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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Shrek 2 *****

31.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Andrew Adamson, Kelly Asbury, Conrad Vernon. Vozes V.O.: Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz, Julie Andrews, Antonio Banderas, John Cleese Rupert Everett, Jennifer Saunders. Nacionalidade: EUA, 2003.




ALIGN=JUSTIFY>Foi o filme Shrek em 2001 que me fez recuperar o prazer de ver desenhos animados no cinema. A surpresa do humor inteligente, a beleza gráfica, a exímia escolha da banda sonora, tudo elementos que me fizeram ansiar durante estes anos pela sequela. E, sabem que mais?, valeu a pena.

ALIGN=JUSTIFY>A simples existência de uma sequela vem de encontro à própria filosofia Shrek, porque o “E foram felizes para sempre...” costuma ser onde terminam os contos de fadas. Mas Shrek não é um conto de fadas normal, aliás, preza-se disso mesmo. A sua irreverência e audácia são mais uma vez comprovados em Shrek 2, onde a vida feliz dos dois feios protagonistas é perturbada por uma série de novos personagens: um sogro/pai inconformado (John Cleese), uma fada madrinha com um laivo de Don Corleone (Jennifer Sounders, a Edina da britcom Absolutely Fabulous), um príncipe encantado certamente patrocinado pela L’Oreal (Rupert Everett), e um Gato das Botas entre o felino feroz e o doce bichano (Antonio Banderas).

ALIGN=JUSTIFY>A apresentação aos sogros, a concorrência com outro pretendente, a pressão da sociedade, os sonhos de juventude da sua companheira, Shrek (Mike Myers) tem que enfrentar as dificuldades de qualquer homem, dificuldades que nada têm a ver com contos de fadas. E fá-lo da melhor maneira, ou seja, aceitando a ajuda e sugestões do seu melhor amigo, o Burro (Eddie Murphy). E, como qualquer homem, mete os pés pelas mãos, e mais uma vez é a donzela, ou melhor ex-donzela, Fiona (Cameron Diaz) que tem de resolver a questão. Alguma semelhança com a vida real é pura coincidência? Não me parece.

ALIGN=JUSTIFY>Tal como o anterior, este filme está também pleno de referências a outros filmes, como é o caso do beijo romântico do Homem-Aranha e da aliança trocada ao sabor do Senhor dos Anéis, e a particularidades dos actores intervenientes, como a eterna ferida de guerra de John Cleese no seu período Monty Python, e o companheiro amoroso de Cameron Diaz, referenciado no poster de Sir Justin.

ALIGN=JUSTIFY>E o conjunto não ficaria completo se a banda sonora não acrescentasse ainda mais valor a esta preciosa peça. De destacar o Accidentaly in Love (Counting Crows), a versão do tema Changes (Butterfly Boucher com Bowie), o dueto do Burro e do Gato das Botas (Livin’ la Vida Loca) e, para finalizar, I Need a Hero na versão da Fada Madrinha.

ALIGN=JUSTIFY>Uma obra irrepreensível e imperdível!

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#BBBBBB>P.S.- Esperem pelo final do genérico. Há uma pequena surpresa para terminar.



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CITAÇÕES:


color=#aaaaaa> “Oh, Shrek. Don't worry. Things just seem bad because it's dark and rainy and Fiona's father hired a sleazy hitman to whack you.”
BURRO


“- You're supposed to say "You have the right to remain silent!". No one said I have the right to remain silent! (BURRO)
- Donkey, you HAVE the right to remain silent. What you lack, is the capacity. (SHREK)”

color=#aaaaaa> “SHREK: Quick tell a lie!
PINÓQUIO: What should I say?
BURRO: Say something crazy... like you're wearing ladies underwear.
PINÓQUIO: Um, ok. I'm wearing ladies underwear.
PINÓQUIO: [silêncio]
SHREK: Are you?
PINÓQUIO: I most certainly am not.
PINÓQUIO: [o nariz cresce]
BURRO: It looks like you most certainly am are.
PINÓQUIO: I am not.
PINÓQUIO: [o nariz cresce]
GATO DAS BOTAS: What Kind?
HOMEM DE GENGIBRE: IT'S A THONG!”























