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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

NOSTALGIA DE UMA SALA VAZIA

29.10.04, Rita

Há uns anos atrás aquando de umas férias em Amsterdão tentei arranjar bilhetes para um concerto que ia acontecer nesse mesmo dia. Já estava esgotado. Disseram-me então que era isso normal por aqueles lados, como as pessoas tinham dinheiro iam a tudo o que fosse actividade cultural e como tal era sempre necessário comprar bilhetes com alguma antecedência para o quer que fosse. Essa ideia do “Eu no dia logo vejo se me apetece ir”, o “deixar andar” português, não seria possível naquele país e era substituído por um “Eu daqui a 3 meses vai ter que me apetecer ir”. Pensei para mim que em Portugal isso nunca seria possível. E a verdade é que apesar das coffee shops e das batatas fritas belgas ao fim da tarde dei por mim a ter pena dos organizados holandeses (mas isso, claro, foi muito antes do Santana Lopes). Porque não se podiam render alegremente à preguiça. Porque não podiam deixar para amanhã. Porque tinham que o fazer hoje.


Tudo isto para dizer que já tenho em minha posse os bilhetes para todos os filmes que tenciono ir ver ao DOCLisboa até ao fim do certame. Não me orgulho disso, tentei resistir o mais que pude mas depois de duas sessões falhadas teve que ser.


No DOCLisboa tem-se assistido a verdadeiras enchentes. Sessões esgotadas, filas imensas para comprar bilhetes, o pânico que obriga à compra dos bilhetes com antecedência. E só de pensar que ano passado, na edição anterior deste mesmo festival não éramos mais de 10 as pessoas na sala (e era um documentário sobre a mesma Palestina que hoje tem sessões esgotadas).


Mas a verdade é que os festivais de cinema tornaram-se uma moda. Foi assim no Indie, foi assim na Festa do Cinema Francês (uma sessão esquecida numa segunda feira à noite chuvosa no Instituto Francês e deparei-me com uma sala cheia, está bem que era o Bilal). E está a ser assim (ou ainda pior) no DOCLisboa (e chego a perguntar-me se não terá sido também assim no Festival de Teledramaturgia Científica que decorreu no fim de semana passado no antigo Pavilhão do Futuro).


As saudades do Grande Auditório da Culturgest vazio, os corredores silenciosos, documentários que se esticavam por três sessões e um público que ia diminuindo de sessão para sessão. Só me resta esperar que isto seja mesmo uma moda. Que o sucesso deste certame garanta a sua continuidade mas que para o ano a maioria do pessoal já não esteja para aí virado. E que se possa novamente saborear o prazer daquelas salas vazias.


SÉRGIO TORRES
sergiotrs@sapo.pt

 

 

The Village ***

27.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: M. Night Shyamalan. Elenco: Bryce >Dallas Howard, Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver, Brendan Gleeson. Nacionalidade: EUA, 2004.




ALIGN=JUSTIFY>Final do séc.XIX. Uma vila americana vive em tréguas com o bosque que a rodeia. Reza a lenda que ferozes criaturas (“Aqueles de Quem Não Falamos”) o habitam. A cor vermelha é proibida, porque as atrai. A morte de um dos seus jovens faz com que Lucius (Phoenix) se ofereça para ir às cidades, atravessando o bosque, em busca de medicamentos que possam auxiliar os habitantes. O aparecimento de animais mortos e esfolados faz reviver a ameaça que paira em redor de uma comunidade aparentemente equilibrada.

ALIGN=JUSTIFY>Esta suposta paz, à semelhança de uma guerra fria onde o medo funciona como arma, camufla segredos guardados em cada canto. Escolhe-se manter o seu passado por perto fechado numa caixa, para se ter uma maior consciência do seu peso e do propósito do seu esquecimento. Liderada por um concelho de anciãos, esta vila subsiste sem contacto com o exterior, vivendo o seu quotidiano de calma instituída à força de rígidas regras.

ALIGN=JUSTIFY>A descontrolada, desmedida e despropositada explosão da paixão, no momento mais cómico do filme, vem, desde logo, sugerir que nem tudo é o que parece. Que os silêncios subentendidos escondem sentimentos calados, mas nem por isso suaves. O “quiet room”, utilizado para acalmar os ímpetos do “louco da vila” (Brody), representa o controlo dos impulsos e a censura da diferença. Um mecanismo que ele só evita através de mais um segredo e um novo comprometimento com a lei social.

