JUSTIFY>Todos buscamos forma de lidar com as tensões e ansiedades. E possivelmente, muitos do problemas de Justin terminariam se ele apenas aceitasse o seu impulso em vez de o combater. Por vezes queremos tanto explicar a razão por que somos (sentimos) diferentes, que chegamos a acreditar que há algo de errado em nós. Mas o caminho mais simples talvez seja apenas aceitar a nossa humanidade.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Club sandwiches not seals”
T-shirt de Rebecca (KELLI GARNER)


ALIGN=JUSTIFY> “When I call him Dad, he feels old. When I call her Mum he feels she is old.”
LOU TAYLOR PUCCI (Justin Cobb)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “It’s good to feel needed.”
TILDA SWINTON (Audrey Cobb)


ALIGN=JUSTIFY> “We’re all addicted to something... even if it is only an image of ourselves.”
TILDA SWINTON (Audrey Cobb)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “You ever stop to think you're so busy being weird that I have to step up and be normal?”
CHASE OFFERLE (Joel)












Aaltra ****

29.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Benoît Delépine, Gustave de Kervern. Elenco: Benoît Delépine, Gustave de Kervern, Isabelle Delépine, Aki Kaurismäki. Nacionalidade: Bélgica, 2003.


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ALIGN=JUSTIFY>“Aaltra” é um road-movie em cadeira de rodas. Mas esta é uma questão de somenos importância, por isso é melhor tirá-la já do caminho. Que essa não seja a razão para se ver este filme. Mas sim porque se trata de facto de uma obra divertida, original e irreverente.

ALIGN=JUSTIFY>Ben (Delépine), um homem de negócios que vive numa pequena aldeia belga enquanto teletrabalha, partilha com o seu vizinho Gus (Kervern), um agricultor, um estimado e profundo ódio acompanhado de desprezo, como só quem convive de perto pode sentir. Em resultado de uma agressão, que culmina num acidente com uma máquina debulhadora, ambos perdem o uso das pernas, vendo-se confinados a duas cadeiras de rodas.

ALIGN=JUSTIFY>A ideia de suicídio ou autocomiseração nem sequer é aflorada. E qualquer sentimentalismo ou pena é rapidamente posto de lado, quando eles se metem à estrada: um com a clara ideia de processar a empresa finlandesa Aaltra que fabricou a máquina; e o outro movido pela sua única paixão, agora platónica, o motocross.

ALIGN=JUSTIFY>Como em todos os road-movies, a relação de ambos evolui durante a viagem, transformando a sua frustração e sede de desresponsabilização em amizade. Mas a forma como estas duas criaturas frias e calculistas exploram tudo e todos os que se cruzam com eles, é, no mínimo, refrescante.

ALIGN=JUSTIFY>Porque mais importante do que mostrar que eles são deficientes, é mostrar que eles são pessoas, o que implica que têm igual capacidade para serem cruéis e horríveis. Eles aproveitam-se da boa índole de quem os decide ajudar, agridem quem não lhes dá esmola, esvaziam o frigorífico das almas caridosas, roubam uma cadeira eléctrica a um casal de idosos. Tudo sem uma palavra de agradecimento. São rudes, grosseiros e execráveis e, por isso mesmo, encantadores.

ALIGN=JUSTIFY>Os co-argumentistas, realizadores e protagonistas Benoît Delépine e Gustave de Kervern são a essência desta comédia física e deliciosamente mordaz. O seu sentido de humor é negro, acutilante e inteligente, usado com mestria e comedimento ao longo de todo o filme.

ALIGN=JUSTIFY>Filmado a preto e branco, “Aaltra” tem uma clara inspiração no realizador Aki Kaurismäki, que abrilhantou o filme com um cameo como patrão da empresa finlandesa.