Levity ****

30.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ed Solomon. Elenco: Billy Bob Thornton, Morgan Freeman, Holly Hunter, Kirsten Dunst. Nacionalidade: EUA / França, 2003.





ALIGN=JUSTIFY>Onde exactamente é que encontramos redenção para os nossos pecados? A dívida que temos com a sociedade é paga numa pena de prisão. A dívida com as pessoas que ferimos é paga num pedido de desculpas. Mas a verdadeira redenção, a verdadeira paz, só a atingimos quando conseguirmos perdoar-nos a nós mesmos. Quando conseguimos provar que podemos construir em vez de destruir, dar a mão em vez de bater, ajudar em vez de criticar, amar em vez de odiar. E para isso temos que querer aprender a ser pessoas melhores, e trabalhar arduamente nesse sentido.

ALIGN=JUSTIFY>Manual Jordan (Billy Bob Thornton) aprendeu. Depois de 23 anos na prisão a olhar o recorte de jornal com a fotografia do jovem Abner Easley que ele matou quando roubava uma loja de conveniência. Uma morte que ele não consegue justificar, nem esquecer, nem perdoar. Tanto assim é que acredita que o seu lugar é exactamente fora da sociedade que ele traiu e é com incredulidade e medo que acata a liberdade condicional que lhe é concedida.

ALIGN=JUSTIFY>O regresso leva-o para o ponto de partida. Observa a casa de Abner e vê Adele (Holly Hunter), a sua irmã. Num misto de pena e remorso, o sentimento que o une a ela, acaba por se transformar em amor. Um amor desesperado e culpado, que não consegue resistir à verdade.

ALIGN=JUSTIFY>Num filme onde a culpa é o tema central, não podia faltar a referência religiosa, na pessoa de Miles Evans (Morgan Freeman), uma espécie de pastor pouco ortodoxo que obriga os jovens a escutar os seus sermões cheios de moralidade como parte do pagamento pelo parque onde estacionam os carros para ir à discoteca, símbolo extensivo da imoralidade. Manual arranja trabalho como seu ajudante, e é aí que conhece Sofia (Kirsten Dunst) uma jovem perdida numa espiral de droga e bebida.

ALIGN=JUSTIFY>Todos os personagens têm os seus pecados, os seus erros para corrigir, e o tranquilo final de Redenção resulta da esperança de que, de uma ou outra forma, é possível de facto corrigi-los. Por nos darmos conta de que temos algo para dar, de que conseguimos dá-lo, e de que merecemos que alguém receba o que damos.

ALIGN=JUSTIFY>Uma história simples, que facilmente poderia ter caído no registo de um vulgar telefilme, consegue marcar a sua diferença, não só pelo fantástico naipe de actores difícil de superar, mas também pela forma como Ed Solomon, na sua primeira realização para cinema, optou pelo caminho difícil do entendimento, sem julgamentos, do ser humano na sua complexa condição.


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CITAÇÕES:


ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I read a book that was written in the 11th century. A man said that there was five steps toward making amends. The first involved acknowledging what you did. The second involved remorse. The third involved making right with your neighbor. Like if you stole his chicken, you'd have to go and bring him another. Only then were you able to go to step four, which was making it right with God. But it wasn't until step five that you could really get redeemed. It had to do with being at the same place and the same situtation. That as it goes, you'd go and do something different.”
BILLY BOB THORNTON (Manual Jordan)













Wilbur Wants to Kill Himself ***

27.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Lone Scherfig. Elenco: Jamie Sives, Adrian Rawlins, Shirley Henderson, Lisa McKinlay, Mads Mikkelsen. Nacionalidade: Dinamarca / Reino Unido / Suécia / França, 2002.