ALIGN=JUSTIFY>O vermelho é, por excelência, associado ao proibido, ao pecado. É paixão, entusiasmo, impulsos. Estimula reacções directas e até agressivas. É ele que desencadeia, na própria história, a força, a valentia, a tenacidade, simbolizando também a aproximação e o encontro entre as pessoas, ainda que aqui seja para o erradicar. Talvez por ser a cor daquilo que temos de mais íntimo e precioso: o sangue.

ALIGN=JUSTIFY>Ao contrário dos anteriores filmes mais mediáticos de Shyamalan, esta é uma história de amor. Não limitada ao amor romântico, mas alargando-se ao amor por todos aqueles em quem pensamos antes de todos os outros, aqueles a quem damos a mão, os nossos preferidos. Moral da história: as fronteiras que nos protegem do exterior também são aquelas que nos afastam dele, física e emocionalmente.

ALIGN=JUSTIFY>Shyamalan tinha-me deixado insatisfeita com “Sinais”, e, de novo, saio da sala desapontada. Agradeço dois saltos na cadeira e alguns batimentos cardíacos mais acelerados, agradeço a maravilhosa fotografia de Roger Deakins e a perfeita recriação do ambiente de uma América no ano de 1897, agradeço a música de James Newton Howard, mas, sobretudo, agradeço a presença de Bryce Dallas Howard. Fica a curiosidade de a ver em “Manderlay”, a sequela de “Dogville”, de Lars Von Trier, onde substitui Nicole Kidman no papel de Grace.

ALIGN=JUSTIFY> Wrap up: a elevada fasquia colocada pelos fabulosos “O Sexto Sentido” e “O Protegido” continua por superar, mas, por ser um bom contador de histórias, ainda dou a Shyamalan o benefício da dúvida.

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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=CENTER>COLOR=#E90909> I: Let the bad color not be seen. It attracts them.
II: Never enter the woods. That is where they wait.
III: Heed the warning bell. For they are coming.


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Sometimes we don't do things we want to do because we're afraid that other people will know that we want to do them.”
BRYCE DALLAS HOWARD (Ivy Walker)


ALIGN=JUSTIFY> “Ivy Walker - When we are married, will you dance with me? I find dancing very agreeable... Why can you not say what is in your head?”
Lucius Hunt - Why can you not stop saying what is in yours? Why must you lead, when I want to lead? If I want to dance I will ask you to dance. If I want to speak I will open my mouth and speak. (...) What good is it to tell you you are in my every thought from the time I wake? (...) What gain can rise of my telling you the only time I feel fear as others do is when I think of you in harm? That is why I am on this porch, Ivy Walker. I fear for your safety before all others. And yes, I will dance with you on our wedding night.”
BRYCE DALLAS HOWARD (Ivy Walker) e JOAQUIN PHOENIX (Lucius Hunt)












Diarios de Motocicleta ****

26.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Walter Salles. Elenco: Gael García Bernal, Rodrigo de la Serna, Mía Maestro, Mercedes Morán, Jean Pierre Noher. Nacionalidade: Argentina / EUA / RU / Alemanha, 2004.


src=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1136253/photo_17.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>1952, ERNESTO GUEVARA DE LA SERNA (García Bernal), 23 anos, finalista de medicina e oriundo de uma família burguesa de Buenos Aires decide partir com o seu amigo ALBERTO GRANADO (Rodrigo de la Serna), um bioquímico de 29 anos, numa viagem pela América Latina. Com a mota LA PODEROSA lançam-se numa aventura que os leva da Argentina à Venezuela, por mais de 10.000 kms ao longo de 7 meses.

ALIGN=JUSTIFY>A par do caminho físico é também percorrido um caminho espiritual, que transforma uma viagem iniciática quase de fuga à responsabilidade adulta numa tomada de consciência da realidade de um continente e de um povo. Uma viagem que viria a transformar um jovem no líder da revolução cubana, e que viria a encontrar a morte na Bolívia, apenas 15 anos após os factos aqui narrados.

ALIGN=JUSTIFY>Com apoio de Robert Redford e do seu Sundance Institute, Walter Salles assume o risco de filmar um mito fortemente enraizado no imaginário colectivo. Mas teve a vantagem deste se basear de perto nos escritos dos seus directos intervenientes, os livros ‘Notas de Viaje’ de Che Guevara e ‘Con el Che por Latinoamérica’ de Alberto Granado, permitindo-lhe assim evitar a tentação de cair no cliché heróico.

ALIGN=JUSTIFY>Com um olhar documental, a câmara oscila pelos caminhos e centra-se nos rostos. Instantes cómicos característicos da juventude contrastam com momentos dramáticos de confronto brutal com a pobreza, a doença, a injustiça social, a ignorância e, simultaneamente, com a dignidade e solidariedade de um povo que, segundo o mesmo Guevara “constituye una sola raza mestiza que desde México hasta el Estrecho de Magallanes presenta notables similitudes”. A consciência social de Salles deixa de ser exclusiva do Brasil para se estender a todo o continente sul-americano.