ALIGN=JUSTIFY>A recusa por parte dos autores do politicamente correcto (que ironicamente acaba por ser o mais correcto possível) é propositada e claramente política. Não fosse o filme dedicado a Albert Libertad (1875-1908), um militante anarquista individualista francês, também ele deficiente físico, e que levava seus debates às últimas consequências, usando as suas muletas como armas.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “São pessoas como vocês que dão mau nome às pessoas em cadeiras de rodas!”
JOSEPH DAHAN (motard)










Ae Fond Kiss ***

28.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ken Loach. Elenco: Atta Yaqub, Eva Birthistle, Shamshad Akhtar, Ahmad Riaz, Shabana Bakhsh, Ghizala Avan, Pasha Bocarie, Gerard Kelly. Nacionalidade: Reino Unido / Bélgica / Alemanha / Itália / Espanha, 2004.


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ALIGN=JUSTIFY>Após uma juventude em Glasgow os três filhos da família Khan estão a tornar-se cada vez menos paquistaneses. Rukhsana (Avan), a mais velha, está feliz com o casamento organizado pelos seus pais; Sadia (Akhtar), a mais nova, tenta cuidadosamente romper os laços familiares para poder ir para a Universidade longe de casa. No meio está Casim (Yaqub), que quer que todos estejam felizes. O problema surge quando ele se apaixona por Roisin (Birthistle), uma professora de música, irlandesa e católica, incomodada pelas exigências da honra/tradição familiar de Casim (prometido casar com a sua prima), até ela ser também alvo das exigências da sua própria cultura.

ALIGN=JUSTIFY>Abrindo o filme com um discurso sobre como a diversidade da cultura muçulmana é ignorada pelo ocidente, Loach concentra-se no poder destrutivo de um amor proibido, uma espécie de ‘Romeu e Julieta’. O cliché da história é atenuado com uma mistura de realidade, mas o seu efeito é de menor impacto.

ALIGN=JUSTIFY>O mérito de Loach está em conseguir, de uma forma equilibrada e sensível, abordar não só a tirania da cultura muçulmana, as suas expectativas e estereótipos, mas também a pressão religiosa vivida no Reino Unido, patente na exigência feita pela escola de Roisin de um “certificado de aptidão” passado pelo padre da paróquia.

ALIGN=JUSTIFY>A combinação Ken Loach e dramas pessoais confrontados com questões sociais, é uma aposta segura, mas pouco mais do que isso. As personagens estão bem trabalhadas e os actores (um ilustre leque de quase desconhecidos) cumprem bem o seu trabalho, entre o cómico e o sensível, entre o revoltado e o perdido. Sadia, a mais jovem, numa mistura de optimismo, desafio e humildade, oferece a esperança de reconciliação entre as duas gerações.

ALIGN=JUSTIFY>Mas este tema do choque cultural não é novo e já foi tratado com mais originalidade e certamente humor em filmes como “East is East” (1999), de Damien O’Donnell.

ALIGN=JUSTIFY>Inspirado pelo poema ‘Ae Fond Kiss’ do escocês Robert Burns, o filme de Ken Loach acaba por nos dizer que o amor, seja ele de que tipo for, é egoísta, porque apenas se preocupa com ele mesmo. Mas ainda que pareça ser ele a mandar, as escolhas são nossas. Assim como as consequências.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“It's easy for you. You've got nothing to lose.”
ATTA YAQUB (Casim Khan)


ALIGN=JUSTIFY>“Did you think you could get into bed with any Tom, Dick or Mohammed and then go off and teach Catholic children. The faith of our fathers is not for the faint-hearted.”
GERARD KELLY (Padre da Paqóquia)


COLOR=#E90909>AE FOND KISS... (1791)
COLOR=#AAAAAA>de Robert Burns (1759-1796)


Ae fond kiss, and then we sever;
Ae fareweel, alas, for ever!
Deep in heart-wrung tears I'll pledge thee,
Warring sighs and groans I'll wage thee.
Who shall say that Fortune grieves him,
While the star of hope she leaves him?
Me, nae cheerful twinkle lights me;
Dark despair around benights me.

I'll ne'er blame my partial fancy,
Naething could resist my Nancy:
But to see her was to love her;
Love but her, and love for ever.
Had we never lov'd sae kindly,
Had we never lov'd sae blindly,
Never met or never parted,
We had ne'er been broken-hearted.