ALIGN=JUSTIFY>Dois anos antes de Wilbur Quer Matar-se a realizadora dinamarquesa Lone Scherfig brindou-nos com o doce e acutilante Italiano Para Principiantes da escola Dogma. Apesar de ter adoptado neste filme numa linha mais mainstream, com acção desenrolada em Glasgow, Scherfig mantém-se fiel aos personagens perdidos, acompanhando a sua deriva de perto com um olhar de ternura e compreensão.

ALIGN=JUSTIFY>Wilbur (Jamie Sives) é um suicida compulsivo e, após diversas tentativas, bastante frustrado. Parece que cada técnica que falha lhe mostra que a verdadeira eficácia estará na próxima. Um mecanismo de pensamento que normalmente associamos ao acto de viver. Harbour (Adrian Rawlins), o irmão de Wilbur, vive em constante sobressalto por causa do irmão, ambos partilhando a gestão de uma livraria de usados que lhes foi deixada pelo pai. É aí que Harbour conhece Alice (Shirley Henderson), uma mulher que lhe vende os livros que vão sendo deixados para trás pelos pacientes do hospital onde faz limpezas, e a sua filha Mary (Lisa McKinlay). O amor entre Harbour e Alice nasce de uma partilha de desesperos, acabando por trazer sentido à vida dos dois irmãos.

ALIGN=JUSTIFY>O momento em que se decidem organizar a colecção de livros por ordem alfabética assume um carácter quase simbólico, porque é nesse instante que cada um deles começa a restruturar a sua vida, uma adaptação motivada e feita em torno de cada um dos elementos adicionais daquela nova família.

ALIGN=JUSTIFY>Tal como os actos trágicos nos fazem repensar a vida, por amor ao irmão e à mulher com quem o irmão casa, Wilbur acaba por ter de repensar a morte. Surpreendentemente e contra todos os seus instintos, Wilbur vê-se obrigado a viver.

ALIGN=JUSTIFY>Jamie Sives, num visual Robbie Williams depressivo, é convincente no registo cómico-sarcástico, mas deixa algo a desejar no registo dramático, fazendo com que as tentativas de suicídio pareçam meras brincadeiras. Felizmente, Adrian Rawlins e Shirley Henderson estão lá para aguentar as cenas mais emotivas.

ALIGN=JUSTIFY>No entanto, as opções argumentativas de Lone Scherfig frustram a expectativa de humor negro do trailer, e é bastante impressionante o praticamente inconsequente desfecho face às tragédias vividas pelos protagonistas. Apesar de quase tudo de bom que nos acontece na vida ser marcado pela improbabilidade, Scherfig, na louvável tentativa de associar comicidade e drama, não nos consegue oferecer uma conclusão credível.









Intermission ***

26.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: John Crowley. Elenco: Colin Farrell, Cillian Murphy, Kelly Mcdonald, Shirley Henderson, Colm Meaney. Nacionalidade: Irlanda / Reino Unido, 2003.




ALIGN=JUSTIFY>A vida é que nos acontece enquanto estamos ocupados a tentar viver, num intervalo daquilo que pensamos ser o que conta. São grandes medos, pequenas alegrias, tentativas e erros, hesitações e decisões, violência e ternura, fugir de e correr para. É sangue e gargalhadas, lágrimas e sorrisos, é paixão e ódio. A vida é um passo em falso, que às vezes vai de encontro ao destino. É a palavra certa que, de repente, consegue estragar tudo.

ALIGN=JUSTIFY>É no meio deste caleidoscópio de emoções que se desenrola a acção de Intervalo, distribuída de forma equilibrada por personagens que, não sendo nenhum de nós, poderiam perfeitamente representar-nos em determinado instante da nossa vida. Ou de uma vida que poderia ter sido se a pedra tivesse sido atirada no momento certo.