ALIGN=JUSTIFY>Salles constrói dois personagens consistentes: Granado, impulsionador pragmático; e Guevara, introspectivo e sensível, no romance, no auxílio, na sinceridade. Coloca-os nos belíssimos cenários de Buenos Aires e Bariloche (Argentina); Temuco, o deserto de Atacama, Valparaíso e uma mina (Chile); e Iquitos e Machu Pichu (Peru). Um road movie, episódico por natureza, mas onde todos os momentos se unem com a continuidade e fluidez de uma história bem contada.

ALIGN=JUSTIFY>O filme traz-nos alguns momentos de revelação: Machu Pichu, a barcaça dos pobres a reboque, a colónia de leprosos; mas o momento de transição, de choque com a realidade, é o encontro com o casal de comunistas perseguidos no deserto de Atacama, onde a validade do progresso económico é posta em causa e onde se começa a definir uma convicção ideológica.

ALIGN=JUSTIFY>García Bernal confirma-se inequivocamente como um talento, mas a descoberta de Rodrigo de la Serna (curiosamente primo em 2º grau de Guevara) é, no mínimo, uma emoção refrescante. A cumplicidade de ambos transpira da tela. O exemplo mais marcante, que não figura no livro de Guevara, é a travessia do rio a nado, como símbolo de um ritual de passagem.

ALIGN=JUSTIFY>Este retrato social e antropológico de uma América Latina que gostaríamos tivesse mudado é pintado com a deslumbrante fotografia de Eric Gautier. Salles retoma a técnica do álbum final a preto e branco que já tinha sido usado em “A Cidade de Deus” (do qual foi co-produtor) para construir a memória de uma viagem inesquecível. E Jorge Drexler encerra este filme com o delicioso tema Al Otro Lado del Río, para o qual foi expressamente escrito e composto.

ALIGN=JUSTIFY>“No sé que voy a hacer, este viaje me ha cambiado muchas cosas”, diz Guevara.
Quanto vale para a humanidade o passo de um homem?

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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>” La vida es jodida. Hay que luchar por cada boca de aire. Y mandar la muerte al carajo.”
GAEL GARCÍA BERNAL (Ernesto Guevara)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“El personaje que escribió estas notas murió al pisar de nuevo tierra argentina, el que las ordena y pule, yo, no soy yo, por lo menos no soy el mismo yo interior. Ese vagar sin rumbo por nuestra ‘Mayúscula América’ me ha cambiado más de lo que creí.”
ERNESTO GUEVARA, in Notas de Viaje


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#E90909> “Si hay una cosa que puedo decirle sobre esta experiencia – y creo que hablo por todos los que nos "echamos a la carretera" durante dos años para llevar a término este proyecto – es que cuando llegamos al final de nuestro viaje, nosotros también habíamos cambiado.”
WALTER SALLES


ALIGN=JUSTIFY> “El Che ha tenido una influencia muy fuerte en nuestras vidas, especialmente en las de quienes nacimos después de la revolución cubana... (Mi generación) nació con la idea de un héroe latinoamericano moderno, un hombre que luchó por sus ideas, un argentino que peleó en un país que no era el suyo, que se convirtió en ciudadano de Latinoamérica, del mundo... Creo que esta historia podría animar a la gente a intentar encontrar sus propias creencias...”
GAEL GARCÍA BERNAL












Collateral ***

22.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Michael Mann. Elenco: Tom Cruise, Jamie Foxx, Jada Pinkett Smith, Mark Ruffalo, Peter Berg, Bruce McGill, Javier Bardem. Nacionalidade: EUA, 2004.


src=http://fraser.typepad.com/photos/uncategorized/collateral.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Sempre gostei de vilões, mas até ontem não tinha percebido exactamente porquê. E não é o simples fascínio pela sua inteligência, ou o seu carácter altamente cerebral. Mas sim o facto de eles representarem aquela parte de nós que raramente admitimos possuir e à qual só por algumas deturpadoras circunstâncias de vida lá poderemos chegar.

ALIGN=JUSTIFY>Eles são egoístas, frios, insensíveis, ou simplesmente maus. E custa crer que todos temos isso em nós, ainda que em potencial. Mas confesso que me dá um especial prazer espreitar esse meu lado negro, que se regozija com a destruição como forma de arte, com a dedicação a uma missão, com a prossecução de objectivos, com o hedonismo.