Fare-thee-weel, thou first and fairest!
Fare-thee-weel, thou best and dearest!
Thine be ilka joy and treasure,
Peace, Enjoyment, Love and Pleasure!
Ae fond kiss, and then we sever!
Ae fareweel, alas, for ever!
Deep in heart-wrung tears I'll pledge thee,
Warring sighs and groans I'll wage thee.







































The World ****

28.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Jia Zhang-ke. Elenco: Tao Zhao, Taisheng Chen, Jue Jing, Zhongwei Jiang, Yiqun Wang, Hongwei Wang, Jingtong Liang, Wan Xiang, Juan Liu. Nacionalidade: China / Japão / França, 2004.


SRC=http://graphics8.nytimes.com/images/2004/10/11/arts/11worlL.jpg>


ALIGN=JUSTIFY> “The World” cruza diversas existências que têm como ponto de ligação um parque temático em Pequim/Beijing, o World Park, retratando várias cidades mundiais reduzidas à escala. Os cenários vão desde uma esplanada na Torre Eiffel, ao Taj Mahal e às pirâmides do Egipto, passando pela Praça de São Pedro em Roma ou a Torre de Pisa, e até Manhattan ainda com as suas torres gémeas.

ALIGN=JUSTIFY>O World Park destina-se sobretudo aos turistas chineses, que assim podem visitar o mundo sem terem que sair de casa. Neste microcosmos habita um casal de namorados, Tao (Tao Zhao) e Taisheng (Taisheng Chen), ela bailarina e ele segurança. O romance atribulado e desapaixonado deles é a força dramática da história. Tao ama Taisheng, mas o facto de ela recusar uma entrega física leva-o a procurar algo mais. Pelo seu lado, Tao deseja uma vida melhor, apesar de mal conseguir conjecturar o que seria viver fora daquele mundo manufacturado.
ALIGN=JUSTIFY>Esta narrativa cruza-se depois com outras histórias: um grupo de bailarinas colegas de Tao que vem da Rússia e donde se destaca Anna; vizinhos da cidade natal de Taisheng que vêm em busca de trabalho; Qun (Yiqun Wang), uma mulher casada com quem Taisheng se cruza no seu part-time como moço de recados para um criminoso local; a relação problemática de Xiaowei (Jue Jing) e Niu (Zhongwei Jiang). Mas, como o mundo gira, também “The World” acaba sempre por voltar à história de Tao e Taisheng.

ALIGN=JUSTIFY>Vivendo confinadas ao seu “mundo”, todas estas são personagens à deriva, deslocadas dentro de si próprias e com os seus companheiros. Mas paira no ar a vontade e, ao mesmo tempo, a incapacidade de sair dele: Anna que pretende ir ter com a sua irmã a Ulan Bator, e Qun que quer ir ter com o seu marido a França. Apesar de nenhum deles ter nunca saído da China (o único viajante, que surge no início do filme, é o ex-namorado de Tao), o mundo onde eles vivem, comem, dormem, é completamente estrangeiro. Rodeados pelo resto do mundo no meio da sua terra, quase parece que não fazem parte de sítio algum. Estão desligados da sua cultura, mas são incapazes de se ligarem a qualquer das culturas existentes à sua volta.

ALIGN=JUSTIFY>Este filme acaba por ser uma metáfora sobre a angústia e confusão da juventude chinesa, um tratado subtilmente irónico sobre a alienação numa China actual, crescendo rapidamente e tentando tornar-se um dos jogadores principais do mercado. Como resultado existe uma certa perda de identidade, das tradições, do valor humano e das relações. Uma sociedade onde a principal comunicação é feita por mensagens. Apenas Tao rompe com esta norma, estabelecendo uma relação honesta com Anna. E apesar de não falarem a mesma língua, conseguem entender-se e partilhar pedaços da vida uma da outra.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar dos seus 133 minutos, este filme agarra-nos até ao final. Para muito contribui a introdução de animação nos momentos em que os personagens trocam mensagens entre telemóveis. A opção de Jia Zhang-ke é uma solução engenhosa e muito bem conseguida.