ALIGN=JUSTIFY>John (Cillian Murphy, de 28 Dias Depois, de Danny Boyle) decide testar o amor de Deidre (Kelly Mcdonald, do saudoso Trainspotting, também de Danny Boyle) pedindo-lhe para ela lhe dar um tempo, ao que ela acede, para infelicidade de ambos. Como resultado, Deidre refugia-se nos braços de um homem casado, que abandona a mulher para ir viver com a jovem namorada. Lehiff (Colin Farrel em mais um papel carregado de angústia) é um delinquente, já várias vezes ameaçado por Jerry Lynch (Colm Meaney num delicioso registo), um agressivo detective com uma queda especial para a música celta. As vidas de todos eles vão-se cruzar numa série de acontecimentos que envolvem pedras atiradas, um desastre de autocarro, uma noiva abandonada, um buço, uma discoteca de solteiros, um rapto, roubos, molho de chocolate, um produtor de televisão, uma ovelha abatida.

ALIGN=JUSTIFY>Tudo isto acompanhado com o tempero de uma banda sonora que reforça cada cena, desde “Out of Control” dos U2, passando por Turin Brakes, The Thrils e Fun Lovin’ Criminals, e terminando com o “I Fought the Law” cantada pelo próprio Colin Farrell.

ALIGN=JUSTIFY>Com o espírito e o sarcástico humor irlandês, a primeira realização de John Crowley coloca-nos em perspectiva com uma realidade que não deverá nunca deixar de ser questionada. Por ser frágil e efémera. E não devemos jamais tomar por certo aquilo que temos, porque a confiança e o compromisso exigem trabalho. No entanto, parece-me que o filme falha na conclusão, caindo numa armadilha criada por ele próprio, onde as consequências dos nossos actos acabam, ironicamente, por ser inconsequentes.


ALIGN=JUSTIFY> P.S.- A distribuição deste filme em conjunto com a curta portuguesa de Jorge Queiroga, Part-time, uma peça de qualidade bastante duvidosa e de um mau gosto inegável, teria certamente o objectivo de fazer sobressair o filme de John Crowley pela comparação.

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CITAÇÕES:


COLOR=#AAAAAA> “Well, love's not something you can plan for, is it? You just never know, what's going to happen.”
COLIN FARRELL (Lehiff)













Em jeito de apresentação

26.08.04, Rita

Nunca na vida escrevi uma linha sobre cinema (embora todos os anos elabore a minha lista pessoal dos 10 mais, que já agora foi liderada em 2003 pelo “O Pântano” da argentina Lucrécia Martel, mas que, convenhamos, se trata de um fraco substituto) e a verdade é que nunca senti grande necessidade de o fazer.


Gosto muito de cinema, vou muito ao cinema (quando por alguma razão passo muito tempo sem lá ir sinto de facto uma necessidade física de me ir meter numa sala de cinema para ver seja lá o quê, o que me leva a colocar-me numa qualquer classificação de junkie), acredito, piamente, que uma das grandes vantagens de se viver neste pais é o facto dos filmes serem legendados e não dobrados. Existem mais coisas é claro, mas nada que tivesse a ver com o facto de escrever sobre cinema. Acontece, no entanto, que esta minha amiga, que também gosta muito de cinema, que vai muito ao cinema (e neste campo ao pé dela não passo de um simples visitante ocasional) e que para além disso gosta de escrever sobre cinema decidiu criar este espaço. E convidou-me a participar nele. E pronto, aqui estou eu.


Em jeito de apresentação, o primeiro filme que eu vi foi um dos Herbies (“Herbie em Montecarlo” talvez?) algures no inicio dos anos 80, o último foi o “Tempo dos Lobos” do Michael Haneke, se tivesse que escolher o filme da minha vida escolhia o “Homens Simples” do Hal Hartley, não tenho actores ou actrizes favoritas (na verdade os actores e as interpretações não me interessam particularmente), escrevo sempre o nome do realizador à frente do titulo do filme e não compreendo como é que há alguém que prefira comprar uma copia pirata em DVD de um filme ainda em cartaz a ir vê-lo ao cinema (ainda que não seja de maneira nenhuma contra a pirataria e reconheça a importância da economia informal como mecanismo de inserção e integração social).