ALIGN=JUSTIFY>Talvez não devesse admitir esta minha inclinação para a violência, mas como explicar o sorriso quando são disparados alguns tiros certeiros e a atracção dos jorros espessos de sangue? Acho que tudo se cinge ao eterno sonho do Homem de se tornar naquele que foi um dia criado à sua imagem. O poder, resumido num gatilho ou na ponta de uma espada, de fazer nada de tudo.

ALIGN=JUSTIFY>Um taxi, um taxista (Foxx), um cliente (Cruise), uma cliente (Pinkett Smith), cinco destinos, uma noite. Nisto se resume Colateral. Poupa-se no guarda roupa aquilo que se gasta em filmagens aéreas. Poupa-se em cenário aquilo que se gasta em munições. Poupa-se na representação aquilo que se gasta em cachets.

ALIGN=JUSTIFY>Sim, Cruise surpreende. Mas não exactamente por ter aqui o papel da sua vida (ainda está para vir aquele que destrone o de Magnolia, de P.T.Anderson), mas porque nos habituou, desde cedo, a esperar muito pouco dele. É uma estratégia como qualquer outra, mas admito que ele está no bom caminho. Talvez quando aquele cabelo grisalho for a sério possamos realmente admitir que ele amadureceu. De qualquer forma, esta é uma boa tentativa. O seu assassino é cruel e obsessivo, é implacável e impenetrável, e, no entanto, tem momentos de puro sentimento, quase fugidos da sua própria vontade.

ALIGN=JUSTIFY>Foxx está bem, num registo entre o medo e a coragem. Depois de Niobe em Matrix, Pinkett Smith é a “damsel in distress” por excelência, sedutora e frágil. Javier Bardem enche um ecrã mesmo que seja a um canto. Quanto a Rufallo, não posso evitar ser parcial, e para o muito que gosto dele sabe sempre a pouco não ser ele o protagonista.

ALIGN=JUSTIFY>Tendo em conta que Michael Mann nos deu O Último dos Moicanos, Heat-Cidade sobre Pressão e O Informador, Colateral não é definitivamente o seu melhor trabalho, ainda que a noite de L.A. tenha sido eximiamente filmada e a exiguidade do espaço de um carro tenha parecido um palco. Mas vi mais tensão esta manhã nas caras no Metro...

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ALIGN=JUSTIFY>TAGLINE:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“It started like any other night.”


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÃO:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “You can run but you'll die tired.”









2046 ****

20.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Wong Kar-Wai. Elenco: Tony Chiu Wai Leung, Gong Li, Takuya Kimura, Faye Wong, Ziyi Zhang, Carina Lau, Chen Chang, Maggie Cheung. Nacionalidade: China / França / Alemanha / Hong Kong, 2004.


src=http://www.monkeypeaches.com/pix/2046-2t.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Quem viu o filme “Disponível Para Amar” não estranhará a estética de “2046”. Em continuação voltamos a ver o escritor Chow Mo Wan (Tony Chiu Wai Leung), saído de Singapura em fuga do seu passado, mas na sua eterna e paradoxal busca. Reencontra uma velha amiga, Lulu (Carina Lau), que não o reconhece e que está alojada num hotel no quarto 2046 (o mesmo número do quarto onde os personagens de “Disponível Para Amar” tinham os seus encontros). Ele aluga o quarto do lado, e começa a escrever o livro 2046, um espaço/tempo futurista onde se vai em busca das memórias perdidas e de onde ninguém regressa.

ALIGN=JUSTIFY> O escritor é, ao mesmo tempo, o herói da sua história, o único que toma o comboio de regresso. Talvez, tendo encontrado a memória que procurava, queira agora afastar-se dela e romper com o passado que o prende. A história compõe-se das suas recordações, de várias mulheres que passam na sua vida, da sua ânsia de fazer delas a mulher que perdeu.

ALIGN=JUSTIFY>Bai Ling (Ziyi Zhang) é amor-paixão, Jing Wen (Faye Wong) o amor-romântico, Su Li Zhen (Gong Li) o amor-cerebral. Cada uma delas tem algo do ideal (uma breve aparição de Maggie Cheung, heroína de “Disponível Para Amar”): a primeira ama, a segunda é amada, a terceira carrega o mesmo nome, Su Li Zhen, e todas evidenciam a sua ausência, mas a dura verdade é que “no amor não há substitutos”.

ALIGN=JUSTIFY>“2046” fala da ausência, da solidão, do tempo, das recordações, de arrependimentos, do “amor como uma questão de oportunidade” onde “de nada vale encontrar a pessoa certa antes ou depois da hora certa”. Wong Kar-Wai cria um espaço mental pleno de sombras, sonhos e esperanças perdidas. O erotismo delicado de “Disponível Para Amar” é aqui substituído por cenas mais explícitas, sensuais mas carregadas de desespero.