ALIGN=JUSTIFY>Este mundo simulado (com o paralelismo da reprodução da roupa ocidental) promete aos seus visitantes ser “um mundo novo cada dia”, mas Jia Zhang-ke evoca momentos redundantes que nos mostram que todos os dias são mais ou menos iguais para as pessoas que o habitam.

ALIGN=JUSTIFY>Ele próprio parece hipnotizado pela própria metáfora, perdendo-se por vezes em longos planos deste mundo em miniatura, como um turista. E mesmo quando espreita a cidade lá fora, volta a correr para o mundo construído. Mas Jia Zhang-ke aborda todo o tema com muita subtileza (talvez por isso este tenha sido o seu primeiro filme a não ser banido na China), o que permite que esta história continue a crescer já depois de ter terminado.

ALIGN=JUSTIFY>E fica um pensamento final: é só quando conseguimos derrubar a barreira imposta pelos nossos mundos individuais, e confiamos nos conceitos básicos e comuns da humanidade, que conseguimos de facto comunicar.







The Girl From Monday ***

27.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Hal Hartley. Elenco: Bill Sage, Sabrina Lloyd, Tatiana Abracos, Leo Fitzpatrick, D.J. Mendel, James Urbaniak, Juliana Francis, James Stanley, Paul Urbanski. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC= http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/10005162/photo_01.jpg>


ALIGN=JUSTIFY> “The Girl From Monday” é passado num futuro próximo, após a Grande Revolução que colocou a empresa Triple M (Multi-Media Monopoly) no poder, graças ao trabalho de uma agência de publicidade. As pessoas são bens. Cada um pode fazer um seguro da sua atracção sexual (um engate falhado pode levar às mesmas consequências que um choque na estrada), e o seu valor no mercado aumenta cada vez que fazem sexo. O sexo por prazer ou por amor é considerado reaccionário, assim como todas as acções que visam o bem-estar individual. Os que o fazem, os rebeldes, são pessoas sem crédito e com pouca capacidade de compra. O objectivo é contribuir para a sociedade de consumo e o lema a “ditadura do consumidor”. O cúmulo é promover a comercialização das operações ao coração (associadas a doenças e a idades avançadas) para quem as desejar fazer, sem serem necessárias razões médicas, tal como a cirurgia estética.

ALIGN=JUSTIFY>Neste mundo cai uma mulher sem nome (a modelo brasileira Tatiana Abracos), vinda da estrela 147X na constelação Monday, onde os seres fazem todos parte de um colectivo, não têm nomes, nem corpos, nem identidades. Ela é encontrada numa forma humana por Jack Bell (Bill Sage), que trabalha na agência de manhã mas à noite lidera secretamente um grupo contra-revolucionário. Os extraterrestres são comummente chamados de “imigrantes” e, ao contrário dos humanos não têm o código de barras que os identifica e lhes permite comprar. “A rapariga de Monday” procura um companheiro, que veio para a Terra anos atrás mas que não conseguiu regressar, fechado no seu corpo humano e ligado à terra pelo amor à raça humana.

ALIGN=JUSTIFY>Sendo uma sátira à sociedade actual, este filme não adopta esse tom. Não é pretensioso na sua abordagem e deixa ao espectador a liberdade de tirar as suas próprias conclusões. Filmado em vídeo digital, muda frequentemente para o preto e branco e a manipulação das imagens dá-nos uma percepção etérea da história e errática dos personagens. Mas Hartley cometeu o erro de abusar da técnica para prejuízo da história, que, em dado momento começa, a parecer um mostruário de tudo o que o digital permite fazer.

ALIGN=JUSTIFY>A ideia de sociedade fortemente consumista também não é efectivamente revolucionária, apesar de apresentar alguns pormenores interessantes. Mas a falha está na pouca substância dos personagens, e até os rebeldes parecem demasiado frios para quem faz as coisas por prazer.