Pronto, e basicamente é isto.



por Sérgio

 

 

Triple Agent ****

25.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Éric Rohmer. Elenco: Serge Renko, Katerina Didaskalou. Nacionalidade: França / Grécia / Itália / Rússia / Espanha, 2004.



src=http://a69.g.akamai.net/n/69/10688/v1/img5.allocine.fr/acmedia/medias/nmedia/18/35/19/52/18371427.jpg width=500>


ALIGN=JUSTIFY>"Paris ultrajada, Paris prostrada, Paris martirizada, mas Paris libertada". Foram as palavras do oficial francês Charles De Gaulle no dia 25 de Agosto de 1944. Há precisamente 60 anos a cidade de Paris libertou-se de uma ocupação nazi, que se tinha feito sem contestação e sem luta.

ALIGN=JUSTIFY>Há precisamente umas horas atrás vi o filme “Agente Triplo”, de Eric Rohmer, que inicia a sua acção na Paris de 1936 e nos transporta para uma história ficcional, baseada livremente em factos reais, sobre espionagem e contra-espionagem. Com um humor deliciosamente elaborado, um texto eximiamente escrito e interpretações soberbas de Serge Renko e Katerina Didaskalou.

ALIGN=JUSTIFY>Em 1936, após a Revolução bolchevista, Fiodor (Renko), general do exército tsarista, refugia-se em Paris com a sua esposa Arsinoé (Didaskalou), pintora de origem grega. Membro de uma associação de antigos oficiais russos “brancos”, dedica-se igualmente a actividades secretas. Em frequentes viagens a destinos camuflados, deixa a sua mulher abandonada aos seus pincéis e às suas dúvidas e tormentos, tentando preencher as lacunas das meias-verdades que Fiodor lhe dá.

ALIGN=JUSTIFY>Dada a sua condescendência com algumas atitudes de esquerda, Fiodor é, em dado momento, considerado simpatizante comunista e, em resultado da sua tentativa de angariar fundos para financiamento da sua organização junto dos alemães, faz com que a possibilidade de conluio com os nazis entre também nas conjecturas. As suposições são tanto mais possíveis quanto ridículas, pois o jogo da verdade e da mentira ganha com as improbabilidades. No meio deste cenário de tripla espionagem, e imerso num mar de informação, Fiodor esforça-se por dissimular a verdade, talvez até com a própria verdade.

ALIGN=JUSTIFY>Rohmer substitui a acção pela palavra, semeando a desordem e o equívoco. Ao espectador é dado saber apenas aquilo que Fiodor entende dar a conhecer da sua vida secreta, e a nossa ignorância é o verdadeiro motor do filme e da intriga. Os silêncios, as duplas interpretações, levam a um conjunto de verdades possíveis que tentamos ajustar numa lógica imposta pela racionalidade. Esta é também uma história de amor, onde o silêncio se torna o que de melhor se tem para oferecer, quando a alternativa é a mentira.

ALIGN=JUSTIFY>Uma história de espiões, um conto moral sobre a mentira, o olhar sobre uma época, “Agente Triplo” evoca o destino trágico de um casal perturbado pelos revezes da História. Um belo filme, apesar das pontas soltas que, tal como na realidade, não fecham o ciclo. Mas, também tal como a realidade de há 60 anos, nos dão a liberdade de o fazer.

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CITAÇÕES:


align=justify>color=#aaaaaa>“Il est plus facile dire la verité que de mentire. Car ne nous crois pas. Tu ne me crois pas?”
SERGE RENKO (Fiodor Alexandrovich)












Mi Vida Sin Mí ****

24.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Isabel Coixet. Elenco: Sarah Polley, Scott Speedman, Mark Ruffalo, Deborah Harry, Amanda Plummer, Maria de Medeiros. Nacionalidade: Espanha / Canadá, 2003.