ALIGN=JUSTIFY>Como numa dança, o nosso olhar deixa-se levar pelo movimento de objectos, de luzes e cores. Espelhos, vidros, portas, paredes velhas, vestidos deslumbrantes, batons vermelhos, contrastam com cenários altamente tecnológicos. Tudo se conjuga para uma experiência visual, mais do que para uma história. A música insiste também em desempenhar o seu importante papel emoldurando este quadro, e Nat King Cole volta a marcar o seu momento.

ALIGN=JUSTIFY>Fica-nos a sensação de que, mais do que dizer algo de novo face ao seu precedente, este filme foi motivado pela mesma ânsia que a do seu personagem, ou seja, Wong Kar-Wai não se conseguiu despedir do seu passado. Teve que ir a “2046”, encontrar a sua memória de “Disponível Para Amar”, e regressar de novo. Talvez este adeus lhe permita um recomeço. Eu, pelo menos, vou exigir ser surpreendida da próxima vez.

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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>“Todos os que vão a 2046 tâm o mesmo objectivo. Recuperar as suas memórias perdidas. Porque em 2046 nada muda. Ninguém pode ter a certeza de que isto é verdade. Porque de todos os que para lá foram... ninguém regressou. Excepto eu. Porque eu preciso de mudar.”


ALIGN=JUSTIFY>“Quando não aceitamos uma resposta negativa há sempre uma hipótese de conseguirmos o que queremos.”








5x2 ***

18.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: 5x2 cinq fois deux. Realização: François Ozon. Elenco: Valeria Bruni-Tedeschi, Stéphane Freiss, Géraldine Pailhas, Françoise Fabian, Michael Lonsdale, Antoine Chappey. Nacionalidade: França, 2004.




ALIGN=JUSTIFY>De regresso ao drama romântico, François Ozon conta-nos, em ordem cronológica inversa, a história de um casal (o 2) em diversos momentos da sua vida conjunta (o 5). De uma originalidade já um tanto questionável e um pouco à semelhança de “Memento”, de Christopher Nolan, e de “Irreversível”, de Gaspar Noé, esta opção narrativa vem sobretudo evidenciar a ilusão do “felizes para sempre”. A tendência do cinema para o conto de fadas (a meu ver, uma das causas da sociedade depressiva), está bastante longe da verdade. Por definição, um final nunca é feliz, porque é ruptura, é desmoronar, é frustrar, é partir.

ALIGN=JUSTIFY>Aqui somos, desde início, confrontados com o fim do casamento de Marion (Tedeschi) e de Gilles (Freiss). Um final legalmente pacífico, mas emocionalmente violento, onde ambos tentam ainda resgatar algo do que os uniu, mas o vazio do silêncio é agora o único que têm em comum. Somos depois levados a um jantar entre amigos, onde começamos a vislumbrar a amargura das palavras, a indiferença dos gestos. E o julgamento de outras opções de felicidade diferentes da nossa torna-se irónico, sabendo já o desfecho.

ALIGN=JUSTIFY>No nascimento do filho, Gilles evidencia a sua fraqueza de carácter. Percebemos que um gesto de ternura anterior (ou seja, posterior) mais do que genuíno é quase compensatório. Vemos que Gilles passou toda a vida a pedir desculpas, a tentar voltar atrás. A idêntica deterioração do casamento dos pais de Marion traduz uma outra hipótese: o conflito directo das palavras (em vez do silêncio reprimido) e a aceitação da condição de falha, mantendo a coabitação (em vez do divórcio).

ALIGN=JUSTIFY>O casamento. A felicidade dolorosa. Não só porque já a sabemos finita, mas porque também ela é pautada por mácula. E, finalmente, o momento do encontro, onde Marion faz o aviso, sem saber, do desfecho da sua própria história.

ALIGN=JUSTIFY>Ozon deixa-nos adivinhar alguns detalhes, usando a luz/sobra como reflexo da crescente (ou melhor, decrescente) amargura. A música de Philippe Rombi acompanha todo o desvendar da equação, isto é, das equações. A única forma de encontrar uma solução para as duas incógnitas (dois seres individuais) é considerar duas equações distintas, dois conjuntos de especificidades, necessidades, sonhos, vontades. Por isso este filme não se chama 5x1. Porque uma relação não é uma unidade. Mas duas.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar da sensação geral de desencanto, 5x2 é também o retrato de cinco momentos de felicidade: a da descoberta, a do entendimento, a da criação, a da amizade, a da liberdade, por ordem cronológica.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>“Não devíamos nadar nesta parte do mar, é perigoso.”
VALERIA BRUNI-TEDESCHI (Marion)










Comme une Image ****

15.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Agnès Jaoui. Elenco: Marilou Berry, Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri, Laurent Grévill, Virginie Desarnauts, Keine Bouhiza, Grégoire Oestermann, Serge Riaboukine, Michèle Moretti. Nacionalidade: França / Itália / Reino Unido, 2004.