ALIGN=JUSTIFY>Quem conhece Hartley, não ficará surpreendido. Quem não o conhece, tem, através desta parábola de ficção científica, uma forma agradável de entrar em contacto com o seu mundo de alienação.


ALIGN=JUSTIFY>P.S. – É curioso como os extraterrestres escolhem sempre corpos de modelos para assumir a forma humana. Nunca se parecem com o merceeiro da esquina ou com o senhor do talho. Talvez a distribuição das Maxmen e das GQ seja especialmente eficaz no espaço sideral...



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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Let's have sex and increase our buying power.”









A Maleita Tropical

27.04.05, Rita




Depois de horas de gestão de agenda, cortar de um lado, colar do outro, libertar dias, sair mais cedo do trabalho, eis-me confortavelmente instalada para ver o filme “Private”, de Severio Costanzo na sala 1 do King. Mas as más notícias chegam depressa: a empresa de logística TNT trocou as bobines e em vez do “Private” veio o “Tropical Malady”, do tailandês Apichatpong Weerasethakul (com um nome destes eu devia ter desconfiado, tenho que mandar afinar o alarme...).


Foram-nos apresentadas as alternativas: reembolso ou arriscar no “Tropical Malady” (curiosamente um dos poucos filmes que não fez parte de nenhuma das versões da minha agenda, e pelo qual eu não tinha qualquer interesse). A sala quase cheia reduziu-se a um terço de imediato. Outro terço foi desaparecendo ao longo do filme. A razão que me levou a ficar foi o pragmatismo de ter de fazer tempo para a sessão seguinte. Adicionalmente, o meu companheiro de visionamento observou, paulocoelhisticamente, que deveria haver algum sentido para tudo aquilo. Ainda estou à espera que ele me explique qual!!! Para mais quando foi dos que saiu a meio da primeira parte!!! Mal eu sabia que quando brinquei acerca do instante de cançonetismo pimba ser o ponto alto do filme, estava de facto a falar a verdade.


Foi já com o estado de espírito de cliente mal-servido que vi o “Tropical Malady”, por isso peço o devido desconto às palavras quentes que se seguem. O que dizer desta “Maleita Tropical”? Em poucas palavras é um monte de símbolos (perceptíveis eventualmente para quem disponha do dicionário adequado), amalgamados numa história sem sentido, dividida incompreensivelmente em duas partes que nada têm a ver uma com a outra: uma paixão ridícula entre dois homens e uma perseguição a um shaman no meio de uma floresta, que tem tanto suspense como um ovo cozido (e com estes ainda podemos ter surpresas).


Em suma: uma interminável agonia (para meu azar este é dos filmes mais longos do festival!), no final da qual eu só clamava por que me dessem um tiro. Não é só o “Mar Adentro” e o “Million Dollar Baby” que abordam a temática da eutanásia. Com “Tropical Malady” terminei implorando-a!



À Tout de Suite **

26.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Benoît Jacquot. Elenco: Isild Le Besco, Ouassini Embarek, Nicolas Duvauchelle, Laurence Cordier, Fotoni Kodoukaki. Nacionalidade: França, 2004.


SRC=http://www.schemamag.ca/viff/films/ATOUT.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Baseada em acontecimentos reais vividos por Elisabeth Fanger em 1975, “À Tout de Suite” conta a história de uma jovem parisiense de 19 anos (Isild Le Besco), uma liberal estudante de arte que se apaixona por um assaltante de bancos. O mau desfecho de um assalto põe-no em fuga, e ela decide acompanhá-lo através de Espanha, Marrocos e Grécia, até que um acto de traição a deixa sozinha para enfrentar o mundo.

ALIGN=JUSTIFY>Esta é uma obra estilizada, carregada de algo que se propõe ser erotismo. Mas nem a personagem de Isild Le Besco é sensual (apenas parece desesperada), nem o excesso de cenas de nu é justificado do ponto de vista da narrativa. Por outro lado, a personagem de Ouassini Embarek é tão pouca carismática que aquela atracção toda se torna questionável.