ALIGN=JUSTIFY>Não sou muito adepta de filmes que apelam para o sentimento com recurso fácil a dramas humanos, e confesso alguma frieza ao deparar-me com despedidas ou reencontros finais de amantes que vivem felizes para sempre (ou até o filme acabar, porque depois todos sabem que vem o desamor, a saturação e as traições).

ALIGN=JUSTIFY>Por isso, não sei bem o que me levou a ir ver este filme, tendo em conta que a sinopse dizia tudo: uma jovem de 23 anos (Ann - Sarah Poley), mãe de duas filhas, com um marido desempregado (Don - Scott Speedman), e uma relação conflituosa com a mãe (Deborah Harry), descobre que tem apenas dois meses de vida e, sem dizer nada a ninguém, decide fazer uma lista de tudo o que tem ainda de fazer até lá. Dessa lista fazem parte elementos tão mundanos como cortar o cabelo e colocar unhas postiças. Mas também coisas que não deveriam ser transcendentais, mas que o são, como fazer com que alguém se apaixone por ela e dizer todos os dias “amo-te” às filhas.

ALIGN=JUSTIFY>Era quase certo que iria sair da sala de cinema lavada em lágrimas, mas insisti, como um teste à minha insensibilidade. Confesso umas lágrimas involuntárias, mas no total, este filme deixa-nos a pensar nas coisas boas que temos. Talvez porque as relativizamos em comparação com problemas maiores, ou talvez porque a perspectiva de deixarmos de as ter, de um momento para o outro, faz com que, logo após o filme, queiramos falar com todos os amigos, ir jantar com a família, beijar um desconhecido, pegar no carro e fazer aquela viagem que sempre adiamos para amanhã, plantar a tal árvore, escrever o tal livro, ter o tal filho.

ALIGN=JUSTIFY>Isabel Coixet, através de uma co-produção onde participa Pedro Almodóvar, dá-nos a oportunidade de reflectir sobre nós mesmos, através da história de Ann, uma Sarah Poley surpreendente e paradoxalmente contida e explosiva, forte e frágil, pragmática e emocional, enigmática e expressiva.

ALIGN=JUSTIFY>Neste filme é posta em causa a percepção instituída do amor. Aqui o amor esconde a verdade e trai, deixa de ter palavras e refugia-se em silêncios constrangedores na sala de visitas de uma prisão. Mas revela-se na incompreensível esperança de consertar tudo, de controlar ainda um pouco o inevitável desfecho, na procura de uma substituta em vida para ela em morte, na gravação de cassetes para um futuro onde ela já não estará.

ALIGN=JUSTIFY>Sim, comovi-me, mas no caminho para casa, que decidi fazer a pé, era um sorriso que levava comigo.








A minha estreia

24.08.04, Rita

Nos meus tempos de Aveiro, as salas de cinema à mão eram duas. Desmesuradamente grandes: no Cine-Teatro Avenida, onde vi a «Heidi» animada, ou no Teatro Aveirense, onde me sobressaltei com o encontro no milheiral com um famoso «ET». Com o estertor daquelas salas viveu-se o tempo das salas mais pequenas encafuadas em galerias e centros comerciais: o Estúdio 2002 e o Cine-Estúdio Oita (hoje, o único sobrevivente, com a exploração entregue ao "independente" Paulo Branco).


À chegada a Lisboa, descobri o mundo dos multiplexes e ecrãs pequenos, dos "kings" e filmes diferentes, da Cinemateca de culto, do Quarteto das noites longas de aniversário. Uma paleta de cores e telas, nunca vista antes. Consumia filmes a grande velocidade. Hoje, o tempo afasta-me mais do que queria do escuro das salas. Nem as pipocas o conseguiram tão eficazmente.