ALIGN=JUSTIFY>Ela (Berry) é uma jovem com uns quilos a mais, que tem aulas de canto, e vive preocupada com a imagem que os outros têm dela. Ele (Bacri) é um escritor reconhecido e é seu pai, e não faz qualquer caso do que os outros podem pensar dele. À sua volta existem amigos, conhecidos, família, colegas, namorados. Relações humanas, simples e complicadas.

ALIGN=JUSTIFY>Este é o sexto argumento que resulta da colaboração do casal Jaoui-Bacri e segunda realização de Jaoui, mostrando-nos que “O Gosto dos Outros” não foi um golpe de sorte, e justificando o merecido prémio de argumento este ano em Cannes.

ALIGN=JUSTIFY>O poder de observação dos homens e das mulheres e das suas relações é aqui completado com o poder de transcrição dessa observação para o cinema, permitindo reunir um mundo de sentimentos numa mão cheia de pessoas. Os diálogos são elaborados com inteligência e realismo, ainda que ridículos alguns deles, mas a vida também o é, por vezes. E é através de um humor incisivo que, tal como o título do filme, Jaoui-Bacri nos dão uma imagem do mundo, da sua complexidade, mas também da sua riqueza humana. Sob o tom de uma comédia de costumes, a crítica é bem menos ligeira do que aparenta.

ALIGN=JUSTIFY>A dificuldade de conseguir encontrar o nosso lugar, de o mantermos, de estar atento ao outro ao mesmo tempo que tentamos definir quem somos, a dificuldade de simultaneamente sermos feliz e fazer felizes quem amamos.

ALIGN=JUSTIFY>Os personagens são-nos mostrados sem julgamentos, sem condescendência, sem concessões, sem optimismo ou pessimismo. Hiper-realistas de humanidade, todos cativantes apesar dos seus defeitos: a baixeza, o oportunismo, a dominação, a submissão, a cobardia, o autismo. Contrastante com o altruísmo dos jovens do grupo de cantores amador, e da extrema dignidade do jovem árabe, cuja única falta é mudar o seu nome de Rachid para Sébastien. Do casting há que salientar Berry, que enche o ecrã com uma representação plena de nuances, de sonhos, de erros, de crescimento.

ALIGN=JUSTIFY>“Comme une Image” (“Olhem Para Mim”, em português), a imagem como elemento determinante da nossa posição na sociedade, seja em termos profissionais ou particulares. O peso da imagem (positiva ou negativa) que os outros têm de nós como condicionante dos sentimentos que nos dirigem, das palavras ou dos silêncios. E quantas vezes essa imagem é apenas isso: imaginação. Porque ouvir não é escutar e olhar não é ver.

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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>“When I write, it's already musical. It's instinctive: you have to find the right words, like expressions that suit you. Storytelling and music share a sense of rhythm.”
AGNÈS JAOUI, em Cannes 2004










Jeux d'Enfants *****

14.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Yann Samuell. Elenco: Guillaume Canet, Marion Cotillard, Thibault Verhaeghe, Joséphine Lebas-Joly, Gérard Watkins, Emmanuelle Grönvold. Nacionalidade: França / Bélgica, 2003.


SRC=http://a69.g.akamai.net/n/69/10688/v1/img5.allocine.fr/acmedia/medias/nmedia/18/35/10/90/p2.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>Conto de fadas, tragédia, idealista, deprimente, mas, contudo, revigorante. A primeira longa-metragem de Yann Samuell é um hino à infância, o tesouro mais puro, quando somos capazes de tudo, sobretudo, de sonhar.

ALIGN=JUSTIFY>Julien (Verhaeghe) e Sophie (Lebas-Joly) têm 8 anos. A mãe de Julien morre de cancro. Sophie é polaca e sofre a pressão dos colegas de escola. Para fugirem à realidade, construindo um mundo semelhante aos seus sonhos, usam um jogo como pretexto: “Cap ou pas cap?”. Quem detém a caixa de música pode lançar um desafio ao outro. Se o desafio for superado, a caixa muda de mãos e quem a recebe pode, por sua vez, propor um novo repto.