ALIGN=JUSTIFY>Poderíamos pensar que os seus comportamentos rebeldes teriam como efeito a revolta contra a família burguesa, mas ela raramente os confronta com os seus “pequenos crimes”. Além disso, como viagem de descoberta pessoal este relato deixa também muito a desejar, pois ficamos sem perceber quer as suas motivações quer as suas percepções.

ALIGN=JUSTIFY>A fotografia granulada e a preto e branco de Caroline Champetier, lembrando a Nouvelle Vague resulta bem e a composição com as imagens de arquivo acaba por ser o ponto mais interessante desta obra.

ALIGN=JUSTIFY>Mas Benoît Jacquot deixa demasiadas coisas por explicar: porque dorme a sua amiga lá em casa todas as noites?, porque é que a mãe é um personagem ausente?, qual o problema da relação com a irmã? São tudo lacunas que nos impedem de entender a personagem de Isild Le Besco. A partir de um momento deixamos sequer de tentar e é aí que este filme se torna verdadeiramente cansativo (suponho que também não ajudou ser a minha terceira sessão do dia).

ALIGN=JUSTIFY>E assistimos a tudo sem nos comovermos com a possível beleza ou tragédia desta versão pobre de “Bonnie and Clyde”. Era-me já indiferente se ela voltava ou não para casa, e uma parte de mim começou a desejar sinceramente que fossem apanhados pela polícia numa cena com muitos tiros.






Ana Y Los Otros ***

25.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Celina Murga. Elenco: Camila Toker, Ignacio Uslenghi, Natacha Massera, Juan Cruz Díaz La Barba. Nacionalidade: Argentina, 2003.


SRC=http://www.leedor.com/imagenes/notas/cine/1602/anaylosotros1.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Com 25 anos e após vários anos a viver em Buenos Aires, Ana (Camila Toker) regressa à sua cidade natal, Paraná (cidade natal da realizadora Celina Murga). Ao chegar, começa a dar-se conta que pouco resta já do seu passado, além de alguns amigos. Uma reunião de turma reflecte o pouco em comum que ela tem com a maioria dos seus companheiros de escola. Mas há um em especial que não lhe sai da cabeça, Mariano, um antigo namorado que se encontra a trabalhar na cidade de Vitória.

ALIGN=JUSTIFY> “Ana Y Los Otros” é um retrato íntimo de uma mulher que procura as suas memórias, lugares e pessoas da sua juventude, em especial um amor que deixou para trás. Apresentando perguntas (mais do que respostas) sobre o seu passado, Ana tenta também entender o que deverá ser o seu futuro.

ALIGN=JUSTIFY>Fala da procura do amor, da sua desconstrução, da forma inocente de o ver, e da forma de o ver através da experiência dos erros. Da relação com o passado (insinua-se que ambos os pais de Ana morreram), do regresso ao lugar primordial e às pessoas, onde nem um nem outro permanecem os mesmos. Não é só o tempo que marca as suas diferenças (nela e nos outros), mas também o espaço se torna irreconhecível, nas ruas onde Ana se perde.

ALIGN=JUSTIFY> “Ana Y Los Otros” faz lembrar o cinema de Rohmer, com situações quotidianas de grande diálogos sobre a visão do mundo, como é o caso da conversa com Daniel, um antigo colega, que se zangou com Mariano por também ele gostar de Ana. Os perigos de esperarmos demasiado tempo para dizermos o que devíamos.

ALIGN=JUSTIFY>Mas se na primeira parte a procura de Ana é feita com displicência, quase como se não importasse, na segunda parte, já em Vitória, a curiosidade materializa-se. Para isso vem ajudar Matías (Juan Cruz Díaz La Barba), um rapaz com quem Ana estabelece uma curiosa relação enquanto espera que Mariano chegue a casa. Também o rapaz está apaixonado, por uma rapariga de quem desconhece o nome mas a quem chama Jose. Da mesma forma que a ele lhe falta coragem de enfrentar a rapariga (a cena em que Ana e Matías treinam o diálogo que ele deveria utilizar como abordagem é hilariante), também Ana se esconde de Mariano quando ele chega à cidade. Ana tenta, curiosamente, ensinar aquilo que a ela também lhe custa praticar, romper a incerteza e passar do sentimento à acção.