Mas, entre a curta DVDteca pessoal que vai trazendo algumas coisas mais antigas só agora vistas, e a rápida sortida às salas de cinema, quero apresentar aqui o que for descobrindo no mundo da sétima arte. Sem pretensões de crítico encartado. Apenas pelo prazer de ver cinema.



[Actualização: quando se escreve que o Oita é a única sala «sobrevivente», falamos daquelas quatro salas. Hoje, para além do Oita, Aveiro tem mais umas 15 salas, distribuídas entre a Lusomundo e a Warner-Lusomundo, com filmes a duplicar, numa falsa ilusão de variedade.]



por Miguel

 

 

Paixões partilhadas

23.08.04, Rita

Felizmente há paixões que não são vividas isoladamente. Por isso, a partir de hoje dois amigos igualmente “doentes” juntam-se a mim para viver esta experiência de partilhar cinema. Estou certa de que o seu contributo será precioso e as suas opiniões farão, no mínimo, levantar uma ou outra sobrancelha.

Bem-vindos ao maravilhoso mundo dos blogs!

RITA

 


Sonny ***

23.08.04, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Nicolas Cage. Elenco: James Franco, Brenda Blethyn, Mena Suvari, Harry Dean Stanton. Nacionalidade: EUA, 2002.




ALIGN=JUSTIFY>Assim que soube que Nicolas Cage estava a realizar o seu primeiro filme, coloquei-o na minha lista “a ver”. Talvez pensasse que a sua vasta e ecléctica experiência como actor pudesse ser uma mais-valia quando colocada do outro lado da câmara. De facto, o ponto forte deste filme reside exactamente nos actores e na sua direcção. Cage fez uma opção inteligente, porque segura, num argumento que depende essencialmente do desempenho de exímios profissionais.

ALIGN=JUSTIFY>É a história revisitada de um rebelde sem causa (James Franco, que já antes interpretou o próprio James Dean), cujo complexo de Édipo é constantemente usado contra ele por parte de uma mãe subtilmente possessiva (Brenda Blethyn). A causa para romper com o seu instituído modus vivendi, neste caso de prostituto, acaba por ser o amor (não é sempre?) por uma colega de profissão (Mena Suvari).

ALIGN=JUSTIFY>Curiosamente, o melhor momento do filme é aquele em que aparece o Cage-actor, no personagem de Acid Yellow, um dealer surreal entre o Liberace e o Austin Powers. Uma pequena alucinação que me reportou directamente ao filme “Delírio em Las Vegas”, de Terry Gilliam, um outro actor-feito-realizador (passo a comparação para benefício deste último).

ALIGN=JUSTIFY>Num acto quase egoísta, Cage fica com este doce para si, deixando o amargo desenrolar da história para os restantes actores. Todos eles, sem excepção, de uma solidez inatacável: Sonny/Franco, nos dilemas de amor dividido entre as necessidades da mãe, de Carol, e si próprio; Jewel/Blethyn, presa a uma vida que tomou todas as decisões por ela, até a do destino do filho; Carol/Suvari, a única que toma decisões, ainda que contra a sua própria felicidade; e Henry/Dean Stanton, o paradigma da generosidade.

ALIGN=JUSTIFY>No todo, não me senti defraudada por esta primeira experiência do sobrinho de Coppola, mas há ainda um longo caminho a percorrer. Um caminho que tem de implicar riscos. E isso não significa necessariamente usar o cinema para chocar, querendo ser moderno e mostrar sexo com a facilidade com que se lê um jornal. Se quer ganhar espectadores, Cage tem de respeitar a sua/nossa inteligência.

ALIGN=JUSTIFY>O meu conselho é que aproveite uma próxima reunião de família para conversar e trocar ideias com a prima Sofia. Dando o benefício da dúvida, e porque o Cage-actor ainda exerce algum efeito sobre o meu discernimento, fico à espera do próximo desafio do Cage-realizador.








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