ALIGN=JUSTIFY>Sophie e Julien definiram as regras de um jogo onde são árbitros, vencedores e vencidos, simultaneamente. Sendo capazes do melhor e do pior, desafiam todos os tabus, as autoridades, as regras. Riem-se e magoam-se, numa cumplicidade que só eles entendem. Cada vez que jogam dizem que são capazes de fazer tudo o que o outro pedir, sem duvidar. Cada vez que dizem “Cap” estão a dizer que se amam, sem o saber, ou o conseguir dizer de outra forma. E este jogo prolonga-se pela vida, aumentando de intensidade, e com consequências cada vez mais desmedidas.

ALIGN=JUSTIFY>“Jeux d’Enfants” estimula o pensamento, agita as emoções, faz-nos entrar num sonho. Questiona as nossas certezas, obrigando-nos a ver a vida segundo um novo ponto de vista. O amor aparece aqui, perante meu constrangimento e negação, como egoísta, cruel, ciumento. O amor de Sophie (Cotillard) e Julien (Canet) é um jogo, que quebra promessas, os põe em perigo dando o controlo ao outro, isola-os da sua família, magoa os que os rodeiam, fá-los odiar. Ajuda-os a desafiar tudo e todos, sem culpa, mas é um mito que os deixa para sempre aquém, insatisfeitos.

ALIGN=JUSTIFY>Samuell começou a sua carreira na ilustração, o que vem sem dúvida marcar o universo visual deste filme. As cores carregadas e a atmosfera sofisticada lembram o “Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet. Samuell desenhou todo o storyboard e teve de ilustrar quase todos os cenários para mostrar aquilo que pretendia. A energia da sua realização disputa a da paixão dos dois protagonistas (a química entre Canet e Cotillard é inequívoca).

ALIGN=JUSTIFY>La vie en rose em quatro diferentes versões (Louis Armstrong, Donna Summer, Trio Esperanza e Zazie) empresta ainda mais mística a esta inteligente mistura de poema onírico com dura realidade. Imperdível!

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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>“Pour gagner ce jeu, il faut une jolie boîte, une jolie copine, et le reste on s’en fout...”
GUILLAUME CANET (Julien)


ALIGN=JUSTIFY>“Tu te souviens c’est ce jour là oú tu m’as dit que je serai jamais cap de te faire du mal... Cap...”
GUILLAUME CANET (Julien)

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>“- Va en l’enfer! GUILLAUME CANET (Julien)
- D’accord, mais tu m’y accompagnes. On ne se revoit pas pendant diz ans... Cap!”
MARION COTILLARD (Sophie)


ALIGN=JUSTIFY>“Os amigos são como os óculos: dão-nos um ar inteligente, mas riscam-se e cansam-nos.”
THIBAULT VERHAEGHE (Julien)

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>“Ser adulto é isso: ter um conta quilómetros que marca 210 e não andar a mais de 60.”
GUILLAUME CANET (Julien)













Agents Secrets ***

13.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Frédéric Schoendoerffer. Elenco: Vincent Cassel, Monica Bellucci, André Dussollier, Charles Berling, Bruno Todeschini, Sergio Peris-Mencheta, Ludovic Schoendoerffer, Eric Savin, Serge Avedikian, Najwa Nimri. Nacionalidade: França / Itália / Espanha, 2004.


SRC=http://a69.g.akamai.net/n/69/10688/v1/img5.allocine.fr/acmedia/medias/nmedia/18/35/19/66/18373385.jpg WIDTH=500>


ALIGN=JUSTIFY>Uma história de espiões. A missão: fazer explodir um barco que faz o transporte ilegal de armas para a guerra em Angola. Os agentes dos serviços secretos franceses: Brisseau (Cassel), Lisa (Bellucci), Raymond (Mencheta), Loïc (Schoendoerffer, irmão do realizador) e Tony (Savin).

ALIGN=JUSTIFY>O nome de código da missão é “Janus” (ou Jano), o deus romano das portas (janue), princípios e fins, representado por uma cabeça com duas caras, cada uma delas olhando em direcções opostas. Era adorado no início das colheitas, plantações, casamentos, nascimentos, e todos os tipos de começo durante a vida. Daí que o primeiro mês do ano seja em sua honra. Representa igualmente a transição entre a vida primitiva e a civilização, entre campo e cidade, paz e guerra.

ALIGN=JUSTIFY>O desenrolar da acção vive nesta dualidade de objectivos, intenções, amizades e conluios. O conflito surge quando algo de mais essencial, como a confiança ou o amor são abalados.