ALIGN=JUSTIFY>Camila Toker (como alter-ego de Celina Murga) carrega este filme às costas, mas ele não lhe parece pesado, tal é a leveza e naturalidade com que se movimenta nesta personagem calma e misteriosa. O carácter auto-biográfico desta história é reforçado pelo facto de quem faz de Mariano ser, com efeito o namorado da realizadora, Juan Villegas, realizador de “Sábado” (2001). Mas mais do que contar uma história, Murga prefere entrar nos medos da sua personagem, e mais do que procurar resolvê-los ela mostra as possibilidades que se abrem com cada decisão.






To Take A Wife **

25.04.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ronit e Shlomi Elkabetz. Elenco: Ronit Elkabetz, Simon Abkarian, Gilbert Melki, Sulika Kadosh, Dalia Malka Beger, Kobi Regev, Omer Moshkovitz, Yam Eitan. Nacionalidade: Israel / França, 2004.


SRC=http://www.cinefrance.com.br/_images/filmes/to_take_a_wife_01cor.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>Haifa. 1979. Depois de mais uma discussão, os sete irmãos de Viviane (Ronit Elkabetz) insistem para que ela se reconcilie com o marido, Eliyahu (Simon Abkarian). Afinal de contas, ele não lhe bate, dá-lhe o dinheiro que ganha e até sabe cozinhar. Viviane decide ficar, mas a sua face de profundo sofrimento permanece também. O aparecimento de um antigo amante, Albert (Gilbert Melki) lembra a Viviane os sonhos que ela deixou para trás por um compromisso que lhe parece vazio.

ALIGN=JUSTIFY>Este é um retrato claustrofóbico de um casamento onde o amor é o menor denominador comum. A união, fragilmente colada pela convenção social e pelo hábito, de duas pessoas que apenas partilham um background cultural e quatro filhos,.

ALIGN=JUSTIFY>Ao longo de três dias de preparação para o Shabbat, acompanhamos a espiral de desintegração desta família, marcada pelos frios diálogos de confronto entre Viviane e Eliyahu. Ela, emocionalmente desequilibrada, e num constante sofrimento pela ausência do amor que ambicionava. Ele, dedicado ao seu compromisso religioso semanal, onde tem o poder que lhe falta nos restantes campos da sua vida, inclusive em casa, onde se sente impotente para contrariar o constante papel de vítima de Viviane.

ALIGN=JUSTIFY>Os filhos são quase adereços, usados como armas, arremessados para um e outro lado como bolas de ténis, continuamente testados no amor que sentem por um e outro progenitor. Perdidos, silenciosos, chorosos, revoltados, tentando entender que forma estranha de amor é aquela que os rodeia. De vez em quando, existe um carinho, que soa apenas a uma afago na consciência dos seus pais. Mais do que indivíduos eles parecem ser apenas uma forma de provar que pelo menos algo de bom resultou daquela união.

ALIGN=JUSTIFY>E assim parece ter sido, porque este é um trabalho de amor. A aclamada actriz israelita Ronit Elkabetz (“Or (Mon Trésor)”, de Keren Yedaya, 2004) tem aqui a sua estreia na realização, acompanhada do irmão Shlomi Elkabetz numa história auto-biográfica que relata a união dos seus pais (Ronit Elkabetz desempenhando o papel da sua mãe).

ALIGN=JUSTIFY> “To Take A Wife” lembra um pouco “Tarnation”, de Jonathan Caoutte (2003). Mas ao contrário do primeiro, onde ao espectador é permitido entender a mãe e o filho, e por isso, todo o amor que os une, neste filme, entre tanto extremismo, resta pouca compaixão para com estes dois personagens e mais facilmente se entenderia a revolta dos filhos que este resultado.

ALIGN=JUSTIFY> Mas talvez também aqui as convenções tenham tido o seu papel. O distanciamento dos realizadores deveria ter sido maior, porque os olhos do amor não vêem exactamente o mesmo filme que os dos espectadores.






Born Into Brothels ****

22.04.05, Rita

T.O.: Born Into Brothels: Calcutta's Red Light Kids. Realização: Zana Briski e Ross Kauffman. Género: Documentário. Nacionalidade: Índia / EUA, 2004.





Em 1997, a fotógrafa de origem britânica Zana Briski aventurou-se no bairro Sonagachi de Calcutá, conhecido pela sua prostituição. O seu objectivo era conhecer algumas das mulheres que aí trabalhavam e fotografá-las. No entanto, deu-se conta de que sendo uma estranha nunca conseguiria o seu propósito. Por isso, decidiu mudar-se para lá.


Como inesperada consequência, Briski acabou por formar fortes laços com as crianças do bairro, muitas delas não desejadas ou amadas. Na tentativa de as salvar da sua própria vida, a Tia Zana, como lhe chamam, decidiu ensinar-lhes fotografia e, entre a pobreza e o trabalho das suas mães (e, para as raparigas, a inevitabilidade de um mesmo futuro), as crianças responderam de uma forma voraz e, em alguns casos, esta experiência mudou radicalmente as suas vidas.


Não satisfeita com o despertar da criatividade inata destas crianças, Briski tenta inscrevê-las em escolas privadas e enfrenta pacientemente a burocracia indiana para conseguir certidões de nascimento, senhas de racionamento e os comprovativos dos testes de HIV negativos. As mães resistem, porque não querem perder outra fonte de rendimento e são poucas as crianças que permanecem hoje em escolas privadas.

Mas Briski, cujo amor e compaixão são contagiosos, mantém ainda hoje a sua ajuda, através da fundação Kids With Cameras.


Este filme, vencedor do Oscar® na categoria de documentário na edição de 2004, acompanha as experiências de sete crianças dos 10 aos 14 anos, a sua curiosidade, o seu talento e a sua energia. Mas também o desespero que as cerca. No entanto, “Born Into Brothels” não se perde em excessos de sentimentalismo ou manipulação: a realidade faz o que tem a fazer, para o bem e para o mal.


Mas, em última análise, “Born Into Brothels” é um testemunho do poder transformador da arte. Treinando a sua visão através da lente da câmara, as crianças aprendem a ver o seu mundo de forma diferente e a sonhar com outras possibilidades. Mas Briski e Kauffman não se intimidam em mostrar realisticamente os obstáculos que existem. E o bilhete de saída parece estar disponível apenas para poucos.


Apesar do foco serem as fotografias das crianças (tiradas em casa, na rua, no zoo, à beira mar), “Born Into Brothels” aborda também o tema das classes sociais na Índia (onde estas crianças são “intocáveis” devido às suas mães). Mas o que fica deste filme, é, sobretudo, uma mensagem de esperança e de como a determinação e o empenho de uma pessoa podem fazer toda a diferença.






CITAÇÕES:


“I used to want to be a doctor. Then I wanted to be an artist. Now I want to be a photographer...”
AVIJIT


“I want to show in pictures how people live in this city. I want to put across the behavior of man.”
GOUR


“I feel shy taking pictures outside. People taunt us. They say, 'Where did they bring those cameras from?'”
KOCHI


“We went to the beach to take pictures. I had never seen the ocean before. I was amazed!”
MANIK


“One day I opened the camera and the whole roll got burned, so I don't do it anymore.”
PUJA


“Zana Auntie teaches us so well that everything goes into our brain. We like doing photography so much that we forget to do our work!”
SHANTI


“When I have a camera in my hands I feel happy. I feel like I am learning something... I can be someone.”
SUCHITRA


“When we first got to use the camera, it felt so good. Before we never had a chance... we'd watch other people doing it and wish we had a camera too.”
TAPASI



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