ALIGN=JUSTIFY>O recomeço é aqui visto como um sonho, mas também como uma ameaça. Romper com o estabelecido significa muitas vezes ter que matar o passado, ainda que isso se faça dentro de nós mesmos. É inegavelmente tranquilizador ter um propósito claro, a tal missão, ou uma ordem que nos assegure que os passos que damos são os certos. Quando arriscamos perder essa segurança, e decidimos tactear às escuras o caminho, vem o medo. Mas talvez seja essa a única forma de evoluirmos.

ALIGN=JUSTIFY>A realização de Schoendoerffer prima por um bom gosto extremo, nos planos, nas cores, na iluminação, na construção de determinadas sequências: a cena de abertura com o barco chegando à costa espanhola, a perseguição que a câmara faz ao carro na sequência inicial, o detalhe dos sons quando o corpo do perseguido é revistado, o plano de entrada da câmara através do vidro fumado, o choque brutal dos carros feito em silêncio sepulcral. E, claro, Monica Bellucci, irritantemente bela.

ALIGN=JUSTIFY>Este é um filme de acção na verdadeira acepção da palavra, onde os diálogos se limitam, e já é bastante, a dar substância aos personagens. Schoendoerffer conta algumas partes da história, mas não explica tudo. Faltam-nos alguns pormenores, ainda que consigamos estabelecer as ligações essenciais. Talvez seja isso um agente secreto: a quem só é passada alguma informação, a suficiente para que ele cumpra a sua parte. E só se lhe exige que obedeça. Cumpri a minha missão como espectadora, e gostei.








Immortel (ad vitam) ***

12.10.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Enki Bilal. Elenco: Linda Hardy, Thomas Kretschmann, Charlotte Rampling, Frédéric Pierrot. Nacionalidade: França / Itália / Reino Unido, 2004.




ALIGN=JUSTIFY>Nikopol (Kretschmann), um revolucionário, encontra-se preso há 30 anos, orbitando a Terra de 2095, mas o seu espírito continua a comunicar com os seres que a habitam, maioritariamente não-humanos, criando um ambiente de conflito ideológico com o poder reinante.

ALIGN=JUSTIFY>Suspensa sobre Nova Iorque encontra-se uma pirâmide, morada de antigos deuses egípcios, entre os quais Horus, o deus falcão. O seu estatuto de imortal é revogado, o que o conduz a uma última oportunidade de resolver os seus assuntos e salvar o pouco que resta da humanidade. Para isso ele precisa de um corpo humano, e é Nikopol que, contra a sua vontade, vai ser usado como veículo para os seus propósitos.

ALIGN=JUSTIFY>Jill (Hardy) faz também parte do plano de Horus. A sua condição de mutante desperta o interesse da médica Elma Turner (Rampling). John, o seu único amigo, fornece-lhe as drogas necessárias para a fazer reajustar a um mundo que não é o dela.

ALIGN=JUSTIFY>Num contexto de intriga política, corrupção empresarial e revolução iminente estes dois personagens vão ser ver obrigados a conviver e a descobrir-se, apesar dos segredos que cada um guarda.

ALIGN=JUSTIFY>Suponho que se eu tivesse lido alguma das obras de BD de Bilal, entre as quais a Trilogia Nikopol (La Femme piège / La Foire aux immortels / Froid équateur), não me teria surpreendido tanto com este filme do ponto de vista visual. Os cenários são uma verdadeira obra de arte em detalhes, cores frias e imaginação futurista, com destaque para o micro-clima gelado de Central Park. Os efeitos 3-D em perfeita combinação com as três dimensões reais são espantosos, o que contrasta com o trabalho quase minimalista de alguns personagens, nomeadamente os vilões.

ALIGN=JUSTIFY>O confronto da óptima concepção artística é ainda maior quando pensamos na história básica deste “Immortel (ad vitam)”. O uso de actores reais era dispensável, já que Bilal mal consegue aproveitar as suas capacidades. Depois de “Swimming Pool” é quase chocante ver Charlotte Rampling neste filme. A poesia que este filme poderia / deveria ter é mal consubstanciada nos murmúrios delirantes de Nikopol.

ALIGN=JUSTIFY>Talvez algumas obras tenham o seu lugar próprio e insistir que elas pertençam a outro mundo seja demasiada arrogância. Mas apesar de tudo, e porque a curiosidade foi despertada, fica a vontade de um destes dias ir à Fnac e sentar-me um pouco com estes livros.

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ALIGN=JUSTIFY>CURIOSIDADE:

ALIGN=JUSTIFY>color=#aaaaaa>Nascido em Belgrado, Bilal aprendeu francês aos 6 anos de idade e descobriu Baudelaire na sua adolescência. Em homenagem ao poeta, os versos de Une Charogne e Poison, dois poemas de Fleurs du mal iniciam e terminam o filme “Immortel (ad vitam)”.







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